sábado, 10 de novembro de 2007

Águias

Do espelho uma menina de dezenove anos me piscou. Ela me levou a uma folha amarelada, guardada com algumas outras, por muito tempo e muitos quilômetros.


Águias

Explicar um sonho?
Eu tentaria, mas como tentar ensinar a águia a voar?
Um dia me disseste que possuo o dom de unir as palavras e presentear-lhes um significado.
Era verdade, eu vi.
Porém, o tempo passou e, para mim, trouxe novos e muitos significados.
Tentei presenteá-los a ti, mas as palavras que existem não foram capazes de comportá-los, por mais que eu tentasse.
Além disso, teus próprios significados adquiridos te impedem de ver com meus olhos, ou sentir com meu coração.
O que, por fim, descobri que é bom, pois sempre teremos o que mostrar um ao outro e o que sentir um pelo outro, já que não somos iguais.
O “não sermos iguais” nos torna semelhantes a toda pessoa que existe, pois, na verdade, ninguém é igual a ninguém.
O que me leva, então, a sentir que tua existência é fundamental para o meu existir?
O que me faz achar-te diferente do Todo, diferente de mim e, ao mesmo tempo, tão essencial?
É uma ânsia pelo conforto da tua presença, pela segurança de tuas palavras e, ao mesmo tempo, a sensação de voarmos livres, juntos.
É uma gana por encontrar a mim mesma, rápido e urgente, para que esta busca não me tome o precioso e infinito tempo de estar contigo.
Torno-me curiosa e surpresa, pois tua presença me permite ver beleza e achar graça em tudo que, por natureza é belo, e pequeno, e detalhe, e passa-me despercebido quando estou ocupada demais tentando encontrar-te e encontrar-me além de ti, mas não estando ao teu lado.
Consigo ver redundâncias como confirmações; simplicidade como sabedoria; e a maravilhosa certeza de se estar viva como um milagre, que só se completa se estiveres comigo.
Tu és como o meu lugar no mundo, onde sou o que sou, onde mais aprendo, onde mais ensino, onde mais observo, e troco, e me aqueço, e me aconchego.
Tu és o meu solzinho no inverno, o ventinho no verão, o vinho no outono e todas as flores, juntas, na primavera, colorindo e perfumando minha vida e despencando sobre mim uma imensa vontade de viver. Ao teu lado.
Tu és tanto, que qualquer real tentativa de definir-te com palavras seria uma profanação, então, desisto de continuar tentando, antes que um raio fulminante me atinja, pensando em ti.
Digo-te apenas, mesmo arriscando-me, que és a águia que voa ao meu lado, e que tentar explicar-te nosso sonho seria como tentar ensinar-te a voar.


Gisele Lins procurava aquele poema do Vinícius que adora para esta semana, mas encontrou a menina, mudou de idéia e convidou-a para ficar, pois estava com saudades. Hoje elas assistiram Ratatouille e ficou a vontade de tomar um vinho. Escreve aqui aos sábados.


5 comentários:

Aline Bahiense disse...

Liinnnddddooooooooo!!!!!!!!

Angel disse...

Adoro ler textos profundos e lindos como esse. Obrigada Gi!

Bjos!

Sisa disse...

Lindo.

Unknown disse...

Maravilhoso Gi.
Intenso, como a vida deve ser.

Paula disse...

As meninas já disseram tudo: é desse tipo de intensidade que a gente precisa para viver. Amei!
Parabéns, Gisele!

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