sábado, 20 de outubro de 2007

Os Incríveis Lumpa-Lumpas

Lumpa Lumpas são iguais aos seus. Acordam todos os dias no mesmo horário. Fazem seu trabalhinho cantando, felizes e contentes, e nunca pararam para pensar sobre isso. Há, claro, Lumpa Lumpas não pensam, que maravilha, são apenas executores!

O hino dos Lumpa Lumpas não é o “Dumpa Lumpa Lumpa Di Dá”, que todos conhecem. Na verdade, se tocado de trás pra frente esta célebre e inocente canção passa a ser ouvida como “Hei, teacher, leave those kids alone...” do Pink, só que já faz tanto tempo que Lumpa Lumpas não têm tempo para ouvir música (muito menos de trás pra frente), que este fato virou apenas uma lenda entre eles, mas ele é verdadeiro.

Lumpa Lumpas fêmeas não fazem as unhas, não vão à academia, não lêem livros, pois elas não precisam disso. Nem de nada. Nem teriam tempo para estas coisas, pois precisam dormir bem para trabalharem bem, e o tempo que lhes resta é para se alimentarem bem para trabalharem bem. Lumpa-Lumpas são gordinhas por isso, mas são felizes assim e jamais pensam em como gostariam de usar um macacão branco justésimo no Ano-Novo.

A única razão de ser dos Lumpa Lumpas é subsistir e eles nem cogitam a hipótese de que existam outras formas de existir, muito menos de viver. Lumpa Lumpas são os ancestrais dos Delta de Huxley. E eles são felizes por cumprirem seu papel na sociedade. E só (para quê mais?). Seu maior sonho é o de serem aceitos por seus iguais e de vez em quando ganhar um elogiozinho.
Uma bela manhã, as sete e dezesseis, enquanto calçava o pé esquerdo de seu sapato, como todos os dias, um Lumpa Lumpa viu na tevê (que transgressoramente estava ligada naquele horário... Há aquele já foi um dia predestinado para o desastre) que um jovem ganhava dez milhões por ano vendendo bonequinhos horrendos, mas cujo design era considerado arte. Arte? Design? Dez milhões de dólares? Viver de sua criação? Trabalhar por produtividade, e não por carga horária? Um sopro de vida entrou no ouvido do Lumpa Lumpa e chegou ao seu coração, e ele quis algo mais, por um milésimo de segundo. Mas corações de Lumpa-Lumpas não são preparados para isso. Ele morreu de palalá de cadique na mesma hora, sendo que o doutor acrescentou no atestado de óbito (que obviamente foi divulgado na empresa onde ele trabalhava) - motivo: “insubordinação”.

Certa feita uma Lumpa Lumpa acordou sentindo-se especial, única, e colocou uma flor no cabelo. Suas colegas ficaram indignadas, onde já se viu uma indecência desta, julgando-na indigna de sua companhia no horário da ração. Os Lumpa Lumpas julgaram que ela queria chamar a atenção, e sentiram-se no direito de fazerem gracinhas e de desrespeitarem-na, apenas por ela estar diferente. A Lumpa Lumpa por muito tempo foi motivo de fofocas e intrigas, e acabou se isolando no seu próprio mundo, no seu próprio trabalho. Hoje ela fala sozinha e julgam-na meio tantã. Ela não dá mais bola, pois percebeu que seria julgada de qualquer forma, apenas por ser um pouco diferente. E se isola em seu próprio mundo.

Lumpa Lumpas temem o desconhecido, o novo, a insegurança, o risco. Mesmo para se relacionar com Deus (o que para eles nem é proibido) são metódicos. Sair da rotina é a principal causa de suas doenças e questionar a vida é motivo de morte certa e súbita. Porém, é assim que Lumpa-Lumpas são muito felizes e assim querem continuar sendo!


Hoje é daqueles dias em que Gisele Lins acordou tendo absoluta certeza de que é uma Lumpa Lumpa. Isso a deixa muito feliz, pois desde criancinha ela sonha em ser uma Lumpa Lumpa. Ela escreve aqui aos sábados, às 14h 17min.
(Agradecimentos à Aldous Huxley e O Teatro Mágico, pela inspiração – ou por destacarem a falta dela)


9 comentários:

Professora Vanessa disse...

Ei, Gisele!
Tenho me sentindo Lumpa-Lumpa, só não sabia que tinha esse nome tão engraçadinho! Uma delícia seu texto!
Abraços, Vanessa.

Advokete disse...

Vou me resignar à minha ignorância e admitir que não faço idíea do que sejam Lumpa Lumpas. Fico doida quando não entendo alguma coisa. Alguém pode ajudar a diminuir meu desespero?

Paula disse...

Oi Gisele!
Os lumpa-lumpas que você descreveu me fizeram lembrar o contexto para o qual Charles Chaplin, através de seu personagem Carlitos, tentou nos alertar com o seu "Tempos Modernos".
Essa vida moderna, com sua rotina moderna e seus anseios modernos não passam de uma forma de escravização do ser humano (de tentar transformar todos em moldes iguaizinhos). Aliás, mais uma dentre tantas que já tentaram nos impingir...
Você me perdoa? Mas eu não gosto de me sentir lumpa-lumpa, não neste contexto que expus (posso ter entendido errado)... Falta o brilho, o ser cada um, sabe?
Ainda assim, muito bom seu texto!
Beijos.

PS: Laeticia, os lumpa-lumpas são os ajudantes do dono da "Fantástica Fábrica de Chocolate". Eles são todos iguais, vestem-se com roupas idênticas, fazem sempre tudo do mesmo jeito, só que parecem super felizes.

Angel disse...

Agora que já sei quem são os Lumpa-lumpas, posso comentar.
Vc tem razão, às vezes fazemos tudo tão mecanicamente, pensamos só no trabalho e nos esquecemos que podemos ser melhores a cada dia.
Acredito que me comporto como lumpa-lumpa em alguns momentos. Como tenho o bichinho do "Por que", acabo transgredindo. Ainda bem.

Obrigada por aumentar meu conhecimento. Agora posso dizer pra todo mundo que eu sei o que é um lumpa-lumpa.
Bjos!

Unknown disse...

Hahauhuauahau
Gi, esse texto é fantástico!
só podia mesmo ter saído da segunda mente mais nonsense que eu conheço!!!
Bjos!

@wgoroncy disse...

hahahahaha

amei teu texto "lumpa-lumpas fêmea não pensam em como queriam usar um macacão branco justésimo no ano-novo!!!!"

Anônimo disse...

Oi meninas, não seriam "Umpa-Lumpas"? ;-)

Anônimo disse...

Nossa, amei o blog. E a foto da parte de cima do blog me da uma nostalgia, uma saudade da adolescencia

Anônimo disse...

Que texto idiota. E eu pensei que faria um comentário legal mesmo sobre o filme. Puta babaquisse!

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