segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Leveza

Uma das minhas metas para esse ano é levar uma vida mais leve. Eu sei, você deve estar se perguntando, o que é uma vida mais leve?

Creio que não haja consenso, mas eu tenho claro o que isso quer dizer. Enfim, meta definida, está inclusive no meu lema do ano.


Mas eis que o universo, com seu jeitinho todo malandro, fez uma livre interpretação dessa meta e comecei o ano retirando o apêndice. Um órgão vestigial, não faz diferença em termos de peso, mas é um órgão a menos né?


Brincadeiras à parte, a cirurgia foi de urgência e agora já está tudo certo. Passei 4 dias com dor, uma dor que alguns dizem que é insuportável, e eu achava que era cólica menstrual. Vocês têm noção disso?!


Depois da cirurgia, ouvi alguns relatos similares, de que algumas mulheres ficaram com dor tempo demais, se colocando em risco, por achar que tinham que aguentar ou por achar que sua queixa não seria levada a sério. Isso me chocou demais, não apenas porque eu também fiz isso e cheguei a um estágio bem grave, quanto por saber o quanto é recorrente.


Mulheres, se cuidem. Pessoas que convivem com mulheres, insistam para que busquem atendimento.


2024 começou animado por aqui, e seguimos problematizando. Afinal, eu quero uma vida leve, mas não superficial.


Renata escreve por aqui esporadicamente, há anos.

E vem percebendo os ciclos da vida cada vez com mais clareza.


domingo, 14 de janeiro de 2024

DE ONDE VEM A VERDADEIRA FORÇA FEMININA?

Hoje, para mim, ela vem da permissão de me abrir para receber. 

Da disponibilidade em crescer interdependentemente e em comunhão. 


De olhar para meu sentir. 

Da humildade em  olhar para mim, para minha história, meus hábitos, atos, comportamentos que não fazem mais sentido para o que desejo viver. 


De me libertar de velhos padrões. 

De quebrar velhos ciclos ancestrais, honrando-os, mas escolhendo fazer diferente e seguir por novos caminhos.


De me conectar com meu coração, com meu corpo, perceber o mundo.

De mergulhar em mim, no meu mundo intuitivo, no meu espaço sagrado.


De me preencher inteira de pai e de mãe, tomar de canudinho e me lambuzar inteira com essa vida que me foi dada de presente por Deus, através deles. 


Vem da força do silêncio, da força de gerar vida, da força de colorir a vida em preto e branco. 


De conseguir comunicar de forma vulnerável e permissiva: necessidades, desejos, sentimentos e problemas. 


Hoje , para mim, a minha força vem da minha capacidade em pedir ajuda, e não de fingir que eu não preciso de ninguém e de que dou conta de tudo sozinha.


De me abrir para receber do outro e da vida. 

De não mais emburrar e fechar meu coração, mas ter a maturidade de conseguir lidar com meus problemas relacionais e virar a grande chave de não me manter mais como vítima inocente diante deles. Entender que às vezes preciso “sujar minhas mãos” e sair da inocência ou abrir mão da razão, para estar nas relações. 

De também me responsabilizar pelos meus atos e ter humildade e clareza para dar os passos necessários para compensa-los. 


Por muito tempo eu acreditei que minha força estava dentro de armaduras: da super mulher, da Mulher-Maravilha e guerreira, com minhas bandeiras erguidas e armas em punho. 


Hoje sei que minha força habita onde há beleza, leveza, onde há lastro emocional sustentado.

A minha força hoje habita na minha capacidade de ser feliz, de ser leve e fluir e estar presente no AQUI AGORA da vida. 


Para mim, esse tem sido o verdadeiro segredo do feminino, minha verdadeira força de mulher. 



Gabriela Lima, mulher, amazônida, aos 41 anos se (re)descobrindo mulher.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Clichês e retrospectiva

Vocês já sabem que eu sou fã de clichês. Eles existem por uma razão e são muito, mas muito úteis. Então, vamos ao clichê anual de fazer uma retrospectiva do ano que passou e do quanto aprendemos com ele.

Mas vocês também sabem que sou bem objetiva, e o que aprendi com esse ano foi: sou resiliente pra caramba. Spoiler dado, vamos aos fatos e vocês (espero) irão concordar comigo.

Estava há 11 anos em um emprego pelo qual me exonerei de um concurso público, mudei de estado e deixei minha filha aos 18 anos seguir o rumo dela, também em outro estado. Baita investimento. Acontece que há um tempo, vinha tendo reações não tão legais ao trabalho. Choro constante, angústia, sonhos/pesadelos, falta de perspectiva, crises de pânico e por aí vai (a lista é longa e posso falar mais sobre isso em outro momento).  Resumindo, cheguei a um ponto de colocar um balde ao lado da minha estação de trabalho (home office, graças à deusa) por medo de passar mal e vomitar a qualquer momento. O balde foi usado mais como suporte mesmo, mas o mal estar era constante e cada vez menos suportável.

Houveram muitas conversas, terapia, medicação, meditação, orações.... e tive que pedir demissão. Tive, pois das opções que me foram oferecidas era a única que me trazia alguma paz.
Saí do emprego. Desempregada pela primeira vez desde os 16 anos de idade. Não tinha ideia do que fazer. Não tinha ideia de quem eu era sem trabalho.  Me lembro claramente de um dia em que perguntei pro meu gato (o Gordinho) como ele passava os dias. Ele se espreguiçou, e deitou no chão da sala. Deitei do lado dele. E dormi. Um sono entregue e cheio de gatilhos.

Nesse período eu estava participando de um processo seletivo que, modéstia à parte, eu tinha certeza de que iria ser selecionada. Não fui. Males que podem vir pra bem, me disseram. Na hora, fingi acreditar (não tinha muita escolha mesmo). Meu único plano, então, era tirar um ou dois meses para descansar e me recuperar. E depois, mais forte e mais centrada, recalcular a rota.

Nesse mesmo período, meu pai começou a ter sérios problemas de saúde que só se multiplicaram. A cada dia, levávamos um susto e o tratamento mudava. Foram 7 internações hospitalares. A atitude mental dele, o apoio de amigos e familiares, a dedicação da equipe médica, fizeram com que, alguns meses depois, ele hoje leve uma vida normal e autônoma. Mas ao custo de noites sem dormir, idas e vindas à casa dos meus pais, ao hospital, à minha casa, a consultórios médicos, farmácias, pronto socorro, etc. Ao custo de muita incerteza, de insegurança, de buscar entender informações complexas não muito disponíveis. A recuperação milagrosa do meu pai veio. E os meses sem descanso físico nem mental cobraram a conta.

Não é um desses clichês que a gente ama? A conta chega. E chega viu?

O ano não foi só (tudo) isso, claro. Teve reencontros com amigos, teve desafios profissionais, teve viagens e muita, mas muita terapia pra ajudar a dar conta minimamente de tudo. Terminei minha segunda formação como instrutora de yoga e finalmente criei coragem de começar a dar aulas. Tive excelentes oportunidades como consultora, vindas de ex colegas generosas e competentes, e o prazer de trabalhar está voltando.

Como os memes são os novos clichês: fiz o que pude; podia pouco.

Refleti bastante sobre abrir aqui no blog esses assuntos tão pessoais e de tanta vulnerabilidade; mas a experiência tem me mostrado que falar abertamente sobre assuntos "difíceis" pode ser uma ponte ou mesmo um ponto de apoio para pessoas que estejam navegando num mar de incertezas e medos.

Ainda estou aprendendo com tudo o que vivi. Ainda me surpreendo (positiva e negativamente) com atitudes das pessoas. Ainda estou me entendendo sem o trabalho para o qual me dediquei por mais de uma década (essa palavra década faz a gente parecer velha né). Ainda estou refletindo sobre a brevidade da vida. Sobre a importância da saúde, da força mental e das boas relações. Ainda estou recalculando a rota e buscando onde posso melhor contribuir com o mundo, sem me violentar. Ainda estou acertando a conta. 


Renata escreve quando o coração manda e ela, aquariana, obedece. E deseja um 2024 de muita paz para todes. 

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

“Deixa eu me reapresentar que eu acabei de chegar”



“Gabriela… sempre Gabriela… eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim..” Será?! Me conhecendo como hoje me conheço, nesses 41 bons anos, sei que definitivamente não tenho a chamada “síndrome da Gabriela”.


Eu mudei. Não vou dizer que sou uma “Metamorfose Ambulante”, porque minha própria metamorfose me fez gostar da estabilidade e da calmaria. Para sempre será assim? Só o velho tempo poderá dizer.


A ideia de me reapresentar surgiu a partir de reencontros com amigos, primos e conhecidos que falam: “nossa, como você mudou”.  Então de repente você está chegando agora. Ou me conhece de outros carnavais. Permita-me.


Decidi reescrever uma auto descrição que fiz há 10 anos, para o blog de (hoje amigas) balzacas, o “De repente 30” que já virou “De repente 30, 40” e está prestes a incluir o 50! 


E se você ainda não percebeu, os meus textões aqui denunciam: há uma escritora que habita em mim.


 Então hoje, aos 41, posso dizer:


Sou tudo que li, vi, ouvi e vivi. Tudo que  experienciei nessa vida. Cada sorriso, cada deserto, cada renascimento, cada cicatriz e cada libertação. 


Acreana do “pé rachado”. A sede de me jogar enlouquecidamente no mundo deu lugar a estar em paz com minhas raizes. Aceitando o meu lugar dentro de mim. Claro que ainda quero conhecer uma parte do mundo.  Mas não tenho mais pressa. E antes disso, ainda quero dar um mergulho nos rios e florestas que meus ancestrais ajudaram a desbravar. 


Aprendi também que na vida de adulto, a gente precisa perder para ganhar. As escolhas nos tornam quem vamos sendo. A gente só precisa banca-las e não olhar com remorso para trás. Faz parte da autorresponsabilidade. 


Ariana de sol e lua. Ascendente em gêmeos (comunicadora nata!), mas com Mercúrio em peixes, que traz profundidade, emoção e subjetividade nas palavras ( e muitos atrapalhos!!). Um Marte em libra  que me ajuda a ser diplomática. Então não sou a típica ariana explosiva, mas às vezes “briguentinha” (com classe) e tenho meu lado chatilda também (pra quê eu vou mentir!? Haha).


Aliás, pouco a pouco vou me livrando da máscara da certinha-boazinha-perfeita. Aprendi com o tempo a dizer não, antes com mais culpa que hoje. O exercício de limites tem sido lindo! Ainda me exijo e cobro mais do que deveria, mas bemmm menos do que antes. A terapia anda em dia também pra isso. 


Já me julguei “empoderada”, uma fachada que  hoje sei que só escondia o tamanho das minhas feridas e traumas. A forte por fora, mas tão frágil e carente por dentro.. A dita corajosa, mas no fundo tão medrosa. Um medo de me jogar de verdade como adulta no jogo da vida. Eu brincava de me relacionar. 


Declarei muita guerra aos homens, ou por acha-los “maus”, ou por acha-los inferiores, ou por acha-los desnecessários. E quando eu passei a mergulhar no meu poder real, de estar no meu lugar (primeiro de filha, segundo de mulher), uma chave profunda virou dentro de mim. Mergulhei nesse mundo de magia, poesia e leveza do feminino, aprendi a receber da vida e do outro. Aprendi a pedir ajuda, a me vulnerabilizar, a me conectar com meu corpo e meu sentir e sair um pouco do “cabeção” (ainda em processo!). Aprendi o movimento de colocar as setas para mim, a cuidar do meu jardim e me amar. Nem preciso dizer que minha relação com o masculino acabou também mudando  profundamente nesse processo. Um processo de quase dois anos de estudo. Mas esse assunto e descobertas podem ser tema de um outro texto.


As lista sem fim de amizades deu lugar aos amigos que se contam nos dedos. Ainda adoro me relacionar, trocar ideias, experiências, aprendizados, carinhos e afetos. Mas tenho aprendido a ser mais criteriosa com as pessoas e espaços que acompanham de perto minha intimidade e minha vida. 


Sempre me disseram corajosa (ou doida!), por largar por um tempo os meus  empregos públicos,  para viver só de empreender. Fracassei, senti vergonha, recalculei a rota. Voltei, ressignifiquei, entendi onde errei e não desisti. Eu sou uma intraempreendedora, não posso negar. Faço isso quanto posso no serviço público.




Aliás, eu amo trabalhar e gosto de trabalhar por produção. Não sou boa com burocracias, mas sou boa em executar, criar, fazer.


Gosto tanto de trabalhar, que se me empolgo, posso adoecer (workaholic em recuperação). Então, ao longo dos anos e Bornouts, aprendi a me respeitar e aprender sobre meus limites.


 Hoje o meu maior valor é o de QUALIDADE DE VIDA. Não tem nada na frente disso, além de Deus. Porque entendi na marra que se eu não estiver bem, as pessoas ao meu redor tbm não ficam, meu trabalho não acontece. Essa lição levou anos e anos para ser assimilada.


No campo profissional, me considero fora da caixa. Vejo conexões onde nem todos veem. Fui me especializando na área da educação, na área do desenvolvimento humano e da saúde mental. Me formei em  Fonoaudiologia, mas me considero uma profissional da saúde. E da comunicação e do desenvolvimento de pessoas. Adoro os dispositivos de roda, lugar em que posso aprender e servir em espaços coletivos com impactos no individual. Isso me brilha os olhos. Ahhh e amo comunicação, assim como amo música, por isso apresentar um programa de rádio no sistema público me contempla em diversos sentidos. 


Continuo sendo curiosa e sonhadora. Não sofro mais de otimismo crônico, a maturidade me trouxe mais pé no chão. Mas continuo tendo uma profunda fé no universo. E nas pessoas. Gosto de gente, da troca. Mesmo sabendo que ninguém é perfeito, tampouco eu. Aliás, o maior aprendizado pra mim foi ABSORVER  que não sou perfeita, e assim aceitar mais as falhas alheias. Meu Deus, como isso liberta. Poder dizer “tem algo contra mim? Pois fica contigo, não precisa me dizer não!” Hahaha. Vi isso num vídeo e levei para a vida. Fale o que quiser, pense o que quiser. No final, quem sabe de mim, sou eu.


Eu continuo achando que casar e comprar uma bicicleta seja possível. Falando nisso, nunca disse tão claramente e abertamente: meu maior sonho é casar e construir uma família!!!  Sempre foi no fundo, mas por tanto tempo me enganei, focando  na carreira, cursos e mestrados da vida. Em festas, viagens, amigos que não eram tão amigos, relações fadadas ao fracasso. Tudo valeu a pena, foi importante. Talvez teria feito menos, bem menos. 


No mais, continuo amando cinema (muito), cozinhar ouvindo música em volume máximo (com uma taça na mão dependendo da ocasião). 

Dançar continua sendo um exercício de libertação; escrever, um aprendizado constante. Amo viajar (quero ficar rica pra isso! Hahaha). Adoro dias de sol e também banhos de chuva. Gosto (hoje) de cachorro (muito). 


Acredito em Deus, e em outros tantos seres iluminados. E escolhi Jesus para ser meu guia (me batizei como cristã no ano passado), já que todos os meus caminhos espirituais sempre acabavam me levando até Ele. E filha de pais Marianos, sigo rezando também por sua Mãe … Nossa Senhora que também cuida do meu coração ❤️


 E no fim, continuo aprendendo, sempre.



Gabriela volta a escrever aqui depois de anos. Vai precisar resumir esse texto pra poder atualizar a sua bio do blog. Não sabe quando aparece de novo, mas se sente  feliz, por criar ânimo de voltar por aqui . 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

O Cuscuz

Depois de uma vida inteira baseada na certeza de que não só eu não gostava, eu era fisiologicamente incapaz de engolir cuscuz, descobri que: pasmem! Eu gosto de cuscuz.

Gosto de cuscuz doce, gostoso de cuscuz com um pouquinho de sal. Gosto de cuscuz com leite de côco. 

Essa descoberta aconteceu durante a travessia do Vale do Pati, na Chapada Diamantina, que fiz esse ano (2022 para a posteridade). Foram cinco dias caminhando, superando limites físicos, mentais e espirituais, com muito contato com a natureza e com pessoas incríveis. Onde os banhos de cachoeiras eram como estar novamente no útero. O útero de gaia, literalmente

As noites eram ao redor da fogueira vendo a via láctea e ir dormir às 20:30 era socialmente aceito, assim como passar o dia de roupa molhada e cheia de barro. 

E o café da manhã...ah, o café da manhã era um dos pontos altos dessa rotina. E todos os dias eu comi: cuscuz. Comi com apetite e prazer. Comi como quem degusta a história e o aroma a cada bocado.

Fiquei tão animada que comprei uma cuscuzeira pequena (vermelha e linda, que já chamei de Ilda) e vou incorporar essa comida na minha rotina. Talvez querendo trazer um pouco do gosto da natureza pra casa.

Depois disso, minha filha me mostrou o podcast “Só ouço falar” e ouvimos juntas o episódio da laranja (https://open.spotify.com/episode/3Gl1H7CGW7LZ48gNm4Suik?si=03e6d7e0e44d4fad), que de uma forma engraçada e leve conta uma experiência semelhante à minha do cuscuz mas, como você já deduziu, com uma laranja. 

Foi um momento: uau! Percebi que o cuscuz era a minha laranja, ou seja, era aquela decisão que tomamos (ou que foi tomada por nós) há muito tempo sobre o que gostamos e do que não gostamos, e que nem questionamos. Vivemos com essas certezas do que é bom e do que é ruim. Do que gostamos, fazemos, podemos, queremos e do que não. E quanta coisa deixamos de provar e viver por causa disso... Quanto nossa vida poderia ser muito mais rica (ou divertida) se a gente não acreditasse piamente nessas crenças que vêm sabe-se lá de onde.

Renata está certa de ainda há várias laranjas nesse mundo e está animada para olhar para isso. Quem sabe você também possa olhar e descobrir novos sabores, gostos, sensações. Afinal, a vida é cheia de laranja. E cuscuz.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

 Meditação

O que vem na sua mente ao ler essa palavra?

Essa é mais uma daquelas palavras que chegam carregadas de significados, que podem ser diferentes para cada pessoa, mas que em geral não deixam espaço para novas percepções.

Esse texto é um relato da minha experiência com meditação, e pode ser que te incentive a ter uma curiosidade para entender o que meditar pode significar, a partir da sua própria experiência.

Fui criada em uma família católica, e frequentar missas e grupos de oração era parte da minha rotina, sem questionamentos. Eu gostava dessa vibe de pessoas reunidas com objetivos mais elevados. Até que fui percebendo que não era bem assim, e fui aos poucos me desiludindo e me afastando. Como herança dessa época, ficaram resquícios de alguns preconceitos e a falta de hábito de buscar outras formas de enxergar o autodesenvolvimento.

Águas passadas, cheguei em uma fase da vida (que imagino que seja muito comum) em que estava tão estressada que não dormia, não me concentrava e me sentia oprimida pela quantidade aparentemente desumana de demandas para resolver. Nessa época, caiu nas minhas mãos um livro que foi um divisor de águas: Para Viver em Paz - O Milagre da Mente Alerta, do fofo monge Thich Nhat Hanh. Por mais que eu tente, não lembro como ele veio parar na minha vida (se o anjo que me indicou esse livro estiver lendo o texto, me fala!). Tenho esse livro até hoje, rabiscado e meio manchado, e é um dos poucos livros que faço questão de carregar em todas as mudanças.

É um livro pequeno, simples. E que abriu as portas para uma percepção de que viver melhor não só é possível, como é fácil. 

Juro.

Nessa época eu estava tão estressada que atos simples como lavar a louça eram quase uma tortura. A cabeça pensando nas milhares de coisas a serem feitas, o corpo preso em uma atividade necessária, mas que parecia tão inútil, gastando tempo precioso que podia estar sendo usado para tantas coisas que eu não conseguia nem enumerar. Uma luta entre o presente e o futuro, e o passado dando pitacos e gerando culpa... era um pesadelo. Seguindo os conselhos do livro, me propus a fazer um exercício buscando manter a mente no presente, a tal da mente alerta que o livro menciona já no título. O exercício era simples: ao lavar a louça, lave a louça. Quem já sentiu ansiedade já percebeu que isso pode ser bastante desafiador. Se tem algo que eu sou, é dedicada, e eu me dediquei a essa atividade. Olhei no relógio antes de começar a lavar a louça, e ao lavar cada prato, cada copo e cada talher, eu falava em voz alta: estou lavando o prato; estou enxaguando o prato, estou sentindo a água nas mãos, estou percebendo a espuma escorrer com a água. Optei por falar em voz alta porque minha mente estava tão barulhenta que eu não conseguia apenas pensar. Mesmo me sentindo boba, segui o exercício até terminar de lavar a louça. Quando acabei, olhei novamente no relógio. Cinco minutos tinham se passado. Se me perguntassem quando tempo eu levava em média para lavar a louça, eu teria dito sem titubear: pelo menos 20 minutos perdidos da minha vida! (sim, ainda rolava um drama para piorar a situação).

Percebi que levei apenas 5 minutos para fazer uma atividade necessária, sem me desgastar com a ansiedade de coisas que não podiam ser resolvidas enquanto eu lavava a louça, com bônus de não ter quebrado nada (que já estava virando rotina) e de perceber que a mente tinha descansado um pouco...ufa. Enquanto eu lavava a louça, eu estava lavando a louça. Simples assim. Isso foi revolucionário na minha vida!

O livro não é sobre lavar a louça, mas sobre como viver em paz. E o caminho é a presença, é a compaixão, é escolher viver dessa forma. No mundo em que vivemos, com tanta pressa e tanta demanda, pode parecer desafiador, mas é possível. E um caminho é a prática da meditação. Ela é acessível a tod@s, e a sua prática traz benefícios em diversos aspectos da vida. Apesar de sua influência budista, as práticas são laicas, não é necessário ser budista para meditar.

Depois desse episódio, me tornei mais e mais interessada em meditação, passei a me tornar mais consciente, mais compassiva e sim, a viver melhor. Isso quer dizer que eu não me irrito e que medito o tempo todo? Não. Continuo humana, sentindo, errando, aprendendo, e continuo meditando, estudando e acreditando que é possível viver em paz.

 


Renata escreve aqui esporadicamente, há anos, e um dos seus desejos para 2022 é uma vida melhor e com paz para tod@s. Ela acredita que a prática da meditação é um caminho para isso.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Conto do futuro

 O ano é 2034, estamos em janeiro e faz 45°C (o aquecimento global tem causado grandes estragos no mundo).

Sento-me com minha sobrinha, que está prestes a completar 15 primaveras e resolvo falar sobre como era o mundo no ano em que ela nasceu: 2019.

Nostalgicamente, digo a ela que íamos à lugares sem máscara e que havia festas, naquela época. 

Ela pede, com a mesma carinha que fazia na infância, "mostra uma foto, dinda"? e eu mostro as muitas fotos que mandei revelar em 2021, um ano depois da pandemia ter começado. Ela olha todas elas e vejo seus lindos olhos verdes brilharem.

Então ela se atém a uma foto específica:

"Você está tão linda nesta, dinda. Parece tão feliz". É, eu costumava ser bem feliz. Ia aos lugares que queria, saía para ouvir música e tomar um chopp, organizava as festas da família, incluindo as da minha filha, é claro. 

Teodora está no 1° ano de faculdade. A escolha do curso foi óbvia: escolheu o que é possível fazer, embora na infância sonhasse em ser atleta. Ficou complicado no mundo das máscaras e ela acabou desistindo. Teve sua vida escolar reduzida ao mundo online, as sucessivas pandemias desde o coronavírus impediram que pudesse viver a escola como no meu tempo: espaço e presença físicos. 

Que saudades da escola! Nos aglomerávamos nos corredores, esperando os professores chegarem. Mais tarde, quando fui professora, meus alunos faziam o mesmo. Mas isso foi antes de 2020. Parece que foi em outra vida.

Acordo subitamente, corpo encharcado de suor. Demoro um pouco para me situar. Ainda estou em 2021, em meio a uma pandemia. Faço uma prece e agradeço a Deus: a possibilidade de repetir que "vai passar" não nos foi tirada.


Andri escreve às sextas-feiras e acordou, no meio desta semana, após ter um sonho onde essa história acontecia. Dedica para Mariah (sua sobrinha) e Teodora, sua filha, que vão poder viver todas as coisas que ela mesma viveu na sua infância e juventude, porque as palavras têm poder: "Vai passar".


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

SOBRE O DIA EM QUE O ESTADO INTEIRO ENTROU EM BANDEIRA PRETA

 

Sentou na única poltrona da casa em que não costumava sentar. Pensou que, mudando de perspectiva, poderia mudar também tudo o que não estava bom na sua vida.

Dias antes, havia se dado conta de que logo vai completar um ano de home office. O que até pouco tempo atrás não estava mais incomodando, começou a gritar dentro dela.

Por um longo tempo, foi bom curtir o lar, mas agora, parece que o ar está ficando escasso e não há outro modo de recuperar o fôlego, senão saindo para o mundo lá fora. Só que esta possibilidade não se aplica no momento. Lá fora, bandeira preta em todo o Estado. A pandemia voltou a ganhar força.

Pouco mais de um mês atrás iniciaram as vacinas no Rio Grande do Sul e a esperança tomou conta de boa parte das pessoas, incluindo ela.

“Onde foi que nós erramos”?- indaga a si mesma enquanto lembra que colocou algo no forno e esqueceu de monitorar o tempo. Nos seus devaneios já começa a filosofar sobre o tempo, o que ele realmente significa, senão uma medida socialmente convencionada a fim de nos manter ocupados.

Sente falta dos dias cheios, em que chegava em casa exausta e se atirava no sofá, antes de dar conta de todas as tarefas que ainda a aguardavam em casa. Sente falta da sensação de “normalidade” de uma vida pautada pelo livre arbítrio. Entende a circunstância da pandemia, compreende a necessidade de “ficar em casa”, mas não consegue deixar de pensar que, em algum momento, as pessoas seguiram com suas vidas, adaptando-se à nova rotina.

No seu íntimo, a única pergunta que persiste é “até quando”?

 

Andri pretende voltar a escrever nas sextas-feiras, porque o caos que habita seu íntimo precisa sair de dentro dela.

 

 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Memória

“Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiros dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. (...)Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. (...)Naquele ano me privaram da primavera, e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.”(*)

Sou uma pessoa conhecida pela minha falta de memória com datas. Confundo-me com momentos; nunca sei ao certo onde e quando ocorreram. Mas guardo com cuidado, e em ricos detalhes, todos os sentimentos que tais momentos me proporcionaram.

O dia 18 de março de 2020 certamente será diferente. Estou certa de que guardarei esta data na memória como o dia em que perdi minha liberdade. Mais precisamente como o dia em que renunciei à minha liberdade, pensando em todos aqueles que não a possuem sequer para, momentaneamente, dela também renunciarem.

Somos gregários. E eu me sinto ainda mais gregária que muitos. Também sou conhecida por viver em festa, cercada de pessoas de todas as raças, credos e cores, conversas acaloradas ao redor da mesa, ao tilintar de copos que se esvaziam rapidamente, gargalhadas escandalosas e obscenas, braços dados e abraços apertados no meio da rua. Sofro. Já não sei se serei lembrada assim. Ou talvez o seja, porém com data para acabar: 18 de março de 2020. Passados nove meses e dez dias, confesso que nutro meu espírito, algumas vezes de decepção, outras de esperança. Não sabemos quando isso irá acabar, nem se irá acabar.

Em 18 de março de 2020 eu ainda tinha esperanças de comemorar meu aniversário, pouco mais de dois meses depois, com festa. Um grande encontro de amigos. Eu ainda não estava abatida, consegui comemorar remotamente e, confesso, naquele dia pareceu-me extremamente divertido. Mas não consigo mais viver um momento tão crítico alegremente. Não consigo mais deixar de sentir repulsa por quem nega a existência do perigo e relaxa com a vida alheia. São mais de 190 mil famílias chorando no país. Sem contar aqueles que choram em solidariedade, mesmo que (talvez, ainda) não tenham perdido um ente querido.

Tenho a impressão de que nem a proximidade da morte foi capaz de fazer com que grande parte das pessoas refletisse a respeito do que realmente importa. Incontáveis pessoas ao meu redor não foram capazes de renunciar ao direito de ir e vir em prol da vida, em prol do outro. As mesmas pessoas que enchem igrejas e templos, que pregam amor ao próximo. Venho tentando oferecer a outra face, mas está cada vez mais difícil.

Do meu recolhimento, ouço o alvoroço de crianças brincando, gargalhadas de adultos e penso que nunca imaginaria que sons outrora tão alegres e convidativos um dia me causariam um misto de vergonha, horror, náusea, decepção. E saudades, muitas saudades da época em que a preocupação com o outro me parecia mais etérea (embora não devesse jamais).

Às vezes penso que morri um pouco. Às vezes penso que há muita vida à minha volta e à minha frente. Às vezes penso que meus sonhos estão cada vez mais distantes da concretude. Outras, sinto que é apenas uma questão de tempo até eu voltar a alçar vôos cada vez mais distantes.

O desespero eu aguento. O que me apavora mais é a esperança. Não sei ao certo quem disse isto, dizem que o Millôr Fernandes. É exatamente o que sinto neste momento. Uma esperança apavorante. Porque em 2020 eu sinto que morri um pouco, mas em 2021 eu não vou morrer de novo.


Laeticia tem esperanças em um futuro melhor. Quando este dia chegar, vai botar seu bloco na rua.

Esta postagem possui trilha sonora!!

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(*) Gabriel García Marques em O Amor nos Tempos do Cólera.

sábado, 22 de agosto de 2020

Histórias (não só) da infância

As histórias contadas para as crianças, geração após geração, não apenas conectam essas gerações umas nas outras, como também passam lições de vida, a tal " moral da história". Desde criança gosto das palavras...das histórias, contadas oralmente e das histórias escritas. Hoje em dia ouço podcasts, mas na infância uma das melhores atividades da escola era, sem sombra de dúvida, a hora do conto! Lembro que minha professora da pré escola lia diariamente um trechinho de um livro "enorme" e eu amava esse momento. 
Lembro com uma sensação de orgulho quando a bibliotecária desistiu de tentar me fazer reler os livros "para os pequenos", e finalmente me liberou para a retirar livros da "ala dos grandes"! Lembro de algumas histórias que me marcaram, como a da cigarra e da formiga. Eu oscilava entre achar muito injusto que a cigarra passasse frio e achar que era resultado de ela não ter se preparado (esse era o enfoque dado quando eu ouvia essa história, um aviso pra nunca pararmos de trabalhar...). Mesmo assim, eu não conseguia achar certo que uns tivessem conforto e outros, nada. Porém não conseguia expressar e discutir sobre esse dilema, assim como tantos dilemas da infância, e guardei ele. 
Quando percebi que a cultura também é importante, e não apenas o trabalho, eu lembrei muito dessa história da cigarra e da formiga. Será que a formiga não aproveitava as canções da cigarra? Será que elas não tornaram a labuta mais leve? Será que ela não poderiam ter cooperado, cada uma fazendo seu melhor e ajudando-se, mutuamente? Não sei como foi, e nem qual a melhor solução, mas penso que pelo diálogo entre cigarras e formigas, e pelo reconhecimento de que trabalho braçal, cultura e lazer são importantes, podemos escrever uma nova história. Você tem alguma história da infância que te marcou? Conta pra gente. 

Renata escreve esporadicamente por aqui, e tem dias de cigarra e dias de formiga.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Você já se ouviu hoje?

Estive ausente do blog. Na verdade, estive ausente da escrita, essa forma de expressão que tanto prezo e que por muito tempo foi meu suporte para comunicação e autoconhecimento. O blog, com o passar dos anos, ganhou uma identidade muito maior que os textos publicados, e nessa dimensão estou completamente presente.

Mas voltando à escrita, e ao nosso afastamento, percebo que foi um afastamento da minha própria voz. Um abafar do que eu tinha para me dizer, mas preferia não ouvir. Venho me sentido cada vez mais preparada para fortalecer minha voz, me respeitando e me ouvindo.

Percebo também que, parte da minha relutância em voltar a escrever para o blog, vem dessa "pandemia de conteúdo" que foi trazida (ou criada) pela pandemia de coronavírus. Muitas reflexões excelentes já foram feitas sobre os impactos da pandemia na saúde, na economia e até no sono das pessoas, e não vou entrar nessa discussão. Mas quero chamar vocês para refletir sobre a pandemia de conteúdo que segue crescendo. De repente, todos têm muitas coisas interessantes e "imperdíveis" a serem compartilhadas, e TEMOS que assistir/ouvir/compartilhar tudo o tempo todo. Por um lado isso é maravilhoso, pois o acesso a conteúdos de qualidade está sendo muito facilitado.

Por outro lado, gera uma ansiedade (mais uma) de tentar ver tudo, acompanhar tudo, saber de tudo e (claro) aparecer em tudo... Confesso que, no início dessa onda que eu, ingenuamente, achei que seria breve, eu tentei "aproveitar" bem e assisti (ou, melhor, deixei o celular conectado) em várias lives e aulas online gratuitas de diversos assuntos. Como portadora-em-recuperação de FOMO (o medo de perder as coisas) eu, felizmente, logo percebi que era simplesmente impossível, e extremamente desnecessário tentar acompanhar tudo, e fui ficando cada vez mais seletiva nas escolhas dos conteúdos que quero ver. E se não conseguir ver todos os selecionados, tudo bem.

A partir do momento em que consegui acompanhar de maneira mais presente os conteúdos, fui percebendo que há um excesso de tudo... conteúdos sendo veiculados em diversos canais simultaneamente, que depois ainda ficam gravados e seguem bombardeando timelines e e-mails... o horário "de pico" das lives, em que aparentemente todo mundo está vendo ou fazendo uma live... entrar numa live com poucos participantes "sem querer", e da qual você fica sem graça de sair virou uma nova forma de gafe (dê o primeiro block quem nunca fez isso)... assistir stories de algumas pessoas pode se tornar um trabalho de dedicação integral, dada a quantidade de assuntos (ou falta de, acontece).

E mesmo consumindo poucos conteúdos de poucas pessoas, por vezes me questiono a motivação de quem produz e distribui. Há quem trabalhe com isso, e já tinha essa prática antes da pandemia; há os marinheiros de primeira pandemia; há os amadores; há os deslumbrados. São pessoas que precisam muito serem vistas e ouvidas. E como tem gente precisando disso: atenção! E aprendi a duras penas que perceber as nossas necessidades e cuidar delas é uma tarefa essencial de cuidado a ser feita com autorresponsabilidade. E muitas vezes a solução é muito mais simples do que buscar likes e seguidores por meio de estratagemas virtuais.

Então, mesmo que relutante em "produzir mais conteúdo", quis deixar aqui esse texto e propor uma coisa bem simples: escute mais. Escute a si mesm@ e escute as outras pessoas. Escutar mesmo, sabe? Sem julgar, sem interromper, sem concorrer com a história da outra pessoas. Só escutar. Vamos atendar a essa necessidade que está se mostrando de forma tão aparente, e reduzir a sobrecarga e a solidão. Escutar é uma forma de acolhimento e de cuidado. Para se escutar, é preciso silêncio. Para escutar o outro, é preciso presença.

Renata escreve esporadicamente, e hoje venceu diversas resistências internas para propor: escute mais. Se cuide, use máscara e, se puder, fique em casa.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Descanse

Em tempos de home office obrigatório, acúmulo de atividades e todas as incertezas inerentes à pandemia, há uma pressão ainda maior pela produtividade. Estamos sendo constantemente bombardeados por lives, dicas, cursos e outros que nos incentivam a sermos produtivos o tempo todo. Faça a primeira live quem não ficou ansioso ou indeciso sobre como usar melhor seu tempo, se fazendo exercício, limpando a casa, fazendo os deveres de casa com as crianças ou cozinhando; ou tudo ao mesmo tempo. 

Mas um dos princípios da produtividade, para alguns autores com os quais eu concordo muito, é que ser produtivo é fazer o melhor uso do seu tempo, naquele momento, com os recursos que você tem disponíveis. E muitas vezes o melhor a fazer é: descansar. Uma boa noite de sono ou um momento de relaxamento consciente, por exemplo, podem ser chaves para a saúde física e mental. E não tem como sermos produtivos se não estivermos saudáveis. 

Ainda não está convencido? Pense que seu corpo é uma cidade. Cada célula é uma pessoa. E cada pessoa tem seu papel. Uns são agricultores, produzindo nosso alimento. Uns fazem a defesa, como policiais. E por aí vai... Quando essa cidade está sob ataque, toda a população fica em estado de alerta. Em casos graves, vão todos para um abrigo antiaéreo! Todos se preparam para sobreviver. E nesse estado de stress, ocorrem alterações hormonais importantes para nossa defesa. Nosso corpo/cidade se mantém apto a sobreviver, mantendo as funções essenciais. Porém, se a população dessa cidade passar muito tempo em estado de alerta...não vai ter ninguém plantando ou brincando. Não vão ocorrer os processos normais que mantêm a cidade/corpo funcionando. 

Por isso que, principalmente em momentos de muito stress, precisamos desligar o alarme e deixar nossas células todas descansarem. Se restaurarem. Respirarem. Para poder fazer suas funções com tranquilidade. Entendo que isso vai contra muitas coisas em que acreditamos, e que pode ser necessário que a gente aprenda a descansar. E, sim, existem técnicas para isso! Mas experimente exercitar um descanso reparador, com muito conforto, sem estímulos externos (então deitar no sofá para assistir TV não conta), e imaginar suas células/cidadãos todas se restaurando, descansando e se fortalecendo. 

Renata escreve esporadicamente aqui e apenas deseja a todos que puderem: bom descanso!

quarta-feira, 8 de abril de 2020

“E no dia seguinte ninguém morreu.”

Até que enfim eu consegui terminar um livro desde que começou a distopia. E não por acaso foi um livro distópico que começa “e no dia seguinte ninguém morreu.” Nesses dias em que no dia seguinte a gente contabiliza quem morreu. E se preocupa em saber se alguém dos números era nosso conhecido. Tenho a impressão que nessas circunstâncias todos se tornam conhecidos. Todos os números doem como se fossem o nosso amigo. Afinal habitamos o mesmo mundo. Embora não estejamos sujeitos as mesmas intempéries. 

Vi as pessoas em isolamento social fazendo listas de livros, filmes e séries para assistir. Eu não fiz nada disso, meus dias seguem parecidos. Sou meio isolada. Gosto assim. Sigo trabalhando nos mesmos horários. Eu só queria conseguir ler um livro. 

Ano passado foi um ano  tão ruim, e não consegui ler muita coisa. E agora está tão ruim que eu nem lembro porque o ano passado foi tão ruim. Eu achei que era por isso, porque estava ruim, que eu não conseguia me concentrar. Ou porque já lia o dia inteiro a vida inteira, pesquisadora que sou. Descobri que era caso de idade. Resolvi colocando mais um foco nos óculos. E entrei num ritmo bonito de leitura. Estava satisfeita, leitora que sou desde criancinha. 

Mas aí veio a distopia. E eu não conseguia mais ler. E não porque tem que ficar isolada em casa. Para mim é mais fácil que a maioria. Eu tenho meu marido e muitos bichos. Eu posso trabalhar em casa. Eu tenho um teto para me isolar. Eu tenho água todos os dias para lavar as mãos. Mas não há possibilidade de no outro dia não haver números. E os que podiam fazer algo para termos menos números estão presos em narrativas particulares. E as pessoas que podem, não deixam de sair de casa, mesmo podendo virar números. Mesmo podendo  transformar os outros em números. E tem o vizinho aqui do meu lado levando vida normal. Vida normal, na distopia. 

Mas hoje eu consegui terminar um livro, e nele disse Saramago “a morte não dorme.”

A não ser que a gente tenha que sair para trabalhar, não tem nada que não se possa deixar para depois que tudo passar. 

Cuidemo-nos.🌹



Luciana deseja que todos fiquemos bem e que sejamos responsáveis não só por nossas próprias narrativas.

domingo, 29 de março de 2020

Lar

Nossa vida vai se moldando às experiências que vivemos. E essa experiência que todos nós estamos vivendo nas últimas semanas tem afetado muito a humanidade, de diversas formas. Uma delas é dar espaço a questões internas, na limitação das distrações rotineiras. Assim, aproveito esse momento para voltar para mim, e para os meus. E, claro, para minhas questões. Dentre elas:

Onde é seu lar?
Como sabes?
É um endereço?
Uma época?
Um planeta?
Uma sensação?
São momentos sutis em uma busca. 
São sensações de segurança e acolhimento que dão o ar da graça, em certos momentos.
Pode ser físico. Material. Concreto. Mental. Sutil. Espiritual. Um espaço. Um som. Eco. Cheiro. Sabor. Calor. Arrepio. 

Lar.

Tão desejado quanto arredio.

Lar. 

O mulher jeito de ter é não ter.
É ser. É estar. Aqui e agora.

Renata segue oscilando entre momentos de medo e ódio, e momentos de introspecção e aprendizado. Seguimos.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Reflexões sobre esse dia da mulher

Muito inspirada no vídeo de Rafa Brites, “ Carta de desculpas” (quem não assistiu, por amor, assista!), escrevo essas palavras no dia de hoje, dia dedicado a homenagear nós, mulheres. 

Sim, somos incríveis, maravilhosas, especiais, merecedoras.. Poderosas? Minha visão hoje é que, nem sempre. Após ler “A coragem de ser imperfeita” de Brene Brown, e outras leituras nessa linha, penso diferente. Não somos inabaláveis, não somos perfeitas, não somos de ferro e nem indestrutíveis. Somos fortes, mas também frágeis. Somos vulneráveis e merecemos colo. E é sobre esse colo que quero falar hoje. Sobre o colo de uma mulher para outra mulher. Quero falar sobre sororidade.

“Tenho muito mais amigos homens, prefiro as amizades masculinas...” 

Eu já fui uma mulher que pensava assim, e já me orgulhei muito disso. 

A vida foi passando, os acontecimentos se sucedendo, a maturidade foi chegando, o amor próprio fortalecendo... Percebi que quando criticava uma mulher, estava criticando a mim mesma. Quando despreza outras mulheres, desprezava a mim. No meio do caminho fui descobrindo alguns movimentos de mulheres que, dentre outras coisas, trabalhava a sororidade na prática, “real oficial”. E o meu respeito, amor e admiração pelas mulheres só aumentou. Hoje, exatamente HOJE, enquanto reflito e escrevo esse texto, percebo que só aumentou porque o meu respeito por mim, a confiança em mim, o amor por mim e a admiração por mim, também aumentaram. 

Hoje é um prazer cultivar amizades com mulheres. Aliás, pensando aqui, quem sabe, quanto mais mulheres estiverem unidas e juntas, menos homens babacas se espalham pelo mundo (calma, rapazes, não vou generalizar, tem muito cara incrível por aí, e multiplica, senhor!). Simplesmente porque não vai ter vez, não vai ter espaço mais para homem babaca. Bem pela Teoria da Evolução de Darwin, ou esse homem “se orienta”, ou pela seleção natural, desaparece. 

O incentivo à existência de homens mais conscientes, evoluídos, respeitosos, feministas (homens e mulheres, aprendam o que significa FEMINISMO, obrigada @pripires por abrir meus olhos), é apenas uma das vantagens quando mulheres dão as mãos. São anos convivendo com o machismo, homens e mulheres criados pelo machismo de homens e mulheres, que por sua vez, foram criados por homens e mulheres machistas, e assim vai. Já existiu uma época em que mulher não podia votar!! E isso foi ontem! Os direitos vão se igualando, mas ainda há muito pelo que lutar. Talvez uma luta mais sutil (em muitos lugares nada sutil), o machismo velado (às vezes escancarado). A reflexão sobre as relações. E penso que o papel da mulher nisso tudo, de colocar limites, é fundamental. Após séculos aprendendo de forma “errada”, hoje, é por uma mulher que o homem vai aprender como deve trata-la. Pelos limites que são impostos, com firmeza. “Não é não”, por exemplo. E para quem tem dificuldade de dizer “não”, por amor, aprenda. É um dever seu. Por todas nós.

Por outro lado, penso que chega a ser triste para a maioria dos homens o fato de não ter com frequência a oportunidade de experenciar o que a gente naturalmente experencia: uma roda de apoio, de troca, nos momentos mais devastadores. Homem sofre sim, e geralmente sofre sozinho, porque não tem o que a gente tem, essa liberdade de falar de sentimentos, de desabafar, abrir o coração e se amparar, umas nas outras... Então, nesse dia dedicado a falar da mulher, quis trazer esse ponto, para que a gente aprenda e possa valorizar e cultivar isso, a amizade entre mulheres, dia a dia. Porque estar nessa roda de mulheres, não tem preço. 

Ter amigos homens é maravilhoso, é divertido, é aprendizado sobre esse universo masculino. Agora, nada substitui uma boa amizade feminina, mulheres quando escolhem se unir.

Essa mensagem é para você, que tem amigas incríveis, como eu. Cada dia mais apaixonada por elas, por conseguir criar, dia a dia, uma relação cada vez mais sólida, de confiança e apoio mútuo... ❤❤ Simmmm, pode ser que tenha mimimi, drama, falação, pode ter discordância.. Mas as relações se constroem no caminho, no diálogo. Nós mulheres estamos aprendendo, juntas, a nos relacionarmos. Foram anos sendo incentivadas a disputar, competir umas com as outras. Mas eu te digo: esse tempo acabou. 

Tamo juntas? Ninguém solta a mão de ninguém, combinado? Compartilha esse texto com aquelas mulheres que você ama, admira, que te inspiram. Aquela mulher que precisa ler e refletir sobre isso. Aquela mulher que, talvez, mereça suas desculpas. Sem culpas, apenas como parte do processo de reconhecimento, cura e evolução.

“Me levanto sobre o sacrifício de um milhão de mulheres que vieram antes e penso “o que é que eu faço para tornar essa montanha mais alta, para que as mulheres que vierem depois de mim possam ver além” (Rupi Kaur).

Um feliz todos os dias, deusas!




Gabriela ama ser mulher. E a cada dia aumenta mais seu amor por si, por você, por nós.
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