Tirei carteira de motorista – ou parte da minha carta de alforria – tarde, já era formada, tinha passado na prova da OAB e tinha vinte e cinco anos. Não que eu não tivesse tentado antes, mas minhas dificuldades iam além da motricidade. Na primeira tentativa, aos dezoito anos, fui fazer prova oral de legislação pronta pra ir direto pra uma entrevista de estágio. O examinador implicou com o fato de eu estar arrumadinha e soltou algo tipo “você devia estudar ao invés de ficar se arrumando”e ouviu um “no dia que você pagar as minhas contas, aí você dá palpite na minha maneira de vestir”. Precisa dizer mais alguma coisa? Mas pelo menos consegui o estágio.
Fiz intercâmbio e voltei toda feliz, doidinha pra tirar carteira. Fui marcar a prova de legislação e meu exame médico tinha vencido... tinha que fazer tudo de novo, mas não tinha dinheiro. Tive que deixar pra depois. Consegui emprego, fiz cursinho, entrei na faculdade e aí voltei a pensar na minha tão sonhada CNH. Só que aí eu trabalhava o dia todo e estudava à noite. Tinha aula sábado de dia, fazia os trabalhos sábado de tarde, caía na gandaia sábado de noite e dormia domingo o dia todo. Que hora que eu ia fazer auto escola? Só dava nas férias. Aí tentei três vezes em três férias seguidas, ou seja, uma tentativa cada seis meses sem colocar as mãos num carro. Não dava, né? Foi muita inocência minha mesmo. Aí decidi parar de jogar dinheiro na latrina e só tentar de novo depois que eu me formasse. E assim foi. Um ano depois da minha formatura eu estava feliz da vida com minha permissão para dirigir! Hehe
Já se passaram alguns anos e, como comprei um carro relativamente rápido, com poucos meses meus retrovisores deixaram de ser batidos e minhas rodas, arranhadas. Tive que encarar o centro de Belo Horizonte desde o início, então nem deu tempo de ter medo do trânsito pesado, nem da estrada, já que de Nova Lima pra Belo Horizonte não há alternativa. Hoje, segundo meu marido, dirijo “até bem”, o que, vindo de um exemplar de homo sapiens sapiens do gênero masculino pode ser considerado um senhor elogio!
Aí aconteceu o inevitável: deixei de ter paciência com quem está aprendendo a dirigir, com quem acabou de tirar carteira e com os domingueiros de plantão. Ou seja, esqueci que um dia fui aprendiz, barbeira e domingueira. Pus minha mão na consciência e voltei a ser condescendente. Mas nunca aceitei aquelas piadinhas tipo “mulher no volante, perigo constante”, “agora as apólices de seguro vão dobrar de preço em Belo Horizonte”, “tinha que ser mulher mesmo” e por aí vai. Confesso que esta última sempre me irritou profundamente.
Aí hoje, eu tava indo ao centro da cidade e fui direto pro estacionamento de sempre, já que parar no centro é impossível. Se eu não fosse de lá pra outros lugares, teria ido de ônibus. Mentira, teria ido de táxi, mas de qualquer forma, o carro teria ficado em casa. Bem, quando cheguei na porta do estacionamento, tinha uma moça assim da minha idade mais ou menos (obviamente que somos moças, ou seja, jovens mulheres, no entorno dos trinta), com o carro em cima da calçada, bloqueando entrada e saída do estacionamento!!! Estava com o porta malas aberto esperando que algum cavalheiro (como se o habitat natural deste espécime fosse os hipercentros das grandes cidades) tirasse um trombolho qualquer de lá pra ela. Quando vi que o sinal lá atrás estava aberto e ia fazer fila de carro atrás de mim, o carro de trás deu uma rézinha (tive sorte de ter alguém de bom senso atrás de mim, que viu a situação e me deu espaço), eu manobrei e, como o Ka é minúsculo, consegui passar quase raspando numa pilastra – sim, tem uma pilastra na calçada – e entrei no estacionamento. O outro veio atrás, mas o terceiro carro era grande, não passou. O pessoal começou “educadamente” a buzinar,gritar, fazer sinais e xingar até a terceira geração dela, e a mocinha nem se abalou. Lá estava, lá permaneceu. Saí do estacionamento e comentei com o atendente, que me conhece pelo nome: “é triste, né, Rafael, tudo que é homem chama a gente de nó cego e esta aí me dá uma destas...” Ele riu e disse que já tinha chamado o reboque antes que alguém matasse a menina.
Resolvidas minhas pendengas hipercentrinas, voltei ao estacionamento e, quando estava no meio da manobra pra tirar o Ka daquele buraco que só Deus sabe como conseguiram colocar lá, me vem outra moçoila, entrando no estacionamento, pára o carro no meio da pista e simplesmente fica esperando eu sair pra ela passar!!! Jesus!! Será que ninguém ensinou pra esta menina que dois corpos não ocupam o mesmo espaço? Bem, as físicas de plantão me corrijam se eu estiver errada, mas até onde eu sei, é assim. Aí como eu vi que a madame realmente nem tinha percebido o tamanho da caca que fizera, fiz mais mil trezentas e quinze manobras e consegui sair passando por vagas que abençoadamente não estavam ocupadas. Passei novamente pelo Rafael e tive que ouvir: “é, doutora, sinto muito, mas mulher é tudo nó cego mesmo!!”
Fiz intercâmbio e voltei toda feliz, doidinha pra tirar carteira. Fui marcar a prova de legislação e meu exame médico tinha vencido... tinha que fazer tudo de novo, mas não tinha dinheiro. Tive que deixar pra depois. Consegui emprego, fiz cursinho, entrei na faculdade e aí voltei a pensar na minha tão sonhada CNH. Só que aí eu trabalhava o dia todo e estudava à noite. Tinha aula sábado de dia, fazia os trabalhos sábado de tarde, caía na gandaia sábado de noite e dormia domingo o dia todo. Que hora que eu ia fazer auto escola? Só dava nas férias. Aí tentei três vezes em três férias seguidas, ou seja, uma tentativa cada seis meses sem colocar as mãos num carro. Não dava, né? Foi muita inocência minha mesmo. Aí decidi parar de jogar dinheiro na latrina e só tentar de novo depois que eu me formasse. E assim foi. Um ano depois da minha formatura eu estava feliz da vida com minha permissão para dirigir! Hehe
Já se passaram alguns anos e, como comprei um carro relativamente rápido, com poucos meses meus retrovisores deixaram de ser batidos e minhas rodas, arranhadas. Tive que encarar o centro de Belo Horizonte desde o início, então nem deu tempo de ter medo do trânsito pesado, nem da estrada, já que de Nova Lima pra Belo Horizonte não há alternativa. Hoje, segundo meu marido, dirijo “até bem”, o que, vindo de um exemplar de homo sapiens sapiens do gênero masculino pode ser considerado um senhor elogio!
Aí aconteceu o inevitável: deixei de ter paciência com quem está aprendendo a dirigir, com quem acabou de tirar carteira e com os domingueiros de plantão. Ou seja, esqueci que um dia fui aprendiz, barbeira e domingueira. Pus minha mão na consciência e voltei a ser condescendente. Mas nunca aceitei aquelas piadinhas tipo “mulher no volante, perigo constante”, “agora as apólices de seguro vão dobrar de preço em Belo Horizonte”, “tinha que ser mulher mesmo” e por aí vai. Confesso que esta última sempre me irritou profundamente.
Aí hoje, eu tava indo ao centro da cidade e fui direto pro estacionamento de sempre, já que parar no centro é impossível. Se eu não fosse de lá pra outros lugares, teria ido de ônibus. Mentira, teria ido de táxi, mas de qualquer forma, o carro teria ficado em casa. Bem, quando cheguei na porta do estacionamento, tinha uma moça assim da minha idade mais ou menos (obviamente que somos moças, ou seja, jovens mulheres, no entorno dos trinta), com o carro em cima da calçada, bloqueando entrada e saída do estacionamento!!! Estava com o porta malas aberto esperando que algum cavalheiro (como se o habitat natural deste espécime fosse os hipercentros das grandes cidades) tirasse um trombolho qualquer de lá pra ela. Quando vi que o sinal lá atrás estava aberto e ia fazer fila de carro atrás de mim, o carro de trás deu uma rézinha (tive sorte de ter alguém de bom senso atrás de mim, que viu a situação e me deu espaço), eu manobrei e, como o Ka é minúsculo, consegui passar quase raspando numa pilastra – sim, tem uma pilastra na calçada – e entrei no estacionamento. O outro veio atrás, mas o terceiro carro era grande, não passou. O pessoal começou “educadamente” a buzinar,gritar, fazer sinais e xingar até a terceira geração dela, e a mocinha nem se abalou. Lá estava, lá permaneceu. Saí do estacionamento e comentei com o atendente, que me conhece pelo nome: “é triste, né, Rafael, tudo que é homem chama a gente de nó cego e esta aí me dá uma destas...” Ele riu e disse que já tinha chamado o reboque antes que alguém matasse a menina.
Resolvidas minhas pendengas hipercentrinas, voltei ao estacionamento e, quando estava no meio da manobra pra tirar o Ka daquele buraco que só Deus sabe como conseguiram colocar lá, me vem outra moçoila, entrando no estacionamento, pára o carro no meio da pista e simplesmente fica esperando eu sair pra ela passar!!! Jesus!! Será que ninguém ensinou pra esta menina que dois corpos não ocupam o mesmo espaço? Bem, as físicas de plantão me corrijam se eu estiver errada, mas até onde eu sei, é assim. Aí como eu vi que a madame realmente nem tinha percebido o tamanho da caca que fizera, fiz mais mil trezentas e quinze manobras e consegui sair passando por vagas que abençoadamente não estavam ocupadas. Passei novamente pelo Rafael e tive que ouvir: “é, doutora, sinto muito, mas mulher é tudo nó cego mesmo!!”
Laeticia fica revoltada com as piadinhas sobre mulheres no volante, sabe que ninguém nasce sabendo dirigir e defende as pessoas por isso, mas hoje infelizmente teve que se calar porque a barbeiragem das duas colegas foi demais!!
2 comentários:
Eu vejo muita situação "sem noção" protagonizada por mulheres ao volante. Ao mesmo tempo vejo altas loucuras com homens ao volante. Temos de ter uma paciência de Madre Tereza pra conviver...
Detalhe: continuo sendo domingueira, não suporto o trânsito dos dias úteis.
Beijos!
hahahaha
Bom te ver de volta Laeticia!
Tenho que confessar que agora que comprei um carro que comecei a aprender a dirigir de verdade, morro de medo de dar umas mancadas dessas!! Mas espero não virar um nó cego...rs
Bjs!
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