terça-feira, 22 de abril de 2008

Caixa Significante

Desde o início do semestre letivo, recebi a informação de que, nos próximos meses faria uma Caixa Significante. Essa informação foi passada pelo professor de Gestão Mercadológica, que se enquadra naquele grupo de professores que vai além do “feijão com arroz” na sala de aula, graças a Deus! O objetivo do trabalho é retratar o mundo culturalmente construído ligado a cada aluno.

A tal Caixa Significante deveria ser criada de acordo com a criatividade do aluno e deveria representar o próprio aluno, ou seja, eu tinha de montar uma caixa que contasse quem sou eu. E agora José?

Pensei em tanta coisa e desisti da maioria delas. Vieram logo à mente liberdade e poesia. Liberdade, que cada dia torna-se mais importante em minha vida e que, de certa forma, dirige meu comportamento. E a poesia, às vezes penso que nasceu comigo. O gosto por ela e a vontade de me arriscar nela. Não poderia esquecer de música, que também sempre foi forte em minha vida.

Enfim e com certa pressa (pois já não havia mais tempo para pensar) montei minha caixa. Os quatro lados de minha caixa são de letras de músicas e poesia, assim como o fundo e a tampa. Naturalmente, são de autores que admiro, entre eles Fernando Pessoa, Arnaldo Antunes, Carlos Drummond de Andrade e eu mesma (rsrsrs). O interior da caixa é revestido por algodão, retratando o céu que é o símbolo maior de liberdade pra mim. No meu céu estão uma estátua de anjo (simbolizando a fé sempre associada ao céu), um bonequinho pára-quedista (a melhor experiência de liberdade que já tive) e uma escultura de pássaro feita em vidro (simbolizando a vontade que tenho de voar quando me der vontade, como ele).

Apresentarei o trabalho amanhã e não me canso de pensar qual será a reação das pessoas que podem enxergar nessa montagem características que eu não planejei demonstrar e que podem estar lá em meio àquele monte de algodão...

Bem, à caça de boas poesias para colar em minha caixa, encontrei algo de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) que preciso dividir com vocês e que me desperta um sentimento de que eu a declamaria como se a tivesse feito.

“Se eu morrer novo,

Sem poder publicar livro nenhum,

Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,

Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,

Que não se ralem.

Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,

Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.

Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,

Porque as raízes podem estar debaixo da terra

Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.

Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:

Nunca fui senão uma criança que brincava.

Fui gentio como o sol e a água,

De uma religião universal que só os homens não têm.

Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,

Nem procurei achar nada,

Nem achei que houvesse mais explicação

Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –

Ao sol quando havia sol

E à chuva quando estava chovendo

(E nunca outra cousa),

Sentir calor e frio e vento,

E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,

Mas não fui amado.

Não fui amado pela única grande razão –

Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,

E sentando-me outra vez à porta de casa.

Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados

Como para os que não o são.

Sentir é estar distraído.”

Angélica quebrou a cabeça procurando o próprio significado para construir sua caixa.

E foi com grande prazer que escarafunchou seus livros de poesia em busca de ajuda.

Os grandes poetas sempre me ajudam...

3 comentários:

Unknown disse...

Ei Angel!!!
como foi a apresentação?
estou curiosa!
:)
lindo texto!

Matheus Cardoso disse...

Como foi a apresentação?

Angel disse...

A minha apresentação foi super rápida, afinal sou objetiva (demais até). Mas disseram que eu falei pouco e falei tudo de mim.
Alguns se surpreenderam quando eu disse que queria ser pássaro, que nasci humana por um bom propósito, mas meu sonho dourado é ser pássaro.
Ah, uma colega de sala leu um poema pra mim durante a apresentação dela...quase chorei deixando cair por terra minha "fama de má" rsrsrs.

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