sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Feridas fechadas

Quando aquilo vem dilacerando a gente, tirando o chão sem aviso prévio, a impressão que se tem é que nunca mais a gente vai conseguir levar a vida normalmente. Todo mundo repete que passa, que dói mas passa. Nem é que a gente não acredita ou não quer acreditar. Simplesmente foi tirada da gente qualquer capacidade maior, seja de reação, de revolta ou o que for. A única sensação que se tem é que a partir dali, tudo acabou. Só os olhos funcionam como é de se esperar, jorrando lágrimas e lágrimas. Mas essas lágrimas um dia também param de cair e é assim que a gente se sente: vazia e seca.

Haja terapia, haja fluoxetina, e com o tempo, sair de casa não é mais um desafio. A gente consegue andar na rua sem aquele pavor de que o mundo possa cair na cabeça da gente. Sai, cumpre as obrigações e volta. Não adianta querer desviar a cabeça pra outro assunto: aquilo martela na cabeça dia após dia, e quando a gente menos espera, a ferida dói. E a gente vê aquela ferida aberta e sangrando, sem conseguir disfarçar, apavorada porque a qualquer momento alguém pode enfiar o dedo nela.
Com o tempo, você vai se convencendo de que pode conviver com aquela dor. Ela está ali, lembrando o tempo todo que existe, mas já não impede de levar a vida normalmente. Obrigações, lazer... coisa de vida normal. Não é que a gente tenha a vida que tinha antes, porque a vida de alguma forma se dividiu em antes e depois do ocorrido. Mas já consegue tocar tudo pra frente, embora às vezes as lembranças tragam um gostinho amargo na boca.

Até que um dia, em uma conversa informal com alguém, surge o assunto. A gente fala dele, e quando percebe, está falando normalmente. Como se fosse alguma coisa que viu num filme ou que aconteceu com outra pessoa. Conta aquilo, e não dói mais. Anos depois (oito ou nove? Nem sei mais) a gente percebe que em algum momento, sem a gente nem perceber, que a ferida fechou. A cicatriz sempre vai ficar, a vida continua se dividindo em antes e depois. Mas aquilo não dói mais. E percebendo isso, a gente constata que só ficou o aprendizado. Bendito tempo que cura até o que a gente julgava incurável.




Sisa percebeu algumas horas atrás que quando alguém diz “o tempo cura tudo”, não é bobagem.

9 comentários:

Unknown disse...

Não é bobagem mesmo, você é exemplo disso. O tempo te cura, o tempo te fortalece, o tempo te faz bem de muitos jeitos. É bom ver como o tempo é bom pra você.

Beijos

Anônimo disse...

Sisa, já te disse que você é foda? É foda, é vidente, é Mãe Diná...

Esse texto era tudo o que eu precisava ler NESTA semana. Tks pelas palavras! ;D

Beijo grande!!!

Anônimo disse...

Sisa, é verdade mesmo que o tempo cura tudo, precisamos apenas ter paciência para esperar!

Por diversas vezes achei que ia morrer de tanta dor e que ela nunca passaria, mas passou. E como vc, hj consigo falar normalmente sobre essas feridas que viraram cicatrizes e umas que até desapareceram.

Beijos p vc minha amiga e fica bem!!!

Paula disse...

Desapego, maturidade, alívio... Não importa quantos nomes este "perceber que não te afeta mais" recebam, o que vale mesmo é que perceber que uma ferida fechou é a melhor sensação do mundo. O nome que dou para ela: liberdade!
Mil beijinhos,
Paula.

PS: adorei seu texto, mesmo!

Paula disse...

ops, tira o "recebam" e leiam "receba"

Angel disse...

E como cura... o tempo é mágico para feridas.
bjo!

Anônimo disse...

alifont than parenthesis sudden betsy respectively pads fishes pathway smile alleviating
semelokertes marchimundui

sandrinha disse...

É realmente o tempo cura tudo, mas ô dorzinha difícil de aguentar.... bjo

giselle disse...

Nossa amei o yexto caiu como umaluva em minha vida, mas realmente é uma dor muito chata mesmo, e porque tem que durar tanto tempo aff, mas passa porque a vida segue...

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