Como sou professora de Filosofia
e Sociologia, invariavelmente em minhas aulas o assunto recai sobre uma
temática muito interessante: o poder. Identificamos na sociedade tipos diferentes
de poder, aquele que é exercido pela figura de algum governante, aquele que a
mãe e o pai exercem sobre seus filhos, entre amigos e por aí vai. Mas o que vem
tirando meu sono é o poder que nós mesmos damos uns aos outros.
Explico: Eu sou daquelas que
se incomoda e tem vontade de meter a boca no trombone. A indignada, como
belamente me escreveu uma professora de história do ensino médio na ocasião em
que eu o concluía (aliás, ela hoje é minha colega de trabalho, uma dessas
coisas bacanas mesmo que a vida faz com a gente). Sendo eu a indignada, é fácil
notar que não consigo passar imune às situações. Quando vejo um colega ou aluno
puxando o saco, me indigno. Quando vejo que as pessoas não conseguem enxergar o
óbvio, me indigno. Existe uma série de indignações positivas e necessárias, de
cunho social, diria eu. É ótimo se indignar quando você vê alguma injustiça
acontecendo, quando alguém comete alguma maldade perto de você, quando alguém
rouba, maltrata, mata. Mas pra quê (se você souber, me explica) se indignar com
coisas sobre as quais você não tem o menor poder de fazer mudar?
Ando pensando no tanto de
energia que a gente gasta tentando mudar o que não precisa ser mudado. O
comportamento de cada um é um problema deles enquanto não fizer mal aos outros.
Deixe os puxa-sacos fazendo aquilo que melhor sabem fazer, deixe os disponíveis
fazendo coisas que não lhes cabe se isso lhes fizer felizes, deixe, deixe ir,
deixe-se.
Enquanto as pessoas estão
vivendo suas vidas do modo que lhes convém, faça você algo de diferente. Mude
sua rotina. Mude seu modo de pensar. Mude seu modo de tratar aos outros. Mude a
imagem que você tem de você mesmo, mas não tente mudar aquilo que você não
controla. Guarde essa energia para gastar com beijos intermináveis, faça uma
corrida, tome um café com chantilly com uma amiga, aproveite o frio e fique
debaixo das cobertas olhando um monte de filmes. Mas deixe os outros serem os
outros, com suas qualidades e defeitos e, principalmente, não dê a eles o poder
de lhe tirar do sério.
Andri,
a indignada, andou sumida, mas tem como meta retomar suas escritas, sempre às
sextas-feiras.
5 comentários:
Muito interessante, adorei!
Sim, a gente sofre querendo mudar, controlar tudo, principalmente as pessoas. É um sofrimento sem fim rsrs. E é frustrante também. A maturidade vai trazendo pra gente a leveza do "viva e deixe viver" as vezes a gente escorrega na sensação de irritabilidade com o que discordamos, mas aprendemos a nos conter rsrs.
Mesmo porque patrulhamento é terrível, e nas nossas imperfeições, imagine ser policiado o tempo todo. Energia gasta a toa. E tendo antipatia, no mínimo, deboche de volta.
Beijos
Adorei! Sim...a maturidade traz essa clareza. Deixa ser. Mude o seu jeito e deixe o outro ser com seus limites. E se possível, ame-o assim mesmo.
Beijo!
Ótimo Andri! Leva tempo mas chega a hora que a gente consegue não se indignar tanto assim. Seja por já ter tido tantas dessas experiências que não levaram a nada, seja por cansaço de permitir que os outros nos tirem do sério!
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