quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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Estava eu cá com toda minha mediocridade literária, tentando escrever um texto mais ou menos sobre como a nossa felicidade atrai inveja e energias ruins, como o mundo de uma forma geral não está preparado para a felicidade alheia, quando me lembrei deste texto de Bíbi da Pieve que todo mundo merece:


Felicidade dá azar
(Bíbi da Pieve – Publicado na Revista Época, ed. 334 de 2004)

Chego à estapafúrdia conclusão: ser feliz dá azar. Chama. Atrai como mosquito em lâmpada. É uma coisa meio triste de dizer, mas a felicidade dá azar.
Já vinha desconfiando havia muitos anos. Quando adolescente, lembro algumas amigas reunidas numa sorveteria, entreolhando-se ao ver passar uma espécie semelhante, porém linda - pele de pêssego, bunda arrebitada. E magérrima. "Olha ali, que magrela! Desgraçada!" - acusavam-na, sorvete doce adentro, baba amarga afora.
A desgraçada ainda namorava o menino mais popular da escola. E era rica. Não bastasse, o pai era um gato. Não que ela pudesse desfrutar dessa condição dele, mas, a essa altura, soma-se tudo de bom que há na vida da ordinária, engole-se, engasga-se, empurra-se mais um pouco, engole-se de novo. Uma vez digeridas as qualidades da outra, transforma-se aquele bolo alimentar em ódio explícito. Irrevogável.
Parece até que, se a magricela lá engordar de uma hora para outra, a gorda aqui vai emagrecer à mesma proporção. Sem dieta, claro. Simples assim: se você perder algum dinheiro, eu ganho. Se você cair, eu levanto vôo. Se você quebrar uma perna, eu viro atleta. Você menos - eu mais. Automático.
Por isso é que eu me cuido muito. Deus me livre de ser feliz; vão querer o meu fígado. Aconselho amigos a também não cometerem tal disparate e a fugir da felicidade como diabo da cruz. Caso você não saiba, ter um amigo ou parente feliz também pode ser arriscado. Fica-se contaminado: lá vai aquela filha da mãe que está feliz até as tampas pela felicidade do marido, outro sem-vergonha que subiu na vida.
E não estamos falando só da felicidade completa, que vem com o selo da alta no analista, 100%, gabaritada. Felicidade meia-boca também dá azar. Menos, é claro, mas rende um acidente doméstico aqui, um mal-entendido ali. Sabe quando bate o mindinho do pé na porta da geladeira? Pense em alguma alegria que você, distraído, deve ter cometido por aí. É batata.
Por isso os livros de auto-ajuda vendem tanto. Ninguém é louco de ser feliz. Compra-se o livro, não para deixar de frescura e cair de boca na felicidade, mas para ler no ônibus e provar ao vizinho: tira o olho, que eu sou é triste. Ninguém confessa, mas a verdadeira utilidade de ter um auto-ajuda na cabeceira é dormir em paz. Como um garoto que é abordado pela polícia e vai logo se defendendo: tô limpo! Só que a felicidade é ainda pior que a droga, não se pode portar nem para consumo próprio.
Eu me defendo como posso, e recomendo: tenha sempre uma tragédia de bolso. Pode ser muito útil. Quando menos se espera, dá o azar de você se sair bem em algum concurso, conseguir uma promoção no trabalho, arrumar um maridão nota mil. Deus o livre disso, não estou rogando praga. Mas é coisa que acontece. E aí, se você tiver uma tragédia à mão, vai ser a salvação.
Em meio aos cumprimentos naquela festa-surpresa que você não pôde evitar, é de suma importância sacar a sua desgraça. Mantenha um olhar perdido no horizonte e, quando alguém fizer a pergunta - E aí? Tá feliz? -, você ataca, todo reticente:
- É… mais ou menos… sabe, pensei tanto ontem na minha falecida tia Heleninha, que me criou… como ela estaria feliz de me ver aqui, comemorando este feito…
Isso vai acalmar os ânimos, e você deve conseguir encarar trânsito, sinais e cruzamentos perigosos até chegar a seu prédio, intacto. Ainda assim, se fosse você, eu ia pela escada. Sabe lá, esses elevadores.


Glícia não quer ter razão, só quer ser feliz. Carrega consigo ferradura, pé de coelho, olho gregos, pimentas vermelhas, galhinhos de arruda e alguns patuás. Hoje se deu ao luxo de não escrever propriamente, apenas apresentar um texto “tudibom”.

Lições de um final de semana daqueles...

Meu último final de semana foi tipicamente um final de semana daqueles, completamente fora do planejado, o que me irrita bastante. Antecedente ao aniversário do meu marido (na segunda), eu tinha mil planos! Só que eu e meus planos não contávamos com o meu trabalho de Algoritmo Genético (disciplina em curso no doutorado)... Gerar este algoritmo foi assim uma história sem fim: nunca dava certo, nunca acabava e o final de semana escorrendo por entre meus dedos; justamente aquele que eu vinha planejando há algum tempo.

Eu passei sábado e domingo me dividindo entre o computador e a cozinha (pelo menos o bolo que faço para ele comemorar com os colegas na empresa todo ano eu não podia deixar de fazer...). Entre um rolinho de chocolate para enfeitar o bolo e uma população que não gerava bons resultados no meu algoritmo, olhei para o meu marido sentado no sofá assistindo a um jogo e pairou uma dúvida sobre mim: se o doutorado for todo assim, será que ele suporta, será que nós suportamos?

Eu estava aborrecida porque não gosto de emendar uma semana na outra sem dar folga para minha cabeça, detesto fazer planejamento que não se cumpre e aquela dúvida martelando, martelando, martelando em meu pensamento, o que me deixou muito mal. Foi aí que olhei novamente para aquela pessoa, ali do meu lado, de castigo em casa comigo e ainda assim tentando entender o meu problema para poder me ajudar. Foi o empenho dele, as mil idéias que teve para tentar me tirar do atoleiro, mesmo em um assunto tão desconhecido para ele, que me levaram a pensar “Nós podemos sim superar juntos o meu doutorado”.

O que não tinha remédio, remediado estava, certo? Não havia como recuperar o final de semana... Mas sabe que ele não foi de todo perdido? Foi estressante, sem dúvida, mas neste momento difícil, acabamos nos fortalecendo. Vi que temos amor de sobra para abdicar do outro algumas vezes e ainda assim nos amarmos de verdade, porque somos amigos, companheiros, parceiros, respeitamos um ao outro e nos incentivamos a sempre lutar por um ideal, a buscar o sonho sonhado, mesmo que ao coadjuvante (ora eu ora ele) custe caro.

E o aniversário, como ficou? Por sorte, na segunda-feira conseguimos um pegar um cineminha e o feriado está aí, para eu me redimir de todas as minhas ausências! Se o doutorado será fácil a partir de agora? Certamente não (muitas situações parecidas ainda acontecerão), porém trago em mim outra certeza: a dois, qualquer caminho é trilhado melhor!

Até a próxima!


Paula tinha motivos para estar estressada, mas encontrou em seu marido a paz e a certeza de que no final tudo se acerta! Está mais apaixonada por ele ainda, se é que é possível! Escreve aqui toda quarta-feira.


terça-feira, 30 de outubro de 2007

Reciclagem por Convicção

Elegi-me responsável por recolher o lixo de minha casa nos dias determinados. Isso porque minha mãe, às vezes, “esquece” de recolher o lixo e isso me incomoda muito. Penso que guardar lixo é desnecessário. Desde então comecei a observar que algumas pessoas abordam minha sacola de lixo a procura de produtos recicláveis, na maioria das vezes latas de cerveja ou refrigerante. Se fosse uma abordagem educada, tudo bem. Mas quem faz isso, pelo menos aqui na roça, rasga a sacola e deixa o lixo espalhado na calçada. Ai, que raiva! Falta de educação tem limites!

Ao mesmo tempo em que me indignava com a ação dos “catadores de latinha”, conhecia mais sobre coleta seletiva. E me interessei bastante. Incluindo a coleta seletiva na rotina de minha casa eu poderia me livrar dos “catadores de latinha”, ajudar inúmeras pessoas que sustentam suas famílias trabalhando em cooperativas de reciclagem (esse mercado de trabalho é uma feliz realidade) e ainda colaborar para diminuir a poluição do solo, da água e do ar. Enfim, uma ótima idéia. E lá fui eu...

Certamente não conseguiria implantar a coleta seletiva em casa sozinha. Tive de convencer minha mãe a me ajudar. Não foi fácil, mas consegui. Hoje ela identifica corretamente as embalagens recicláveis e me ajuda na separação das mesmas.

Aprendi a pensar nos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) e procuro praticá-lo cada dia mais. Reduzo meu lixo (comprando produtos em embalagens recicláveis), reutilizo algumas embalagens (exceto com alimentos) e papéis (pode ser importante fonte de economia nas empresas) e reciclo.

Tenho fácil acesso a um posto de coleta de materiais recicláveis da Prefeitura de Belo Horizonte, então deposito lá, quinzenalmente, os materiais recicláveis que separo. Faço isso por convicção, estou certa que colaboro para melhorar a minha vida e de muitas outras pessoas. Não aderi a um modismo (algumas pessoas fazem porque acham bonitinho ou porque podem lucrar com isso).

Reciclar é uma atividade determinante para retardar a degradação de nosso planeta. Aliado a isso, precisamos de pessoas que pratiquem educação, não jogando lixo nas ruas, pelas janelas de ônibus (mesmo porque, em muitos veículos, as lixeirinhas estão nas nossas fuças), zelando pelo bairro e pela cidade em que moram/trabalham e, ainda, disseminando essas práticas aos mais próximos. Sem demagogia, precisamos praticar cidadania.


Angélica colabora para reciclagem de plástico, papel, vidro e alumínio. Está curiosa para encontrar um posto de coleta de isopor, para acrescentá-lo em sua lista. Faz isso por si, por sua família, por sua cidade. Espera contribuir para um futuro mais saudável para todos nós. Escreve aqui às terças.

Sei lá. Mil coisas!!

Sábado fui numa festa muito bacana. Tinha umas duas semanas que eu tava ansiosa por ela: Festa dos Anos 80 com Radio Táxi!! Gente, paguei língua feito eu só!! De cara fui comprar ingresso e me ofereceram na rua por vinte reais. NÃO COMPRO DE CAMBISTA! Respondi logo. Aí o cara me disse que não era cambista, mas tinha levado um bolo da menina e ia vender os ingressos. Aí comprei, até com dó do cara, coitado. Entrei na fila, né, e quando chegou a nossa vez de entrar, o porteiro falou: A ENTRADA VIP É ALI!! Vocês estão me entendendo?! V.I.P.!!! Gente, vocês já tiveram assim esta vontade súbita de ser tragada pela terra? Pois eu tive. Sílvia estava do meu lado, só olhou e começou a rir da minha cara. Conseqüência: tive que contar aqui porque tem hora que é melhor ficar vermelho uma vez do que amarelo a vida toda :-P

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Quando o Radio Táxi subiu no palco, gente, que tudo!! Revival total. Aí fiquei me lembrando da época em que a gente vivia em Araguari, no Triângulo Mineiro. Tio Joaca trabalhava lá e a gente se enfiava na casa dele nas férias. Aliás, férias, semana santa, primeiro de maio, doze de outubro... Desconfiômetro zero. Definitivamente devia ser razoável poder explicar pra uma criança o que é ser empata-foda. Se bem que pode ser até que a gente fosse isca: não tem mulher que resista a bochechas gordinhas e rosinhas de meninas bem educadas de 10 e 12 anos. Deu saudade de Tio Joaca e liguei pra ele no meio do show. Uma pena ele não poder estar lá também.

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Acabou o show e fui gentilmente dissuadida pelo resto da turma a ir embora, apesar de que ainda tava rolando um som. Mas a fome falou mais alto e, antes que o processo de autofagia tivesse início, começamos nossa via sacra pela madrugada belorizontina em busca de um rango honesto. Fomos ao Chope da Fábrica; tinha fila de espera longa o suficiente pra catalisar o processo autofágico. Bolão às três da matina é sempre lotado. Altamente desanimador. Cantina do Lucas, no Maleta! Meus companheiros acharam que ia estar fechado. Pelo menos a cozinha estaria, afinal, lá serve rango mesmo (e da melhor qualidade), não é sanduba, nem comida congelada. Nada contra comida congelada, mas é que depois de horas e horas bebendo, pulando, dançando, cantando e suando, tudo que eu queria era um pratinho-peão. Daqueles que dão sustança pra bater duas lajes!! No Lucas, perguntei ao garçom: moço, por favor, a cozinha ainda está funcionando? CLARO, MOÇA (amei o moça), ISSO AQUI É REFÚGIO DE BOÊMIO!!! Ah, eu sabia que o Lucas não ia me decepcionar!!!

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Liiiiiiiiiiiiiiiiinda como um nenê-hein! Que sexo te-hein? Que sexo te-hein?
Namooooooooooooooora sempre com gay! Que nexo faz? Tão sexy gay... Totalmente demais!!!

Gaaaaaaaaaaaroooooootaaaaaaaaa Dooooooooouraaaaaaaaaaadaaaaaaaaaaaa quero ser teu irmão, eu sou teu irmão namoradoooooooooooooooo!! Uuuuum beeeeeeeeeeeijooooooooooo naaaaaaa boooocaaaaaaaaa, um abraço apertado, forte e suado, quente como as noites quentes do verão que brindamos quando nos demos as mã-ãos!!!!!

Um amor de verão vem com tudo a favor
Foge em ondas de calooooooooooor
E tem outra vibração...
Um amor de verão tá na pele, tá no ar, tá nos olhos de quem dá, tá no gosto do limããããããããão...

Minha pequena eva (eva)!! O nosso amor na últimastronave (eva)!! Além do infinito eu vou voaaaaaaar sozinho com vocêêêêêê

Ah, gente, fala sério!! Que bom que foi!!! Tô sem voz até agora!!!


Laeticia A-DO-ROU a festa dos anos 80 e confessa que confundiu o Cláudio Venturini com o Flávio e quase não reconheceu o Wander Taffo!! O que a salvou do mico total foram os solos magníficos e únicos do guitarrista!!


segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Três Tempos

Sempre havia gostado de física na escola, apesar de diversas vezes não entender o que os professores explicavam, quando entendia, gostava. No entanto Anastácia não colocava muito em prática o que apreendia na escola, aliás, até colocava, mas tudo ao contrário.

Por volta dos seus onze ou doze anos Anastácia gostava de fazer fogueirinhas, com tudo, papel, plástico, mato,....., enfim, o que pegasse fogo; não chegava a ser nenhuma incendiária, mas gostava de ver o fogo trepidar. Obviamente algo aconteceria para que ela definitivamente pensasse duas vezes antes de acender o fósforo, e aconteceu.

Em seu quarto, lugar menos propício não existe, na sua lixeira de ACRÍLICO, mais anta impossível, Anastácia ateou, e logicamente o fogo subiu, lindo e majestoso, claro, tudo no ambiente era favorável para entrar em combustão. Até que Anastácia percebeu que sua lixeira também estava pegando fogo e derretia, afinal era de acrílico, ou seja, algo que parece um plástico duro. Bom, para completar o show de desastres, desesperada Anastácia pensa – preciso de algo líquido, afinal água é líquida logo líquido apaga fogo – hahaha, mera ilusão; Anastácia encontra rapidamente um desodorante spray e PÁ, pulveriza a lixeira que, aí sim, vira uma fogueira. Só então Anastácia teve um raciocínio um pouco mais lúcido – o fogo acontece por que tem oxigênio logo tenho que tirar o oxigênio dali – e enfia o pé, de sapato é claro, dentro da lixeira e finalmente o fogo se apagou, mas a lixeira, essa nunca mais foi a mesma.

Já com seus dezessete anos, Anastácia apronta outra, também sem querer, pois ainda não tinha o hábito de pensar antes de fazer. Tinha feito um chá, mas queria chá gelado, então, logicamente, era preciso colocá-lo na geladeira, claro. Anastácia com toda sua frescura feminina escolhe a jarrinha que mais gostava para colocar o chá QUENTE na geladeira. Até aí, tudo bem, mas a tal jarra era de cristal e não agüentou o tranco do líquido pelando, CRECK, rachou todo o fundo circularmente; pra completar a asneira Anastácia levanta a jarra pela alça e SPLASH, vai chá quente por toda a cozinha.

E a última foi recente, só que nessa Anastácia realmente se esforçou em analisar a situação antes de fazer, digamos um experimento. A lâmpada de seu abajur, por estar acesa já há algum tempo, estava produzindo uma fumaçinha. Curiosa Anastácia ficou olhando e pensando – dá até pra fritar um ovo ou será que se eu jogar uma aguinha vai produzir vapor e talvez mais fumaçinha? – hummm, o raciocínio não parecia lógico, mas lá foi, cuspiu e a lâmpada explodiu bem na sua cara, ainda bem que pelo menos os reflexos do corpo são mais ágeis do que nossas idéias e, Anastácia, então, fechou os olhos a tempo de não receber nenhum estilhaço.


É Anastácia ainda está longe de entender de física, mas pelo menos estas três experiências ela não repete mais.



Um abismo crescente

Ouvindo “Wish you were here” do Pink Floyd, me veio uma lembrança que parece ridícula: quando eu ligava pra rádio, pedindo, por favor, para tocar a música que eu queria. Aí eu ficava colada no rádio para colocar gravar em fita cassete a tal música que eu gostava tanto. Então eu ouvia várias vezes até decorar (obviamente que numa versão só minha, uma paródia inigualável) ou então trocar com alguma colega a letra se fosse possível!

Aí parei pra pensar nas coisas que fazem parte da minha rotina e que não muito tempo atrás não existiam nem mesmo na minha cabeça! E agora fico perdida quando passo um dia sem internet ou se não tenho um cd pra gravar algo que preciso!

Não quero ser saudosista, do tipo: como tudo era mais simples e tal... Mas parando pra pensar em quão rápido as coisas mudam, não só pra mim, mas pra toda uma geração... Pensar que meus netos não vão acreditar quando eu contar que usava internet através de uma linha telefônica!

E por outro lado, pensar que dos meus 16 alunos, 15 nunca tinham encostado em um computador até que minha escola recebeu uma doação de um micro super antigo!
Coloquei-os pra digitar seus textos e fazer um desenho no Paint e eles saíram diferentes, maiores, com a cabeça mais erguida!

Isso faz a gente para pra pensar que na mesma velocidade em que novas tecnologias se incorporam tão rapidamente em nossas vidas (que às vezes nem percebemos), aumenta o vale (pra não dize precipício) entre quem tem acesso a isto e a quem não tem...

Será que vamos continuar nos entendendo por quanto tempo? Será que ainda nos entendemos?

Por enquanto vou levando-os pra digitar um texto no Word (Windows 95) e fazer um desenho no Paint...


Renata, uma mulher não tão plugada nas novas tecnologias, mas que vai sendo levada por elas e trabalha com pessoas que não sentem nem um respingo desta maré.



domingo, 28 de outubro de 2007

Tá faltando pedaço?

Hoje estou especialmente com a sensação de que tá faltando algum pedaço em algum lugar em mim... acabo de me despedir de uma grande amiga. Ela se mudou pra um lugar bem longe do outro lado do oceano. Disse que volta em dois anos. Mas meu coração acha que ela não volta por um bom tempo, ou nunca mais. Nunca mais é muito tempo, talvez nunca mais não exista (tomara!). A primeira vez que a vi era uma patricinha meio jeca, com um sotaque estranho. Eu estava no meu primeiro dia de aula do segundo grau, numa escola nova onde ninguém se conhecia... por coincidência essa patricinha estranha pegou ônibus no mesmo ponto que eu, desceu no mesmo ponto que eu, caminhou para mesma escola que eu e entrou na mesma sala.

Não teve jeito. Ela morava na rua de trás, e nos tornamos grandes amigas. Sou a responsável por ter transformado a patricinha estranha numa mulher muito bacana! Apurei seu gosto musical, apresentei a ela o submundo da noite de Belo Horizonte, compartilhei meus amigos e junto a isso tudo, muitos porres! Nos últimos anos já não se encontrávamos tanto, ela não morava mais na rua de trás. Mas isso não importava, sempre estivemos ligadas.

E agora ela se foi. Estava linda, pronta pra voar quando me despedi dela. Eu não consegui chorar. Acho que nem ela, pois não dava mais tempo de retocar a maquiagem... mas eu choro agora quando escrevo esse texto. Choro de saudade que ainda vai vir, não de tristeza. Mas choro de alegria também por ter a conhecido e vivido tanta coisa bacana ao seu lado. Torço muito pra que a vida dela dê certo, pois com quase trinta, ainda dá tempo de jogar tudo pra cima e começar tudo de novo.


Mariana, quando criança achava que não existiam amigos pra sempre. Mas hoje tem certeza disso, mas sabe bem que eles são poucos, mas pra sempre – perto ou longe. Escreve aqui só de vez em quando...



Colocando a cabeça em ordem

Nossa mente é capaz de grandes viagens. A quantidade de pensamentos que se misturam a todo momento é incrível. Imaginamos soluções, situações, variações, tantas coisas que de vez em quando é preciso parar e analisar para colocar tudo em ordem. Uma catarse para evitar que os pensamentos nos levem para uma realidade inexistente, um mundo obscuro criado pela nossa própria imaginação.

A forma mais gratificante e eficiente de se fazer uma comunicação com o mundo real, e evitar neuras, é através de conversas com outras pessoas. De preferência os amigos, a família. E a correria dos dias atuais dificulta essas conversas tão essenciais. Cadê o tempo pra se jogar conversa fora?

Enquanto isso minhocas começam a proliferar em terras férteis de pensamentos que voam longe.

Agora recorreremos a quem tem tempo pra nos ouvir, mesmo que se tenha que pagar caro para isso: viva os psicoterapêutas e psicólogos de plantão!


Aline: Professora de educação física e mãe em tempo integral, veterinária não atuante... Fiz trinta anos em 2006. Casada, dois filhos lindos (claro!!!! rsrs). Adoro contemplar o mundo e perceber que existe esperança, beleza, alegrias.

sábado, 27 de outubro de 2007

Gentileza

Talvez, caros leitores e leitoras, vocês não se recordem mais exatamente a respeito do que seja gentileza. É uma palavra quase do português arcaico e só não o é devido ao fato de alguns saudosistas, assim como eu, persistirem em utilizá-la.

Trata-se de um substantivo feminino que segundo o Aurélio significa 1. Qualidade ou caráter de gentil. 2. Amabilidade, delicadeza. (2004).
Gentil, palavra derivada de gentileza, seria relativo ao indivíduo nobre, generoso, delicado, gracioso, amável, cortês. Quem é gentil é porque usa de gentilezas! É um adjetivo, logo é uma característica, uma qualidade - rara, muito rara, por sinal.

Podia, a tal da gentileza, ser observada em cenas do cotidiano, como aquela em que se ajudava a velhinha ou alguém que portasse uma necessidade especial a atravessar a rua. Podia também ser observada no casal que passava de mãos dadas, o rapaz sempre atencioso a admirar a sua amada e não Sheilas e Carlas que passassem rebolantes. Ceder um lugar na fila ou um assento no ônibus eram atitudes comuns de extrema generosidade. Mas isso foi há muito tempo atrás...

O que se vê hoje em dia? As pessoas circulam, cada qual com seus botões, não se olham, não se tocam. Cada ser, um mundo em particular. As parafernálias eletrônicas (nem sei se podem mais ser assim chamadas, já que tornaram-se mimos tão delicados e quase imperceptíveis!), como celulares, Mps e Ipods, ajudam as pessoas a não se sentirem tão sozinhas e trazem também um pouco de cor e brilho às almas mais infelizes. É tão custoso assim dar um bom dia para o colega que também segue para o trabalho? É tão difícil e árduo assim dar um sorriso?

Homem gentil é algo mais raro ainda, - mesmo porque chama-se cavalheiro, adjetivo que provém de cavalheirismo, palavra tão velha quanto o rascunho da bíblia, segundo alguns. Mas não posso reclamar: tenho em casa um desses espécimes quase extintos. Sim, meu marido é cavalheiro. Sempre foi e apesar do nosso sufoco cotidiano (casa+bebê+contas+trabalho+estudo+queixas+compromissos...) pergunta como foi meu dia, se preciso de alguma coisa, abre a porta do carro, diz bom dia, boa tarde, boa noite, me liga, entende que trabalho tanto quanto ele e está sempre presente com relação à nossa filha, senta-se na mesa para as refeições e tantas outras coisas que fazem com que eu o admire cada vez mais!

Observo ainda que muitas vezes as pessoas param uma conversa, um bate papo gostoso mesmo, para atenderem uma ligação ou lerem uma mensagem. É claro que há situações em que isso é imprescindível e até agradecemos à tecnologia por isso. Mas será que ler uma mensagem de horóscopo é urgente?! Deixar para retornar uma ligação mais tarde pode ser um ato de extremo cuidado e gentileza com aquele amigo que está ao vivo e a cores em sua frente, esperando para te dar um abraço e não um oi virtual.

Em sala de aula, não posso deixar de falar, tem me dado aflição a insistência de certos alunos com relação ao uso de celulares e companhia. Não é nem mais uma questão de gentileza, é uma questão de boa educação. Alguns parecem andróides, zumbis. Estão de corpo presente, mas a mente está longe, desligada do mundo, ligada em outras coisas. Tenho pensado em dar umas cambalhotas em sala de aula, quem sabe ?!

Por outro lado, algo que eu observo com uma gravidade tão grande quanto a falta de gentileza é o fato das pessoas não saberem receber atitudes de gentileza de alguns poucos. Olham com desconfiança, acham que em algum momento o outro vai querer tirar uma vantagenzinha, um proveito, afinal, “ Por que está me dando o lugar para sentar?! Ah, já sei, tá querendo aparecer para os outros passageiros, não é?!”

É necessário baixar a guarda e aceitar de bom grado a oferta do outro. Apesar de raras, há pessoas gentis e delicadas que ainda não foram contaminadas pelo stress e o corre-corre do dia a dia. Essas atitudes têm que ser valorizadas, pois como diz minha mãe, no auge de seus sessenta anos de experiência, prática docente e sabedoria: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”.


Vanessa considera-se uma pessoa gentil, mas sabe que pode ser mais. Um gesto afetuoso, atitudes de carinho, tornam menos árduas as tarefas rotineiras e mais colorido o dia a dia!

Ah, aproveita para agradecer à equipe do programa FEMININA da TV ALTEROSA, especialmente à repórter ALINE, pela simpatia e carinho durante a entrevista realizada com as DREPENTE 30: LAETICIA, SÍLVIA, ANGÉLICA, TÂNIA e “YO”! Valeu mesmo! Um abraço!



Sobre a época mais feliz da minha vida

Eu acredito que escutar pedaços sem sentido de conversas alheias seja um dos mecanismos mágicos que o universo usa para nos mostrar coisas que precisamos. Não me envergonho de assumir que gosto de prestar atenção nelas, afinal, os ouvidos não têm pálpebras.

Ontem foi um dia surreal no meu cotidiano. Um feriado municipal permitiu que eu tivesse um dia livre que é dia útil para as outras cidades, portanto, perfeito para quem mora no interiorrrrr ir pra cidade grande resolver perrengues pendentes. Acordar às cinco da manhã me estressa, ter que gastar um feriado com perrengues me estressa, filas me estressam e burocracia me estressa. Logo cedo, percorrendo a fila do passaporte em direção ao fim, escutei um pedaço de conversa de algum ilustre desconhecido: “... foi a época mais feliz da minha vida...”. Nem mais nem menos.

Muitas horas depois foi que eu me dei conta que esta frase ficara guardada em mim o dia todo, junto com uma pergunta sendo gerida: “e para mim, qual foi a época mais feliz da minha vida?”.

Depois de “fazer amigos” na aquela fila da polícia (e de me dar conta que hoje costumo conhecer pessoas em filas, em baladas, em bancos), de passear a pé com eles pelo centro de uma cidade semi-desconhecida, de entrar em lojas, só por entrar, mas tendo dinheiro para comprar se eu quisesse, de encontrar o presente perfeito para uma amiga, de conseguir as cordas para o violão que eu decidi aprender a tocar, de me perder a pé, e depois me encontrar, resolvi voltar para casa. E numa estrada linda, sozinha, dirigindo meu próprio carro, cantando com plenos pulmões junto com o som nas alturas, a resposta da pergunta que eu nem tinha percebido que estava lá bateu no retrovisor: é hoje, é agora a época mais feliz da minha vida.

Ainda que sufocada com tantas responsabilidades e tão pouco tempo sobrando, ainda que num período de extrema irritação, onde uma “barraqueira” que eu não sei de onde veio anda tomando conta de mim, ainda que reclamando mais do que devia, e querendo, muito, mas muito mais, eu nunca antes tive a certeza de ser esta a minha melhor fase.

Não tem preço ser independente, fazer as próprias escolhas, saber o que se quer, e do que se gosta. Não tem preço “ligar o dane-se” para o mundo e saber que ele não vai acabar por isso, nem eu, ou fazer as pazes com um amigo por escolha e ficar muito feliz. Estar à espera das minhas primeiras férias de verdade, do Natal com a família, que está longe, mas está em paz. À espera da cavalgada na lua cheia de amanhã, de aprender a fazer torta laite de maçã e de descobrir onde (raios!) fica a plantação de cogumelos que dizem existir por aqui. Mesmo com saudades de muitos amigos e lugares, mas com a certeza de que os que realmente se importam estão lá, me esperando, para que quando nos encontrarmos seja como se fosse desde ontem, apenas, que nós não nos víamos. Quero muito mais, mas não tem preço me dar conta, assim meio por acaso, de que o meu hoje me basta, e vai além, e me faz ter certeza de ser o melhor dos meus hojes.

Eu quero muito mais, mas não tenho mais medos, e receios, e inseguranças sobre tudo o que eu quero. A minha espera top, de ontem em diante, passou a ser daqui pra frente, de vez em quando, me dar conta que o agora é a época mais feliz da minha vida, com tudo de desafiante e estressante, mas com tudo de maravilhoso que ele possa estar contendo na ocasião.


Gisele Lins está meio pasma, mas feliz em finalmente se dar conta de que ser feliz não envolve coisas estrambóticas, e é, ao contrário, quase uma questão de escolha. Ela hoje escolheu ser feliz e escreve aqui aos sábados.



sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Coisas que deixamos para trás

A inocência estampada nos olhos:
Vocês devem se lembrar como era. A espera pelo presente de Natal, o medo das histórias de terror, a alegria e a fascinação pelos contos de fada, a certeza de que promessa feita era promessa cumprida.

O tempo que sobrava:
Acordar quando o corpo acordava, assistir TV, estudar, brincar, sonhar e ainda achar que este dia não acaba nunca.

A memória, nossa aliada:
Das coisas que eu tinha e perdi, a memória é o que mais me faz falta. Lembra como era se lembrar das coisas sem precisar anotar?

A fé nas pessoas:
Não sei ao certo se me lembro como era acreditar nas pessoas, mas tenho a impressão de que a sensação era boa.

A paixão da semana:
Naturalmente como o dia durava muito mais, as coisas que aconteciam na minha vida tinham outra intensidade. Era quase como aquela frase do Renato: "Quando eu lhe dizia eu me apaixono todo dia..."

A certeza do destino e do futuro:
Quando foi que tudo se tornou tão incerto e turvo? De onde veio essa nuvem cinza que chegou tão de repente? Onde foi que eu me perdi daquilo que era certo que eu me tornaria?

O medo de envelhecer:
Algum tempo atrás até a palavra envelhecer era assustadora. Não sei exatamente quando aconteceu, mas o fato é que este medo ficou para trás igualmente de repente. Acho que está lá atrás, no armário, fazendo companhia ao meu medo do bicho papão, da Cuca e daquela bruxa que era madrasta da Branca de Neve.


Milena é uma mulher que tem saudades de algumas coisas que ficam para trás. Escreve aqui às sextas.



Meu Apêndice

Quando eu era criança, eu tinha um apêndice, diferente daquele que só serve pra dar apendicite. O apêndice, ou a apêndice do meu corpo, melhor dizendo, era os braços que eu precisava pra pegar alguma coisa no alto. Era as pernas que me levavam pela escola pra socializar, tímida que sempre fui. Era o olhar ameaçador que me defendia quando algum coleguinha queria brigar comigo. Era a cúmplice que me encobria quando eu fazia algum malfeito.

Minha apêndice também às vezes não concordava comigo, me dava uma pancada e me mandava ficar quieta. Até nisso minha apêndice ajudou minha vida, me ensinando a noção de perigo, e ensinando que manda quem pode, e obedece quem tem juízo. Resumindo, minha infância foi aditivada sempre com super poderes que estavam sempre dois anos, dois números no sapato, vinte centímetros e vinte quilos na minha frente.

A gente cresceu e a apêndice deixou de ser meus braços longos e pernas rápidas pra ser meu grilo falante, aparecendo e interferindo em horas certas pra evitar que eu caísse em uma roubada. Passou a ser o toque de bom humor na minha vida quando me matava de vergonha na frente dos meus namoradinhos. Tudo isso com alguns centímetros e vários quilos a menos que eu. Mesmo assim não me vingo das pancadas, afinal, como ela sempre me diz, “quem foi rei nunca perde a majestade”.

Depois a gente cresceu mais. Aparentemente eu já não precisava mais de braços longos, pernas rápidas, e o grilo falante já não era mais tão necessário assim. Mas quem pensa que abri mão da minha apêndice se engana. Ela se tornou ainda mais indispensável na minha vida, porque agora que eu não preciso do apêndice do corpo mais, eu enxergo que ela sempre foi, e principalmente foi, o apêndice da minha alma. Desses que servem pra bem mais coisas do que pra inflamar.


Sisa tem 28 anos e desde a barriga da mãe ama uma apêndice chamado Laeticia. Acredita que os amigos são os irmãos que a gente escolhe, mas que os irmãos são os amigos que a gente ganha de presente antes de nascer.



quinta-feira, 25 de outubro de 2007

É tão difícil nos colocarmos no lugar do outro...

O “outro” a que me refiro é qualquer outro ser humano, seja ele o marido, o namorado, o amigo, o irmão ou até mesmo (ou principalmente) os pais. È impressionante a incapacidade que o ser humano (não em geral, mas arrisco dizer a grande maioria) tem em entender o outro, mesmo vivendo a mesma situação. A mesmíssima, na qual só se trocam os protagonistas...

Por quê as pessoas são tão egoístas? Por quê as pessoas são tão orgulhosas? Por quê é tão difícil reconhecer os erros e tão fácil apontá-los? Por quê somos mais intransigentes com aqueles que mais amamos? Por quê se comparar com os outros, se somos todos mesmo diferentes? Por quê a procura desesperada pela perfeição?

Não sei...

Será que sempre foi assim ou estamos todos ficando doidos? Ou estou eu?


Fabiana queria muito que não esperassem que ela fosse perfeita... Ela não é! (Alguém é?)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Nova Consciência aos 30

É engraçado pensar como uma simples mudança de idade pode trazer alterações tão perceptíveis, chegar aos 30 é saber o gostinho da liberdade plena, de ter as rédeas da vida (apesar de ainda ter dúvidas no guiar), de não ter que dar satisfação de nada pra ninguém, só pra nossa consciência, que é sempre muuuito boa conosco.

Ao mesmo tempo, começamos a perceber sutis mudanças nos objetivos traçados e nos valores que cada um representa dentro da nossa escala de importância e, com isso, para contradizer a satisfação em ser plenamente livre, vem a necessidade de arrumar uma consciência extracorpórea, aquela que sempre vai pensar de forma totalmente oposta (ao ponto de até fazer xixi em pé) e que vai nos acompanhar simplesmente "até que a morte nos separe".

O pior, ou melhor, disso tudo, é que essas mudanças acontecem de forma tão natural que quando você se dá conta, casou!! Aí, quando acredita que chegou a parte “e viveram felizes para sempre”, descobre que a sua nova consciência tem manias que ferem totalmente a sua consciência antiga, que a casa nova dá mais trabalho que todas as provas feitas na adolescência e que você não tem noção de como é possível ser uma profissional realizada, cuidar da casa (como sua nova situação de esposa exige) e ainda, como as cobranças não são poucas, ter filhos com o dia de apenas 24horas.

Com o passar do tempo, com as adaptações necessárias realizadas (como a instalação da máquina de lavar roupa e o marido cozinhando nos finais de semana) você começa a pensar como foi possível viver tanto tempo sem todas essas “obrigações”. Percebe que ser casada é uma decisão de extrema loucura, mas que é dela que vem a felicidade, em cada conquista na construção da convivência a dois.

No final, percebemos que o motivo de ter a segunda consciência é fazer com que cada um se torne melhor, mais generoso e, principalmente, mais sensível às outras pessoas. E assim, seguindo a ordem natural das coisas, que venham os filhos e com eles o despreendimento franciscano de ser mãe; mas esse já é um assunto para um post bem mais pra frente.


Lina está bem pertinho dos 30 e se delicia com todas as descobertas e mudanças feitas a cada vez que “ele” se aproxima.

Doenças da vida moderna

Dia desses recebi em e-mail de uma pessoa muito especial, intitulado “Como evitar a formação de células cancerosas”. Normalmente não leio estes e-mails, porque vira e mexe pesquiso nos sítios sobre diversos assuntos, inclusive as razões tão aleatórias de surgimento de um câncer (estas pesquisas são uma via de escape, uma maneira de exercitar minha mente de uma forma diferente da qual ela é exigida todo dia). No entanto, em se tratando da pessoa que enviou o e-mail, uma moça linda que, por volta dos 30 anos, teve câncer de mama, precisou inclusive fazer mastectomia e superou tudo, com muita perseverança e amor incondicional de sua mãe e de seu marido, resolvi ler o e-mail.

É um texto bastante esclarecedor: descreve os hábitos saudáveis que ajudam a evitar a formação de um câncer (veja bem, “ajudam”, ou seja, não há garantias, infelizmente). Entre tais hábitos, está uma alimentação balanceada, rica em grãos, frutas e carnes brancas e pobre em açúcar, sal, carnes vermelhas e cafeína. Isso todas nós, mulheres, por razões estéticas ou de saúde, já estamos carecas de saber!

O que mais me chamou a atenção foi um parágrafo escrito no final do texto, dizendo “Câncer é uma doença da mente, do corpo e do espírito. Um espírito pró-ativo e positivo ajudará o guerreiro do câncer a ser um sobrevivente. Raiva, inclemência e amargura põem o corpo em estresse. Aprenda a ter um espírito clemente e amoroso. Aprenda a relaxar e a desfrutar a vida”.

Eu parei e fiquei pensando, pensando, pensando. Cheguei a uma conclusão óbvia, porém difícil de se seguir: a receita para ao menos inibir a formação de um câncer, doença tão devastadora e impiedosa, é o equilíbrio. Equilíbrio entre corpo, mente e alma, “mens sana in corpore sano”, sabe? E tem que ser uma combinação harmoniosa entre eles. Não adianta cuidar do corpo com uma alimentação perfeita e aloprar com qualquer “assuntinho” banal ou ser uma máquina zen de mastigar baboseiras. Os excessos catalisam as ditas doenças da vida moderna, como estresse, depressão, câncer, que além de poderem coexistir, normalmente o fazem...

Acredito que olhar criticamente para a maneira como se vive pode elucidar os hábitos que ajudam a combater estes males modernos. Em tempos de correria como os de hoje, tornou-se quase utópica uma vida com princípios e sentimentos arraigados, girando em uma velocidade um pouco mais lenta e sem carregar um baú amargurado no lugar do coração. Ter prazer em olhar um pouco mais para o verde das folhas, o colorido das flores, em ouvir melhor o barulho das ondas, o cantar dos pássaros e em sentir o cheiro de chuva molhando a terra e o calor insubstituível da pessoa que está a seu lado acabou se tornando um luxo.

É aí que erramos e erramos feio! Estes pequenos hábitos por si só já valeriam a pena praticar, sem qualquer justificativa, simplesmente porque fazem bem. Imagine se eles ainda puderem ser um auxílio, uma proteção contra as conseqüências deste caos em que a vida moderna pode ser resumida. Vamos, tente! Não custa nada inserir pequenas mudanças no dia-a-dia (significativas em longo prazo) e só traz benefícios!

Até a próxima!


Paula admira pessoas que não se deixam abater e sabe que amar a vida é fundamental para vencer nesta selva de pedra em que vive. Escreve aqui toda quarta-feira.


terça-feira, 23 de outubro de 2007

Infância Perdida

Por favor, me digam que as crianças não são um reflexo da gente. Digam que aquelas carinhas, aqueles olhos não nos dizem nada. Digam que os desenhos da escola são só imaginação. Digam que desenho de criança não significa nada. Digam que eu não sou aquilo que elas refletem. Porque se ninguém me disser isso ou eu não conseguir acreditar, vou acreditar que o mundo está mesmo perdido.

Outro dia recebi um vídeo sobre violência doméstica contra a criança. Foi de doer. Eram imagens de vários mamíferos, sempre a fêmea cuidando do filhote e brincando com ele. No final aparecia uma menininha linda com um ursinho na mão e o olho roxo, amedrontada no canto de uma parede. A mensagem era: algumas crianças gostariam que seus pais as tratassem como bichos.

Anteontem vi no jornal uma reportagem sobre um menino de oito anos que, no meio do tiroteio entre polícia e traficantes na favela da Coréia no Rio de Janeiro, conseguiu entregar um desenho pra um agente. Era um morro cheio de policias e traficantes, um helicóptero do alto, chovendo bala pra todo lado. O menino ainda escreveu que não entendia porque o mundo dele era daquele jeito e que se ele pudesse, ia embora. Mas o que doeu mais foi sem dúvida o sol chorando vermelho.

Tenho uma colega da pós que é promotora de justiça e esteve por um tempo no interior de Minas. Foi ela quem começou a investigar denúncias de exploração sexual infantil e prostituição adolescente. Ela foi ameaçada de morte várias vezes. Tinha empresário, político e até padre envolvido. Mas o pior foi descobrir que os pais de muitas crianças e adolescentes não só eram coniventes, como ofereciam os filhos ao abuso e à violência. Conseguiram tirar minha colega da comarca, mas ainda bem que já era tarde. Prenderam todo mundo. Mas não dá pra voltar no tempo.

Eu fui uma criança extremamente feliz. Aproveitei cada minuto de uma época em que minhas maiores responsabilidades eram ter tomado banho antes de mamãe chegar do trabalho e não deixar brinquedo espalhado pela sala. Enquanto não me dei por gente, eu tinha, no máximo, que fazer o para-casa direitinho e tirar nota boa na escola. Fazendo isso, tudo o mais era festa. No nosso aniversário (era sempre uma festinha só porque eu e minha irmã fazemos aniversário muito perto uma da outra), sempre tinha bolo, guaraná, pipoca, macarrão frito e brigadeiro; tinha muito balão, inclusive uns cheios de água pra gente fazer bagunça. Nossa casa era um sonho. Tinha árvore, terreiro, casinha de cachorro. Mamãe deixava a gente montar acampamento no quarto dos fundos e fazia brigadeiro pra gente comer de colher debaixo dos lençóis brancos dela. De vez em quando me pegava dormindo com a Germana na cama (nossa pastora alemã) e fazia vista grossa. Deixava Cecília deitar no sofá com o Yanaros, filhote da Germana, enquanto ele coube no sofá. E deixava a gente nadar na piscina de plástico junto com os cachorros. Nunca apanhei, só levei uns puxões de orelha e uns tapas na bunda, quase que de brincadeira. Ficava era de castigo no pé de jabuticaba até minha mãe deixar eu descer. Às vezes eu aprontava e ela me proibia de viajar, de ir em festa de coleguinha, não dava o presente prometido e suspendia a brincadeira com o brinquedo preferido. Eu ficava meio brava e se não me engano cheguei a falar com ela uma vez que ela estava me espancando por causa de uns tapas nas pernas bem tomados que levei.

Naquela época, eu nunca ia imaginar que existem mães e pais que realmente espancam o filho até ele ficar roxo, quebrar braço e perna. Nunca ia imaginar que tem criança que mora em lugar que tem briga, quem dirá tiro de fuzil. Não sabia que tem criança que não come danoninho todo dia, que não vai pra aula, que não passa férias na praia. Não sabia que tem criança que sofre violência de todo tipo o tempo todo por qualquer pessoa porque não tem quem a defenda. Eu não sabia que não era toda mãe que cuidava com carinho do filhote.

Há muito tempo tomei consciência de tudo isso: da violência, do crime, da desigualdade social, da miséria humana. Isso tudo me provoca náusea pela minha própria impotência. Tenho feito de tudo pra contribuir pra acabar com isso, mas parece que a cada vez que eu denuncio uma agressão, surgem mais dez crianças agredidas. Não consigo entender um adulto agredir uma criança, se aproveitar da fragilidade dela. Não há nada mais indefeso no mundo. É muita covardia. E os desenhos, estes acabam sendo sim um reflexo do que nós mesmos estamos nos tornando.


Laeticia tem 30 anos e viveu plenamente a sua infância. Brincou, brigou, quebrou, machucou, riu e se divertiu muito. Fica chocada com violência contra a criança e começa a ver o sol chorando vermelho também. Não vai deixar de denunciar nunca.
DISQUE DENUNCIA NACIONAL DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES - 100
http://brasilcontraapedofilia.wordpress.com/sobre/


Eu anseio, tu anseias...

Sou ansiosa. Meu peito aperta quando não sei o rumo que certas situações vão tomar. Mas como saber? Bola de cristal, talvez... Nos momentos de ansiedade, angústia, me cobro saber de tudo ou ter previsto as conseqüências antes de escolher viver aquela situação. Enfim, me cobro perfeição. Quão tola sou! Mesmo sabendo da impossibilidade de controlar tudo ao meu redor, ainda continuo me cobrando e será assim ainda por um bom tempo. Até eu me aceitar imperfeita, ser mais paciente comigo mesma, com meus erros, minhas frustrações... Eu sei disso tudo e por que ainda me assunto com minhas crises de ansiedade? Porque o processo de aceitação, de transformação é lento, chato. Lembro-me que já foi pior. Não conseguia conter meus impulsos, hoje convivo melhor com eles e já não cedo tanto quanto antes...

Sou romântica. Dificilmente me interesso por um homem. Mas se me interesso, meus olhos brilham e isso não dá pra esconder. Agora cismei de querer controlar o meu coração. Não quero que ele sinta qualquer coisa antes de eu dizer “Agora pode!” Olha a tola aí de novo! Que medo é esse? De amar? De perder, outra vez, um amor? Sim, sim, sim. E posso piorar tudo com esse “pé atrás”. E pioro, pra mim.

Quero relaxar, viver um dia de cada vez, sem esperar tanto de mim, mais do que posso me dar... Ficar de bem comigo pra ficar de bem com os que estão à minha volta.

Eu sei dos meus erros, quero corrigi-los, pra ontem. Que pressa é essa? É ela, a ansiedade. Como expulsá-la daqui de dentro? Não dá. Se você não pode contra o inimigo, junte-se a ele. Talvez assim consiga torná-lo mais frágil. Já disse Sun Tzu em “A Arte da Guerra” que o bom combatente vence o inimigo sem lutar.

Ouço com prazer. Mas quem me ouve? Os amigos, no mundo globalizado, preocupam-se mais com os próprios problemas. É tanta correria que nem dá tempo de olhar o outro. Acudi-lo. Eu sou o ovni do séc. XXI que sempre estende a mão antes de dizer “Eu preciso que me ouça”. Será que devo me globalizar? Não sei, aliás, sei pouco hoje. Melhor esperar a sanidade voltar e aí sim, pensar, fazer, me entender comigo mesma.


Esta é a Angélica em surto de ansiedade, confusa e um tanto triste. Nessas horas ela enxerga tudo torto e cheio de defeitos, inclusive ela mesma. E tem amnésia, esquece o quanto já evoluiu desde que se descobriu uma ansiosa nata. Espera que, até terça que vem, esta nuvem negra já tenha ido embora, fazer chover em outras bandas...



segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Os dados estão lançados

Tenho sempre muitas dúvidas e muitas expectativas; fico me perguntando por que não conseguimos prever exatamente as nossas reações e as dos outros, por que nos arrependemos sempre depois de alguma frase que não deveríamos ter dito, ou de algo que não deveríamos ter feito, seria tão bom se conseguíssemos nos arrepender antes de fazer e, assim, simplesmente, não faríamos, não magoaríamos ninguém ingenuamente ou sem querer; mas nem sempre conseguimos nos deter e apenas vamos em frente, às vezes, pedindo desculpas.

É estranho o sentimento após esses atos, muitas vezes impensados, outras extenuantemente analisados, refletidos e, ainda assim conseguem provocar as reações mais diversas. Usualmente imagino a cena dezenas de vezes novamente, de trás pra frente de frente pra trás, com modificações, aprimoramentos - ah se tivesse ficado de boca fechada!, se não tivesse ligado de novo!, se não tivesse tentado!, etc, etc, etc – e sinto que retorno com freqüência a esse lugar que já me é comum, o muro das lamentações, mas sinto também, talvez como uma forma de amenizar a situação, que eu sou assim mesmo, que as pessoas que gostam de mim me entendem, me compreendem e sabem que não fiz por mal e, apesar de realmente me sentir convencida disso uma vozinha lá no fundo me pergunta: será?

De qualquer maneira, a impulsividade nem sempre pode ser controlada, nem o egocentrismo que por vezes me domina, a inquietude, a impaciência e o desejo voraz de que algo deve ser feito e a dúvida esclarecida, enfim, os dados devem ser lançados e isso definitivamente sou eu.


Silvia menos egocêntrica hoje do que há alguns dias atrás, melancólica, arrependida de ter feito uma brincadeira infeliz e ainda sem coragem de pedir desculpas.



Exposição e vulgarização

Vivemos em tempos em que a comunicação está em todos os lugares e em todas as coisas. Ela é acelerada, e não mais demoramos a receber notícias, como era na época em que não havia avião, não havia telefone, não havia rádio, nem computador, nem televisão, celular, então, nem pensar! Os meios de comunicação de nossa época superam a imaginação de qualquer Júlio Verne, e vai bem além dos melhores livros e filmes de ficção científica do século XX.

Entretanto, a rapidez das mudanças tecnológicas não nos deu tempo para nos acostumarmos a elas e a sabermos usa-las com prudência. Exemplo disso é como nos tornamos vulgares ao expormos nossas vidas, nossas intimidades nesses meios de comunicação. Nenhum filme pornográfico é mais vulgar do que os relatos que assistimos pela televisão sobre a vida íntima de famosos ou de pessoas comuns que aparecem em tais programas para contarem sua vida sexual com seus parceiros. Pior ainda foi como muitas pessoas passaram a usar a internet para se exibirem, como uma vitrine. Prostituição é profissão, e muitas das pessoas que levam essa vida não tiveram outra escolha. Já as imagens e vídeos da internet são piores. São pessoas que querem se expor. E elas nem percebem que, se expondo assim, atraem a atenção de pessoas que agem de má fé, de criminosos mesmo. Tanta gente é vítima de crime pela internet porque se expôs demais, se vulgarizou, contou e mostrou toda a sua intimidade nos sites, blogs, orkuts, etc. A vontade de serem vistas, de contarem suas vidas, de desabafarem para o mundo, e até de se vingarem de algum ex-amor tornou essas pessoas vulgares.

É doloroso perceber que, quanto mais nos expomos, mais sozinhos estamos. Contar seus problemas e suas intimidades para o grande público pode ter virado moda, até cultura, mas não contribuiu para aproximar as pessoas como era o propósito dos meios de comunicação.

Aprendemos a expor nossos problemas, mas não a resolvê-los. Hoje todo mundo mete a colher em briga de marido e mulher. Aliás, as brigas de marido e mulher são compartilhadas para o mundo pelos programas de televisão, e eles não se entendem mais. Vale mais o show do que a reconciliação. Os quinze minutos de fama mostrando os podres de cada parceiro valem mais do que todos os momentos bons, tudo o que passaram juntos, mais do que a união.

Será que o preço pela modernidade é a solidão diante de todos?


Tania adora as novas tecnologias, mas é paranóica e tem medo e horror de superexposição. Ela acredita que roupa suja se lava em casa, e concorda com a música da Dalva de Oliveira de que “seu mal é comentar o passado/ninguém precisa saber o que houve entre nós dois”.

domingo, 21 de outubro de 2007

Anjos que passaram pela minha vida

Há pessoas que passam pela nossa vida deixando muita saudade, fazendo a gente perceber como o ser humano pode ser maravilhoso, em qualquer parte do mundo, falando qualquer língua. Há três pessoas que passaram pela minha vida e que agradeço a Deus por tê-las colocado no meu caminho, especialmente naquele momento.

Foi em 2006, quando fui fazer doutorado sanduíche em Poznan, na Polônia. Passei 10 meses lá, naquele país que me deixava tonta só de ouvir a língua deles. Foi uma experiência maravilhosa, mas com muitos momentos difíceis também. Lembro que meu primeiro pensamento quando me vi naquela cidade foi: “Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?”. Tive vontade de pegar o primeiro vôo e vir embora. Os primeiros dias foram difíceis, tinha muita saudade de tudo que deixei aqui.

Na primeira semana precisei fazer meu seguro saúde e tinha que ir a universidade pegar uma declaração de que estava estudando lá e ir ao escritório do seguro. Como fazer isso sozinha?? Impossível!!! Então meu orientador pediu que uma aluna do observatório onde eu estudava fosse comigo, e foi quando começou minha primeira amizade polonesa.

Com o passar do tempo, eu diria, rapidamente, fui ficando amiga de três alunas de lá, que se tornaram meus verdadeiros anjos da guarda. As três tem estilos totalmente diferentes, mas cada uma especial a seu modo.

A Regina foi a primeira, quem me levou para fazer o seguro e passou então a ser minha segunda voz. Coitada, ia comigo a todos os lugares onde eu precisava falar alguma coisa: banco, restaurante para ensinar o cardápio, recepção e direção do alojamento onde eu morava (onde eu tinha um problema a cada semana, rsrs), correio, etc, etc, etc. O mais incrível é que nunca, absolutamente nunca ela tinha má vontade em me ajudar ou ir a algum lugar comigo, pelo contrário, eu sempre tinha certeza de que fazia de coração. Ela também resolvia meus problemas com computador e me ensinou com toda a paciência do mundo a usar o maldito Linux, que eu não sabia nem como criar ou deletar um arquivo e precisava para rodar um programa que só podia ser executado nele. As vezes ela me ensinava alguma coisa e meia hora depois eu já tinha esquecido... não tinha problema, lá estava ela, com a maior boa vontade do mundo para me ensinar tudo de novo. Ela também almoçava comigo todos os dias para me fazer companhia, mesmo as vezes estando cansada e ainda tendo que pegar o trem para ir embora pra casa, pois ela mora na cidade vizinha. Segurou minha barra em todas as vezes que eu chorava de saudade de casa, ou que eu me irritava com alguma coisa errada ou quando eu tinha vontade de matar as recepcionistas do alojamento.

A outra é a Justyna, um doce de criatura. Demorou um pouco mais para ficarmos amigas porque ela é extremamente tímida e achava que não conseguia falar inglês muito bem. Ela é casada e o marido dela também era muito amável comigo, sempre disposto a ajudar. Nossa, fizemos muitas festas na casa deles, sempre regadas a muuuuuuuuitas garrafas de vinho e furious dog (vocês podem imaginar quão fraquinha era essa mistura). Acho que o sonho deles era me embebedar, mas nunca conseguiram, descobri o que nem eu mesma sabia: sou forte para bebidas!!!! Rsrsrs.Claro que eu ficava bem alegrinha, quase falando polonês fluentemente, mas nunca de porre. Eu tenho uma relação muito legal com a Justyna, ela conseguia me entender mesmo sem eu falar muito, bastava olhar para mim, e as vezes eu ia na sala dela só para ter um pouquinho de colo. Ela também dizia que era estranho, porque eu a entendia e a conhecia melhor do que algumas amigas polonesas. Fizemos muitos passeios juntas, viajamos e ela era a que mais gostava de me mostrar a culinária polonesa. O máximo foi quando me apresentou a cerveja quente em uma das viagens... cerveja literalmente quente, numa temperatura de uns 80 graus, com cravo... e eu tomei duas canecas de 500 ml cada. Rsrsrsrs

Meu terceiro anjo foi a Magda. Ela é fofa e com magnificos olhos azuis. Eu costumava dizer que odiava aqueles olhos azuis dela. Rs. Ela é a mais engraçada de todas, é extremamente responsável e batalhadora, mas mantém um jeitinho infantil e ingênuo que fazem dela uma criatura especial. Ela faz umas caretas para tudo e também faz uns sons estranhos que só ela consegue. Viajamos e passeamos muito juntas e foram momentos inesquecíveis.

Passados os 10 meses, meu sentimento era confuso: ao mesmo tempo que queria muito vir embora, porque a saudade era grande, também não queria sair de lá, deixar para trás aquela que passou a ser minha segunda família, sem saber se algum dia iria vê-las de novo.

Em algum momento, não sei qual de nós, passou a dizer que éramos 4 irmãs. E é isso mesmo, elas são para mim muito mais que amigas, são pessoas que passaram pela minha vida e fizeram o papel de anjos protetores. Hoje, dedico esse texto a elas e gostaria de dizer: MUITO OBRIGADA POR VOCÊS TEREM PASSADO PELA MINHA VIDA E DEIXADO RECORDAÇÕES TÃO DOCES. VOCÊS SERÃO SEMPRE MINHAS IRMÃZINHAS POLONESAS!

Elas vão ler esse texto, porque eu vou traduzir para elas...


Vivian passou 10 meses do outro lado do oceano, sem falar a língua local, sem conhecer os costumes, longe das pessoas queridas, mas nunca esteve sozinha.




Angels who passed by my life


There are people who pass by our lives and leave us missing them so much, what makes us to realize how human being can be wonderful, in any part of the world, speaking any language. There are three people who passed by my life and I thank God everyday for having put them in my way, specially in that moment.

It was in 2006, when I went to study in Poznan, Poland, as part of my doctoral research. I spent ten months there, in that country that makes me dizzy only for listening to their language. It was a wonderful experience, but also with many hard moments. I still remember my first thought when I arrived there: “My God, what am I doing here?” I felt like taking the first flight and coming back. The first days were hard, I missed a lot everything I had left back.

In the first week I needed to contract a health insurance and had to go to the University to get a declaration that I was studying there, and then go to the insurance office. How to do it by myself?? Impossible!!! So, my Professor asked a student from the Observatory where I was studying, to go with me, and in that moment it started my first Polish friendship.

As time went by, I’d say quickly, I became friend of three students there, who were my real guardian angels. The three of them are completely different, but each one of them is special in their own way.

Regina was the first one, who took me to the insurance office and then became my second voice. Poor she, she went with me to every place where I had to say something: bank, restaurant to teach me the menu, reception and direction of the hostel where I lived (and where I had a new problem every week, rs), post office, etc, etc, etc. The most amazing fact about it is that never, absolutely never, she was not willing to help me or to go somewhere with me, on the contrary, I was always sure that she was doing it with heart. She also solved my problems with computer and taught me, with all patience in the world, to use the damn Linux, for I didn’t know even how to create or delete a file, and I needed it for using a program that could only run on it. Sometimes she taught me something and half an hour later I had already forgotten… no problem, there she was, with all willing in the world to teach me everything again. She also had lunch with me everyday to be a company for me, even when she was tired and still having to catch a train to go back home, as she lives in another town. She held my hand every time I was crying for being homesick, or when I got angry with something wrong or when I felt like killing the receptionists of my hostel.

The other is Justyna, a sweet creature. It took a bit longer for us to get friends, because she is extremely shy. She is married and her husband was also very kind with me, always willing to help me. Wow, we had many parties at their home, always with maaaaaaaaaany bottles of wine and furious dog (you can imagine how light this mix was). I think their dream was to make me drunk, but they never got it. I found out something that even I didn’t know: I’m strong for drinking! Rsss Of course I used to be very happy, almost speaking Polish fluently, but never really drunk. I have a very nice relationship with Justyna, she got to understand me even when I didn’t speak much, it was enough just to look at me, and sometimes I went to her office just to get some cherish. She always said that it was weird, because I understood and knew her better than some Polish friends. We went for many walks, travelled together, and she was the one who liked more to show me the Polish cuisine. The highest point was when she introduced me to hot beer during one of the trips… literally hot beer, about 80 degrees, with clover… and I took two mugs of 500 ml each. Rsss

My third angel was Magda. She is cute, with wonderful blue eyes. I used to say I hated her blue eyes, rs. She is the funniest of them, extremely responsible and persistent, but she keeps a childish and innocent way of being that makes her a special creature. She makes funny faces for everything and also some weird sounds that only she can do. We travelled and walked around many times together and those were unforgettable moments.

After 10 months, my feeling was confused: at the same time I wanted to come back, because I was missing home so much, I also didn’t want to leave behind those people who turned into my second family, without knowing if I would see them again.

At some moment, I don’t know which of us, started to say that we were like four sisters. And that’s it, they are for me much more than friends, they are people who passed by my life and acted as protecting angels. Today, I offer this post for them, and I would like to say: DZIEKUJE BARDZO FOR HAVING PASSED BY MY LIFE AND LEFT SUCH A SWEET MEMORIES. YOU WILL ALWAYS BE MY POLISH LITTLE SISTERS.


Vivian spent 10 months across the ocean, without speaking the local language, without knowing the local costumes, far away from beloved ones, but she was never alone.



Críticas

Nem sempre é fácil ouvir e aceitar críticas. Ainda mais quando está se esforçando para fazer o melhor... Porém muitas vezes as críticas devem ser bem vindas, analisadas e utilizadas para, quem sabe, um aperfeiçoamento.

Há muito tempo ouvi de uma professora que a primeira coisa que devemos fazer quando ouvimos um julgamento é conceituar a pessoa que o fez, a importância que ela tem para nós. Às vezes é um gesto de censura que deve ser simplesmente ignorado.

Existem pessoas que não perdem tempo em criticar. Tudo precisa ser revisado, nada está bom, nunca... A cobrança com os outros é sufocante. E algumas vezes essas mesmas pessoas são relutantes em ouvir qualquer opinião, principalmente quando é sugestão de mudança.

Também existem pessoas que não conseguem ouvir uma crítica sem se sentirem ofendidas.
Não é fácil, mesmo quando se tenta fazer o bem, criticar. Mas alguns pontos devem ser considerados. O tom de voz, a compreensão claramente expressada e um local reservado certamente são cruciais...

Em qualquer relacionamento, seja afetivo seja no trabalho, alguns ajustes precisam ser feitos. E a melhor forma de se fazer é através do diálogo. Que essas concessões sejam feitas em clima de paz!


Aline: Professora de educação física e mãe em tempo integral, veterinária não atuante... Fiz trinta anos em 2006. Casada, dois filhos lindos (claro!!!! rsrs). Adoro contemplar o mundo e perceber que existe esperança, beleza, alegrias.



sábado, 20 de outubro de 2007

Os Incríveis Lumpa-Lumpas

Lumpa Lumpas são iguais aos seus. Acordam todos os dias no mesmo horário. Fazem seu trabalhinho cantando, felizes e contentes, e nunca pararam para pensar sobre isso. Há, claro, Lumpa Lumpas não pensam, que maravilha, são apenas executores!

O hino dos Lumpa Lumpas não é o “Dumpa Lumpa Lumpa Di Dá”, que todos conhecem. Na verdade, se tocado de trás pra frente esta célebre e inocente canção passa a ser ouvida como “Hei, teacher, leave those kids alone...” do Pink, só que já faz tanto tempo que Lumpa Lumpas não têm tempo para ouvir música (muito menos de trás pra frente), que este fato virou apenas uma lenda entre eles, mas ele é verdadeiro.

Lumpa Lumpas fêmeas não fazem as unhas, não vão à academia, não lêem livros, pois elas não precisam disso. Nem de nada. Nem teriam tempo para estas coisas, pois precisam dormir bem para trabalharem bem, e o tempo que lhes resta é para se alimentarem bem para trabalharem bem. Lumpa-Lumpas são gordinhas por isso, mas são felizes assim e jamais pensam em como gostariam de usar um macacão branco justésimo no Ano-Novo.

A única razão de ser dos Lumpa Lumpas é subsistir e eles nem cogitam a hipótese de que existam outras formas de existir, muito menos de viver. Lumpa Lumpas são os ancestrais dos Delta de Huxley. E eles são felizes por cumprirem seu papel na sociedade. E só (para quê mais?). Seu maior sonho é o de serem aceitos por seus iguais e de vez em quando ganhar um elogiozinho.
Uma bela manhã, as sete e dezesseis, enquanto calçava o pé esquerdo de seu sapato, como todos os dias, um Lumpa Lumpa viu na tevê (que transgressoramente estava ligada naquele horário... Há aquele já foi um dia predestinado para o desastre) que um jovem ganhava dez milhões por ano vendendo bonequinhos horrendos, mas cujo design era considerado arte. Arte? Design? Dez milhões de dólares? Viver de sua criação? Trabalhar por produtividade, e não por carga horária? Um sopro de vida entrou no ouvido do Lumpa Lumpa e chegou ao seu coração, e ele quis algo mais, por um milésimo de segundo. Mas corações de Lumpa-Lumpas não são preparados para isso. Ele morreu de palalá de cadique na mesma hora, sendo que o doutor acrescentou no atestado de óbito (que obviamente foi divulgado na empresa onde ele trabalhava) - motivo: “insubordinação”.

Certa feita uma Lumpa Lumpa acordou sentindo-se especial, única, e colocou uma flor no cabelo. Suas colegas ficaram indignadas, onde já se viu uma indecência desta, julgando-na indigna de sua companhia no horário da ração. Os Lumpa Lumpas julgaram que ela queria chamar a atenção, e sentiram-se no direito de fazerem gracinhas e de desrespeitarem-na, apenas por ela estar diferente. A Lumpa Lumpa por muito tempo foi motivo de fofocas e intrigas, e acabou se isolando no seu próprio mundo, no seu próprio trabalho. Hoje ela fala sozinha e julgam-na meio tantã. Ela não dá mais bola, pois percebeu que seria julgada de qualquer forma, apenas por ser um pouco diferente. E se isola em seu próprio mundo.

Lumpa Lumpas temem o desconhecido, o novo, a insegurança, o risco. Mesmo para se relacionar com Deus (o que para eles nem é proibido) são metódicos. Sair da rotina é a principal causa de suas doenças e questionar a vida é motivo de morte certa e súbita. Porém, é assim que Lumpa-Lumpas são muito felizes e assim querem continuar sendo!


Hoje é daqueles dias em que Gisele Lins acordou tendo absoluta certeza de que é uma Lumpa Lumpa. Isso a deixa muito feliz, pois desde criancinha ela sonha em ser uma Lumpa Lumpa. Ela escreve aqui aos sábados, às 14h 17min.
(Agradecimentos à Aldous Huxley e O Teatro Mágico, pela inspiração – ou por destacarem a falta dela)


Parodiando Drummond

"Um aluno cabeludo,
desses que vivem pulando muros,
me disse: “ Vai, professora,
vai vê se eu tô na esquina..."


Eu fui. Vou sempre, pra falar a verdade. Já disse aqui que educador é aquele que acredita no ser humano, mesmo quando ele não acredita mais em si mesmo. Os alunos que recebemos hoje não são mais os de antigamente. Muitas vezes eles vêm para a escola buscando tudo, menos conhecimento. O professor acumula várias funções, como a de psicólogo, médico, enfermeiro, motorista de ambulância, além da sua própria função de educador.

As escolas também passaram a ser espaços de multiuso, o conselho tutelar, inclusive, sempre nos faz umas visitinhas, mas infelizmente a comunidade escolar, principalmente a fatia onde se lê “pais de alunos”, não é comprometida.

Penso que seria tão bom e tão mais proveitoso se pudéssemos trabalhar juntos. Seria tão melhor para os alunos, que certamente sentiriam-se amparados por dois pilares importantíssimos em sua formação: família e educação.

Recordo-me de situações ímpares (?), como a de um pai que falou que se o seu filho de 5ª série não me obedecesse que eu tinha a sua permissão para lhe dar umas boas bofetadas. Além disso disse também ameaçou o filho na minha frente com uma marreta que estava carregando. Eu chamei a atenção do pai, obviamente, mas ele disse que estava educando seu filho. Educando...

Um aluno cabeludíssimo, também de uma 5ª série, teve os pais chamados pela supervisão. Vieram o menino chorando, a mãe chorando e o pai bêbado. No dia seguinte o menino não apareceu. Dias depois ele chegou e me mostrou as costas marcadas por correiadas que ele ganhou do pai. O pai foi também chamado e ele argumentou que se a escola não estava dando conta do menino que então deixássemos ele educar o filho do jeito dele. Educar...

Há inúmeros exemplos que poderiam ser tecidos aqui. Eu estou pedindo socorro , enquanto educadora. Os pais não entendem, o governo não comparece, os alunos se perdem... mas eu vou sempre atrás.


Ah, o que eu posso dizer? Vanessa é brasileira e não desiste nunca!!!





sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Irritando Milena - parte I

Depois de um feriadão prolongado na praia - que foi muito, muito bom devido ao mar que estava lindo, e aquela coisa toda - aos quase 30 anos, decidi enumerar as coisas sem as quais eu viveria muito bem. Aliás, ouso dizer que sem essas coisas o mundo realmente seria um lugar muito melhor...

Update: enquanto escrevia, percebi na maioria das vezes não são coisas que me irritam e sim pessoas. Estranho não é?

Pessoas que passam a 30 Km/h no radar de 80 km/h.
Pessoas que diminuem a velocidade quando passam em frente à Polícia Militar Rodoviária.
Pessoas que ultrapassam pela direita só para chegarem 5 minutos mais cedo.
Pessoas que compartilham seu gosto musical em alto e bom som na rua ou em qualquer outro lugar.
Flanelinhas.
Pessoas que são contra uma causa tipo "Mc Donald's" uma lanchonete que faz o lanche que quer, cobra o preço que quer e as pessoas compram porque querem.
Balconistas de farmácia que querem vender o remédio com maior margem de lucro e não o com melhor custo-benefício.
Pessoas que tem certeza de que o mundo gira em torno delas.
Policiais corruptos.
Todo tipo de gente corrupta.
Cidadãos corruptores.
Pessoas que tem razão sobre tudo.
Pessoas que não sabem formular perguntas.
Pessoas prolixas.
Pessoas que querem levar o crédito pelo trabalho dos outros.
Pessoas que subestimam minha inteligência.
Pessoas que tiram proveito de tudo e de todos.
Pessoas que respondem sobre o que não sabem.
Pessoas que ligam no telefone residencial dos outros em horários extremos.
Ficar "no vácuo" no msn ou coisa que o valha.
Pessoas que não lêem direito e interpretam equivocadamente.
Pessoas que nunca tem tempo para nada.
Acordar antes do despertador.
Computador temperamental.
Dispositivo com defeito que fica bom na frente do técnico.
Pessoas que falam excessivamente ao telefone.
Pessoas que falam muito alto.
Pessoas que falam muito baixo.
Papel demais.


Milena passou uma semana do cão, se irritando com tudo e com todos. Mas ainda bem que hoje já é sexta e o Natal está quase aí. Escreve aqui às sextas.



Pessoas são descartáveis

Eu sempre jurei o contrário. Pessoas pra mim eram insubstituíveis. Descartáveis então? Nem pensar. Descartável era, pra mim, sinônimo de lixo. Mas de um tempo pra cá mudei meu ponto de vista. Vou ilustrar com exemplos, que espero que mostrem bem como me sinto em relação ao assunto.

Sabe aquela amiga que você conhece desde a adolescência? Aquela que vive na sua casa, você vive na dela? Sua família adora aquela pessoa, você na casa dela sente como se estivesse no quintal da sua. A história de vocês é cheia de momentos bons, seu ombro conhece as lágrimas dela como ninguém. Aí um belo dia, seu chão desaba sob seus pés, e você tenta se agarrar a ela, que vira as costas sem dó e vai cuidar da vida dela.

Também tem aquele amigo, fechadão, que não se abre com ninguém, e você, com todo jeitinho, vai se aproximando, tentando ser amiga, com medo de ser invasiva. Vai se aproximando devagar, dois passos pra frente, um passo pra trás, até perceber, feliz, que ele confia um pouco em você e começa a se abrir. Um belo dia, ele passa por você na rua e te ignora solenemente. Você quer saber o que fez de errado, mas ele acha que você nem é digna de uma explicação. Um tempo depois reaparece sorrindo, como se nada tivesse acontecido, e você o aceita de braços abertos. E isso acontece outras e outras vezes, não somente com você, mas com todos que o rodeiam. Ele passa a ignorar as pessoas sem explicação. Quando ele decide que novamente as pessoas são dignas da presença dele, reaparece sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

Tem aquela outra pessoa que foi muito especial na sua história. Te amou e cuidou de você com dedicação. Fez parte da sua história e permitiu que você fizesse parte da dela. Você retribuiu sendo amiga, um porto seguro. E esta relação era tão especial que nem quando ela faz uma intriga envolvendo seu nome, você se importa. Até que as intrigas te envolvendo ficam tão frequentes e graves, que o tempo que você gasta tentando desfazer os mal entendidos é maior que o tempo que você efetivamente passa ao lado desta pessoa.

Mais uma era aquela pessoa descompensada que todo mundo detestava. As pessoas não se importam em dizer na cara dela "eu não gosto de você". Ela ri e fala "como as pessoas são brincalhonas!" e continua sendo inconveniente, impertinente, indiscreta. E você não quer ser mais uma pessoa a abandoná-la. É a única que tem paciência. É a única que oferece uma mão. E esta louca tem surtos e volta e meia te trata mal. Até o dia que, em um congresso, na frente de centenas de pessoas, te destrata várias vezes seguidas na frente de todo mundo, gargalhando e sendo o centro das atenções enquanto você, perplexa, tenta entender o que está acontecendo. No dia seguinte, mais um coice em público. Minutos mais tarde, precisando de um favor, se reaproxima como se nada tivesse acontecido.

Este tipo de pessoa é, sim, descartável. Depois de muito pensar, um tempo atrás joguei estas quatro pessoas na lixeira da minha vida. O mal que elas me faziam já era muito maior que o bem que nos uniu. Não fazia sentido manter na minha vida pessoas que aproveitavam a proximidade pra me ferir. Não valia a pena manter uma pessoa na minha vida que demandava tempo e energia preciosos, na tentativa me explicar com pessoas que ela envenenou contra mim.

Claro que há os casos de amizades sinceras que são abaladas por um mal entendido. Neste caso, não tenho a menor vergonha de me aproximar da pessoa e dizer "Volta, vem viver outra vez ao meu lado". Mas estas não se encaixam na categoria "pessoas". Se enquadram na categoria "anjos". Quanto às já citadas, são sim descartáveis, o que não quer dizer que a vida não possa nos dar a oportunidade de reciclá-las um dia. Mas até papel, pra ser reciclado, precisa ser batido no liquidificador, virando uma mistura estranha. Até tomar a forma de papel novamente, gasta-se muito tempo e trabalho.


Sisa, 28 anos, aprendeu que as pessoas são descartáveis. Acredita que algumas delas são recicláveis, mas outras são mesmo lixo tóxico. Quer distância das recicláveis, e mais distância ainda das tóxicas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Vantagens e desvantagens de uma cidade com 60.000hab

Quando tive que me mudar para uma cidade pequena, no interior do sudoeste do Paraná, quase morri de angústia, mas você sabe que há muitas vantagens e lógico que também, desvantagens em se morar numa cidade assim!?

Vantagens:

1.  Você conhece todo mundo
2.  A cidade onde moro possui o menor índice de analfabetismo do estado
3.  Não há mendigos nas ruas e nem molecada cobrando para estacionar o carro
4.  Os carros param pra você atravessar na faixa, mesmo quando não existe semáforo
5.  Aqui você inspira e expira qualidade de vida, o ar é puro
6.  Tudo é perto, tipo 15 min (de carro) o lugar mais longe
7.  Posso almoçar em casa e ainda dá tempo de tirar um cochilo e fazer outras “coisas” também
8.  Tem locadora com ultra tecnologia na hora da locação
9.  Não tem pessoas de bicicletas disputando a rua com o seu carro
10.  As pessoas são bem calorosas e receptivas
11.  Há bons colégios e faculdade
12.  Meu marido gaúcho se sente em casa, porque aqui as pessoas andam com o chimarrão pra baixo e pra cima!

Desvantagens:
1.  Todo mundo te conhece e sua vida já não é tão só sua!
2.  Como há poucos restaurantes bons, sempre tem fila na hora de almoçar
3.  A cidade é cheia de morros, fico cansada só em me imaginar andando a pé aqui, até o carro cansa na subida (o meu que é 1000, claro)
4.  Não tem shopping pra passar o tempo, mas isso não te ajuda a economizar porque as roupas são muito caras pois não há muitas opções de loja
5.  O custo de vida não é diferente de uma cidade grande quando falamos de aluguel e supermercado
6.  Não tem cinema (isso me frustra muito!)
7.  O Mac Donalds mais próximo fica a 400km!! :(
8.  Todas as lojas fecham ao meio dia para o almoço! (quase morri quando vi isso!)
9.  Meu filho, infelizmente, vai ter um sotaque miserável!

Bom, fiquei feliz, pois consegui elencar mais vantagens do que desvantagens....Mas confesso que só a falta do cinema vale pela diferença entre o número de vantagens e desvantagens!!!


Débora ama cidade grande, mas admite que está se rendendo aos encantos de uma cidade pequena.



quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Às pessoas especiais...

Às vezes Papai do Céu se encarrega de colocar pessoas maravilhosas em nossas vidas. Em minha vida, essas figuras especiais são muitas.

Claro que vez por outra tem aqueles e aquelas de coração e alma bem pequena que pisam na sua cabeça e dão de ombros, mas em minha vida isso se tornou tão pequeno perto da quantidade dos de qualidade com quem convivo, que perdoar e/ou simplesmente ignorar a existência dos fulanos e fulanas vem se tornando cada vez mais fácil, menos penoso.

Creio que minha família e meus amigos já saibam o quanto são especiais e importantes pra mim. Não me canso de repetir isso, aos próprios e ao mundo inteiro.

A família Papai do Céu me colocou nela, e agradeço todo dia pelo que ganhei. Os desentendimentos existem, claro, mas nada se compara ao viver e aprender com essas figuras lindas!

Os amigos são a família que tive a oportunidade de escolher. Às vezes me pergunto se foi mesmo tanto assim escolher... São pessoas tão especiais, com quem existe uma sintonia tão grande, que vai ver já estava tudo planejado pra que de uma forma ou de outra nos encontrássemos e cultivássemos a relação.

Tem também uma outra “categoria” de pessoas especiais: aquelas que não necessariamente estão em sua vida, mas passam por ela em algum momento e com certeza deixam sua marca... Nessas andanças, não foram poucas as figuras do tipo que me apareceram. Com cada uma a gente aprende um pouquinho, de cada uma a gente leva alguma coisa...

A última dessas figuras que conheci, apareceu quando, após uma discussão enorme com uma pessoa muito especial, eu caminhava repensando montes de coisas, meio chateada... Conversou comigo, me disse algumas coisas que eu já tinha ouvido, algumas que eu já tinha pensado, mas disse também alguma coisa que me acordou prá outras cores. Quem sabe um dia a gente se vê de novo. Tomara.

Espero poder contar com mais muitas e muitas chuvas de pessoas maravilhosas em minha vida...


Glícia é muito feliz pelos alguéns especiais que tem em sua vida.

Quando alguém se vai, o que fica?

Nesta segunda-feira, meu avô paterno faleceu. Ele estava muito doente e, na minha opinião, descansou...

Eu ouço muitas pessoas contarem suas lembranças, dizendo como adoravam e eram adoradas por seus avós, mas não tive muito êxito neste campo: não conheci minha avó paterna; lembro muito pouco do meu avô materno, que ficou doente quando eu ainda era pequena; amei e ainda amo demais minha avó materna, que infelizmente já me deixou também; e mal conheci este meu avô, o último laço mais antigo da minha história.

Só que não foi o fato de ele falecer que me entristeceu; na verdade, o que me atormentou foi o fato de que não fiquei triste e, mais que isso, não senti nada: vazio, dor, saudade, vontade de chorar, arrependimento, nada! Eu me senti um monstro e me envergonhei... Mas depois pensei no porque disto ter acontecido. Tudo bem que não sou super emotiva; sou contida, mas não significa que eu seja uma pessoa desprovida de sentimento!

Continuei intrigada e pensando, o que me levou a uma pergunta: quando alguém se vai, o que fica? Ficam as boas recordações, os momentos felizes, os ensinamentos, o respeito e a admiração, ou seja, fica a vida compartilhada em seus melhores instantes (felizmente as lembranças ruins evaporam de nossos corações). Aí entendi o meu problema de reação (ou falta de reação) face à morte de meu avô: ele simplesmente não compartilhou um instante sequer de sua vida comigo e não deixou registros na história da minha vida.

Isto é absolutamente triste... Como pode uma pessoa tão próxima ser um completo estranho? Será que ele nunca me amou de verdade e, desta forma, não despertou em mim o que os avós despertam em seus netos? Ou quem errou fui eu? Foi então que me lembrei de um detalhe: o meu pai também é assim, distante e completamente estranho. Não sabe quem eu sou, a mulher que eu me tornei e que tanto orgulha minha mãe (tudo bem que mãe é suspeita para avaliar os filhos rsrs), como continuo parecida com ele em tantos aspectos...

Analisando meu histórico genético, tenho dois medos. O primeiro é o de não sentir nada quando meu pai se for e o segundo, de agir da mesma forma que meu pai e meu avô. Nestes dois dias, acima de tudo, decidi que não é esta a vida que quero escrever para mim. Eu quero viver e compartilhar os melhores momentos com aqueles que amo, com quem convivo e que colorem minha vida; gostaria muito de deixar e de levar comigo lembranças e histórias boas. Isto não significa que queira ser mártir, boazinha, certinha ou famosa; só quero ser para as pessoas a Paula, de quem lembrarão tanto por suas qualidades quanto por seus defeitos. Se conseguir, aí sim, terei escrito uma linda história de vida!

Até a próxima.


Paula perdeu o último avô e não sentiu o que deveria sentir. Teve vergonha, mas depois entendeu o porquê. Descobriu que quer e pode traçar uma história diferente em seus relacionamentos. Escreve aqui toda quarta-feira.



terça-feira, 16 de outubro de 2007

Tempos Modernos

Impossível me lembrar quando foi a primeira vez que estive em Viçosa. Uma tia e dois tios se formaram lá, sendo que um deles acabou nunca mais indo embora. Os Pereira de Souza começaram a desbravar a Zona da Mata mineira muito antes que eu ou a minha irmã tivéssemos condição de nos dar por gente. Ir estudar lá nos parecia algo natural. Acabei não indo, mas minha irmã foi. Mas férias, passamos várias por lá.

Assim, Viçosa acabou se transformando em um dos muitos palcos de minhas artes de infância e, depois que minha irmã foi pra lá de mala e cuia estudar, acabou virando palco da minha pós-adolescência recente também. A menina se formou em Física; se bem que, ao final do curso, poderia também ser garota propaganda de tudo que é marca de cerveja vendida por aquelas bandas desde os idos dos anos 90. Um verdadeiro orgulho de fraternidade! Estive presente em vários momentos que podiam muito bem fazer parte destes comerciais de cerveja, o que sempre me fez agradecer aos céus por pedras, cercas e pilastras não poderem falar. E apesar de Viçosa não ter pra mim o mesmo intenso significado que tem pra minha irmã, sempre terá um lugarzinho guardado no meu coração.

Tinha muito tempo que eu não ia a Viçosa; fui lá há coisa e um ano, mas fui, fiz meu trabalho e voltei no mesmo dia. Queria ter ficado mais, mas não deu nem pra pensar nisso. Voltei correndo. Neste fim de semana pude voltar à Viçosa com calma pro casamento de uma amiga que tem nome de praça na cidade. Aproveitei pra andar a pé do calçadão até a universidade e pra mostrar pro meu marido aqueles lugares bacanas por onde passei. Levei um choque.

Primeiro porque logo que saí do hotel e pisei na faixa de pedestres quase fui atropelada! E não foi por bicicleta não, foi carro mesmo. Gente, mas não era justamente uma das maravilhas da cidade poder atravessar a rua sem medo? Eu achava lindo os carros parando assim que eu pusesse os pés na faixa pra eu poder atravessar a rua. Quanta civilidade! Acabou. Que pena.

Recuperado o susto, achei que tinha grudado alguma coisa nos meus óculos. Tirei, limpei, mas a imagem estava só mais nítida. Aquele bar onde bebi Bohemia a um real, onde dancei salsa com um africano desconhecido, onde uma amizade bacana se estreitou e se faz forte até hoje, virou sacolão...

Outro, onde me dei conta pela primeira vez que definitivamente não era mais uma menina, agora vende e conserta coleira eletrônica, ou telefone celular, pra ser politicamente correta (não que eu também não seja escrava do celular, mas isso não faz com que ele deixe de ser uma coleira eletrônica).

A lanchonete que vendia maxi-sandubas saradores de qualquer fogo eu não achei. Até porque eu confundi os nomes e procurei pelo lugar errado. Mas dizem que ainda está lá com os mega-maxi-sandubas.

A cerca de arame farpado onde fiquei grudada uma vez depois de um tombo catastrófico até que minha amiga me tirou virou muro; parece que era um muro branco, mas pixaram um monte de nome feio lá. Aliás, pixaram foi a cidade toda, só que dão o nome de propaganda. Eu prefiro chamar de poluição visual.

As capivaras que ficavam soltas pelo campus desde quando eu ia lá andar de bicicleta enquanto minha tia aprendia a dirigir foram recolhidas porque deram tanto carrapato que o povo tava sendo devorado vivo pelos carrapatos. Fora que andavam atacando até pit bull, segundo minha irmã. Mas estão lá na universidade, guardadinhas e sem carrapato agora.

Procurei a loja de biscoito caseiro e não achei. Sumiu. Ninguém soube me dizer aonde foi parar. Pelo menos achei minhas latas de doce de leite, delicioso fruto de anos e anos de dedicada pesquisa e investimento tecnológico. Maravilhas da ciência!

Mas definitivamente Viçosa não é mais a mesma. Fiquei pensando se não seria sinal dos tempos modernos. Pode ser e talvez até seja mesmo. Na volta pra casa fiquei com a sensação de que realmente muita coisa mudou. Já não desejo mais que a cerca de arame farpado, nem as pedras e pilastras, permaneçam mudas. Gostaria que elas pudessem falar e me dizer na cara que eu também mudei e porque é que eu também já não sou mais a mesma. Vou adiante e volto atrás. Tenho medo de ouvir que também virei sinal dos tempos modernos. E isso pode não ser muito bom.


Laeticia começou a escrever este texto à mão em Araxá e terminou em algum lugar do céu entre as terras de Dona Beja e as de Hilda Furacão. Até agora está imaginando o que estas mulheres marcantes pensariam das mudanças ocorridas desde a época em que causaram polêmica por ser elas mesmas, a primeira no início do século XIX e a última na década de cinqüenta.

O Grande Encontro

Este romance é baseado em fatos reais e tem a intenção de homenagem, afinal, como bem disse nossa amiga Débora temos que aproveitar todas as oportunidades para falar ao coração daqueles que estão à nossa volta.

Essa é a história do encontro de João e Maria, que não são irmãos, como no conto infantil. Aliás, há pouco tempo eles nem se conheciam...

Maria estava “fechada pra balanço” há uns anos. Após um amor não vivido, estava na arquibancada assistindo os jogos alheios, um tanto daltônica. E mesmo frente a algumas companhias, ainda preferia assistir a jogar. Até que conheceu João, lindo como um anjo, diferente de qualquer outro, uma diferença quase assustadora. Desde o primeiro instante, Maria o sabia especial, porém fora de sua realidade daltônica. Foi João quem lhe estendeu a mão e disse: “Vem jogar também. É lá que estão as cores que você não vê.” Maria resistiu, teve medo. Parecia loucura, mas a mão estendida do anjo João falou mais alto e ela foi. E não é que ele estava certo! As cores estavam lá e Maria as via agora.

Mais uma vez Maria sentiu que nada nem ninguém vem à nossa vida por acaso. Em tudo há um propósito maior, a mão de Deus, ela diria. Foi um grande encontro, daqueles raros de acontecer. Maria está feliz com esse encontro e ciente de que, independente do tempo que durar, João lhe mostrou que o verde e o vermelho são cores diferentes. João lhe ensinou que conceitos podem ser modificados ou mesmo jogados no lixo. João marcou seu reencontro com a poesia. João e Maria têm mãos do mesmo tamanho e entendem que o silêncio fala mais alto que qualquer palavra. João já sabe o quanto se fez importante para Maria e também sabe que não é uma tábua de salvação e sim uma grata surpresa, divina e em cores.

Este foi o grande encontro de João e Maria. Ela já o acomodou em uma suite master em seu coração com 250m2, teto solar ou lunar (como preferir), vista para as montanhas, o mar e o arco-íris. Maria sabe que ela e João podem seguir por caminhos diferentes a qualquer momento. Ela admite que ele saia, fisicamente, de sua vida, mas de seu coração nem com habeas corpus.


Angélica: Minha essência é séria, ‘caxias’, ‘certinha’, calma. Porém não foi difícil conhecer os descaminhos e passeio por alguns até hoje. Aprendi a ser palhaça com alguns amigos e hoje sorrio mais. Meu sorriso, talvez por ser, ainda, raro, agrada as pessoas. Perco a calma ao esperar demais, não nasci para isso. Amo muito, mais do que deveria. Para mim, Amor e Admiração andam juntos. Um chama o outro. E choro fácil. Até em comercial de TV. O pessoal lá de casa me chama de chata, elogio que eu adoro....rsrs. Serei romântica até meu último dia e sempre me cobro por não ajudar mais as pessoas. Tenho o sonho burro da perfeição e, no momento, tento sonhar com o palpável, o Gianechini.



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