Ela tinha a estranha mania de
sempre escovar os dentes com a mão esquerda, embora fosse destra. Dizia que
isso exercitava a sua coordenação. Ele tinha a mania de largar a toalha de
banho em lugares improváveis e que a irritavam, tais como a guarda da cadeira
da cozinha. Ela estendia as roupas no varal de acordo com a cor, formando um
lindo degradê de cores. Ele implicava com essa mania. Dizia que ela era
metódica demais.
Ele colocava o copo sem apoio na
mesa de centro da sala. Ela o xingava. A
mesa já estava cheia de marcas. Ele dizia que ela não era simpática com seus
amigos. Que estava sempre de mau humor. Ela se defendia dizendo que ele é que
ria demais, ria de tudo, um riso incontido. Parecia que estava sempre querendo
agradar a todo mundo. Mas ela não. Ah! Ela não nascera para agradar. Ela era
para poucos. E só queria ao seu lado gente interessante. Ele não suportava esse
seu discurso. A chamava de boçal.
Um dia a ficha caiu. Os dois eram
muito diferentes. Cada um seguiu seu rumo.
Hoje ela lembra com saudade da
toalha verde jogada pelos cantos. Olha melancólica as marcas de copo na mesa de
centro. Sente saudades do riso frouxo. Do furinho no queixo dele. Do cheiro
dele. Até daquele perfume que ela odiava.
Longe dali, ele lembra daquela
mulher acordando com olheiras que ficavam lindas no rosto dela, segurando sem
um pingo de coordenação a escova de dentes com a mão trocada. Pensa no varal.
Esteticamente lindo. Perfeitamente estendido. Nem a sua mãe sabe estender tão bem
as suas roupas. Sente saudades de tudo nela. Porque ela sim é que tinha
personalidade. Compreendia que não precisamos agradar a todos, pelo menos não o
tempo inteiro. Ela não sorria o tempo todo, mas quando o fazia ele sentia seu
coração derreter devagarinho.
Cada um em um canto diferente
desse vasto mundo, olhando para a mesma lua. Finalmente compreendendo que tudo
aquilo que parecia defeito, era apenas individualidade.
A ficha caiu de novo. Eles foram
feitos um para o outro. Eram uma dupla
perfeita.
Se alguém deu o primeiro passo?
Se um deles discou o número do outro e deu o braço a torcer? Se pegaram um
avião e encurtaram a distância de milhas que os separavam?
Talvez.
Andri escreve às sextas-feiras e
até pensou em um final para esta história, mas prefere que cada um de vocês
escreva seu próprio final. Se é que vocês me entendem ;)
Um comentário:
Andri, misturo nossas histórias aqui:
...E então, ela pegou o telefone e marcou um encontro. Ele foi!
E ela foi corajosa. Generosa. A primeira a falar daquele amor que calava seu peito. Falou de futuro. Falou que passado já era mais que passado.
E ali, sem mágoas, ressentimentos e testemunhas se abraçaram, se beijaram e trocaram promessas...
Ela despejou todo seu amor sufocado e abriu generosamente sua vida para que ele pudesse entrar...
Mas ele (ou sempre eles...) não estava pronto. De novo ele não estava pronto. Prefere a calmaria de um relacionamento morno ao qual se acostumou nos últimos dois anos...
Preferiu ficar num relacionamento sem tesão, sem filho, sem graça.
E ela?
Ela ficou bem! Muito bem! Agora ela sabe o que é ter coragem de amar...se entregar.
Ela saiu vitoriosa!
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