Temo a mesmice. Temo o egoísmo. Temo a falta de se deixar levar. Temo a cidade cheia de individualismo e a falta de tempo. Temo o tempo. A falta e a demasia. E temo ter todo tempo do mundo pra fazer absolutamente nada. Ou melhor: pra fazer exatamente o que quero. Ver é diferente de olhar. E disso já estou farta.
Mas nesse exato momento, o que menos esperava era conforto. Precisava mesmo era de tempestade, de um redemoinho que a levasse pra onde havia deixado sua essência. Precisava viver sua vida e decidir o que queria comer no jantar. Pois é, ela sabia disso direitinho. Sabia de todos os poréns do seu dia-a-dia e resmungava solitariamente que a partir daquela semana as coisas seriam diferentes. Nada fazia sentido. Nem sua pouca felicidade. Nem o fato de acordar tarde todos os dias implorando pro tempo passar mais rápido. Nem seus não-filhos. Nem a solidão. Nada disso fazia sentido, mas a fazia grande. De alguma forma. E, apesar de continuar ali, naquele vácuo de vida, lembrava da ferida aberta bem no meio do seu coração. A casca caída no chão. Juntou cada pedaço pequenininho e jogou um por um no lixo do banheiro. Ferida. Pele. Casca. Coração.
Mariana está bem e escreve esporadicamente. Está finalmente curada das feridas do corpo. As da alma permanecem em seu lento, porém progressivo processo de cicatrização.
Excelente texto!!! Todas nós precisamos de um vendaval que faça voar todos os papéis mornos das nossas gavetas.
ResponderExcluirUm abraço.
Concordo com o comentário anterior. Às vezes, é necessário mesmo um grande acontecimento para pararmos e analisar que rumo tomar, qual ou quais decisões devem ser tomadas. Penso também que somos nós é que decidimos o tempo que vamos demorar para curar nossas feridas; pode ser um período grande ou pequeno, entretanto quando conseguimos o pequeno, estamos alcançando graus mais altos de superação (não sei se seria esta a palavra )
ResponderExcluirLindo teu texto! Triste, mas nem tanto.
ResponderExcluirUm abração!!!!!!!!
Rê