Amanhã é dia seis, são cinco dias para o fim...do ciclo. Na verdade, hoje é dia seis, mas é uma questão de rima. Na segunda parte não consegui uma rima boa, de qualquer forma. Então hoje são cinco dia para o meu aniversário. De quarenta anos. E o que que muda?
Não muda o fato de as pessoas não entenderem eu ter decidido não ter filhos;
Não muda o fato da minha família continuar me achando uma criança tola;
Não muda o fato de eu ter graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado, uma carreira longa e diversificada e multidisciplinar e eu seguir me achando uma farsa, o que é um mal feminino;
Não muda o fato de não terem inventado a fórmula perfeita para um relacionamento harmonioso, embora eu viva um.
Não muda o fato de eu não ter condições de cuidar de mais nenhum bichinho, mas volta e meia brota um filhote no meu jardim;
Não muda o fato de eu sempre achar que posso ser uma pessoa e uma amiga melhor, e sentir que ainda falho em diversos momentos;
Não muda o fato de eu trabalhar para me desconstruir, e ainda me pegar julgando as escolhas alheias, e sentir muita vergonha por isso;
Não muda o fato de que a desconstrução é uma trabalho para a vida toda e que a empatia é exercício diário;
Não muda o fato de que ainda vou tomar decisões das quais vou me arrepender;
Não muda o fato de seguir sem conseguir escrever nesse blog, devido a conjuntura horrorosa que estamos vivendo;
Não muda o fato de eu não conseguir fazer minhas plantas viverem;
Não muda o fato de eu sentir dor todos os dias, devido a fibromialgia;
Não muda o fato de eu querer ser melhor ambientalmente, e ver cada avanço como uma conquista;
Não muda o fato de eu não entender quem ainda usa copo plástico e não leva sacola retornável para o supermercado;
Não muda o fato de que o que estamos vivendo parece mais uma distopia;
Não muda o fato de que a minha memória é tão ruim, que tenho que ter sempre alguém me lembrando do que eu deveria me lembrar sozinha;
Não muda o fato de eu não conseguir educar um cão que está no topo do ranking de inteligência;
Não muda o fato de eu não conseguir parar de tomar café, mesmo que isso não permita que uma gastrite se cure, e ainda faça mal para a fibromialgia, e eu considere isso um fracasso.
Não muda o fato de que tem dias que eu não consigo produzir e nem fazer tarefas mínimas, devido a fadiga crônica;
Não muda o fato de eu ter enxergado apenas avanços mínimos nos direitos das mulheres nesses anos;
Não muda o fato de que eu sonhar em voltar à docência de alguma forma, mas que com a desconstrução da educação no país, parece um sonho cada vez mais impossível;
Não muda o fato de eu mesmo trabalhando para as indústrias farmacêuticas, e dependendo delas, enxergar que tem algo muito errado em relação ao uso de medicamentos no país;
Não muda o fato de que, por mais que me esforce, não conseguirei ler todos os livros e assistir todos os filmes que gostaria em uma única vida;
Não muda o fato de que o mundo está aquecendo cada vez mais, e muito pouco pode ser feito em relação a isso;
Não muda o fato de que há uma onda mundial de colocarem malucos no poder;
Não muda o fato de que um quindim e um café são capazes de melhorar um dia ruim;
Não muda o fato de eu ter amizades de muitos anos e outras nem tantos, que fazem com que eu nunca sinta solidão mesmo longe de todos;
Não muda o fato de o mundo não estar nem parecido com o que eu achei que seria quando eu chegasse aqui;
Não muda o fato de eu esquecer do aniversário de todo mundo, e ficar feliz da vida quando alguém lembra do meu.
Achávamos que não conseguíamos escrever no blog por causa do nome que não se enquadrava mais com a maioria das escritoras que já beiravam os quarenta. Alteramos o nome e nada mudou. Deve ser a conjuntura mesmo.
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