domingo, 26 de novembro de 2017

Divagações na brisa de domingo...

E cá estou, nesta tarde de domingo, lembrando das várias conversas que tenho com meus alunos e refletindo sobre a existência humana.
Somos uns seres esquisitos e incoerentes...
Queremos tanto gostar de alguém e quando gostamos, temos medo de nos entregar, medo de demonstrar, medo de parecermos frágeis, sensíveis, ou até mesmo bobos.
Medo de sermos apontados como aqueles que, por serem intensos demais, “assustam” os parceiros.
Não queremos ser os primeiros a chamar no WhatsApp, ou a dar um bom dia porque, afinal de contas, se ele/ela quiser, que nos chame!
Não podemos dizer que sentimos saudades, caso contrário seremos considerados carentes. (Aliás, aparentamos ser uma fortaleza quando, na verdade, somos frágeis como cristais.).
Que mundo louco é esse onde, para que o outro nos queira, é preciso fingir que não estamos nem aí?
Que raio de "doença" é essa que faz com que as pessoas imediatamente percam o interesse caso você seja legal com elas?
Que loucura!
Que medo de perder o controle! O que tem de errado em se abrir e deixar o outro entrar?
Pode machucar? Óbvio que sim! Mas e daí? Nós sempre aprendemos (e muito!) com a dor! E crescemos, superamos, amadurecemos. E evoluímos! :)
Sabe, eu morro de medo de chegar ao fim da vida e perceber que nela eu tive muito mais “E se...?” do que “Porra! Deu merda!” ou do que “Cara! Acertei o pulo!” ...
Não quero, jamais, contemplar os anos vividos e perceber que o medo me manteve presa. Deve ser algo desolador!
Eu quero é sorrir, satisfeita e maliciosa, sabendo que, mesmo que tenha doído, mesmo que tenha sangrado, foi bom pra caralho e valeu cada momento vivido!


Déia escreve aos domingos e, percebendo-se mais madura com o passar das dores, hoje sente-se grata por ter tão poucos “E se...?” em sua vida até o momento.

sábado, 25 de novembro de 2017

Mergulhar em si

Têm dias que a gente acorda inspirada. Hoje foi um deles. Estava fuçando nas redes sociais, lendo a respeito de cursos de autodesenvolvimento para mulheres, e encontrei uma vivência incrível que tratava do Sagrado Feminino. 

Aproveito para fazer um longo parênteses aqui, pois esse tem sido um tema que vem me chamado cada vez mais atenção, desde o término do meu último relacionamento. Passei a olhar para lados meus até então esquecidos e adormecidos, especialmente questões relacionadas a autoestima e empoderamento. A gente passa a vida achando que está tudo bem com nosso amor próprio, mas no fundo, na real, vê que não é bem assim e descobre um grande autoengano. Bom assim, porque você só é capaz de cuidar e curar algo quando você primeiro tem consciência que está ali. Percebe que existem coisas para serem vistas e revistas, comportamentos e atitudes, como permissões e concessões que a gente acaba dando/fazendo para o outro que podem ser tudo, menos o bom cultivo desse amor por si. E para fazer esse movimento, descobri que preciso ser bem generosa e amorosa comigo mesma. Não adiantava, nem cabia mais, negar, fechar os olhos, ignorar ou lutar contra. Descobri sobretudo que era necessário olhar para essas partes com amor, com carinho, acolhimento e compreensão. Porque no fim, acabamos sendo nossos próprios carrascos e algozes, no sentido de tentar reprimir aquilo que dói ou incomoda. Mas não. É preciso olhar com amor para as famosas “sombras”, para que a iluminação possa chegar sem resistência. E vai chegando, a cada dia, a cada passo, a cada decisão, vai iluminando, vai esclarecendo e a luz própria se fortalecendo mais e mais.. 

E sim, descobri também que precisa ter muita, muita, muuuuuuita coragem para mergulhar (de peito aberto) nesse movimento. É preciso ter muita coragem para ser o que se é. Aliás, esse é o tema de um dos livros que estou lendo no momento, “A coragem de Ser Imperfeito” de Brené Brown. Segundo a autora, “viver é experimentar incertezas, riscos e se expor emocionalmente. Mas isso não precisa ser ruim.” Para ela, a vulnerabilidade não é uma medida de fraqueza, mas a melhor definição de coragem. “Quando fugimos de emoções como medo, mágoa e decepção, também nos fechamos para o amor, a aceitação e a criatividade. Por isso, as pessoas que se defendem a todo custo do erro e do fracasso acabam se frustrando e se distanciando das experiências marcantes que dão significado à vida.” Todo esse processo pessoal que venho trilhando, acabou me rendendo estudos no campo profissional, sobre a busca pelo poder pessoal de cada um, homens e mulheres (esse último abordo no texto “Gente é pra brilhar”) e me ajudado a descobrir meu propósito de vida, minha missão, meus talentos, e o que posso contribuir com o mundo. Por meio do meu próprio caminhar.

Mas voltando a tarde de inspirações e “fuçações” (licença poética, mas adoro criar neologismos! rs) nas redes sociais, descobri esse curso, “O resgate da essência feminina selvagem”, da Morena Cardoso, uma terapeuta peregrina “fudidoviski”, que buscou conhecimento por meio de meditações nas montanhas do Himalaia, pelos templos sagrados da Tailândia, Xamanismo no Leste Europeu, danças no solo sagrado das Sequoias nos EUA, chegando aqui no Andes e Floresta Amazônica, aprendendo a medicina das curandeiras (e muito mais!). Para quem me conhece, sabe que #amomuitotudoisso e que para mim é um currículo de se admirar e se inspirar... E como as coisas vão se conectando, e a vida é feita sim, de conexões e sincronicidades, acabei descobrindo a fotógrafa que registra os momentos mais lindos dos cursos da Morena, a Ana Paula Fiedler, fotógrafa e autora de textos MAGNÍFICOS em seu IG @anapulsar, e simplesmente me apaixonei. Foi amor à primeira vista, esse amor que, no fim, acaba sendo próprio, voltando ao assunto do início. Pois ali, nos registros lindos e nutridos de ultra sensibilidade de mulheres nessa busca por si, por sua sexualidade sagrada e espiritualidade, me vi, me reconheci e me reencontrei. 

Meu olhar fica vidrado em uma foto linda, de uma mulher na água, olhos fechados, acompanhada do seguinte texto:

"[mergulhou em si]

e sentiu o êxtase de se pertencer, de sentir a energia da vida dançando em seu corpo, pulsando através dos seus movimentos de puro prazer e contato com partes já tão adormecidas. Refrescou sua alma e trouxe a cura de dentro para fora e assim pôde expressar e oferecer-se [como dádiva a si mesma]."

E então me lembrei como é lindo fazer esse mergulho em mim. E que de tempos em tempos me esqueço completamente de fazer isso... Mas que quando me permito fazê-lo, é tão bom, é tão lindo, é tão transformador... não é grandioso, no sentido de um evento interno apoteótico... mas é sutil, sutilmente transformador... Resgatei uma foto minha mergulhando em uma cachoeira, e pensei: esse texto poderia ser uma legenda que representaria bem essa foto... Acontece que a foto era de uma viagem para Penedo (RJ) em 2015. Mas e para o momento AGORA¿ Não tinha praia perto, não tinha cachoeira, o rio daqui com banho impraticável... Então olhei para a piscina “olímpica” da minha casa, para Flipper, meu golfinho da foto (simmm, eu tenho um golfinho!!! Hahaaha), para meus cachorros, para meu gato, para o céu bucólico nublado (que depois ficou azul e rosa), para o jardim e toda essa “vibe natureza” que abençoadamente me cerca... E assim o fiz. Fui lá e me permiti. Afinal, como diz a música do Gil, " o melhor lugar do mundo é AQUI e AGORA!"

Aproveitei para bater um bom papo com o “Cara” lá de cima. Agradecer todas as bênçãos, a vida, as oportunidades, os aprendizados, as experiências, e até mesmo os desafios. Aliás, são em momentos como esses que me sinto mais conectada com Deus, com o Sagrado, comigo mesma e minha espiritualidade. E assim sinto que mais uma parte de mim foi mexida. Foi olhada, foi acarinhada, foi sentida. Foi sutilmente transformada. Claro que tem mais, muito mais, mais para ser mexido, mais para ser movido, removido e curado. Mas vi que, se nunca começar, nunca vou sair do mesmo lugar. E quem me conhece sabe: eu adoro movimento! Que seja sempre bem vindo então esse movimento. Movimento esse dessa vez mais interno e profundo para dentro de mim. Mergulhar em si.


Gabriela, de uns ciclos para cá, passou a adorar ter mais momentos só consigo. Apesar de amar receber visitas, de estar em companhia de bons amigos e bons papos, passou a adorar mais sua casinha, cuidando da sua vida, das suas plantas (essas ainda menos como deveria e gostaria!), com seus “Pet filhos” . A curtir esse contato com sua espiritualidade. Aprendeu a ressignificar os momentos “solidão” para momentos “soletude”. E tem sido uma experiência incrível para ela! Algumas pessoas, amigos, conhecidos, a encontram na rua e dizem que ela está diferente... Com uma aura nova.. Que ela mudou.. E quanto a isso, hoje ela não mais discorda... Tem plena consciência que sim, que mudou. Com os seus botões pensa: ainda bem!

domingo, 19 de novembro de 2017

É preciso tempo...

Aos poucos percebi que o que tenho feito, atualmente, não é mais dar tempo ao tempo,eu tenho é ME dado tempo...
Tempo para desconstruir
velhas crenças,
para entender o porquê de certas escolhas,                                       
para perdoar, inclusive a mim mesma,
para lamber minhas feridas atuais,
para olhar com carinho para as cicatrizes antigas,
para viver coisas novas,
para realmente sentir gratidão pelas experiências vividas,
para olhar para dentro de mim mesma e entender o que mudou,
para usufruir da suposta segurança de me sentir "blindada"...
E, quem sabe, tempo para sonhar novos sonhos e construir outros caminhos.

Déia escreve aos domingos e tem tentado não apressar coisa alguma e deixar a vida seguir seu própio devir.

domingo, 12 de novembro de 2017

Sobrevivendo

Tenho, nos últimos dois anos e meio, passado por profundas e dolorosas transformações. 

Passei por situações as quais eu jamais teria imaginado passar; fiz coisas que eu não me veria fazendo e, pior, que outrora eu teria criticado veementemente... Senti dores tão lacerantes que, por vezes, realmente pensei em me entregar, em entregar os pontos... Experimentei momentos de solidão tão intensa que pensei que acabaria perdida em mim mesma...

E cá estou. Interessante como realmente, a despeito do que achei em diversos momentos, eu sobrevivi. Toda cheia de cicatrizes, costurada... retalhos de alguém que um dia fui.

Ainda sinto dores, as feridas ainda sangram, mas tenho me sentido, a cada dia mais, como que renascendo devagarinho.
​​
Déia escreve aos domingos e está, timidamente, buscando forças para conseguir abrir novamente o coração e deixar que as palavras presas se soltem e migrem para o mundo.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Profissão ou Vocação?

Marido sem face sempre diz que é médico por profissão, não por vocação. Ele diz que não é destes caras aficionados, que amam a Medicina mais que tudo, abnegados em suas próprias vidas em benefício dos pacientes.

Quer matar marido sem face de raiva é aparecer o personagem daquela série que o médico só sai do hospital na periferia pra comer misto e café com leite na banquinha de frente e, ao ouvir a primeira sirene, já larga a comida e corre pra salvar a vida do paciente lá dentro.

Isso é o que ele diz. Porque o que eu vejo diariamente há dezessete anos, tempo em que estamos juntos, é bem diferente.

O que eu vejo é um cara acordar todo dia às seis da manhã, quando não às cinco, se arrumar, tomar café e ir cheiroso e bem disposto para o posto de saúde em uma das cidades com menor IDH do Brasil, depois de dirigir por uma hora. Sim, não é consultório, não é hospital particular. É posto de saúde em área de risco. Marido sem face, a despeito de seu 1,90m, muitos quilos e cara de bravo, já foi ameaçado por vagabundo armado dentro do posto de saúde. Quase fiquei viúva antes mesmo de me casar e só fui saber disso muitos anos depois. Ele sabia que eu ia surtar quando me contasse e que eu ia insistir pra ele largar o posto de saúde em Ribeirão das Neves. E eu ia mesmo insistir até conseguir convencê-lo a sair de lá. 

Isso era o que eu pensava que conseguiria. Hoje não tenho mais esta petulância. Uma vez fui conhecer o posto em que ele trabalhava num bairro (ainda mais) pobre de Neves. O que eu vi lá me chocou: a rua não tinha calçamento, corria esgoto a céu aberto e a luz do posto era um gato, porque tinha explodido alguma coisa e a prefeitura e a Cemig ainda não tinham arrumado. Marido sem face sentava em uma cadeira de ferro, dura, fazia um calor infernal e não tinha nem um ventilador por lá. Comprei uma cadeira decente e um ventilador, já que não podia colocar ar condicionado no consultório. O computador que tinha neste posto especifico, fui eu que doei. 

E marido sem face lá, todo santo dia, sendo médico por profissão, segundo ele.

Depois de muito tempo neste posto, foi transferido para um outro, mais bem localizado (mais seguro, entenda-se). Os problemas mais graves eram os mesmos: dificuldades pros pacientes fazerem exames, a ignorância da população para aderir ao tratamento, paciente doido pra aposentar por invalidez ou pelo menos conseguir um atestadinho, vereador indo bater na porta para furar fila de atendimento para eleitor e por aí vai. 

Uma vez, marido sem face teve um problema numa clínica em que trabalhou (sim, são vários "empregos") porque pedia para o paciente, se possível, realizar o exame no laboratório x, no qual ele confiava. A clínica tinha um laboratório também e houve uma celeuma porque ele não encaminhava os pacientes direto pro laboratório da clínica. Perguntei porque ele preferia o outro laboratório; disse que estava preocupado com a qualidade do exame para tratar adequadamente o paciente e não com o departamento financeiro da clínica. 

Uma outra vez ouvi de um colega dele que achava um desperdício um cara do nível de marido sem face, inteligente, articulado, trabalhar no posto de saúde ao invés de abrir um consultório próprio. Eu também achava. Apesar de já ter ouvido isto de outros colegas de marido sem face, esta foi a única vez em que o questionei. E pobre não tem direito à medicina de qualidade?! Toma distraída! Quem mandou?! 

Este é meu marido sem face, médico por profissão, não por vocação, segundo ele. Que me mata de orgulho todo santo dia. Que traz muito conforto e alento a quem muitas vezes não tem mais nada. 

Parabéns pelo seu dia, mesmo você não tendo face.

Em tempo: parabéns a todos os médicos com quem convivo e compartilho as dificuldades!

Laeticia morre de orgulho do marido sem face todo santo dia.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Com as fases e as marés

E eu, como estou?
Que sumi por aqui
Ando por aí, por ali...
Acompanhando as marés... os processos...
As luas que minguam, que crescem, que se renovam... E as que enchem... Enchem os corações da gente com os mais diversos sentimentos. Nosso corpo repleto de emoções e sensações. Que transbordam quando a Lua enche.
E nesse movimento que não para, tenho me movido mais acelerada.
Numa urgência de tempo (eu e minha velha questão com o tempo, numa relação de amor e ódio).
E enquanto isso eu vou
Correndo
Aprendendo
Refazendo
Renovando
Pulsando
Minguando
Renascendo
Apaixonando
E desapaixonando
Crescendo
Doendo
Querendo
Movendo
Transmutando
Ressignificando
Respirando
Hoje, transbordando.
E por fim, vivendo.
Tudo não necessariamente nessa mesma ordem.




Gabriela tem um quê de "haribo", como diz uma amiga, "nailô" como diz seus pais, mística, como dizem por aí. E percebeu recentemente que não sabe lidar muito bem com as Luas Cheias. Mas respeita o movimento inspirador que elas provocam. E vibra, pois enfim, voltou aqui.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Escutar

Ando tão distante do blog, muito porque os assuntos que me apetecem discutir são pesados e cada texto que inicio acaba indo drasticamente para um lado pessimista.
Mas hoje me fizeram um desafio (uma tarefa de casa, na verdade, mas que será um desafio para mim) e quis compartilhar aqui. A tarefa é:

"passar um dia inteiro sem interromper as pessoas quando estão falando". 


O curioso é que ando muito introspectiva, buscando me (re) encontrar, e uma das questões que venho pensando é em como eu costumava ouvir com facilidade às pessoas. Ouvir mesmo, não esperar a pessoa parar para respirar e aproveitar o intervalinho para retrucar, ou para contar algo parecido. Apenas ouvir. Perguntar o que fosse necessário para facilitar o entendimento. Essa era uma das qualidades que eu prezava muito em mim mesma e que, em algum momento dessa vida loka, eu perdi.
Não sei se foi a pressa para acompanhar o ritmo acelerado das coisas por fazer. Não sei se foram as mudanças causadas nos diálogos que se tornam cada vez mais superficiais, devendo caber dentro de 120 caracteres por assunto. Ou talvez eu esteja ficando egoísta. Não sei... mas sei que atenção é algo muito valioso para dar a alguém. Tempo. Dedicação. Interesse. Respeito. Tudo isso se doa em uns minutos (que podem, sim, virar horas) de uma conversa de verdade, com escuta atenta e generosa.
E eis que sou desafiada a passar um dia tentando sem interromper os outros. Parece banal, mas fiz um exercício de ouvir uma história de 5 minutos, bem interessante e bem contada, e tive que me conter diversas vezes. Fiquei chocada!
Mas, vocês podem estar falando (e me interrompendo!) só não interromper não quer dizer que você esteja realmente ouvindo. Verdade. E por isso minha mentora pediu que eu registrasse quantas vezes meu pensamento se distrai e dou uma viajada básica
Não comecei o desafio mas já estou analisando como me comporto em diálogos e confesso que não vai ser fácil. Pretendo encarar como um processo de auto conhecimento e crescimento, e não apenas como um para-casa. 
Espero ter bons resultados para compartilhar!

Renata escreve no blog há quase dez (DEZ!) anos, e tem sido muito seletiva no que compartilhar por aqui. Espera se sair bem no desafio boca fechada!





quinta-feira, 9 de março de 2017

Daquele 8 de março de 2017...

Nesse 8 de março tão emblemático, de uma época em que vivemos o ápice da informação sobre a luta das mulheres contra atitudes machistas; mulheres essas que perderam a vergonha de se expor e contaram tudo o que vivenciaram, dando a oportunidade para outras mulheres, como eu, de se reconhecerem em cada ou diversas situações. 

Confesso que quando li as primeiras “confissões” vivenciadas por conhecidas ou desconhecidas, fiquei chocada. Nas minhas veias ainda correm os ensinamentos de minha mãe e de minha avó, aqueles do tipo - “roupa suja se lava em casa”, “devemos ser discretas”. Mas, no momento seguinte, me identifiquei e reconheci que cada texto daquele trazia um aprendizado dolorido de mulheres para outras mulheres, como eu, que ainda enxergavam aquelas atitudes como “normais” acordarem! Eram para um bem maior, uma doação.

O que mais me surpreendeu foram os relatos de esposas e seus companheiros ou ex-companheiros. 

Lembrei de uma história, que aconteceu comigo e um namorado. Eu mordi os lábios dele, que era grande e bem mais forte que eu. Foi o que consegui fazer, presa entre seus braços e pernas, sem poder gritar por ajuda, depois da recusa em dormir com ele. Ter agredido ele fisicamente me trouxe uma culpa imensa e gerou muitos insultos no dia seguinte. Na época me calei e concordei que eu estava louca, como ele disse. Me sucumbi àquela culpa e aguentei ouvir aquela história, sendo contada por ele, omitindo o motivo da agressão, colocando a mim como carrasca.

Histórias de agressão física não se repetiram. Eu calei as psicológicas. E vivi feliz para sempre. Até hoje...

O que me deixa triste é que somente depois de anos, (e graças ao que tenho lido dessas mulheres corajosas desta nova geração), eu tenha descoberto que insultos assim sairiam, sim, da boca de homens que insistem em dizer que “mulher que apanha, apanha porque merece”. Hoje aprendi com elas que, o simples pronunciar desta frase já é uma agressão. 

Por causa delas foi que entendi que se alguém tenta te diminuir, dizendo coisas do tipo: “você não pode viver sozinha pois não conseguirá se sustentar, a não ser que arranje um emprego de telemarketing das 23 às 6 hs (desqualificando o trabalho da mulher e do profissional de telemarketing); “ você não pode ser mãe por ser mais infantil que uma criança” (desqualificando seus desejos); “você está agindo como puta! Você é uma mulher casada!” - quando você saí a noite com suas amigas (desqualificando anos de luta por liberdade feminina); ou ainda te chama de “careta louca” por você achar um absurdo ele dar cobertura para o amigo adúltero, afinal “o problema é deles e não meu!” (reafirmando sua supremacia machista ao defender o amigo MACHO), ele está agredindo você! 

Infelizmente foram coisas que experimentei quando não tinha maturidade para reconhecer o que é GASLIGHTING e outros conceitos de agressão à mulher. E agradeço demais por estar tendo a oportunidade, de coração tranquilo quanto ao passado, de aprender, amadurecer e mudar! Não me calo NUNCA MAIS. 

Nada de sentimentos de piedade. Nada de “Pobre de nós mulheres que enfrentamos isso”...mimimi! De jeito nenhum!

Existem homens maravilhosos, companheiros, que acompanham essa mudança na sociedade e estão querendo estar ao nosso lado nessa luta. Ainda bem! E ainda bem que conheço pessoas assim. Singulares. Homens e mulheres. Gente que trata o assunto com naturalidade, mas naturalidade de leão que defende o bando!

Essas pessoas estão me ensinando a ser mulher de verdade. Mulher, com todas as fragilidades mas também qualidades femininas. Me ensinam reconhecer o valor de cada atitude anti-machista e selecionar, escolher a quem vale estar por perto. E principalmente não deixar acontecer menos do que eu mereço. Eu, mulher. Eu, ser humano do bem.



LorisB. deseja um Feliz dia das mulheres, como são. Cada qual com suas particularidades. Cada qual com seus desafios e cada qual com o direito de ter seus afetos sempre renovados e estabelecidos.

terça-feira, 7 de março de 2017

Eu não vim aqui falar do machismo nem do feminismo (mentira!)

Eu não vim aqui falar do machismo nem do feminismo, afinal ambos não existem, são puro devaneio de mulher histérica. Eu vim falar de sexismo e misognia. E de sororidade. Palavras tão pouco faladas até pouco tempo que tem muita gente que ainda não está familiarizada, nem com as palavras, nem com que elas representam. 

Há umas duas semanas eu estava voltando de uma reunião no local que eu trabalho na qual existiam sete homens e eu. Nada mais natural já que na maioria dos locais de trabalho existem mais homens, afinal eles são bem mais qualificados, mais equilibrados, não entram em licença maternidade e não passam pela tpm todos os meses. Assim que sentei no computador li um artigo que falava sobre as barreiras enfrentadas pelas mulheres no meio científico. O ponto principal do artigo é que mulheres não são convidadas a avaliar os trabalhos de seus pares. E, se pensarmos bem, não estamos falando só que as mulheres não são convidadas a avaliar trabalhos de homens, as próprias mulheres não confiam seus trabalhos para a avaliação por outras mulheres. 

Coincidentemente, nessa mesma semana vi a foto de uma ex-orientanda que estava agora defendendo seu doutorado. A foto com a banca. Ela lá miúda cercada por cinco homens. Poxa, na minha defesa de doutorado a banca foi assim também, lembrei! As mulheres não confiam seus trabalhos a serem avaliados a outras mulheres (ou não influenciam seus orientadores para isso, nesses casos em específico), nem eu! Claro que isso foi há muito tempo e na minha atuação profissional dentro da academia, mesmo que algumas vezes instintivamente, priorizei as parcerias com outras mulheres, a orientação de mulheres e o reconhecimento de seu brilhantismo ou trabalhei para fazer aflorar seu brilhantismo podado.

Além disso já foi visto que o aceite de artigos científicos por determinadas revistas é mais fácil quando o autor principal é homem. Ah gente, super natural! Natural como aquele caso das autoras que receberam como resposta do editor de uma revista científica que seria melhor elas re-submeterem o artigo usando o nome de um homem como autor principal. Natural como a luz do dia, lógico que elas deveriam atribuir a autoria do seu trabalho a outra pessoa. Pode isso? 

Nesse contexto, o filme “Estrelas além do tempo”, muito falado no momento, é sobre a corrida espacial norte-americana na época da guerra fria, tendo como ponto central as dificuldades vividas por um grupo de mulheres negras em conquistarem reconhecimento na ciência e na engenharia. Um outro artigo fala sobre “como ‘Estrelas Além do Tempo’ destaca desafios ainda em voga para mulheres na ciência e na tecnologia”. Sim, as coisas avançaram, mas ainda há dificuldades (de 1961 para 2017). O artigo ainda comenta como meninas e mulheres atuais podem ter tido seu potencial prejudicado pela falta de referências femininas nas áreas de ciência e engenharia. “Não porque essas mulheres não existam, mas porque permanecem ocultas sem o seu devido reconhecimento.”

Outro fato que a Renata aqui do blog me chamou a atenção é que as mulheres não aplicam para vagas em que elas não estão enquadradas em 100% dos requisitos. Você pensou: natural também, a velha insegurança feminina! Para o meu emprego atual eu apliquei para uma vaga em que não me enquadrava em nenhum dos requisitos. E, segundo meu chefe, para ele eu me enquadrava perfeitamente na vaga. Veja bem, a não ser que a vaga tenha sido criada para uma determinada pessoa, muito dificilmente vai aparecer alguém que preencha 100% dos requisitos! A propósito, os homens aplicam quando querem.

Não gente, não é questão de insegurança, e se é, pensem em como fomos criadas. Fomos doutrinadas para nunca acreditarmos ser tão boas quanto somos. Desde a infância. Já ouvi falar até de mães que não reconhecem o brilhantismo, esclarecimento e força de suas filhas mulheres, mas exaltam os filhos homens, até os filhos dos outros. No meio científico existem muitas histórias de sexismo. Ouvimos muitas vezes que não somos brilhantes, despautérios como “não inventa de engravidar”. Quando somos mais duras, somos vacas mal-comidas, isso ouvido de outras mulheres! Enquanto um orientador mais duro é visto com temor e... engole o choro! (ou não, porque aluno chorar tá tão fácil hoje em dia, já viram?). Dentro da universidade já vi professor incitar disputas entre mulheres. Já vi professor assediar mulheres pela simples necessidade de poder. Assediar física e moralmente, Já ouvi dizerem que fulana só passou em tal prova por causa do tamanho do short. E ouvi muitas vezes que fulana devia estar dando para tal professor. Entre outras bizarrices.

Um estudo bastante extenso mostrou que mulheres abandonam mais as carreiras de ciência e tecnologia, mas porquê? Você pensou: claro, a velha falta de persistência feminina! Pois está enganado, cita-se “a preocupação com a falta de oportunidades de crescimento” e o fato de serem “tratadas injustamente, receberem salários menores e apresentarem menos chances de serem promovidas do que seus colegas do sexo masculino”. Algum de vocês já passou por isso? Posso usar meu próprio exemplo aqui, não abandonei a carreira, mas mais de uma vez abandonei um emprego por ser tratada injustamente. Além disso, quantas ideias as mulheres dão e só são ouvidas quando sugeridas por um homem! Claro que se uma mulher decide abandonar sua carreira pela família ou para viver outras aventuras não tem problema nenhum, escolhas devem ser respeitadas sempre. O ponto aqui é aquela que acaba abandonando sua carreira por pressão ou por deixar de enxergar perspectivas.

Assim como a personagem Katherine de “Estrelas além do tempo” precisou levantar a voz para demandar respeito em um momento de desespero, muitas de nós dentro da academia ou em outros meios profissionais, também temos esses momentos de desespero. Como aqueles momentos que interrompem a nossa fala, ou desconstroem os nossos esforços. E ao levantar as nossas vozes somos tachadas de loucas, desequilibradas. Surgem perguntas: você está “naqueles dias”? “Você está com algum problema”? Sim, não é evidente que estamos com um problema? Não estamos sendo respeitadas! 

Porém, voltando ao fato citado de que mulheres não confiam seus trabalhos para outras mulheres avaliarem, o que se vê é que elas disputam espaço entre si. Dentro de departamentos de universidades acontecem brigas inimagináveis entre mulheres. Como se o brilho de uma fosse ofuscar o de outra. Como se só houvesse lugar para uma. Em qualquer meio, mulheres são as maiores vítimas de boatos, nem Marie Curie, uma das maiores cientistas de todos os tempos – primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel e a única pessoa a ganhar dois prêmios em áreas distintas – escapou disso! Aliás não sei se você sabe, mas desde 1901, 97% dos ganhadores de prêmios Nobel de ciências foram homens, sendo que em 2016 (sim, ano passado – tão recente!) nenhuma mulher estava entre os 11 ganhadores.


Claro que lá no início onde eu disse que machismo e feminismo não existem estava usando de ironia, assim como em muitas passagens do texto em que falo que tudo é muito natural. O que vejo é que além de seguirmos travando luta contra todo esse sistema desigual em que estamos inseridas, tem muitas coisas que nós podemos fazer a fim de aumentar a representatividade. Como escolher outras mulheres para avaliar nossos trabalhos, para serem nossas bancas, exaltarmos mais o brilhantismo de outras mulheres nas mais diversas áreas, promover grupos de discussão entre mulheres, ou seja dar voz e ouvidos a outras mulheres. E nos policiarmos – até que se torne “natural como a luz do dia” – para deixarmos de reproduzir discurso machista. E aí que entra a sororidade.

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Pra quem quiser ler mais:



Luciana escreve (ou deveria escrever) às terças e coincidentemente terminou esse texto hoje, véspera do dia 08.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Gente é pra brilhar

Li ontem o seguinte texto, que me inspirou a voltar a escrever aqui, depois de tanto tempo, tantas reviravoltas e mudanças ocorridas na minha vida, de meados de 2016 pra cá. Processos profundos de mudança, desapego, quebras, lutos, recomeços, ressignificações... Quem sabe vire um texto publicado... quem sabe vire um texto para guardar no arquivo pessoal, como tantos outros ensaios que andei fazendo nesse período de escassez textual por aqui... Quem sabe seja necessário um bocadinho mais de coragem e reconhecimento desse poder pessoal, que logo falo... Bom, quem sabe?! Com certeza, eu!!! Rsrsrsr... Mas deixemos tudo isso para uma outra história…. Segue o texto inspiração, da Alana Trauczynski:

“Assumir o seu poder é uma bênção para você, mas um terror para todos os que te rodeiam, porque passa a ser muito desconfortável estar ao lado de alguém que se permite, que se acha merecedor, que se abre para a abundância do universo. \"Como assim alguém que é igualzinho a mim, um ser humano cheio de falhas, se permitindo tudo isso?\" Ao invés deste pensamento escasso, que tal se permitir também? Você também merece. Só falta constatar isso. Não é preciso ser perfeito para ser inspirador, para fazer sucesso, para ser rico, fabuloso e maravilhoso... É só se dar permissão, mesmo com todos os seus defeitos. O universo vai dizer: ufa, mais um que se libertou dessa nóia... Aleluiaaaa!”
Eu escolhi e decidi ser livre.
Decidi ser livre, com todas as minhas virtudes e potencialidades, assim como com minhas vulnerabilidades e “pontos de melhoria”, como dizem no coaching.
E você, escolhe o que??!!
Está pronto para "desbloquear a abundância e seu poder pessoal"?!
Esse é o nome do curso que estou fazendo com a querida e iluminada terapeuta Ariana.Schlosser, que trabalha com a técnica da EFT. Esse curso  tem girado, a cada módulo, chaves importantes dentro de mim, quebrando várias crenças e padrões que limitavam todo meu potencial, até então contido e engavetado, por vários medos e "dedos". Motivos e votos secretos que escondemos láaaaaa no nosso inconsciente, que nos tornam nossos próprios sabotadores e algozes... Aos poucos vou desbloqueando, mas ainda tem muito chão. É um caminho profundo, essencialmente interno, de autoconhecimento. Mas toda caminhada é feita passo a passo. 
E como diz Caetano, "gente é pra brilhar". Então, o convite é: bora brilhar, minha gente!!!!
Bora ser feliz, viver nossa missão, nossos sonhos, descobrir nosso propósito, iluminar, com nossa própria luz, esse universo rico e abundante!
Bora, que a gente pode, bora, que a gente merece, bora, que a gente decide! Só bora!!!!!!
Sem medo, sem desculpas, sem vitimismo, sem procrastinação, sem auto-sabotagem. Toma as rédeas da sua vida e vai... vai ser feliz!!! Liberte-se, o mundo é todo seu!!!! 

Gabriela faz terapia, tem participado de cursos sobre desenvolvimento humano, autoconhecimento, faz coaching, medita (com muuuito esforço, pelo menos 7 minutos, e quando dá), faz a p.. toda, mas não perde essa mania de Pollyanna e de otimista crônica... rsrsrsrs... Mas como a ideia é aceitar as dores e delícias de ser o que é, está cada vez mais tranquila e assumida quanto a isso.
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