terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cifrão

Sim, é sobre dinheiro que vou escrever. Precisamos dele para sobreviver em nossa sociedade mercantilista. Porém, vejo algumas distorções quando o assunto é remuneração.

Em recente reportagem na revista Exame, foram apresentados alguns casos de executivos brasileiros com altos salários, chegando à remuneração de R$1.000.000,00 (1 milhão de reais) por ano. Ótimo! Pra eles, claro. E como acréscimo, a reportagem ainda afirmou que os empregados infiéis (aqueles que trocam um emprego por outro que lhes remunere melhor) ganham mais. Resumindo, aquela velha história de trabalhar em uma empresa por muito tempo acreditando que o fato enriqueceria o currículo caiu por terra.

Questiono, diante dessa realidade, os motivos que levaram e levam os jovens (da década de 90 para cá) a escolherem suas profissões. Seria por afinidade? Prazer? Ou simplesmente porque aquela profissão está em ascensão e a remuneração em alta?

Apesar de conservar, ainda, uma visão romântica do mundo, não sou inocente a ponto de pensar e defender que todos devem escolher suas profissões apenas por afinidade e prazer. Não. É preciso pensar, sim, em remuneração. Mas quando o cifrão transforma-se o único motivo das escolhas de uma pessoa, chego a duvidar que haja alguma alegria nessas escolhas.

Parece que já estamos na cultura do “quem dá mais?”. Viramos mercadoria, ainda que cara.

Creio que não chegarei a receber um salário altíssimo, como os ditos executivos da reportagem. E nem almejo isso. Teria de renunciar a muitos prazeres e alegrias em busca do cifrão. Sinceramente, certos momentos não têm preço. Talvez precisasse nascer novamente sem essa visão romântica do mundo.

Por outro lado, sei que parte das pessoas ainda escolhe fazer o que gosta mesmo consciente de que nunca chegará a acumular muitos zeros na conta bancária. Os professores, por exemplo. Em sua maioria, ensinam porque gostam e ponto. E esse gostar é a grande vantagem para os alunos. Um professor que leciona por prazer encanta e educa realmente.

A verdade é que ainda que existam pessoas sendo tão bem remuneradas, elas são e serão a minoria durante um bom tempo. Não temos mercado de trabalho suficientemente aquecido para que esses executivos milionários se multipliquem em curto prazo. Ainda assim vejo o cifrão nos olhos dos jovens no momento da escolha da profissão. E isso me preocupa.

Angélica crê que é possível conciliar o gosto pelo próprio trabalho com a busca de uma boa remuneração, principalmente respeitando os próprios sentimentos e limites.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Homem que não atravessou

Entre um sinal e outro, entre duas ruas, no canteiro central, um homem. Uma lata grande suja de tinta branca na mão, calças de tergal branco, camisa azul desabotoada, por dentro uma camiseta mustarda, boné branco, sujo, um homem esperando, parado. 

Os carros pararam, aguardando que o sinal esverdeasse novamente, o homem no entanto não atravessou, continuou olhando para o outro lado, como se esse fosse inatingível, como se o outro lado fosse vir até ele e não o contrário, como se alguém viesse ao seu encontro, no entanto ninguem vinha. 

Os motoristas se perguntavam intrigados – estaria ele bêbado, ou ainda, estaria ele planejando um assalto? Mas não, nem um, nem outro, virou o rosto na direção dos carros, seu olhar não demonstrava nem um, nem outro, mas continha um sorriso, talvez até certo alívio, olhar de quem havia trabalhado e agora retornava pra casa mesmo que no próximo sinal. 
 

Foi bonito de se ver, não sei bem o por que, um homem sem pressa, sem tentar alcançar as horas, sem correr para atravessar. Talvez por ter feito isso durante toda a semana, talvez por estar apenas vendo os carros passarem. Foi bonito extamente por não saber o motivo e por ter me feito pensar, na imagem, na vida, na pessoa, no tempo.

domingo, 28 de setembro de 2008

Um motoboy entre eu e um crime contra a humanidade

Vivo sentindo ódio de motoboy. Eles atrapalham o trânsito, buzinam, molham os pedestres e normalmente ainda têm um cheirinho meio estranho depois de passar algumas horas dentro daquela roupa de plástico quando chove. Reconheço que muitos dos defeitos dos motoboys advém da nossa pressa, da urgência que normalmente decorre da falta de organização cotidiana. Mas mesmo assim, ODEIO motoboys!!! A despeito do meu ódio, não posso deixar de admitir que estes seres são um mal necessário, pois nada nunca conseguirá acabar com "urgências" administrativas. Quantas e quantas vezes não fui salva de viver uma tragédia administrativa por um motoboy?

Pois bem! Nunca consegui manter um relacionamento muito amistoso com os motoboys, apesar de eu precisar deles e eles – em muito menor grau – também precisarem de mim. Mas a gente sempre se aturou e eu sempre fui muito educada com todos eles. Afinal, educação é básico. Mas hoje eu tive certeza plena e absoluta de que o que separa uma pessoa razoavelmente normal e civilizada de cometer genocídio é um motoboy!

Eram dez da manhã quando liguei pro motoboy e perguntei se ele podia ir ao stand do condomínio Botanique, em Nova Lima, NA HORA buscar um documento pra mim porque eu precisava ter o documento em mãos às duas da tarde na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte. O infeliz disse que sim, podia. Eu ainda confirmei: mas tem que ser AGORA, senão não serve. E o infeliz disse que sim, já estava saindo.

Pausa pra ver se eu não estou ficando louca. Segundo o dicionário Aurélio, AGORA (advérbio de tempo) significa neste momento, imediatamente. Segundo meu momento, AGORA é sinônimo de pára tudo e vem logo! Será que só eu entendo AGORA desta maneira?!

Enfim, deu uma da tarde e nada do motoboy chegar. Liguei pro cara, né? Afinal, ele podia ter se perdido, sei lá. "Já estou chegando, D. Laeticia" (odeio quando me chamam de dona; odeio mais ainda motoboys que me chamam de dona). Mas deu uma e meia e nada do infeliz chegar. Subi pra ligar de novo, já apavorada porque o cliente me esperava às duas e meia e ouvi meu celular tocando. Atendi e era ligação a cobrar. ÓBVIO que era o motoboy.
"D. Laeticia, estou aqui no Ponto Verde (*) e o rapaz aqui falou que não tem ninguém com este nome aqui não."
"Ah?"
"Estou aqui no Ponto Verde e o rapaz falou que não tem ninguém com este nome aqui não."
"Nome, que nome?"
"D. Laeticia, preste atenção, estou aqui no Ponto Verde e o rapaz aqui falou que não tem nenhum Sr. Botanique aqui não" (inevitável cara de asterix ao telefone).
"Fulano, ô, fulano, mas não é pra você ir ao Ponto Verde não! O condomínio é que fica ao lado do Ponto Verde! Só te dei uma referência. Mas, peraí!! Você não me disse que tava chegando?"
"Sim, senhora, chegando aqui onde o Sr. Botanique mora, mas como eu disse, o rapaz aqui no Ponto Verde tá dizendo que não tem ninguém com este nome aqui não."
"Fulano! Mas eu... (pensei em uns quinhentos tipos de palavras para ofender a - escassa – inteligência do motoboy, mas me resignei e calei) Fulano, preste atenção, eu não disse que precisava que você buscasse o documento NAQUELA HORA senão nem servia?"
"Disse, sim, senhora."
"E mesmo assim você não saiu na hora?"
"É que eu não tinha visto que era hora do almoço e como comida fria é muito ruim, achei melhor comer primeiro, né, e fazer o serviço depois! E foi até bom porque o tal Sr. Botanique nem aqui no Ponto Verde chegou ainda."
"Fulano, vamos fazer o seguinte, eu mesma tô indo aí buscar o documento, pode ir embora, deixa que eu resolvo isso."
"E quem é que vai acertar comigo os VINTE E CINCO REAIS do meu serviço já que o Sr. Botanique não está aqui?!!"

(*) Ponto Verde é um centro de conveniência na estrada de Nova Lima.

Laeticia vive uma relação de amor e ódio com os motoboys da cidade, mas muitas vezes o ódio fala mais alto e ela tem vontade de exterminar todos os motoboys da face da Terra.

sábado, 27 de setembro de 2008

Por quê?

Por que meu celular não tem sinal na escola?

Por que os motoristas cutucam o nariz quando fecha a sinaleira?

Por que tem gente que simplesmente não se importa?

Por que o plural de mão é mãos e de limão é limões?

Por que programas ruins de TV têm tanta audiência?

Por que não há prova de seleção para candidatos a cargos políticos?

Por que eu gosto tanto de você?

Por que tem dias que parecem semanas e semanas que parecem dias?

Por que os pêlos crescem tanto?

Por que televisão me dá sono e gente chata me dá preguiça?

Por que a primavera não chega?

Por que você saiu?

Por que proibir pisar na grama se ela nasce no chão que é pra isso mesmo?

Por que não consigo terminar aquele texto que era pra ser publicado há duas semanas?

Por que a gente precisa dormir tanto?

Por que o horário de verão não dura o ano todo?

Por que saudade dói?

Por que as pessoas de quem a gente gosta sempre nos decepcionam?

Por que tem gente má?

Por que a gente não manda um pouquinho mais nos sentimentos?

Por que as pessoas não falam simplesmente a verdade?

Por que confiar é tão difícil?

Por que você lê o blog?

Por quê?

Renata tem ainda muito mais dúvidas.... Alguém se habilita a responder?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Amizade nunca é demais

Quando entrei pra essa vida de blogueira, eu não imaginei que um mundo tão divertido me esperava. Adoro escrever em blog pra rir, desabafar, filosofar... Adoro. Um tempinho atrás me empolguei tanto com esse mundo da blogsfera que acabei inaugurando outro blog, com pseudônimo, porque achava pouco escrever só às sextas feiras.

E nessas de blogar aqui e ali, ler outros blogs, comentar em um e em outro, acabei conhecendo muita gente. Acho que os blogs são os novos mIRC's. Sim, eu sou viciada em internet desde a época de mIRC, gente! Mas blog é legal, porque como a pessoa escreve sempre no mesmo lugar, a gente acaba se achando íntima dela. Em alguns casos, a gente só se acha mesmo. É o caso do Cafa, do Manual do Cafajeste. As leitoras dão opinião na vida dele como se fossem amigas de infância, chega a ser engraçado. Eu mesma sou uma que vive atormentando o pobre rapaz pelo twitter. E ele normalmente é atencioso, mas como são centenas, milhares de leitoras pentelh... digo, interagindo com ele, nem sempre ele pode responder. E mesmo esse jeito dele quando não gosta das liberdades que as leitoras tomam é muito autêntico. Acho o Cafa um barato (ihhh já tou vendo o tipo de comentário que três pessoas, citadas abaixo, vão fazer no msn, rs...!).

Mas entre os blogueiros "famosinhos" também tem os que se deixam levar pela "fama". Fama de Big Brother, na minha modesta opinião, mas já é suficiente pra galera virar estrelinha. Estes, na minha opinião, acabam caindo no esquecimento, assim que os leitores vão percebendo que seus posts são pagos, seu jeito é apenas pose e máscara, e que no fim, a pessoa que diz aquelas coisas é bem diferente da pessoa que está por trás do computador.

Mas nem é destes blogueiros que estou falando. Estou falando dos blogueiros "normais", que não têm dezenas/ centenas de milhares de visitas diárias. Estou falando dos anônimos que colocam um pouco de si na internet, abrindo portas para interagir com outras pessoas e, ocasionalmente, criar laços.

Por quê estou falando disso? Porque sábado passado fui a São Paulo me encontrar com três blogueiras com quem converso pela internet faz tempo. A gente se fala todos os dias e faz mesmo parte uma da vida da outra. E encontrá-las foi uma das coisas mais agradáveis que fiz nos últimos tempos. Reconheci naquelas três mulheres amigas de infância. Era muita afinidade, carinho, como se a gente se conhecesse desde sempre. Ali não nasceu uma amizade. Ali foi selada uma amizade que já existia pela net há meses, e de alma, há muito mais tempo. Passei momentos mais agradáveis do que imaginei passar.

E assim, agradeço mais uma vez à internet, que em momentos que pessoas se afastam, agridem, invadem, impõe, humilham, massacram, coloca na vida da gente pessoas que conversam, riem, afagam e criam laços. Pra cada pessoa que a gente perde na vida, outras muitas podem ser ganhadas. E por isso amizade nunca é demais. Obrigada Babi, Ká e Rapha pelo último fim de semana, que foi muito especial.


Sisa sabe que amizade nunca é demais, mas que também não se jogam fora antigas amizades por causa das novas. Sabe que as Mulheres de 30 sempre serão suas amigas, mas aproveita este post, que é o último no De Repente, 30..., para dizer o quanto as ama e que sempre estará do lado delas. E aproveita para convidá-las e aos leitores para visitar no seu novo blog (que é vôo solo, rs): A Casa da Sisa. Estou esperando todas vocês, e lá, no primeiro post, tem uma música pras Mulheres de 30.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Decisões

As pessoas podem ser sempre divididas em duas categorias?
As que fazem e as que não fazem?
As que traem e as que não traem?
As que mentem e as que não mentem?
As que são capazes de tomar decisões e as que não são?

Não sei ao certo se o ser humano é tão linear em todos os quesitos, mas nesse último, particularmente, minha experiência tem mostrado que dá sim para traçar uma linha e separar em duas categorias.

Todos os dias nós temos decisões a tomar.
Simples ou complexas, não importa. O importante é escolher um lado.
Conseqüências virão? Indiscutivelmente.

Desde pequena eu fui ensinada a arcar com as conseqüências. Creio que todos os pais tentam embutir essa idéia na sua prole. Talvez o pecado do excesso possa criar indivíduos inseguros demais. Talvez não.

Mas e a conseqüência de ficar em cima do muro?
A conseqüência de ter medo de escolher, de errar?

Eu prefiro pensar que essa é a pior de todas.
A conseqüência da insegurança.
A conseqüência do não escolher.

De qualquer forma, eu prefiro escolher e decidir por mim mesma.
E você? Em que fatia da humanidade você está?

Milena escreve aqui às quintas.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A síntese da quadragésima casa

A casa não tinha nada de engraçada, era linda. Tinha teto, sim, e todas as coisas espalhadas embaixo dele. Todos os amigos sinceros podiam entrar lá quando bem entendessem, e sentar nas cadeiras espalhadas ou no chão de madeira, tão esperado. A rede amarela estava lá para ser dormida e ainda se podia escolher em qual parede dependurá-la. Penico não tinha não, mas banheiros lindos com água quentinha abrigavam qualquer pipi ou superbanho relaxante. Dela foi feito um lar com muito esmero e, certamente com muito amor, mesmo que ficasse na Rua dos Bobos, número zero.

A casa passara a ser o terceiro membro desta pequena família. Foi muito procurada, esperada e querida. Ficou à espreita, esperando que eles fizessem as pazes com aquele lugar e só então apareceu toda exibida, como se enfim eles a merecessem.

A casa foi testemunha de muitos momentos, que são os melhores dentre os temperos da vida. A casa viu amigos sentados no piso ainda vazio, mas felizes pelos dois, viu amigos passando aperto para carregar seus pertences, palpitando sobre onde iria o sofá e escolhendo em qual quarto iriam dormir quando se passassem no vinho, ou apenas tivessem vontade. Ela viu amigos de longe e ouviu sotaques estranhos. A casa ouviu barulho de gente reunida, trilha sonora e muitas risadas. Sentiu cheiro da graxa na brasa, de fermento de pão, de ervas frescas e de comida de mãe de vez em quando. Sendo casa, fazia barulhos, rangia o chão, batia uma porta pra dizer que estava ali, que também estava bem e que estava tão viva quanto os outros dois. Ela viu os temperos do jardim crescerem, e as pequenas flores coloridas darem o ar da sua graça. Estranhou quando o filhote de cão peludo chegou e, de início não gostou da novidade barulhenta, mas depois ficaram grandes companheiros.

Ás vezes alguém que não estava muito feliz entrava na casa trazendo sentimentos estranhos e desejando viver no lugar dos que viviam lá, mas a casa esperta não deixava que seus pensamentos interferissem no ânimo dos dois, e ainda mostrava à pessoa que também havia lugar para ela lá. Casa e anjos se davam muito bem.

A casa riu quando ela perdeu a aposta e teve que fazer muitos cafunés nele porque jurou que na casa não havia bidê. A casa vibrou quando ele saiu e voltou em seguida, percebendo que ela não queria ficar só, mesmo chateada. Ela comemorou junto com eles suas pequenas vitórias de todo dia e não lhes virou as costas quando as coisas não iam bem, lembrando-lhes de que ela própria era uma vitória deles. Ela ouvia o sagrado silêncio confortável de quem se ama e os abraçava ao fim do dia, quando exaustos iam dormir de conchinha.

Os três (quatro quando veio o cão) não foram felizes para sempre juntos, porque isso é chato e porque o mundo muda muito rápido nos dias de hoje. Mas quando os três foram embora eles tinham certeza de que foram muito felizes e viveram em paz.

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Nesta semana faceira, mesmo no meio do caos, por precisar de armários para a cozinha, uma boa mangueira e uma escada comprida.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Meus versos - "Amanhã"

Espero
Tempo demais,
Todo tempo,
Qualquer tempo,
Você!


Você
Que o sonho inventa,
Que, olhos nos meus, vira sonho,
Que minhas mãos querem
Conhecer,
Encontrar as suas,
Se perder.


Perder as forças
Nos lençóis brancos,
Úmidos,
Embaraçados
Em nós.


Nós dois juntos
Demais.
Entregues.
Lábios unidos.
Sabor único,
Amordesejoprazer.
Inseparáveis.
Hoje.

Hoje
Sei você
De cor, olhos cerrados.
Hoje te amo e deixo
Portas abertas,
Até amanhã.

Amanhã quando perceber
Suas pernas entre as minhas
Como agora.
Amanhã quando direi
Te quero como ontem
Por todo tempo,
Qualquer tempo.

Tempo livre.
Amanhã, todo dia,
Portas Abertas.
Por nós.


Angel pensando o Amor com intensidade, ousadia e sabor de liberdade.
A liberdade que garante o dia seguinte.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Quanto vale a Palavra?

Aprendi desde pequena a valorizar a palavra, não só a falada mas a escrita também; mas de certa forma sempre acreditei que a palavra falada tinha um valor especial, uma vez que não precisa de caneta nem papel, nem de firma ou registro, mas de honra e honestidade, de valor moral por si só, em fim, da integridade de quem a fala.

No entanto, nessa época de eleições vemos algo completamente diferente do que nossos antepassados tentaram pelo menos nos deixar de herança, o valor da palavra. O que vemos, infelizmente, é exatamente o seu oposto, mesmo que escrita, firmada e afirmada, registrada, selada e lacrada, a palavra parece perder completamente o valor quando se faz política, em fim, quando se é politico.

E para nós que honramos nossos compromissos e nos responsabilizamos por nossas ações isso é um total contransenso, principalmente por se tratar de política. E nós que estamos a deriva, em casa, tentando escolher algo menos pior, muitas vezes nos deixamos levar pela nossa crença no ser humano, e acabamos nesse meio nojento, onde o que vale é apenas o fim e não o meio. Nos encontramos num ambiente que não é o nosso, que nos deixamos envolver por não termos escolha, e nos decepcionamos brutalmente, pois para nós a palavra vale por ela mesma, independente se esta vai me levar aonde quero ou não, mas apenas e simplesmente, por ter sido dita por mim ou por você. E vemos que somos alguns poucos que ainda pensam assim e que para se eleger vale mesmo é tudo.

Percebemos, talvez um pouco tarde, talvez ainda a tempo, que quando se faz política, se faz cachorrada, cachaçada, extorção, ameaça, e quem sabe se faz até tiroteio. Percebemos que o melhor mesmo é voltar pra casa, pois a linguagem que se fala não é a mesma que a sua, o valor dado a palavra não é o mesmo que o seu e que nessa jornada, sempre sai perdendo quem quer fazer as coisas claras, honestas, honradas. Percebemos que apesar de termos evoluído estamos mesmo é vivendo num sertão, e que Guimarães Rosa sempre teve razão quando dizia que “O sertão está dentro do homem. O sertão está no mundo...”

Nessa época conturbada e deturpada, não consigo deixar de acreditar que não precisamos de viver num sertão para fazermos nossas próprias leis, pois o sertão está aqui e nesse mato só sobrevive quem se camufla, aqueles que se mostram tomam rasteira por não se adequarem nesse grupo de meros jagunços e cangaceiros.

domingo, 21 de setembro de 2008

De quem é essa casa?

-Existe uma razão da qual os homens hoje em dia ficam tanto tempo no banheiro, disse ele.

A gente achava que eles ficavam tanto tempo no banheiro batendo um barro, porque tinha muitas coisas interessantes nos exemplares velhos das revista Veja, pato Donald e Placar.

-O fato é que o banheiro é o único lugar da casa em que os homens podem ficar em paz hoje em dia, filosofou ele.
-Em paz?
-Sim, senão é só encheção de saco, reclamação e obrigação. Além do mais, o homen foi quase feito um estranho.

Eu estava no sofá sentada com minha amiga e o marido dela. A gente tava vendo TV, bebendo vinho e comendo asinhas de frango. A gente não tinha entendido nada. ‘Um estranho?’ Logo hoje que a gente estava tendo uma noite de sexta-feira tão gostosa em casa.

-O homem foi feito um estranho na sua propria casa. Não é mais a casa do homem, é a casa da mulher. As coisas dela, o gosto dela, a decoração dela.

-Você bem que podia tomar mais iniciativa então. Compre alguma coisa legal pra casa você também, eu disse.

-Comprar? Você perdeu a cabeca?! A gente tem tudo. Mas tem gente aqui que fica tão tensa quanto Kennedy na época da crise de Cuba se ela não comprar a vela de número 100. É melhor calar a boca...

Ela, a esposa dele e minha amiga, pensou que ele devia parar de reclamar. Por causa dela o apartamento deles estava um encanto. Eles tinham almofadas de Paris, copos de água com design finlandês, e aquelas cortinas horrorosas que pareciam um lençol pendurado, foram trocadas por outras de qualidade.

-Além do mais eu deixei você ficar com o aquário, ela lembrou e apontou para aquela coisa gigante que estava no canto da sala.

-A sua generosidade realmente não tem limites, respondeu ele cinicamente.

-Você devia se cadastrar no grupo da Karita (politica norueguesa que so pensa na igualdade entre homens e mulheres). Eles vão discutir o que o homem deve fazer pra participar mais em casa, eu sugeri.

-Grupo da Karita ‘my ass’. Eu vou lá fora.

Quando ele ‘vai lá fora’, significa que ele vai na garagem. Ele não foi para lá só porque ele agiu como um bebezinho mas sim porque ele quer ter uma pausa da vida a dois. Lá na garagem, dentro de um quartinho apertado ele conserta bicicletas velhas (apenas por diversão) e bebe coca cola. Bem longe do grupo da Karita e das velas cheirosas.


Qualquer semelhança com fatos reais NÃO é mera coincidência!! Liz se identificou tanto com o texto acima, afinal nunca entendeu porque seu marido precisava de 40 minutos para ir ao banheiro, que resolveu publicar um texto que não era de sua autoria e sim de Kari Hovde, a tradução, claro foi dela. O texto foi publicado no principal jornal de Trondheim o Adressa e o casal em questão são os cunhados da tradutora.

sábado, 20 de setembro de 2008

Chega logo, PRIMAVERA!!

Bom, eu estava devendo esse texto há algum tempo. Mas tinha pensado em dar uma trégua na minha peleia com o frio, mas foi ele quem começou!

Quando a temperatura ameaçou subir um pouquinho, algo como uns 18 graus, me animei toda, lembrei de que sou muito mais feliz no verão e...eis que acordo num belo dia e vejo o termômetro marcando 3 graus. TRÊS GRAUS!

Sei que algumas pessoas (como a Mi!) acham o inverno charmoso, pois todos se vestem bem e bebem litros de chocolate quente. Minha visão do inverno que, aliás, deveria ser escrito com F e não com V, é diferente. Não vou falar do inverno de fim de semana no hotelzinho charmoso com calefação, abraçadinho com quem se ama. Não. Vou falar do inverno do dia-a-dia, desse inverno comprido que teima em não ir embora.

Meu problema é com esse inverno que faz a gente colocar todas as roupas quentes uma sobre a outra, com jaquetão e manta (ou cachecol para os não gaúchos). Com aquele que faz a mão dos alunos doer para escrever porque estão encarangadas. Aquele inverno que transforma as atividades rotineiras como ir ao banheiro, num suplício, porque ninguém quer ter que tirar da ordem correta a calça, a calça de pijama, as camisetas, básicas, blusões e jaqueta que compõem o visual das pessoas no inverno. Ainda mais com as mãos geladas! Tomar banho é trabalhoso, sofrido. Sair do banho quente, mais ainda. Sair pra trabalhar quando ainda está escuro e quando o dia começa a clarear perceber a geada cobrindo tudo de branco! Lindo, mas não para se ver ao vivo, diariamente.

A comida é ótima, sim! Ótima para aumentar o colesterol e ganhar alguns quilos. Só não é melhor ainda porque alguém tem que lavar a louça...

E o lado mais sério do inverno: a pobreza. Tanto a de espírito quanto a financeira.

A de espírito, porque quem reclama todo dia do inverno vai reclamar todo dia da primavera, do verão e do outono. Mesmo numa noite gelada o brilho de uma lua explodindo de tão ceia é algo maravilhoso.

E a pobreza financeira. Aquela que não deixa as pessoas terem um aquecedor. Nem lenha para queimar no fogão a lenha. Aquela que faz com que até os cadernos e livros da escola sejam queimados para tentar aquecer a casa. Aquela que faz as pessoas usarem a mesma roupa o inverno a fio, pois são as únicas peças quentes. Aquela que faz as crianças principalmente não tomarem banho por semanas. Aquela que leva várias crianças para o hospital por doenças respiratórias ou por terem se queimado com álcool, numa tentativa de se aquecerem. Aquela que judia, mesmo, das pessoas. Principalmente no inverno.

Esse foi só um desabafo. Perdão aos amantes do inverno por ter tentado estragar o glamour da estação. Sei que ele tem suas vantagens, como poder usar bota e comer paçoca de pinhão. Mas não vejo a hora de a primavera chegar!


Renata tem certeza de que deveria ter nascido num país tropical. Não num lugar onde neva, tem geada e o inverno dura de 3 a 5 meses.

* Aproveito e lembro que hoje é dia da Revolução Farroupilha, feriado no Rio Grande do Sul, tchê!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Comida não é pasto

Se tem uma coisa que aprecio neste mundo é a arte do bem comer. Adoro uma boa comida. Boa comida não quer dizer que tenha ingredientes especiais, ou que seja um prato sofisticado. Boa comida é aquela feita com capricho. Talvez seja por isto que sempre tive um certo pavor de refeitórios. Com tanta gente para comer, nem se o cozinheiro quisesse, poderia fazer alguma coisa com cuidado.

Existem várias formas de se identificar uma comida feita com capricho. Um dos meus critérios é como os ingredientes foram cortados. Fatias laminares de tomate na salada, cebola picada tão pequena que quase não se nota, couve praticamente em fiapos. A não ser que o boi tenha morrido de convulsão, recomenda-se cortar a carne no sentido contrário das fibras, a menos que o cidadão goste de uma carne parecendo um barbante torcido na boca. Esses cuidados fazem a gente notar que a pessoa realmente cortou a comida com algum cuidado, ao invés de brincar de Jack na cozinha.

Recomendo também praquelas pessoas que não têm intimidade com a cozinha pra não inventarem moda e nem adaptarem receitas, muito menos se houver visita em casa. Vai que a visita fica constrangida de fazer o que eu faço sem pudores: olhar praquela comida com aspecto repugnante e falar: “Não, obrigada, estou sem vontade”. As que tem intimidade com a cozinha, essas sim podem se sentir à vontade, e de preferência me chamem para atestar a qualidade do quitute.

Outra coisa fundamental é saber combinar os ingredientes e acompanhamentos. Algum motivo há pras pessoas não comerem macarrão com farinha, oras! Tem coisa que simplesmente não combina! Aqui em SJC tem uma pizzaria que na época de festa junina serve pizza de bolinho caipira (um salgadinho feito com angu e carne moída, e frito). Todas as almas italianas reviram na tumba na época da festa junina, tamanha a aberração e falta de respeito com a cultura gastronômica alheia.

O fato de gastar meu tempo falando de comida se deve ao fato de ter convivido, quando estava em Portugal, com coisas particularmente estranhas. Suco de banana com tomate e cenoura, frangos que parecem que foram atropelados no caminho do açougue, feijão acompanhado de biscoito salpet, águas salgadas com pedaços disformes de legumes dentro (e isso era chamado de sopa!)... tudo isso fez parte do circo dos horrores gastronômicos da minha vida. Como isso tudo foi me assombrar não vem ao caso. Só acho importante ressaltar que nada disso faz parte da cozinha portuguesa. Lá come-se muito, muito, muito bem. Os portugueses sabem que, decididamente, comida não é pasto.


Sisa adora comer, adora cozinhar, e apesar de odiar bacalhau, comeu muito bem em Portugal, e esta noite sonhou que estava em Lisboa, a caminho de se entupir de pastéis de Belém.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mulheres modernas

Antes de qualquer coisa, tenho que dizer que detestei essa idéia de revolução sexual. Sério mesmo. E digo mais: detesto ainda mais quando estou na frente do espelho de manhã me maquiando.

Maquiar-me para uma balada vá lá.

Maquiar-me para alguém também.

Mas maquiar-me para o trabalho é cruel demais.

E só piora.

Muitas das mulheres que trabalham comigo – direta ou indiretamente – ainda tem o agravante de terem que lidar com a tríade trabalho-casa-família.

Sinceramente, não sei como elas conseguem. Com filhos então, só tendo muito rebolado.

O problema com isso tudo é que esse tipo de vida nos deixa beirando a neurose.

Hoje não vivo mais um dia sem checar meus emails. Sem entrar no MSN. Sem resolver problemas inerentes ao trabalho. Sem pensar no que encontrarei na minha geladeira. Sem lembrar que tenho que lavar a roupa e levar para passar. Sem anotar tudo que tenho que fazer para não esquecer de nada importante.

Sim, porque eu esqueço coisas importantes. Aniversários de pessoas queridas, compromissos que acontecerão em breve, onde eu estive na semana passada e o que eu comi ontem no almoço são informações que se perdem no labirinto da minha neurose.

A rotina nos consome. Isso é fato.

Mas como eu não sei a solução para isso, pelo menos ocupo meus pensamentos colocando a culpa na primeira mulher que achou que seria legal queimar o sutiã e exigir direitos iguais.

Será que ela sabia que ao fazê-lo estaria privando nós mulheres dos prazeres de passar a tarde inteira trocando receitas e técnicas de ponto cruz com as comadres?

Será que ela sabia que a competitividade nos consumiria a ponto de realmente acreditarmos que nossos filhos são mais bem educados pela escola do que por nós mesmas?

Será que ela sabia que uma horda de homens amedrontados por uma mudança tão repentina surgiria nas mais diversas sociedades?

Será que ela sabia que enquanto eu escrevo esse texto dezenas de emails pipocam na minha caixa de entrada e todos querem saber se eu consegui marcar a reunião importante da próxima terça-feira?

Será que dá pra voltar atrás? Será que eu ficaria bem de espartilho, duas saias com saiote e um leque na mão?

Será que tem cura para a minha neurose? Será que esse texto fez sentido?

Milena pede socorro. Escreve aqui às quintas.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um outro olhar (inesperado)

Fim de férias. Frio, lareira, família, amigos, casa da mamãe, ainda aqui tão pertinho da memória, como se estivessem em casa me esperando. Porém, desta vez não foi difícil voltar.

Em algum momento de insônia, que tem me visitado ocasionalmente, devem ter se aproveitado da minha semiconsciência e feito um transplante de olhos. Eu vi meu antigo mundo de um jeito tão diferente desta vez. Não foi bom, nem ruim, foi apenas diferente.

Os amigos continuam lá, alguns. Tão amados quanto antes, mas tão vivendo suas vidas das quais eu quase não faço mais parte. Fiquei orgulhosa de muitos deles, quando ao se tornarem balzaquianos resolveram parar de fumar, viraram atletas, tiveram um filho ou simplesmente ainda querem largar tudo e recomeçar. Fiquei feliz por muitos terem encontrado um tempinho entre a natação e o MBA pra me verem, e saberem como estou sem perguntar, apenas olhando dentro dos meus olhos. Fiquei triste, pois eu não tive tempo de olhar em seus olhos o tanto quanto eu gostaria. Fiquei triste, pois descobri que a minha antiga galera só se encontra quando eu apareço por lá. A vida anda, a fila anda, e cada um deles tem vidas que para mim soam como paralelas, pois nelas estão pessoas que eu não conheço, nelas meus amigos fazem o que não sei. Assim como, hoje, deve soar a minha vida para eles.

Gente bonita e terra bonita da qual me orgulho muito eu vi. Estes novos olhos, no entanto, deixaram de ver alguma coisa. Talvez o meu doador tenha sido um desertor, um cagüeta, ou simplesmente um bairrista de outro lugar, que não o meu. Vi minha terra mais pobre, mais triste, mais sofrida e, o mais difícil, vi minha gente mais acostumada, mais acomodada com isso. Lá no fundo lembrei de uma música, de uma banda gaúcha que, sinto muito, eu não gosto, mas que me faz ter certeza de que outros já se sentiram como eu. E os mais bairristas que me conhecem pensarão que eu desertei, virei a casaca, sem ter a coragem de me dizê-lo. Eu respondo de antemão que não. Assim seria se hoje eu voltasse para um lugar de onde só penso elogios, sendo que, para mim, este lugar não existe no mundo. Assim seria se no próximo sábado, dia em que se comemora não uma parte da história, mas uma filosofia de vida do meu povo de origem, eu não estivesse tão longe com o coração apertado, uma lágrima no canto do olho, como eu sei que estarei, de bombachas e com a esperança de que a garra dos que tiveram coragem, perseverança e oportunidade de ficar na minha terra possa fazer com que ela se torne um lugar lindo e mais glorioso, com as pessoas maravilhosas que vivem lá mais felizes.

Volto para casa com uma saudade apertada de lugar nenhum, de um tempo que não existe mais. Feliz com as novidades e por ter recarregado as baterias. Feliz também por ter pessoas queridas me esperando com saudades e por voltar para minha casa, que há muito é, e para sempre será, onde quer que eu esteja.


Herdeiro da Pampa Pobre - Engenheiros do Hawaii

Composição: Gaucho da Fronteira - Vaine Darde

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas

Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecido vive o peão sem leis
De pés descalços cabresteando mágoas

O que hoje herdo da minha grei chirua
É um desafio que a minha idade afronta
Pois me deixaram com a guaiaca nua
Pra pagar uma porção de contas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai


Gisele Lins, apesar de tudo gaúcha com muito orgulho, escreve aqui às quartas-feiras.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O Parto do Cartão

Minha mãe ensinou-me, desde muito cedo, a não gastar mais do que ganho. Aprendi sim. Juro! Nesse quesito, meus pés estão grudadinhos no chão. Mas há certos objetos, um tantinho mais caros, que não estou apta a adquirir com pagamento à vista, como, por exemplo, uma calculadora HP, um aspirador de pó, um par de óculos de sol. Sim, tenho intenção de comprar esses três objetos há um bom tempo, um de cada vez, claro! Como? E a grana?

Algumas amigas já me ofereceram o cartão de crédito emprestado para comprar o que eu quiser. Eu sempre digo: vamos combinar... Na verdade, morro de vergonha de usar o cartão de alguém, ainda que amigo.

Nunca tive um cartão de crédito por opção. Acho uma porta (de 5m de altura por 3m de largura) arreganhada para o abismo. Só ouço histórias de pessoas atoladas nos juros dos cartões pelo excesso de gasto. Voltando aos ensinamentos de mamãe, só se endivida quem é descontrolado, impulsivo. Não é o meu caso. Ainda assim relutei até agora contra os cartões de crédito.

Então resolvi, há uns dois meses, ter um. Uma colega de trabalho indicou-me um daqueles Free – doravante denominado Freescura -, talvez seja o mais divulgado por aí. Pois bem, corri atrás do Freescura, cadastrei-me, enviei documentação solicitada, sentei aqui na minha cadeirinha e pus-me a esperar, ansiosamente, pelo prazo mínimo de uma resposta. Liguei e brochei. Eu não atendi os requisitos mínimos para ser digna do Freescura. Inocentemente, liguei para saber quais seriam esses requisitos, mas, por regra da administradora, essa informação não pode ser divulgada. Para consolo, ouvi: “a senhora pode solicitar o cartão novamente daqui a seis meses”. Tive vontade de mandar as três pessoas que me disseram isso para a pqp, mas num gesto magnânimo, pensei que aquelas almas gerundistas não precisavam pagar pela minha decepção.

Então, pacientemente, fui à segunda tentativa. Outra administradora – doravante denominada Yellowciti, também renomada, em que solicitei dois cartões diferentes, enviei os documentos necessários aos dois e pus-me a esperar novamente. Liguei após alguns dias e a única posição era: “em processo de análise”. Sem previsão de resposta concreta. Quando cansei de ligar, chegaram duas correspondências da Yellowciti (a respeito de um dos cartões solicitados) pedindo os mesmos documentos que eu já havia enviado, dentre eles comprovante de renda. Após um suspiro fundo e uma noite de poucas horas de sono, resolvi enviar os documentos solicitados. Dois dias depois, recebi a ligação de um Yellowboy gerundista, dizendo-me que meu comprovante de renda não foi aceito. Como assim, se eu enviei cópia de meu holerite? A resposta da criatura foi: “só podemos aceitar um extrato de sua conta como comprovante”. Ótimo, pensei e disse: “trabalho no local em que tenho conta corrente, posso imprimir agora e enviar.” A doce e não menos brochante resposta foi: “só podemos estar aceitando aquele extrato de caixa eletrônico, aquele amarelinho, sabe!” Annnnhhhh!? Amarelinho? “Então quer dizer que eu tenho a solução na minha mão e ela não será aceita?” “É, só o amarelinho.” “Então deleta.” “Como senhora?” “Deleta, cancela, me esquece...” “A senhora tem certeza de que não vai enviar o documento?” “ABSOLUTA. Cancela tudo. Não preciso de ninguém para complicar mais a minha vida, faço isso muito bem sozinha, bom dia!” Meu Deus, que raiva!!!!! E ele ainda me disse que a minha outra solicitação (de um cartão universitário) não existia no sistema.

Talvez tudo isso tenha ocorrido como sinal de que não era mesmo para eu ter um cartão de crédito. Afinal, quem já viveu até hoje sem um aspirador de pó não vai sentir falta alguma, nem quando o carro estiver cheio de pelo do Ringo e eu tiver nojo até de desligar o alarme. Enfim, resignada, resolvi esquecer essa idéia tardia de cartão.

Uma semana após o fim dessa saga, chega em minha residência o tal cartão cuja solicitação não existia no sistema. Esse mesmo, o universitário. Eis a minha primeira e única cesariana. Olhei para ele como quem olha para um prato de farofa após ter comido uma feijoada completa. Tive enjôos. Deixei-o onde estava e pensei: “amanhã, com cabeça fria certamente o verei com outros olhos e estômago.” Agora, já desbloqueado, lá está ele na gaveta do criado (lugar de onde ele só sairá nos momentos estratégicos de compra). Ele é até bonitinho e já foi testado com a aquisição de um CD do Paulinho da Viola. No próximo mês, quem sabe o aspirador... Nem vou precisar lembrar-me dos ensinamentos de mamãe para manter uma relação de distância com o bichinho. Depois desse verdadeiro parto, não vou me permitir intimidade e impulsividade. Quanto menos contato com os Yellowloucos melhor.


Angélica está de posse de seu primeiro, sofrido e chorado cartão de crédito.
Lamenta pelas empresas que prestam serviços deficientes e contraditórios nesse ramo. Continuará com os pés grudados no chão e o cartão no criado.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Aventuras em Série - 2ª Aventura - Janeiro 1984

O pub – “The Crickters” – jazz ao vivo aos Domingos e Segundas. Anastácia sentada numa mesa ao fundo, aguardando seu irmão Vladimir que foi telefonar lá fora, no jardim do estabelecimento. A banda já afinando seus instrumentos, outras pessoas também esperando.

Sete e meia de uma noite de Domingo, Anastácia e seu irmão foram ao pub para ouvir um bom jazz, e melhor ainda, de graça. Como era de se esperar, Vladimir sentia falta da namorada e, por ser fim de semana ligações internacionais eram mais baratas. Após algumas reflexões se decidiu por telefonar. Saiu, foi para o jardim localizado na parte de trás do estabelecimento, mais especificamente, exatamente atrás do local onde a banda tocava. Anastácia ficou lá dentro, aguardando, a banda e sua companhia. Com uma cerveja observava as pessoas, já estavam afinando seus instrumentos, seu irmão, nada. Em fim, o esperado aconteceu, fecharam a porta de ligação entre o bar e o jardim, afinal a bateria havia sido montada exatamente lá, não havia mais como passar. Anastácia esperava.

Finalmente Vladimir apareceu, com seu rosto na porta, olhou através do vidro, olhou para Anastácia com aquela interrogação no olhar – e agora? Para piorar, tentou abrir a porta, esbarrou no baterista que, por sua vez, deixou claramente – aqui não meu irmão! Vladimir lá fora, olhou para dentro de novo, para os lados, para sua irmã e sumiu. Anastácia não cabia em si mesma de tanto rir e se perguntava – o que essa figura vai fazer agora? A banda começou a tocar e Vladimir, nada.

E de repente, o cômico acontece. Vladimir consegue adentrar no bar novamente pela porta da cozinha, saiu atrás do balcão, com cara de criança que fez mal-feito, quem estava por perto olhou e nada entendeu – quem é esse pessoa? Saiu pelo balcão a fora, pediu desculpas para o dono do estabelecimento e finalmente alcançou a mesa de sua irmã. Sem jeito falou – o que eu podia fazer, foi a única porta que achei, nem sabia onde ía dar, ainda bem que deu aqui né! Anastácia não acreditou naquilo, seu irmão havia acabado de atravessar a cozinha e o balcão do local pois fora a única porta que encontrou, ainda bem que não tinha sido alguma outra porta.

Esse conto é de certa forma verídico, mas possui algumas alterações, é claro. Provavelmente foi mais engraçado do que consigo contar, foi estória em quadrinhos, foi o “Piu-Piu” dizendo – acho que vi um gatinho, só que dessa vez ele disse – acho que vi um buraquinho e é aqui mesmo que vou passar!

sábado, 13 de setembro de 2008

A Importância das Palavras: “A Menina que Roubava Livros”

Acabo de ler “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Susak. É um livro tão maravilhoso que chega a ser difícil descrevê-lo. Entretanto, como ele trata tão bem da importância das palavras em nossas vidas, não se pode ficar sem palavras para se escrever sobre ele.

O título do livro já dá uma descrição da personagem principal. Entretanto, o mais importante está no motivo pelo qual a menina roubava os livros. E, ao longo da leitura, percebemos como os livros foram essenciais e especiais na vida da menina. Trata-se da história de uma menina que vive na Alemanha, na época da II Guerra Mundial. O livro conta sobre a infância e adolescência desta menina, e suas descobertas, seus medos, seus desejos, suas alegrias e suas dores, em meio à Guerra, ao Nazismo, à pobreza.

Quem conta a história é a Morte. Afinal, ninguém melhor do que a Morte para contar uma história sobre um período tão duro e violento da História recente da humanidade. Assim, enquanto recolhe as almas de soldados, de civis, de judeus, de alemães, de russos, a Morte segue contando sobre a vida da menina, e sobre como os livros vão transformando essa menina, e a tornando mais viva.

É um livro sobre a importância das palavras e o uso delas. Mostra-se como a sociedade alemã do período deu importância ao discurso e se deixou levar pelas palavras incentivadoras de Hitler para a Nação Alemã. E mostra como as palavras podem ser usadas para unir ou para separar, para salvar ou para destruir.

A sugestão de leitura é para reflexão. Afinal, vivemos numa época cheia de palavras vazias, que alimentam ódios sem sentido. Já passou da hora de reutilizar palavras cheias de amor, conforto e gentileza.

Neste último parágrafo, Tania se lembrou da música “Gentileza”, de Marisa Monte, sobre o palhaço-poeta Gentileza.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Quem doa sangue, doa vida

Eu sempre doei sangue. Era louca pra fazer logo 18 anos e começar a fazer minha parte pelos outros. Mamãe sempre foi doadora, e eu sempre achei um charme isso de poder fazer alguma coisa tão nobre pelos outros por tão pouco.

Ainda é impressionante a cara das pessoas quando você chega pra doar e perguntam pra quem. “Pra ninguém específico não”. É, a maioria das pessoas só se lembra de doar sangue quando algum conhecido precisa. Claro que também tem seu mérito! Mas o bom seria as pessoas terem o hábito de simplesmente doarem, pelo gesto. Sangue é uma coisa que não sobra nunca nos hemocentros!

Toda vez que eu vou doar, passo por uma situação engraçada. Minha pressão é extremamente baixa (8:4) e assim que medem, já me sentam numa cadeira falando “Ela vai desmaiar!” enquanto eu explico que não, é isso mesmo. Mesmo quando eu aviso que é baixa, ainda assim não esperam tão baixa. O inconveniente disso é que realmente demoro muito pra conseguir tirar uma bolsa de sangue, mas vale a pena. Mas enfim, adoro doar sangue, eu sinto que faço minha parte pelos outros.

A vez mais emocionante foi quando me ligaram pra ir doar, porque um senhor viajou mais de 200km de ambulância porque eu era o único AB- da região, e ele já estava tão mal que os médicos queriam que ele recebesse um do tipo exato (não entendo nada disso, foi assim que me explicaram). A enfermeira avisou que ele estava em estado terminal, que eu podia decidir entre doar ou não, sabendo que ele não tinha cura. Era só para aplacar um pouco a dor dele, que estava nos últimos dias de vida. Claro que doei. Depois a família perguntou se eu queria ir conhecê-los, mas eu só mandei pra eles meu abraço e desejo de muita força, porque era um momento que eles deveriam estar juntos, eles e o ente querido, sem nenhum estranho invadindo aquele momento delicado. A enfermeira disse que eu fiz a escolha certa de deixá-los. O que eu poderia fazer já tinha feito, e o sangue estava sendo preparado parar ser imediatamente transferido.

Atualmente não posso doar sangue. Adoraria dizer que é porque peso menos de 50kg, mas infelizmente é por outra razão, rs. Por motivos que eu não entendo, quem passou mais de um certo tempo em alguns países precisa ficar 12 meses sem doar. Portugal incluído, de forma que eu preciso esperar 7 meses pra doar novamente.

Por quê eu estou escrevendo isso aqui justamente hoje? Porque minha avó recebe sangue frequentemente. Felizmente nunca tivemos problemas em encontrar doadores, mas estes dias está sendo problemático sim, por causa da vacina contra rubéola que tanta gente tomou. Precisa esperar 28 dias antes de fazer doação. Então gostaria de pedir para quem estiver lendo aqui, e for da região de BH, se puder por favor colaborar. A doação deve ser feita no Hemominas, no nome de Maria José Barbosa. O “hospital” é o próprio Hemominas. E quem não for de BH? Procure o Hemocentro mais próximo da sua casa. Neste caso, a doação não será feita para minha avó, e sim para outra pessoa que também precisa, e que também tem uma família procurando doadores.

Lembrem-se: quem doa sangue, doa vida. Mais informações sobre quem pode doar, clique aqui.

Sisa já pediu pra alguns amigos doarem e está feliz por ver que pessoas que ela não achava que fossem ser tão prestativas se ofereceram. As que não puderam, espalharam a notícia. Espera que este blog sirva desta mais mais do que um divã: que sirva pra conseguir mais sangue pra avozinha e pra muito mais gente que está precisando por aí.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Um conto sobre almoço coorporativo

Todo dia igual, não importa onde. Não importa como.

Quando era em São José dos Campos tinha sempre o momento de confabular com os amiguinhos pra saber onde almoçaríamos hoje.

Contextualização: ticket refeição no valor de R$6,00. Também conhecido como Vale-Coxinha.

- Vamos naquele que é limpinho, longe e caro?

- Não, não. Tem aquele que é quase limpo, quase perto e dá pra comer com o ticket se a gente dividir um prato a la carte para 2 pessoas.

- Ah, não. Eu prefiro ir ao porquinho que volta contra-vale e dá pra almoçar 2 vezes com um ticket só.

Quase nunca havia consenso.

Bom mesmo era quando inaugurava um restaurante novo por perto. Aí a novidade era sempre unanimidade. Até todos os operários do bairro descobrirem e o lugar ficar lotado. Depois disso todos já sabíamos que qualidade seria substituída pela quantidade.

Toca começar o debate novamente...

Milena achava o lance do almoço meio cansativo, e por muitas vezes frustrante. Mas sente falta dessa fase.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Um encontro indesejado

- Ei! Psiu!

- Hã? O quê? Tu por aqui??? Háaaarrrgghh!!!! Não, não, e não! Nãaaoooo!!!!

- Há, pára! Não faz drama, vai.

- Mas como assim? Já? Mas, mas...

- Faz as contas ué. Quando tu achavas que eu viria?

- Que tal nunca? Jamé?

- E o que é que tem demais? Eu vim sozinho, olha o tanto que eu sou inofensivo e até bem bonitinho.

- Bem bonitinho uma ova. Xô capeta. Tu, por ti, não és mesmo nada, o teu problema é tua bandeira, o que tu representas. Se pudessem te contratar na campanha eleitoral teu candidato já estaria eleito, pois tu não mentes e todo mundo sabe disso. E ainda me aparece assim, furando a fila, bem na frente de todo mundo, o exibido, bem robusto e ainda bem forte. Desgraçado é o que tu és. Como assim tu aqui? Não é justo! Eu sou jovem ainda. Já não me basta pensar que falta pouco pra eu me tornar uma balzaquiana? Que, sim, eu já fiz um monte de coisas, mas falta tanto ainda por fazer! Eu nem virei atleta, fiquei sarada antes dos trinta, parei de fumar e criei um jardim, pensei em todas as inconseqüências que só nos cabem enquanto jovens (ou sequer as fiz). Espera aí! Ainda nem viajei para todos os lugares do mundo que eu quero conhecer, casei de vestido branco esvoaçante na igreja, tive uma filha que me rouba as maquiagens e acha a mãe dela a mulher mais linda do mundo. Não é justo, não é justo! Ainda por cima bem na semana que eu descubro que três dos meus amigos mais sedentários pararam de fumar, estão correndo, pensando em fazer a meia maratona e só falam do tal aparelhinho que grita calorias quando só se pensou no crime, que mede batimentos cardíacos e que apita quando o modelito de academia não está na melhor combinação. Olha que outro da tua laia se engraçou de aparecer por estas bandas e foi impiedosamente aniquilado assim que identificado!

- Ta aí, de nós não dizem que quando se livra de um aparecem três no lugar? Eu ainda vim sozinho! Ou pelo menos tu só enxergaste a mim! Por enquanto, hihi.

- Há, ta, vem com esse papo pra ti ver se eu não lanço mão agora mesmo de um arsenal que te esconde, te anula, te aniquila e me faz esquecer da tua existência e de tudo que ela significa.

- Mas não acaba comigo. Nunca mais.

- Pior, então, eu juro que abro mão do meu senso de ridículo e sou ainda capaz de te vestir de prateado brilhante horrendo, ou roxo, no meio do resto da galera sóbria e discreta, só pra tu morreres de vergonha.

- Arran. Sei. Venha vindo com esse papinho. Acredito.

- O quê? Desgraçado! Ainda debocha? Seu, seu, seu...

- Há, não reclama, vai. Pára de ameaças e pensa no lado bom, é uma barganha o que eu te ofereço. De um dia para o outro magicamente eu consegui te fazer não pensar uma única vez no quanto tu estás gorda, na celulite, no raio do bigode que cresce como mato, em como tu bufas pra subir uma ladeira, no quanto tua barriga até que continua retinha, mas a amplitude... E se faz festa de casamento ou não, e se as coisas vão bem com o trabalho, e no caminhão da mudança, e nesses raios de manchinhas na pele que insistem em aparecer, e se tu ainda é contra fazer plástica, e se será que dói, e blá, blá blá. Dá um tempo! Curte a paz de ter um único e constante pensamento: eu!

- Nem vem querendo colocar coisas dentro da minha cabeça.

- Dentro não. Só fora.

- GGGGGGRRRRRRRRRRRRRR!

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Pelo jeito, tristemente, agora ela e o seu segundo cabelo branco (por enquanto, não sabe se o segundo ou se branco, mas por enquanto...).

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Com o passar do tempo...

As coisas mudam!

Antes de desenvolver o tema, devo esclarecer que inevitavelmente, amigos leitores, os temas das balzakas que aqui escrevem repetir-se-ão de vez em quando. Afinal, vivemos a mesma fase da vida e mudanças semelhantes.

Na última sexta, Sisa contou-nos sobre suas fases. E como certas idéias e comportamentos podem mudar com o tempo. E é uma grande e incontestável verdade.

Quero falar de meu corpo, minhas reações. Sempre me gabei de nunca ter sentido sintomas de TMP. Isso mesmo! No máximo uma dorzinha nas pernas nos anos antes de iniciar o uso da pílula anticoncepcional. Quando a década 30 bateu em minha porta, minha temperatura mudou bruscamente. Eu que sentia mais frio que calor, hoje tenho pânico de verão simplesmente porque derreto em dias quentes. Começo a suar na cabeça e isso me enlouquece. Cheguei ao ponto de procurar um médico para saber se tal sensação estava dentro da normalidade. Resultado: receita de um medicamento fitoterápico para tratamento de menopausa. Menopausa!!!??? Como assim? Rejeitei a idéia. Nem comprei o medicamento. Reprimi todas as possibilidades de aceitar tal diagnóstico. Se bem que não seria mal deixar de menstruar... mas menopausa é uma palavra ainda muito pesada pra mim. Deixemos para tratar do assunto no futuro blog “As bodas de ouro de mim mesma”. Será!?

Além dos surtos de calor, estranhas reações têm me acometido dias antes de menstruar. Alguma irritação e uma vontade “sem noção” de chorar o dia inteiro. Que merda é essa!!?? Perdoem-me a palavra, mas não há outra qualificação para uma ameaça de TPM pós 30. Fui feliz até agora sem essa nhaca, pra que mudar agora? Por que comigo? O diagnóstico ainda não está definido, porém as chances do resultado positivo são assustadoras.

E os sentimentos também mudam? Sim. Ainda não consigo definir se isso é mais positivo que negativo. Creio que sim. A Angel 100% sentimental de uns 15 anos atrás, tem, hoje, um lado racional bem mais desenvolvido, o que é muito útil. A emoção exacerbada dificulta a praticidade. Equilibrar as duas coisas é ideal. Anda não cheguei a tal ponto. Oscilo entre dias mais práticos e dias mais emocionais. Mas hei de juntar os dois. Até as bodas de ouro, quem sabe...

Surpreendo-me com minhas reações “frias” diante de algumas situações em que outrora meu coração quase saía pelos olhos. Não pretendo alimentar uma frieza em minha personalidade, apenas sofro menos ou até não sofro em momentos antes muito doídos. Isso é evoluir, crescer.

Com o passar do tempo, perdi e ganhei controle. Perdi ao sentir meu corpo diferente sem meu consentimento e ganhei ao lidar melhor com minhas emoções. Segredinho: aqui no blog minhas emoções vencem toda e qualquer praticidade.

Angélica está mais prática no dia-a-dia.

Prefere destilar sua emoção só em poesias e textos, por enquanto...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Enquadre-se

A maioria das pessoas vivem com medo, medo de assalto, sequestro, batida de carro e de polícia tambem, gente bêbada, gente sóbria, de imprudência ou excesso de coragem, ou ainda, falta de sensatez, medo de andar sozinho, às vezes até de andar acompanhado, em fim, medo de tudo.

Tenho pensado sobre isso, sobre como temos vivido, sobre como temos nos modificado para nos adaptarmos à nova ordem do medo, do excesso de precaução, da falta de liberdade, da falta de escolha; e sinceramente não gosto do que vejo, nem do que sinto e de como me sinto, quadrada, sufocada, presa em minha própria cela e algumas vezes presa de minhas próprias escolhas.


Comecei esse texto sem saber exatamente aonde iria, sem estória definida, nem linha traçada, apenas escrevi, ou melhor comecei a escrever o que estava pensando hoje cedo e provavelmente continue a pensar sobre isso. Não tenho respostas, nem soluções, apenas algumas idéias e uma grande pergunta: como chegamos a isso?

sábado, 6 de setembro de 2008

Eu sou

Eu sou memória
Sou lembrança e esquecimento.
Eu sou sede, sou fome,
Sou fonte e alimento.

Eu sou forte, sou frágil,
Sou seca, sou doce. Sou natural.
Sou eu mesma. Sou eu várias.
Dia a dia. Novidade. Ritual.

Eu sou viagem, sou chegada,
(re) encontro, despedida.
Eu sou mulher, sou mãe, sou filha,
Sou amiga, sou gente dividida.

Eu sou amor, alegria, saudade
Sou surpresa! Liberdade! Descoberta.
Sou o ar, o vento, sou a água
Noite de verão de porta aberta.

Sou perto, sou longe, sou aqui.
Sou simplicidade. Complexidade. Beleza.
Sou Maria. Sou re-nata. Renascida.
Sou alívio. Sou refúgio. Sou leveza.

Sou eu mesma. Sou eu várias.
Sou urgente. Tenho pressa!
Tenho medo. Tenho anseios.
Tenho tudo. Tenho o mundo. Sou promessa.


Renata: mãe, bióloga, mulher. Adora aprender: sobre as coisas, sobre as pessoas e não cansa de se surpreender, nem sempre de forma positiva. Ama cheiros gostosos (chuva, comida boa, flores e gente perfumada), música (as de dançar e as de cantar), rir (sozinha e acompanhada, de si mesma também), ouvir mais do que falar, o que lhe rendeu fama (infundada??) de ser uma pessoa muito séria, viajar (mental e fisicamente). Além de tudo isso, ama sua filha, que é seu anjo da guarda e ama a si mesma, embora tenha que lembrar-se de fazer isso valer.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Fases

Esse post eu não tive idéia de escrever. É tema sugerido por uma amiga. Achei interessante e hoje passei parte do dia pensando em como eu já fui diferente do que sou hoje. Então acho que esse post vai ser gostoso de escrever, lembrando de várias das muitas fases da minha vida.

Dez anos atrás eu tinha 19 anos. Estava voltando da Letônia, pronta pra destrancar a faculdade. Tinha acabado de passar por um ano em que amadureci muito mais do que um ano normal. Estava com a cabeça e o coração abertos pro mundo. E estava também cheia de dúvidas acadêmicas. Pra quem não conhece minha história, comecei meu curso (bacharelado em Física) de forma meio acidental (a amiga que sugeriu adora essa parte da minha biografia) e ficava pensando se queria mesmo destrancar e continuar aquilo. Resolvi destrancar e ver no que dava. Voltei pra minha vida de Viçosa, onde morava com meus tios, e aos poucos fui me readaptando. Como sempre, era muito azarada no amor, mas tinha uma capacidade enorme de me apaixonar em 5 minutos. E desapaixonar em 3 (risos). Queria ter 11 filhos, todos rapazes, e já tinha escolhido os nomes de todos.

Cinco anos atrás eu já era Física. Estava fazendo mestrado no INPE, dividindo apartamento com uma pessoa que marcaria minha vida. Foi uma pessoa que, embora não saiba, me ensinou muito. Me ensinou o que não quero ser, porque ser daquele jeito faz sofrer e traz sofrimento pros outros. O que me ajudou a superar isso foi de certa forma um curso de filosofia. Sim, cinco anos atrás eu comecei a estudar filosofia – um tema do qual tinha verdadeiro pavor e hoje é uma das minhas maiores paixões. Acho que muito do que eu sou hoje foi moldado por este curso e pelas pessoas que lá conheci. Ainda não tinha tido nenhum relacionamento sério, e ficava muito chateada com isso. Parecia que faltava alguma coisa na minha vida. Ficava pensando se não conseguiria nunca achar uma pessoa legal pra passar a vida, ter o casal de filhos que eu, mais realista, queria ter. Já não caía em qualquer papinho, então era mais difícil me apaixonar.

Dois anos atrás eu estava no doutorado, e finalmente tinha um namorado sério. Nesta época eu já sabia que as coisas estavam se deteriorando no relacionamento, mas queria muito que aquilo consertasse e funcionasse. Pela primeira vez me vi deixando meu lado mimado pra lá pra tentar consertar o que eu nem sabia onde estava errado. Eu queria manter aquele relacionamento, mesmo pra ter aquela pessoa do meu lado, mesmo que eu já tivesse pavor da simples idéia de ter filhos. Se errei ou acertei eu nunca vou saber. Sei que fiz meu melhor e tempos depois acabou não funcionando. Esta também foi a época que apareceu a oportunidade de ir pra Portugal e eu agarrei com unhas e dentes. Foi a melhor oportunidade da minha vida.

Um ano atrás eu estava em Portugal. Solteira. Foi quando fui convidada pra uma viagem que também me marcou. Foram alguns dias que me fizeram olhar pra pessoa que eu tinha sido durante uns anos, englobando os descritos aqui. Foi como se eu me revisse inteira, e fizesse a nova Sisa entender um pouco da Sisa de antes. Coincidência ou não, com a cabeça cheia disso (longe de casa, recém saída de um relacionamento que achei que fosse pra sempre, oportunidade de rever minha vida), foi a época que surgiu o blog. Nesta época eu voltei à Letônia depois de mais de nove anos da minha partida. Foi como viver um epílogo de uma história que parecia ter acabado de vez. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Eu não sabia, mas estava cada vez mais próxima do que hoje considero um dos grandes (senão o grande) divisores de águas da minha vida: fui arrebatada por uma paixão que chegou de mansinho e tomou conta de tudo na minha vida.

Ontem eu tive um dia interessante. Saí do INPE, fui tratar de um assunto que eu estava enrolando fazia tempo (coitada da minha mãe, que foi a vítima da enrolação) e depois dei um passo inesperado no sentido de decidir coisas da minha vida. Voltei em uma esfiharia que eu adorava aqui em SJC e comi algumas, me deliciando. Perdi um ônibus porque o motorista não me esperou correr mais 20 metros, e assim fiquei mais 40 minutos no ponto, depois de 22h e morrendo de sono. Reparei que estou com mania de ficar de conversa com gente que está também esperando ônibus. E reparei que tenho me sentido livre. Não me perguntem como assim “livre”. Não sei explicar. Terminei o dia de conversa no MSN com novas amigas, muito especiais no meu atual momento e na minha vida como um todo. Atualmente, aquela minha paixão me fez reconsiderar o pavor de ter filho. Embora não seja meu sonho, já consigo pensar na possiblidade.

Hoje acordei me achando muito gatinha, não sei porquê. Cheguei à conclusão que sou realmente chata pra comer. O novo restaurante do INPE é super bom, mas no meio de tanta comida eu almocei praticamente berinjela e milho. O dia foi chatinho. Passei boa parte dele imprimindo uns artigos cuja versão impressa foi deixada pra trás em Portugal ainda não acabei de imprimir e já me pareceu que eu gastei umas 15 árvores, mesmo imprimindo frente e verso. Perdi a paciência com os ônibus que demoram demais nessa cidade, e também com um velho bêbado que estava descaradamente se entortando pra olhar minha bunda. De noite fui comer pizza com um casal de amigos que eu amo.

Amanhã vou acabar de imprimir meus artigos e adiantar o arquivo de bibliografia da pré-tese. Quero tentar arrumar tempo pra ir falar com meu Mestre de filosofia, pra voltar pro curso. E também a professora de alemão. E agilizar as coisas da minha vida, que ando sentindo que depois de muito tempo, está chegando nos eixos.


Sisa viu a vida passando como um filminho enquanto lembrava as coisas pra escrever neste post.
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