quarta-feira, 25 de junho de 2008

Saudades

Saudade. Saudade apertada dos meus amigos de longe. Saudade apertada dos amigos de infância. Consegui vê-los tão pouco desde que fui embora da minha terra. E o pouco que os vi raramente pude de verdade perceber como eles estavam, se precisavam de alguma coisa, se estavam felizes.


Maldito tempo de novo no meu calcanhar, mostrando o resultado de escolhas que fiz quando parecia ter apenas uma opção. Não pude ficar. Minha alma irrequieta e meu senso de inadequação fizeram-me ir buscar algo mais, lá longe, de novo. Porém, eu coloquei ambos na mala, trouxe-os comigo e tenho a impressão de que ela (a alma) sempre será irrequieta e ele (o senso de inadequação) sempre me fará sentir não pertencendo a nenhum lugar. Será que valeu a pena então?


Em um tempo em que não recebemos mais cartas (infelizmente), poucas notícias me chegam dos amigos distantes, com exceção dos muito perseverantes e pacientes com as minhas ausências. Da mesma forma que eu, eles não tem o maldito tempo pra contar como o dia foi bonito ou quanta preguiça eles têm hoje. Ás vezes dá para passar adiante uma mensagem bonita, mas elas não me revelam como eles realmente se sentem.


Saudades de um tempo com poucos compromissos (e que eu ainda achava atribulado, há se eu pudesse ver o futuro). Tardes ao sol, noites em cafés, uma baladinha aqui e ali, jantares na casa dos amigos, sempre revendo alguém, sabendo reconhecer só pelo olhar o estado de espírito dos que eu amei (e ainda amo, mas hoje já não sei se saberia reconhecê-los assim).

Será que para eles eu já faço parte do passado? Sou a memória de algo colorido e aconchegante, mas como era mesmo o nome daquela doidinha?


Vanessa há mais de vinte anos você foi morar em Osasco e eu estou aqui do ladinho e não sei de você, eu ainda guardo suas cartas. Lulu e o seu filhinho ruivinho que já deve estar maior do que eu? Saudade de andar de patins e de nos esconder da bruxa da Gonçalo de Carvalho. Fafi, por onde anda você, por onda anda a amizade que perdemos pelo motivo que nenhuma mulher deveria permitir? Rosane, obrigada pela sua eterna fidelidade e pelo carinho de sempre, como vai seu trabalho voluntário? Fernanda, você foi a primeira a ser carregada pelo Tempo e eu te julguei tanto por sumir das nossas vidas, sinto muito. Andreza, eu queria muito, muito mesmo ter estado com você nestas últimas semanas, mesmo que fosse pra ficar calada ao seu lado, eu sinto muito. Carol como vai a polícia?


Aposto que a gaúcha está enlouquecendo o povo da fronteira e fazendo o mundo mudar por lá. E os teus pais, o os teus irmãos? Daniele espoleta, quando sai o casório? Como vai a tua mãe? Saudade da tua casa tão aconchegante. Janaína se adaptou a ficar tempos longe do amor? E a fofa da Rebeca, como vai? Aline como vai o casório? E a vida está boa lá tão longe? Catiúcia, e o seu amor? Vocês ficam ou vão embora de vez deste país triste? Saudade do teu senso de humor incrível. Lucky tens desenhos lindos novos? Saudade do teu abraço! Prí, tá linda como sempre? Saudade da tua risada.


Mesmo dos, de certa forma, mais próximos estou com tantas saudades. Meus irmãos de sangue e de alma... Lila tu estás muito magrinha e eu morro por um café contigo de madrugada ou por um negrinho de panela. Minha afilhada é uma obra de arte, de corpo e alma, queria estar perto de vocês sempre. Dequinho eu espero teu telefonema, e também quero ver o Lucca correndo e ficando pelado para tomar banho. Queria que ele já dissesse dinda. Mana, vem logo me visitar e fazer bagunça por aqui, tá muito barbeira? Carolzinha te comporta, heim, gringa? Mamis cadê teu colo, tua visão, tua opinião, tua atenção, teu amor pertinho de mim? Diquinha não vá embora agora, lembra que tu prometeste ainda tirar um foto com teu bisneto, meu futuro filho.


E tantos outros amores que não cabem todos aqui. Saudade, saudade, saudade, daquela que dói fundo no peito e que eu sei que não vai passar.

Gisele Lins doendo de saudade escreve aqui às quartas-feiras.

5 comentários:

Unknown disse...

Nossa, que texto lindo Gi.
A saudade não é uma coisa boa de se sentir.
A dor é física. Nas entranhas.

Mas eu, egoísta que sou, não consigo não desejar que você fique aqui para sempre.

Obrigada pelo colo.
Beijos

Anônimo disse...

Oi realmente a saudade dói e de uma forma indiscutivel, nem pode-se dizer que o tempo cura pois o tempo so faz aumenta-la!!!

abraços..ótimo texto!!

Marco disse...

A saudade é distância, mas aproxima. É felicidade por ter de quem se ter boas lembranças. Saudade é uma breve interrupção das relações, mas não é a morte, uma distãncia permanente.

A vida sempre é irretocável, sem arrependimentos. Ela é sempre perfeita em seus caminhos.

Belo texto, veja só, inspirado pela própria saudade.

Angel disse...

Lindo texto Gi!

Saudade é mesmo difícil de administrar e impossível de não sentir.

Adorei!

Bjos!

Lila disse...

Saudade, saudade, saudade.
Nem sei se isso é é capaz de traduzir integralmente o que sinto longe de ti, já que se trata de tanta saudade:
De ver o filme "Meu Primeiro Amor" numa tarde fria de inverno, de cantar Faroeste Cabloco, de viajar imaginando o que significavam as sombras que formávamos na calçada, de sonhar com um futuro melhor para todos, de acreditar na essência humana, de apaixonar-se perdida e inúmeras vezes, de comer a rapadura da Jujú que sempre estava lá emcima da geladeira, de organizar a turma do colégio nas Olimpíadas para ganhar melhor torcida, de treinar nossas coreografias de patinação, das festas, dos gatinhos, das filosofias e acima de tudo da tua voz e do teu abraço aconchegante.
Te amo mana,
Beijos Lila

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