Tenho esse (mau?) hábito de querer muito. Geralmente não são coisas, mas situações. O querer vem chegando, de mansinho, tímido, calado. Começa como um incômodo breve, fugaz, uma coceira que vai crescendo. Lança um lampejo de dúvida, um rabicho de ideia, pinta um esboço de um quadro na mente, que vai se enchendo de detalhes aos poucos, até que adquire os ares de uma realidade paralela. Até o ponto em que aquele querer torna-se imprescindível, e não tê-lo, insuportável. Como posso ter vivido sem ele até hoje? Como posso continuar sendo feliz sem encontrar uma forma de trazê-lo para minha vida?
O problema é que o tal querer é egoísta pra caramba. A não ser que ele seja uma coisa física, palpável (o que em 98% dos casos não é o meu caso), para concretizá-lo, sem a menor criatividade, ele exige, demanda o abrir mão de outras situações, que invariavelmente já foram quereres do passado. É como se fôssemos feitos de uma caixa quadrada, assim mesmo, bem simplesinha, onde lá dentro só houvesse espaço para X experiências simultâneas. E para acrescentar uma nova, adivinhe, é preciso abandonar uma antiga. Fácil nas primeiras primaveras da vida, quando qualquer esforço parece nos colocar em uma situação mais interessante que a anterior. Quem não troca um estágio muito legal por um emprego meio boca? Festa, balada, loucura por um amor de verdade, uma família? Gastar os tufos com bobagens por uma (ou mais) viagem incrível? Um mega apê alugado por uma casinha que é toda sua?
E depois? Venderam-nos tanto a ideia de que SÓ é preciso batalhar (ok, na maioria das vezes, batalhar muito) pra termos o gostinho das nossas conquistas. SÓ é preciso desenvolver essa ou aquela aptidão, aprender a lidar com tal dificuldade, aprender a pensar de outra forma, abraçar outras opiniões, conhecer outras pessoas, fazer de um jeito diferente, aprender outro idioma, fazer uma pós. Simples, né? Não é! Mas lá vamos nós, seguindo a cartilha à risca, com determinação ferrenha, movidos pela certeza da conquista lá na frente. Até que chegamos lá, mas parece que, quando acontece, cada degrauzinho que avançamos foi nos fazendo ver o mundo de outra forma, e o raio do nosso querer foi mais além. É como se corrêssemos atrás de uma cenourinha que vemos à frente, mas que na verdade é uma isca, na ponta de uma vara de pescar presa às nossas costas. Malvados!
Em meio ao meu tanto querer, nos últimos tempos eu andei descobrindo coisas novas sobre minha pessoa. Como sempre, quando estou em dúvida a respeito de alguma coisa, costumo pensar no maldito gênio da lâmpada, ou na fada do dente, para tentar deixar mais claras minhas prioridades e tentar facilitar as escolhas. Surpreendi-me ao pensar que, neste exato momento, o que eu quero é não querer tanto. E surpreendi-me mais ainda ao perceber que lutar contra meus “quereres” têm me feito muito mais mal do que arcar com os riscos de correr atrás deles, mesmo sabendo do sepultamento iminente de quereres antigos, já conquistados e tão, mas tão confortáveis. Então, maldito gênio, fada, ou o que for, faça-me um favor: dêem-me coragem ou sumam da minha vida com suas opções do inferno!
Gisele Lins é balzaca das antigas, escreve aqui de vez em nunca, mas não larga o osso, a vontade de voltar a ter o que dizer (de preferência coisas novas, néam) e o orgulho das meninas que andam sempre por aqui.
Um comentário:
Amei seu texto!!
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