sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Filhos quase meus

Um dia, em estado de choque, falei com minha mãe: “Mamãe, você nem tem idéia do que aconteceu! Liz tá grávida!”. Ela então disse “Era de se esperar, já que ela está casada faz o quê? Cinco, seis anos? Ela está com quase trinta, em algum momento ela e o marido iam decidir ser a hora...” Não me senti consolada, na verdade, rs. Falei com minha irmã: “Lê, Liz acaba de me mandar um mail dizendo que está grávida!”, e minha irmã, também sem entender meu desespero: “Que legal, manda parabéns meus, o que você respondeu pra ela?”. Respondi que estou chocada, oras! Aí ela me mandou tomar vergonha na cara, passar a mão no telefone e me desculpar por ser a pior amiga.

Conversando com Liz, não surpreendentemente, ela foi a única pessoa que entendeu minha reação. Conheci Liz quando tínhamos 18 anos (ela, recém completados, eu, às vésperas de atingir a maioridade), e não faltou festa pra gente em Viçosa. Passamos juntas por fases mais festeiras, mais caseiras, passávamos férias uma na casa da outra, ela é super bem vinda na minha casa, e com a família dela eu me sinto muito em casa. Quando ela foi embora, era como se um pedaço de mim fosse junto. Mesmo com ela casada, eu sentia que de alguma forma a gente continuava vivendo as mesmas coisas (embora com menos festa e mais tranquilidade), mesmo de longe. Então, ouvir da minha amiga que depois de planejar com cuidado ela estava grávida foi mesmo uma coisa que me deixou em estado de choque, me senti quase traída, abandonada sozinha no mundo das avulsas enquanto minhas amigas, a maioria namorando sério, casadas ou se preparando para casar, já pensavam em família e vida de gente grande. Mas devo admitir que quando a encontrei pouco tempo depois, a barriga ainda nem aparecia direito, eu já sentia como se lá dentro estivesse não a prova definitiva de que nossas vidas estavam completemente diferentes, mas a prova viva de que minha amiga, embora na época ninguém enxergasse (talvez nem ela mesma) tinha tomado o rumo que a levou pra uma vida muito feliz. Então vibrei com cada semana dessa gravidez, o coitado do marido dela era perturbado diariamente pelo msn, já que eu queria saber de tudo (que tamanho ela está? Que peso? Quantas semanas? Está correndo tudo bem?).

Outras amigas já tinham tido filhos, mas minha reação tinha sido mais natural, uma vez que a maioria delas já combinava mais com essa vida de gente grande, mas tenho que admitir que a gravidez de Liz, mesmo de longe, pra mim foi uma coisa muito especial. Comecei em estado de choque e terminei vibrando, ansiosa pra hora que eu ia descer no aeroporto de Trondheim e finalmente ver e pegar a mocinha no colo.

Aí um dia comentei com minha mãe que eu não vejo em mim nem sombra de instinto maternal, que não descarto a chance disso acontecer, mas que achava pouco provável que um dia fosse sentir isso. E minha mãe (como as mães entendem coisas que a gente nem exerga, né?) disse “Se você quiser ter certeza de que tem sim algum instinto maternal, é só pensar o que você faria se por algum motivo precisasse acabar de criar as filhas de Liz ou Vanessa...”

Nessa hora eu juro que, embora não queira ter filhos meus, eu por uma fração de segundo me enxerguei não só com Isabella ou Maria Fernanda no colo, mas lembrei dos momentos que peguei o Jan, filho da Mônica, brinquei com Arturs e Linards, filhos da Rita, e Tomass, filho da Kristine (minhas duas irmãs letas), e até outras crianças que eu não cito aqui, e cheguei à conclusão que posso até não querer ter filhos. Mas quando os filhos são de pessoas que eu amo, eles são sim um pouco meus também.

Sisa sabe que Isabella, Jan, Arturs, Linards e Tomass ela vai demorar pra rever, mas em breve estará conferindo o tanto que Maria Fernanda cresceu nesse ano que passou tão rápido. Pelo menos uma vez por dia se pega pensando se as cólicas da Isa melhoraram...

7 comentários:

Gisele Lins disse...

Que lindo o texto, Sisa, lindo mesmo! Eu também me sinto assim em relação aos filhos de quem eu amo: são também muito meus!
Um beijão!

Professora Vanessa disse...

Nossa, Sisa, quanta ternura em cada palavra.
Sabe,você às vezes fala que não tem um instinto materno aflorado, que não sabe se quer ser mãe, mas
instinto materno não é necessariamente gerar e parir um filho, mas cuidar, querer bem, gostar gratuitamente e isso Maria Fernanda, tanto quanto eu, sabe que você tem. Aliás, ela ia ficar linda falando leto!!!
(Leo é um marido leitor que nunca comenta no blog, mas que sempre lê e comenta em casa. Ele adorou, viu?!)
Agradecemos o carinho, amiga.
Saudades...
Vanessa.

Anônimo disse...

qUE TEXTO LINDINHO E SINCERO!!!!
Puxa, nunca sabemos o dia de amanhã. Não lhe conheço, mas pelo seu texto, fico imaginando se daqui a algum tempo quando vc estiver escrevendo que está para casar, qual seria a reação de suas amigas e da galera que leu o texto. Já pensou nisso?
Abraços, menina!!!

Anônimo disse...

qUE TEXTO LINDINHO E SINCERO!!!!
Puxa, nunca sabemos o dia de amanhã. Não lhe conheço, mas pelo seu texto, fico imaginando se daqui a algum tempo quando vc estiver escrevendo que está para casar, qual seria a reação de suas amigas e da galera que leu o texto. Já pensou nisso?
Abraços, menina!!!

Anônimo disse...

Puxa, estava dando erro e fiquei apertando o botão laranja e por isso meu comentário saiu mais de uma vez!!!
Foi mal!!!

Angel disse...

Eu também me sinto como você, amo de doer os meus sobrinhos. Acho que faria muitos sacrifícios por eles, se necessário fosse.

É mesmo muito estranho quando as amigas (as fiéis principalmente) começam a casar e ter filhos. Parece que a gente parou no tempo, né! Mas cada situação vem no tempo certo.

Beijos!

Paula disse...

Sua mãe, com toda a sabedoria que só as mãe têm, acertou em cheio! Só assim mesmo para a gente tentar vislumbrar a maternidade e de fomos feitas para isso.
Só posso dizer que suas amigas têm sorte por ter uma pessoa como você com quem contar. Isso certamente as deixa muito mais tranqüilas!
Beijos!

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