quarta-feira, 9 de abril de 2008

Maternidade

O dia tão esperado finalmente chegou, com um pouquinho de antecedência, mas estava preparada pra qualquer coisa. Tinha lido tudo sobre ‘partos’, de todos os tipos, de todas as maneiras. Depois de quase dois dias na espera por um parto normal, acabei conhecendo minha filha através de uma cesariana. Então a médica disse: ‘agora ela está vindo...’ E eu fiquei lá esperando aquele momento tão mágico chegar. Mas quando ouvi o chorinho dela, infelizmente não escutei violinos ao mesmo tempo, e nem vi borboletas brancas sobrevoando a cama. Não chorei de alegria. Estava sim morrendo de curiosidade para ver a carinha dela. Quando finalmente a trouxeram foi como se tivesse conhecendo uma pessoa nova, foi interessante ver a carinha dela, mas tirando a curiosidade não tive nenhuma sensação de outro mundo. Não foi assim o ‘melhor dia da minha vida’, como muita gente costuma dizer sobre o nascimento dos filhos. Tive alguns instintos normais de ‘animais’, como proteção por exemplo, responsabilidade, mas não foi amor à primeira vista. O amor e o carinho foram vindo aos poucos, com os dias passando e eu conhendo melhor aquela criaturinha que agora era minha filha, minha responsabilidade para o resto da vida. É claro que por alguns momentos me achei esquisita, como assim? Como eu não escutei violinos na hora que minha filha nasceu? Acho que a sociedade impõe isso pra gente e muita gente se decepciona. Até hoje, 3 meses depois, ainda ando sofrendo com as mudanças que um filho traz. A vida da gente muda demais, e é praticamente impossível se preparar para este momento. É uma responsabilidade sem fim, 24 horas por dia. Nunca acaba. Andei tentando encaixar minha filha no meu ‘mundinho da casinha’, mas foi impossível. Então percebi, que não daria pra fazer isso, e que eu teria que criar um novo mundinho, uma nova rotina para nós três. Me sinto numa curva ‘seno’. É um vai e vem sem fim, um dia está tudo maravilhoso, outro dia tenho vontade de ligar para o hospital e pedir uma ‘devolução’.

Tem gente que acha que isso é depressão pós-parto, mas eu acho na realidade que a maioria das mães de primeira viagem sofrem disso, mas ninguém tem coragem de dizer, todo mundo tem que dizer que a maternidade é a melhor coisa do mundo. Claro que a maternidade tem os seus momentos, um sorriso, um carinho realmente é muito legal e bem especial, é até difícil de explicar. Mas infelizmente esse sorriso não cobre todas os outros planos da nossa vida. Infelizmente só ser mãe não traz felicidade. Eu também quero ser ‘esposa’, ‘amiga’, ‘jogadora de vôlei’, ‘escritora de blog’ etc.... e no momento sinto que só posso ser mãe. As outras coisas estão sempre para o último plano, e às vezes isso me deixa triste. Fico triste de não poder dar atenção às minhas amigas da mesma maneira que fiz antes. De não poder estar na quadra ajudando meu time a ser campeão, de participar de todos os debates do blog, de poder mandar um texto escrito em 10 minutos se o blog tiver em crise. Eram essas coisas que juntando tudo formavam o meu ‘Eu’ e agora me sinto tão perdida.

Eu sei que com o tempo a tendência é só melhorar. No fundo eu sabia disso, mas eu pensava que um ano ia passar rápido. Bom, agora eu acho que um ano é uma eternidade, meu Deus só se passaram 3 meses??? Nãããããão!

É muito engraçado, antes quando eu via mulheres grávidas na rua, eu sempre ficava pensando, ‘Ai que lindo!’, agora ainda acho bonito, mas sempre penso: ‘Oh tadinha!’, dou aquela risadinha mórbida para mim mesma e penso: ‘tá ferrada!’. Quando encontro mulheres com carrinhos de bebês eu já mostro aquele sentimento de solidariedade: ‘Coitada! Olha a cara de sono! Sim, eu entendo!’ É tão estranho, sentir todas essas coisas, passar por todas essas mudanças.

Eu passei muito tempo, esperando a hora perfeita pra escrever esse texto. Eu já tinha decidido que o primeiro texto depois do nascimento, meio que tinha que ser sobre minha filha. Ficava eu me imaginado escrevendo aquele texto clichê de que a maternidade foi a melhor coisa do mundo, o melhor dia da minha vida, minha filha é tudo pra mim bla bla bla. E quando o sentimento não veio assim instantaneamente, eu fiquei esperando. Agora me sinto muito melhor, mas passei por períodos de caos total, ainda ando procurando o meu novo EU, mas tenho certeza que no final tudo vai valer a pena.


Liz tem certeza que ama a sua filhinha linda, mas ainda acha que ser ‘mainha’ é um negócio muito complicado. Anda procurando o seu novo ‘EU’, quem achar por aí favor mandar entregar!

4 comentários:

Anônimo disse...

Liz, fiquei muito feliz em ler seu texto!! Não por vc não ter ouvido violinos ou visto borboletas, mas por ter tido a coragem de escrever a realidade, de falar o que realmente acontece.

Não sou mãe e nem pretendo ser, mas conheci várias mães de primeira viagem e sempre percebi que o mar de rosas só existe na imaginação. Que o amor incondicional vem com o tempo. E que a mudança na rotina é turbulenta e incomoda, sim.

Parabéns pelo texto e pela maternidade e espero que as flores brotem logo e vc consiga organizar sua nova vida da melhor maneira possível!!!

Dani Ank disse...

Oi Liz!
As coisas são assim mesmo, nem tudo é um mar de rosas... com o tempo melhoram (ou melhor, a gente acaba se acostumando...).
Sei que não deve ser fácil para você, ainda mais longe dos parentes e amigos... Não se sinta culpada!
Com o tempo a dependência dos filhos diminuiu. Aí, acredite ou não, você vai morrer de saudades de quando eles eram pequenininhhos e precisavam mais de você...
Sua filhinha é linda! Parabéns! E boa sorte! Se quiser, podemos trocar umas "figurinhas"...
Bjs, Dani

Anônimo disse...

Poxa seu texto foi surpreendente. Amei.
Você falou de uma maneira que eu nao ouvia das puerperas.
Eu ando num dilema, tenho 29 anos, 3 casada, sem filhos, mas indecisa se continuo casada e com milhoes de duvidas na cabeça. Se separo, se arrumo logo um filho (pois filho é da mãe), se tenho logo, pois daqui a pouco tenho 30, se dou essa alegria pros meus pais serem avos, se esqueço todas essas mazelas e continuo trabalhando e estudando pra arrumar um emprego melhor. Oh Deus...Ajude-me..nao consigo pensar....
E mais, a maioria das minhas amigas estao grávidas ou ja ganharam bebes...ai q loucura...tem noção 9 amigas!?????
Vou enlouquecer.
Sonhadora
blog: http://mvidadaumlivro.zip.net/

Angel disse...

Liz, adorei o texto.

Você realmente é corajosa! Poucas mães assumem suas difuculdades em público.

Também não sou mãe, mas imagino que esse papel acaba deixando pouco tempo para a mulher ser ela mesma, pelo menos no iníco como disse a Dani.

Toda adaptação é lenta e não vai ser diferente nessa situação. Estou certa de que você conseguirá encontrar o seu EU MÃE e juntá-lo ao EU LIZ. Me conte depois!

Beijos!

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