Essa semana, em uma das inúmeras conversas que eu estou tendo sobre o meu projeto de doutorado, uma pessoa me falou:
- Procura algo desafiador, no doutorado a gente tem que sair da zona de conforto.
Até concordo, e na hora só argumentei que fazer doutorado já é um grande passo para longe da zona de conforto.
Mas depois dessa conversa, fiquei pensando na minha zona de conforto, não só acadêmica, mas em toda ela: pessoal, profissional, espacial.
E me dei conta de que, há mais de dois meses, eu não sei o que é estar na minha zona de conforto. Estou comendo coisas que nunca comi, e as minhas comidas favoritas não são comuns de encontrar. Por exemplo, pro povo daqui toda “massa” é “macarrão”, mas macarrão de verdade não existe aqui. Pensei até em comprar uma máquina da fazer macarrão!
Tenho ouvido músicas que nunca ouvi, e aqui ninguém canta Amigo Punk nas festinhas, e nem acha graça do Guri de Uruguaiana cantando Paula Fernandes!
Tenho convivido com pessoas que eu nunca tinha visto na vida, e sou grata por estar tendo muita sorte com isso. Conheci pessoas maravilhosas e admiráveis. Mas ninguém me conhece, e qualquer conversa mais profunda carece de uma contextualização. As piadas internas, aquelas que a gente nem precisa falar, são poucas ainda.
Tenho visto paisagens que eu só conhecia na TV ou em revistas, e são lindas! Mas a Mata de Araucária (que é a árvore mais linda do mundo) também é. Se bem que até penso em colocar a mangueira como a 3ª árvore mais linda, logo depois da paineira.
Quando eu vou ao mercado, penso na facilidade que era ir ao Zaffari e comprar as mesmas coisas, que eu já sabia de cor onde ficavam. Aina bem que o mercado é pequeno, então não ando tanto à toa. Mas as marcas são todas diferentes, e estou na fase de provar várias para ver qual eu gosto mais.
Isso sem falar no trabalho, nas viagens, nas pequenas dificuldades do dia-a-dia, como ir ao médico, comprar um remédio que ninguém conhece, fazer depilação, comprar uma chapinha pra boca do fogão. Ter que ir a outra cidade para comprar coisas como tinta, gergelim e linha de crochê.
É claro que tenho saudades de várias coisas; da família, principalmente. Das amigas, amigos, colegas de trabalho, polenta frita, Polar, macarrão, de lugares que eu frequentava... Quando ouvi uma pessoa dizendo: “Adoro tomar batida e comer torrada” eu vi como a comunicação é mais fácil entre “nativos”. Mas não sinto saudades da sensação da zona de conforto. De conhecer tudo que me rodeava, ao menos, no círculo mais imediato.
Interessante que essa zona não é uma zona solitária, apesar de eu estar sozinha nela. Esse texto não é para me queixar, não. É uma constatação de que estou inteira fora da minha zona de conforto, mas não numa zona de desconforto. É outra sensação. Talvez seja uma zona de adaptação. Não sei denominar, mas é algo que demanda mais atenção, mas flexibilidade, mais coragem e mais ousadia.
Renata sempre acha as palavras escritas que expressam o que sente. Nessa terça, não achou.
3 comentários:
Eu entendi! E adorei ler sobre sua experiência. Beijinho.
Queri! Tu achou sim as palavras certas! Adorei o texto!! E o título, perfect!
PS. Comi poleta frita sábado! hahahaha!
O nome disto é adaptação cultural, Renata. Já passei por isto e sei como é estranho e, ao mesmo tempo, muito bom. Principalmente quando a gente se abre pra conhecer o novo. E, drepente (momento merchandising), quando você se dá conta, virou nativo!!!
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