Pois o fato é que ultimamente nós não temos nos relacionado muito bem.
Associando isso a algumas perdas, umas quantas tristezas, a fragilidade da vida e outras pequenas frustrações diárias (endógenas, na sua maioria), temos uma mistura bastante explosiva.
No meio desta mistura, de repente e sem aviso prévio, a ceifadora de vidas insiste em aumentar os vazios, andando por aí de cabeça erguida.
Triste? Muito. E sempre. Mas só para quem fica, na minha percepção.
Tristes são os pedaços de coisas que vão ficando pra trás. Mancas, aleijadas, mutiladas.
Tristes são os pensamentos e as lembranças que nos invadem no meio da noite, no primeiro segundo da manhã, no meio da tarde. Aquelas que não conseguimos mandar embora.
A ceifadora nos priva de nossos amores. De nossos amigos. De nossos irmãos.
Será que ela sofre?
Será que pensa em nós quando carrega os pedaços do que um dia fomos em seus braços?
Será que lembranças e sentimentos também são levados, para sempre?
Por vezes espero que sim.
Mas no fundo, prefiro que não.
Nestes momentos, minha relação com a música se estreita.
É quando o peito aperta que elas fazem mais sentido.
Uma em especial me tocou numa hora dessas. Uma que diz que o tempo faz tudo valer a pena, e nem o erro é desperdício.
E o aperto no peito fica um pouco mais leve, embora não desapareça.
O Avesso Dos Ponteiros
Ana Carolina
Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de arrumar o armário
Sempre chega a hora do poeta a plêiade
Sempre chega a hora em que o camelo tem sede
O tempo passa e engraxa a gastura do sapato
Na pressa a gente nem nota que a lua muda de formato
Pessoas passam por mim pra pegar o metrô
Confundo a vida ser um longa-metragem
O diretor segue seu destino de cortar as cenas
E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos
E já não vai mais ao cinema
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Penso quando você partiu
Assim... sem olhar pra trás
Como um navio que vai ao longe
E já nem se lembra do cais
Os carros na minha frente vão indo
E eu nunca sei pra onde
Será que é lá que você se esconde?
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
A idade aponta na falha dos cabelos
Outro mês aponta na folha do calendário
As senhoras vão trocando o vestuário
As meninas viram a página do diário
O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim..
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Milena escreve aqui as quintas, e gostaria, só por um breve espaço de tempo, parar de pensar.
3 comentários:
Oi Milena.
Eu me identifiquei muito com seu texto. Ele descreve muito bem um momento que estou vivendo, porque (in)felizmente (ainda não dá para saber)temos que passar por certas coisas...
Sabe, parar de pensar talvez seja a única saída desejada, mas também é a única não factível. Nestes momentos, melhor deixar o tempo agir por si só, e nos mostrar o quanto estamos a sua mercê. Às vezes ele ainda é o melhor remédio; é nisso que me apeguei.
Muito lindas suas palavras!
Oi Mí... "a ceifadora"... O bial tem um texto bacana sobre ela...qdo eu achar te passo. Sabe, ñ podemos ganhar dela, na real podemos...se vivermos "a todo vapor" ela nunca tera vindo cedo... melhoras para seus pensamentos... beijos
Milena,
lindo o seu texto. A música da Ana Karolina, tão linda quanto. O tom do seu texto me fez lembrar de um poema de Drummond, do qual gosto muito: "Poema de Sete Faces".
Um grande abraço,
Vanessa.
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