sexta-feira, 22 de maio de 2015

Manias

Ela tinha a estranha mania de sempre escovar os dentes com a mão esquerda, embora fosse destra. Dizia que isso exercitava a sua coordenação. Ele tinha a mania de largar a toalha de banho em lugares improváveis e que a irritavam, tais como a guarda da cadeira da cozinha. Ela estendia as roupas no varal de acordo com a cor, formando um lindo degradê de cores. Ele implicava com essa mania. Dizia que ela era metódica demais.

Ele colocava o copo sem apoio na mesa de centro da sala. Ela o xingava.  A mesa já estava cheia de marcas. Ele dizia que ela não era simpática com seus amigos. Que estava sempre de mau humor. Ela se defendia dizendo que ele é que ria demais, ria de tudo, um riso incontido. Parecia que estava sempre querendo agradar a todo mundo. Mas ela não. Ah! Ela não nascera para agradar. Ela era para poucos. E só queria ao seu lado gente interessante. Ele não suportava esse seu discurso. A chamava de boçal.

Um dia a ficha caiu. Os dois eram muito diferentes. Cada um seguiu seu rumo.

Hoje ela lembra com saudade da toalha verde jogada pelos cantos. Olha melancólica as marcas de copo na mesa de centro. Sente saudades do riso frouxo. Do furinho no queixo dele. Do cheiro dele. Até daquele perfume que ela odiava.

Longe dali, ele lembra daquela mulher acordando com olheiras que ficavam lindas no rosto dela, segurando sem um pingo de coordenação a escova de dentes com a mão trocada. Pensa no varal. Esteticamente lindo. Perfeitamente estendido. Nem a sua mãe sabe estender tão bem as suas roupas. Sente saudades de tudo nela. Porque ela sim é que tinha personalidade. Compreendia que não precisamos agradar a todos, pelo menos não o tempo inteiro. Ela não sorria o tempo todo, mas quando o fazia ele sentia seu coração derreter devagarinho.

Cada um em um canto diferente desse vasto mundo, olhando para a mesma lua. Finalmente compreendendo que tudo aquilo que parecia defeito, era apenas individualidade.

A ficha caiu de novo. Eles foram feitos um para o outro.  Eram uma dupla perfeita.

Se alguém deu o primeiro passo? Se um deles discou o número do outro e deu o braço a torcer? Se pegaram um avião e encurtaram a distância de milhas que os separavam?

Talvez.

Andri escreve às sextas-feiras e até pensou em um final para esta história, mas prefere que cada um de vocês escreva seu próprio final. Se é que vocês me entendem ;)


Um comentário:

Loris Mãe disse...

Andri, misturo nossas histórias aqui:

...E então, ela pegou o telefone e marcou um encontro. Ele foi!
E ela foi corajosa. Generosa. A primeira a falar daquele amor que calava seu peito. Falou de futuro. Falou que passado já era mais que passado.
E ali, sem mágoas, ressentimentos e testemunhas se abraçaram, se beijaram e trocaram promessas...
Ela despejou todo seu amor sufocado e abriu generosamente sua vida para que ele pudesse entrar...
Mas ele (ou sempre eles...) não estava pronto. De novo ele não estava pronto. Prefere a calmaria de um relacionamento morno ao qual se acostumou nos últimos dois anos...
Preferiu ficar num relacionamento sem tesão, sem filho, sem graça.
E ela?
Ela ficou bem! Muito bem! Agora ela sabe o que é ter coragem de amar...se entregar.
Ela saiu vitoriosa!

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