Há um tempo venho tentando mudar minhas atitudes e o meu impacto ambiental e de consumo enquanto de passagem por esse mundo. Aliás, vocês já perceberam que a nossa passagem aqui é muito rápida e que o mundo tem que continuar e outras pessoas passarão por aqui? Mas nós vivemos de forma egoísta, como se o mundo fosse nosso e a gente tivesse que usufruir de tudo que ele pode nos oferecer, sem nenhum tipo de contrapartida da nossa parte. A gente destrói, mas não tem consciência de que está destruindo, porque não percebe que a simples fabricação de uma peça de jeans carece de uma quantidade absurda de água para ser produzida. A gente destrói pelo nosso modo de viver. E é esse modo de viver que tenho repensado e tentando adaptar nos últimos anos.
Percebo que quanto mais me conheço, preciso de menos coisas. Fui amadurecendo enquanto ser humano e nunca mais precisei de um determinado sapato para viver ou de uma determinada calça. Nunca mais precisei sair de uma loja com um monte de sacolas, coisa que outrora achava terapêutico. Não estou dizendo que moda não é importante. Claro que é. Moda é atitude e não tem nada a ver com consumismo, que não tem a ver com moda e sim com a necessidade de posse. Muitas pessoas só se importam em ter muitas peças, mas sem pegada de moda, só por ostentação. E tem que ter consciência do tipo de tecido que está comprando!
Meu guarda-roupa é muito restrito e mesmo quando eu comprava bastante, já tinha a consciência de desapegar de algo que já não usava mais. Sempre que comprei algo, sabia que outro algo já não seria mais usado e passava adiante. E se não usei no verão/inverno passado, não vou usar nesse e passava para amigas, minhas alunas, ou quem estivesse precisando. Mas não pensando em como "sou boa e caridosa e vou doar". Com a intenção de alguém seguir usufruindo. Do mesmo jeito sempre tento reaproveitar as coisas em casa. Reformando móveis e outras coisas, e sempre que possível, na pegada faça você mesmo – ou o marido mesmo. Nesses últimos dias mudamos várias coisas em casa, para a tornar mais confortável para nós. Mas tentamos fazer o que fosse humanamente possível para esses dois humanos e compramos algumas coisas que eram necessárias. E aí, o que fazer com o que sobra? Não existe nada que justifique coisas sem uso em casa, então vendemos se fizer sentido – até porque precisamos pagar o que adquirimos novo – ou doamos caso tenha para quem doar. Tecidos que não são mais passíveis de uso viram cama de cachorro. Você já pensou o que acontece com um tecido ou com um sapato que mandamos para o lixão? Quanto tempo aquilo vai ficar lá sem “desaparecer”?
Meu celular tem três anos. Alguém me disse essa semana: seu celular já está bem velhinho né? Mas gente, ele funciona, está com a tela perfeita, bateria meio viciada, mas deixa o meu celular! E sempre foi assim, só troquei de celular quando o coitado pediu “pelo amor de deus, me deixa”. E quando ele ainda tinha algum suspiro de vida, passei adiante para alguém usufruir do suspiro. Afinal, eletrônicos não são biodegradáveis, e aí?
Acho que devemos essas contrapartidas para a terra e para seus futuros habitantes. Uma contrapartida que tenho dado e me orgulho imensamente é de não usar absorventes descartáveis, que invenção tola! Não só eles são puro plástico e nunca vão sumir desse planeta, como com o tempo eles passaram a ter mais plástico nas abinhas, mais plástico envolvendo cada um deles e mais o plástico da embalagem. Uso o coletor menstrual que é uma invenção de responsabilidade e estou aguardando ansiosamente a chegada das calcinhas menstruais que comprei!
Aqui onde moro não tem coleta seletiva. Mas dá para levar o que é reciclável num posto de coleta e ganhar desconto na conta de luz. A gente fica juntando lixo um tempo para não ficar indo lá o tempo todo e quando chega lá, o desconto na conta é irrisório e não cobre nem o combustível da ida até lá. A gente faz por que quer mesmo. Mas a ideia é boa, imagino que se o incentivo fosse melhorzinho mais pessoas iam se propor a fazer. Aí a gente caí na paranoia de que está indo lá levar o lixo para ser sustentável, mas está poluindo queimando combustível até lá – mas aí é questão de sempre levar quando já tem mais coisas para fazer perto do lugar. Tem que tornar o uso do carro consciente também, já conseguimos por aqui! Não usamos mais sacola plástica do supermercado, levando sacolas de casa ou aproveitando as caixinhas – que os supermercados já disponibilizam sem precisar pedir – ainda bem! E vejo que muita gente já está com essa conduta. Claro que às vezes acabamos usando, numa passagem desprogramada pelo supermercado, mas se a gente já não usa na maioria das vezes, creio que estamos fazendo nossa parte. Faço cebolinha e alho-poró crescer de novo na água, e o que mais der.
Tenho muita muita coisa para aprender e para mudar ainda. Mas qualquer decisão que a gente tome no sentido de viver mais conscientemente já faz alguma diferença. Isso desde não usar canudo e copo plástico, ter uma xícara no trabalho e lavar a louça fechando a torneira. Já vi que existem projetos de troca de roupas, que vão além de brechós, que são muito legais também! Cada mudança é uma vitória e a mim dá mais prazer do que comprar algo novo.
Vejo que em países mais desenvolvidos – nos EUA não – essa consciência já é a normalidade e nosso país tem muito o que se desenvolver ainda. Mas tudo começa nas pessoas! Dá trabalho mudar condutas, não sou hipócrita de afirmar que é fácil, mas se fizer sentido para você, vale o esforço!
E claro que tenho meu pecado do acúmulo, não consigo – e não sei se um dia conseguirei – não acumular livros! Mas vivo dando uns que já li de presente, acho que já é um começo! A verdade é que a gente precisa de muito pouco para viver – eu preciso de uma comida boa – ah, e tem assunto para as mudanças para uma alimentação consciente – chá e café quentinho – ai gente, ainda não abandonei o filtro de café! – meus cachorros, meu amor, trabalho, relaxante muscular, muitas horas de sono, e um cantinho de paz – e livros, muitos livros, ai deus!
Luciana tem percebido que quanto mais é, de menos precisa.