quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dos 3 aos 30 – o tempo voa e não para

Rio Branco, Acre. Sim, ele existe e eu vim de lá, ACREdite! 1985, três anos de vida. Filha única, casa de madeira, calcinha e pés descalços no chão. Chupeta, a companheira inseparável e a mamadeira, às manhãs. Feio até falar isso de alguém que viria a se tornar fonoaudióloga um dia. Mas disposta a abandonar os tais “hábitos orais deletérios” (é claro que nessa época eu lá sabia que diacho isso significava!), aos cinco anos, numa determinação corajosa para alguém da idade, declarei: tchau, chupeta. E com ela foi embora a Gabi bebê. Como recompensa, ganhei uma bicicleta de “rodinhas”. Mas digo que parei por aí, no quesito bicicleta. Lamento até hoje não ter a “desenvoltura” dos amigos que embarcam nas aventuras sobre duas rodas, enfrentam trilhas, longas estradas e até mesmo o trânsito. Mas ok, me contento com as viagens sob quatro rodas – não mais “rodinhas”. Viajar de carro é uma grande paixão, por sinal. Na verdade, viajar é uma grande paixão. Mas vamos por partes, ainda estamos nos 5 e nessa época as viagens ainda não eram possíveis....

Após 9 anos como filha única, passei a dividir as atenções com mais uma mocinha, Rafaela, minha irmã de cachinhos dourados. Desde então passei a exercitar meu lado maternal e cuidador. Mesmo sem querer, me sentia muito responsável por aquela criaturinha. Sensação curiosa de ser meio mãe aos 9... Bom, a fase “Xou da Xuxa” passou e a “era mocinha” chegou precocemente, aos 11. Foi bem numa virada do ano (imagine, de branco, que beleza!!), numas férias com a família, em Fortaleza, Ceará. E assim, uma nova Gabriela ia chegando, uma menina-moça precoce. Precoce em tudo. Era um ano adiantada na escola, sempre quis estar no meio dos adultos, beijei e namorei mais cedo que as amigas, fui morar sozinha muito cedo. Quem sabe pelos meus pais terem me tido muito novos (olha a cacofonia entregando! Haha!), com 20 anos, e eu era a única criança na turma de amigos deles, os meus “tios”. Engraçado porque hoje eu que sou a tia Gabi, a tia de coração dos filhos dos amigos.... É, o tempo passa, o tempo voa...

Num salto pros 13, Renato Russo na cabeça, no toca-fitas e nos cadernos. Colégio das irmãs, na época o chamado ginásio. A vida e os ideais eram românticos. Bolava planos com uma amiga de Curitiba de irmos a sua terra natal fazer Medicina na federal (como se entrar numa faculdade pública de Medicina fosse a coisa mais fácil do mundo!), e depois abrirmos uma mega instituição, onde pessoas carentes seriam medicadas, receberiam banho, comida e roupas decentes.. Ah, como éramos ingênuas e idealistas!... Hoje essa amiga é bióloga e virou empresária, tem um Centro de Yoga e SPA. Não deixa de ser um centro de bem estar, afinal! E eu virei o que meu avô insiste em dizer, “quase médica”. Bem, eu insisto com ele que não, mas sabe como são essas pessoas de antigamente: vestiu branco, virou doutor!

Na verdade, na verdade, esse meu idealismo meio visionário sempre esteve dentro, só recebe pequenas doses de realismo ao passar dos anos. Filha de mãe administradora e de pai professor de História, já quis seguir os passos do meu pai. Ele pulou longe: “- Não, minha filha. Não queira esse fardo. Vida de professor não é fácil”. Mas a vontade do ensino, da troca e de estar e trabalhar em grupo, nunca saiu, nunca me abandonou. E hoje, na construção de minha identidade profissional, tenho tido mais certeza disso.

Pois bem, avancemos aos 15. Metade do segundo ano do segundo grau, pais devidamente convencidos e eu, a tal amiga curitibana e sua irmã, embarcamos juntas numa aventura ao novo, pelo menos pra mim: do Acre ao Paraná, de Rio Branco a Curitiba. Acreditem, o choque é grande. De clima tempo, à clima pessoas. Uma grande experiência que merece textos à parte.

Seis anos, muitos amigos, muitos caminhos e muitas histórias. O sonho de médica veio por água a baixo, após dois anos de vestibulares em todo tipo de universidade pública do Brasil que se possa imaginar. Nesses muitos caminhos, acabei caindo de paraquedas num curso que hoje eu digo que só não gostava antes porque não conhecia (e também não me conhecia o suficiente, diga-se de passagem): Fonoaudiologia. Nenhum outro curso poderia cair tão bem para uma pessoa que ADORA se comunicar, que gosta de gente, que gosta do cuidar, mas que também AMA cultura, arte, música e educação. Sim, a tal educação, lembra? Pois é. Descobri que Medicina era um sonho utópico e estava um tanto longe da minha essência. A propósito, faço um parênteses aqui e digo que acho de muita responsabilidade tomar uma decisão de extrema importância que é a “o você vai ser quando crescer” com apenas 18 anos.

Quatro anos de faculdade, muitos amigos, muitos caminhos, muitas histórias, com direito a namorado argentino e tudo no fim do trajeto (que tinha 39 anos, o que representou muito para alguém que só tinha 21!!). Bem, o namoro não vingou (ele estava pronto para casar e eu ainda não) e a volta, o retorno, o “fechamento de ciclo” foi certa: Acre, de volta pra casa, vamos nós.

Casa dos pais. Não preciso nem dizer que o choque foi grande, agora ao inverso, depois de seis anos morando sozinha, pseudo “dona do próprio nariz” (pseudo porque quem me sustentava de fato até então ainda eram meus pais). Batalhas e colaborações do destino (me considero uma pessoa de sorte, graças a Deus!), após passar em dois concursos públicos, um do município e outro do estado, para trabalhar como fono, fui contemplada num desses apartamentos populares pra (voltar) a morar sozinha. Posso dizer que essa série de acontecimentos foram divisores de água na minha vida. A partir daí já estava com os dois pés na vida adulta, uma vez que já tinha meu emprego, já ganhava meu próprio dinheiro e já pagava minhas próprias contas. De pseudo dona do meu nariz, passei para assalariada endividada, com carro novo e viagens anuais para rever os amigos das terras gélidas do sul, e assim, desestressar o pancadão da vida de gente grande.

Sete anos de volta à terra, numa cidade provinciana de só um cinema (na época, porque hoje já tem um shopping com cinema de primeira que não só passa filme dublado, graças!!) acabaram por fadar uma pessoa que AMA novidades, conhecimento, movimento e diversidade de opções de tudo. Os dois cursos de especialização não saciavam o lado curioso de querer aprender sempre mais, e lá vou eu de volta ao novo, ao diferente, a velha busca incessante pela conquista: Bauru, mestrado em Fonoaudiologia na USP. Novos amigos, novos caminhos, muitas histórias, com o adicional de uma cachorra adotada, que em outra ocasião comento. E então... de repente, 30, finalmente! Mas é isso... o tempo voa e não para.

Após dois anos morando em Bauru, dissertação já nos finalmente, a hora do “estou de volta pra casa outra vez” chegou. Móveis vendidos, cachorrinha despachada e o resto da vida material dentro de um carro que embarca num caminhão cegonha pra casa logo mais. E daqui vos falo, Aeroporto de Congonhas,17h15, numa escala de voo infinito de volta pra casa (sim, o Acre existe mas é longe pra dedel, tipo 4 mil km!!), escrevendo essa mini biografia da minha vida (que de mini não tem nada; acreditem, fono fala pra caramba!) numa tentativa de passar o tempo e driblar a ansiedade. Mais uma vez o coração com esperança desse “novo de novo” e a saudade no peito dos amigos que fiz, deixei, mas que prometo rever. Falando nisso, metade dos amigos que fiz por aí diz que vai conhecer o Acre, mas apenas 2 ou 3, os mais corajosos, acabam indo.

É.. são muitos lugares, muitos caminhos e muitas histórias.... E sobre mim e esses muitos caminhos, lugares e histórias, conto com tempo. A emoção, devaneios e divagações sobre a chegada dos 30 também merecem capítulos à parte. Afinal, sobre isso envolve esse blog e essas super balzaquianas que aqui compartilham suas vidas e pensamentos.

Obrigada por me receberem, meninas! Um agradecimento especial à Renata, que respondeu ao meu email do tipo “que-lindo-tudo-isso, posso-fazer-parte-também, deixa-deixa?”, de forma super receptiva e acolhedora. E como ela mesmo disse, mentes novas são sempre bem-vindas e eu concordo. Por isso a vontade de me misturar por aqui, bem no estilo de novos baianos: “vou mostrando como sou e vou sendo como posso∕jogando meu corpo no mundo∕ andando por todos os cantos ∕ e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto.” Comecemos os trabalhos então, porque o tempo voa, o tempo passa e não para!

Gabriela começa a escrever esporadicamente!

12 comentários:

Selma Helena. disse...

Adorei! Obrigada por compartilhar conosco uma história de vida bacana. Acho tão legal e ao mesmo tempo corajoso isso. Vou tentar fazer isso pra mim. É legal , né? botar no papel nossa trilha do tempo. Gostei! :)

Beijos, flor!
Selma.

Renata disse...

Bem vinda, Gabriela! Bom tê-la no grupo! adorei o texto!

Gabriela Lima disse...

Obrigada meninas!!

Selma, eu que agradeço o tempo cedido para me "ouvir". Foi realmente um exercício muito válido pra mim fazer essa recapitulação. Faz a gente, além de reviver nossa história, aceitar, honrar e respeitar tudo que nos tornou ser o que hoje somos.

Um beijo grande!!

Clô Zuzza disse...

Lindo Gabi!! Minha prima linda que me fez morrer de orgulho com toda esa explanação direto do túnel do tempo!!! Como citado acima.. tentarei fazer uma recapitulaçao de minha vida tbm pois a sua pareceu tão interessante que me inspirei mesmo a fazer a minha!! Beijos prima.. sucesso em mais esse novo projeto e fale mulher... fale!!!
Beijos
http://casandobemcasado.blogspot.com/

Anônimo disse...

Amei!!!Principalmente pq algumas coisas lembraram minha história. Lembrei q na sua primeira especialização citada eu estava e vc me ajudou muito( eu gravida 9 meses- barrigaco) o Ayan n esperou a apresentação do TCC e vc teve q ir so. Rs!!! Que pena! Você n voltou p Urap, seria uma ótima oportunidade de nos reencontrarmos. Abc!!!Anabelle

Tati Reis disse...

Ai Gabyzinha...
Tão bom fazer parte dessa história e ainda ser citada! =)
Passa rápido, né? Em todas as nossas conversas, previsões, tarôs, livros de anjos, nós nunca teríamos acertado o futuro! E nem precisou esperar muito por ele.
Logo logo leio o texto de 6 a 60...
(Espero ter mais participações nesse também).
Te amo, amiga!

Anônimo disse...

Opa! A Tati disse tudo, nem precisa falar mais nada... alias, so faltou falar que a gente ligava uma pra outra e colocava umas musicas super depre pra outra ficar ouvindo... lamentando as dores infinitas de adolescente. Ainda bem que essas coisas, que a gente acha que vao durar pra sempre, passam rapido... e os nossos trinta sao so o comeco de mais uma nova longa fase.... Um beijo! Dani reis

Gabriela Lima disse...

Clô, minha prima flor! Obrigada pelo incentivo, pq qndo me dano a falar∕escrever... ninguém segura!! E tenho certeza que ouvir sua história vai ser muito interessante e me dará muto orgulho tbm! Beijo grande e te amo!!!

Gabriela Lima disse...

Ana! Obrigada!! Pois é, depois que você falou que eu lembrei, vc com um barrigão enorme, num nasce, não nasce,na fogueira do parto e eu lá, na fogueira da apresentação! rs.
Apesar de não ter voltado pra sua unidade, fique tranquila q trocaremos muitas figurinhas ainda! Beijo grande!!!!!

Gabriela Lima disse...

Queridas amigas, Tati e Dani... outro dia fiquei pensando muito numa coisa: nada do que eu sou hoje seria possível se não fosse por vocês. Terem me levado junto nessa longa jornada será algo que agradecerei e levarei para a vida inteira. Amo vocês! E que venham os 60!
ps: Tati, que saudades de nossas sessões de Tarot! Você sabe que eu nunca abandonei esse meu lado, né?! Outro dia fiz meu mapa e minha constelação familiar. Sensacionais!! Depois trocamos figurinhas!
Dani, nossos momentos deprê da adolescência me dão muita saudade, pois os "problemas" de lá não são nada pros que temos que enfrentar hoje.. Vale o clichê aqui de "eu era feliz e não sabia.."

Lila disse...

To impressionada Gabriela. Trocando alguns nomes e lugares, essa poderia ter sido também a minha biografia... Muitas coisas em comum!
Bjs

Gabriela Lima disse...

Que legal, Lila! Conforta saber que não estamos sós nesse movimento incessante da vida, os ciclos, as andanças, os desafios, os questionamentos, as escolhas...
Muito prazer em conhecer a sua história através da minha! Como dizem por aí, somos espelho um do outro... pra mim isso faz muito sentido.
Um beijo grande!

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