sábado, 19 de janeiro de 2008

Maior abandonadora

Maior abandonada? Nem a pau, Juvenal!

Eu hoje escolho abandonar.

Na minha primeira semana dos únicos 29 anos que eu terei na vida: eu resolvi abandonar tudo!

Este ano comemoro tudo diferente. Não fiz votos de Ano Novo, para mim ou para os outros. Não jurei de pé juntos que ia ser diferente, que eu mudar. Não comi lentilhas em baixo da mesa, não guardei sementes de uva, não pulei sete ondas ou fiz oferenda à Iemanjá. Nem vi o mar ainda.

O que eu quero este ano é deixar para trás, me livrar, me libertar, de todas as promessas do que gostaria de ser e não fui, do que eu gostaria de alcançar e não consegui, do que eu tive de oportunidade de evoluir e por diversos motivos (e não desculpas) não cheguei lá.

Este ano, e em todos os outros, eu só quero a minha paz.

Eu abandono meu ideal de família perfeita (pelo menos equilibrada). Por uns quinze anos vivi intensamente com a minha, destrambelhada, depois por mais uns dez idealizei a mesma e agora tenho certeza de quem não tem jeito. Família é família e acabou. Sinto muito, quase todas são iguais, idênticas, iguaizinhas. Amamo-nos uns aos outros, sim, com certeza, mas uma semana é o nosso prazo (o prazo universal, acredito) para a boa e saudável convivência Mais que isso é tiro no pé. São sofrimentos arcaicos trazidos à tona, são mágoas novas e antigas postas no liquidificador, cuja tampa salta com o que menos se espera e o conteúdo machuca mais do que se contava (e como esperamos da nossa família! Coitados!).

Eu abandono meus amigos. Não os de verdade, os que não importe o tempo que não falamos sabem de todas as vezes que pensei neles e que quis que estivessem lá para testemunhar o que vivia, seja glória ou cagada. Eu abandono, na verdade, os que se dizem amigos, mas que sempre cobraram uma atenção que eles próprios não estavam dispostos a dar, uma compreensão que não tiveram, um tempo que foi precioso demais para perder com eles.

Eu abandono meu ideal de ser perfeita, ainda que o tenha negado por toda a vida. Sim eu fumo, sou mais gorda do que gostaria, sou menos esperta do que gostaria e meu currículo não é bom o suficiente para alguma coisa que eu nem sei o que é. E daí? O seu é? Se for, o de todo mundo é? Então não me venha com olhar de reprovação ao descobrir que não sou um ser com cachos angelicais e intenções ilesas. Sim, eu tento ser o meu melhor, e ele está longe do que eu sou hoje, mas eu abandono meu julgamento e crítica a respeito disso. E estou disposta a não dar a mínima para o seu.

Eu abandono meu ideal de um relacionamento perfeito, e isso é o mais difícil de tudo. E abandono meu julgamento próprio de ser medíocre por isso. Relacionamento é o ápice de tudo o que podemos ter e se pensarmos bem, lá no fundo, sempre há mais do que se aproveitar e aprender dos nossos do que de fatos estamos nos dispondo a fazer.

Eu abandono minhas listas de pendências, projetos e coisas, dia após dia inatingíveis, pois eles me fazem ignorar e esquecer todas as minhas pequenas conquistas de um dia após o outro (hoje eu consegui rir mais vezes do que nas últimas cinco semanas).

Eu hoje abandono também algo (ou alguém) que eu definitivamente não queria abandonar, pelo contrário, mas que chegou a hora de assumir que eu não tenho condições de lidar com isto. Eu abandono minha auto-imagem de Mulher Maravilha e assumo de peito e coração abertos (mesmo sangrando um pouco) que simplesmente não dá. Quem sabe amanhã?

Eu hoje deixo pra trás muita coisa, não em sã consciência, porque de sã acho que nunca vou ter nada, mas com a esperança de ter um pouco de paz no meu coração. Mesmo que à base de ligar o “dane-se” muito mais do que gostaria e esperava antes de ter 29 anos.


Gisele Lins ganhou um lindo pic-nic surpresa de aniversário dos seus amigos (original, heim?) e, mesmo tendo o coração triste e pesado nas últimas semanas, ela está grata pelo carinho, com muita vontade de mudar tudo (ei, onde andava esta vontade?) e torcendo para que o tal retorno de saturno acabe logo de uma vez. Escreve aqui aos sábados.

4 comentários:

Unknown disse...

Que lindo Gi!
Espero que você abandone realmente algumas coisas que atrapalham a sua leveza.
Sim, porque vc é uma pessoa leve que carrega coisas cada vez mais pesadas!
Conte comigo para te ajudar a ligar o "dane-se" sempre que quiser!
Beijos

Renata disse...

Nossa, te admiro muito! Seja pelo texto bem escrito, pela coragem de ligar o dane-se ou por ter escrito coisas que eu sinto, mas não tinha entendido que para me livrar é preciso abandnar, como tu escreveu. Tb estava me sentindo como uma velha, sem forças, triste. Mas isso acaba ou eu acabo com isso!
Boa sorte para nós e se precisar, estou contigo e naum vou te abandonar, hehehe!
Bjs!

Paula disse...

Oi Gisele!
Lindo seu texto, lindo mesmo! Quer saber? O abandono de toda a carga é o melhor presente que você poderia se dar.
Desejo que consiga pôr em prática tudo isso, para viver mais leve e feliz!
Beijos.

Sisa disse...

Eu quero abandonar essa eterna sensação de que sou menos do que poderia ser. Aceitar minhas limitações e ser feliz com elas. Mas sem acomodar, né?

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