Hoje abri meu msn, depois de uma década. Recebi uma mensagem offline da minha mãe (?????), que continha apenas um link para a página do Orkut novo dela (????). Minha mãe vai fazer sessenta e cinco anos.
Há poucos anos atrás, com as “crias” ainda por perto, tínhamos que ajudá-la a ligar o computador. Ao longo destes anos, a relação da minha mãe com modernidades que hoje já não mais o são resultou em histórias fantásticas e eu a prometi que um dia ia escrever um livro sobre isso.
Desde o “copiar e colar”, que rendeu aos seus filhos horas intermináveis tentando recuperar pedaços de textos perdidos, até a compreensão de como funcionam as pastas dos “meus documentos”, foram muitos momentos de raiva, até fúria, que eu testemunhei na relação entre a minha mãe e o computador. Mas ela persistiu.
Teve a descoberta de como mandar anexos. Antes disso, um dia ela me trouxe um disquete, dizendo que ele continha um documento que precisava ser enviado para tal endereço de e-mail. Três ou quatro vezes depois veio ela perguntando “já mandou?”. “Ainda não”. Na última, ela entrou no meu quarto e surtou:
- Guria, quantas vezes eu vou ter que te pedir para enviar esta porcaria?
- Mas, mãe, eu já mandei!
- Como que tu mandaste se eu to vendo o disquete aí em cima da mesa?
O que até hoje nos rende câimbras de risadas, quando tiramos a maior onda dizendo que ela pensava que um anexo era transportado virtualmente por um cabo, blup, blup, blup, até ser cuspido no micro de destino.
Veio a descoberta do Google (que como ela eu considero a invenção do milênio). Há, quantas discussões sobre algum sintoma, doença ou medicamento, onde ela fazia uma baita pesquisa na internet antes de vir conversar comigo (que sou farmacêutica), me deixando P da vida com a “sabedoria virtual” (e nem sempre verídica) que os curiosos e hipocondríacos podem hoje ter ao alcance do mouse.
Muitas outras histórias eu e meus irmãos teríamos para contar sobre a epopéia cibernética da minha mãe.
Fui a última filha a deixar as asas da mama, e desde então, ela se vira muito melhor do que antes nos quesitos informáticos. O que absolutamente não me surpreende. Minha mãe é uma mulher de garra, uma leoa, camaleoa. Divertidíssima e sempre apaixonada por alguma coisa contagiante: de terapia floral (seu hobby tão duradouro que ser psicóloga virou profissão secundária há bem mais de uma década e que transformou a vida de muitas pessoas, inclusive a minha) à macrobiótica e alimentação naturalista, numerologia, crianças índigo, cristais, tarô, radiestesia e... Informática!
Com ela fiz aulas de massoterapia quando ainda nem conseguia pronunciar esta palavra. Ela me levou para participar de um seminário sobre mulheres, em volta da fogueira, tomando banho de rio na lua cheia. Eu fui a esquisita macrobiótica por seis meses na minha pré-adolescência por causa dela. Ela me apoiou quando eu quis ser astronauta, quando eu quis sair do país, quando eu escolhi sair da minha terra e do lado dela. Quando fui ao ginecologista com o meu primeiro namoradinho sério pra começar a tomar a pílula ela também estava lá.
Minha mãe me ensinou a dominar as panelas, as agulhas e as mãos, com a mesma classe e categoria que ela me ensinou a respeitar as pessoas a ter educação e a batalhar muito pelo que eu quero. Minha paixão por livros (que é gigantesca) é apenas um empréstimo da dela. Tudo o que hoje eu escolho para levar adiante na bagagem da minha vida tem o dedo da minha mãe, e eu tenho o maior orgulho disso.
Ela me visita aonde eu vou, e sei que se hoje eu estivesse morando na lua, ou no Nepal, ela estaria lá. Ela divide suas férias entre uma reunião importante em algum lugar, uma passadinha no Vale do Amanhecer e uns diazinhos com cada filho, espalhados pelo mundo, sendo que aqui em casa ela vem para descansar, porque eu moro num lugarzinho bucólico a atrasadinho demais para ela (até quando morei em Londres eu achava que era atrasadinha demais para ela).
Mãe, você é a pessoa mais especial que existe na minha vida. Tudo o que eu tenho de bom veio de você e eu quero muito que os genes que andam meio preguiçosos e esquecidos ultimamente se lembrem logo de onde eles vêm ainda mais quando vejo você aprontando destas...
Há poucos anos atrás, com as “crias” ainda por perto, tínhamos que ajudá-la a ligar o computador. Ao longo destes anos, a relação da minha mãe com modernidades que hoje já não mais o são resultou em histórias fantásticas e eu a prometi que um dia ia escrever um livro sobre isso.
Desde o “copiar e colar”, que rendeu aos seus filhos horas intermináveis tentando recuperar pedaços de textos perdidos, até a compreensão de como funcionam as pastas dos “meus documentos”, foram muitos momentos de raiva, até fúria, que eu testemunhei na relação entre a minha mãe e o computador. Mas ela persistiu.
Teve a descoberta de como mandar anexos. Antes disso, um dia ela me trouxe um disquete, dizendo que ele continha um documento que precisava ser enviado para tal endereço de e-mail. Três ou quatro vezes depois veio ela perguntando “já mandou?”. “Ainda não”. Na última, ela entrou no meu quarto e surtou:
- Guria, quantas vezes eu vou ter que te pedir para enviar esta porcaria?
- Mas, mãe, eu já mandei!
- Como que tu mandaste se eu to vendo o disquete aí em cima da mesa?
O que até hoje nos rende câimbras de risadas, quando tiramos a maior onda dizendo que ela pensava que um anexo era transportado virtualmente por um cabo, blup, blup, blup, até ser cuspido no micro de destino.
Veio a descoberta do Google (que como ela eu considero a invenção do milênio). Há, quantas discussões sobre algum sintoma, doença ou medicamento, onde ela fazia uma baita pesquisa na internet antes de vir conversar comigo (que sou farmacêutica), me deixando P da vida com a “sabedoria virtual” (e nem sempre verídica) que os curiosos e hipocondríacos podem hoje ter ao alcance do mouse.
Muitas outras histórias eu e meus irmãos teríamos para contar sobre a epopéia cibernética da minha mãe.
Fui a última filha a deixar as asas da mama, e desde então, ela se vira muito melhor do que antes nos quesitos informáticos. O que absolutamente não me surpreende. Minha mãe é uma mulher de garra, uma leoa, camaleoa. Divertidíssima e sempre apaixonada por alguma coisa contagiante: de terapia floral (seu hobby tão duradouro que ser psicóloga virou profissão secundária há bem mais de uma década e que transformou a vida de muitas pessoas, inclusive a minha) à macrobiótica e alimentação naturalista, numerologia, crianças índigo, cristais, tarô, radiestesia e... Informática!
Com ela fiz aulas de massoterapia quando ainda nem conseguia pronunciar esta palavra. Ela me levou para participar de um seminário sobre mulheres, em volta da fogueira, tomando banho de rio na lua cheia. Eu fui a esquisita macrobiótica por seis meses na minha pré-adolescência por causa dela. Ela me apoiou quando eu quis ser astronauta, quando eu quis sair do país, quando eu escolhi sair da minha terra e do lado dela. Quando fui ao ginecologista com o meu primeiro namoradinho sério pra começar a tomar a pílula ela também estava lá.
Minha mãe me ensinou a dominar as panelas, as agulhas e as mãos, com a mesma classe e categoria que ela me ensinou a respeitar as pessoas a ter educação e a batalhar muito pelo que eu quero. Minha paixão por livros (que é gigantesca) é apenas um empréstimo da dela. Tudo o que hoje eu escolho para levar adiante na bagagem da minha vida tem o dedo da minha mãe, e eu tenho o maior orgulho disso.
Ela me visita aonde eu vou, e sei que se hoje eu estivesse morando na lua, ou no Nepal, ela estaria lá. Ela divide suas férias entre uma reunião importante em algum lugar, uma passadinha no Vale do Amanhecer e uns diazinhos com cada filho, espalhados pelo mundo, sendo que aqui em casa ela vem para descansar, porque eu moro num lugarzinho bucólico a atrasadinho demais para ela (até quando morei em Londres eu achava que era atrasadinha demais para ela).
Mãe, você é a pessoa mais especial que existe na minha vida. Tudo o que eu tenho de bom veio de você e eu quero muito que os genes que andam meio preguiçosos e esquecidos ultimamente se lembrem logo de onde eles vêm ainda mais quando vejo você aprontando destas...
Gisele Lins quer ser igual à sua mãe quando crescer e escreve aqui aos sábados.
5 comentários:
Risos risos...
Oi, Gisele!
Nossa, posso dizer que no quesito informática sua mãe e a a minha têm muito em comum! A minha já tem msn, agora só falta orkut, mas a luta para que ela entendesse tudo foi como a sua!
Ei, faz tempo que não vou para casa dela porque o doutorado está me consumindo... e hoje senti muita falta dela ao ler seu texto (lágrimas). Muito bom seu texto.
Mães são mesmo inigualáveis!
Beijos.
Que barato a sua mãe! E que relação legal vocês construiram.
A minha mãe não gosta nem de passar perto de computador. Nem ouvir falar...
Parabéns! Seu texto está ótimo!
Bjos!
Ahá! Eu também tenho uma cyber mãe, que faz IRContro lá em casa e tudo! Vai falar que mãe plugada não é tudo de bom?
Amei o texto, minha mae está comecando essa vida virtual, ja tem msn e skype, mas ainda acha complicadissimo falar com duas pessoas ao mesmo tempo hehe. :)
Parabéns a tua mae por ser tao adaptável. Bem, muitas qualidades ela tem, dentre elas ter realizado um trabalho bárbaro com você... eu que o diga.
Admiro demais tua mae por ter alimentado esse ser crítico, criativo, inteligente, intrigante, provocante, conquistador, indagante que és.
Bjs mil,
Lila
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