sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Pessoas são descartáveis

Eu sempre jurei o contrário. Pessoas pra mim eram insubstituíveis. Descartáveis então? Nem pensar. Descartável era, pra mim, sinônimo de lixo. Mas de um tempo pra cá mudei meu ponto de vista. Vou ilustrar com exemplos, que espero que mostrem bem como me sinto em relação ao assunto.

Sabe aquela amiga que você conhece desde a adolescência? Aquela que vive na sua casa, você vive na dela? Sua família adora aquela pessoa, você na casa dela sente como se estivesse no quintal da sua. A história de vocês é cheia de momentos bons, seu ombro conhece as lágrimas dela como ninguém. Aí um belo dia, seu chão desaba sob seus pés, e você tenta se agarrar a ela, que vira as costas sem dó e vai cuidar da vida dela.

Também tem aquele amigo, fechadão, que não se abre com ninguém, e você, com todo jeitinho, vai se aproximando, tentando ser amiga, com medo de ser invasiva. Vai se aproximando devagar, dois passos pra frente, um passo pra trás, até perceber, feliz, que ele confia um pouco em você e começa a se abrir. Um belo dia, ele passa por você na rua e te ignora solenemente. Você quer saber o que fez de errado, mas ele acha que você nem é digna de uma explicação. Um tempo depois reaparece sorrindo, como se nada tivesse acontecido, e você o aceita de braços abertos. E isso acontece outras e outras vezes, não somente com você, mas com todos que o rodeiam. Ele passa a ignorar as pessoas sem explicação. Quando ele decide que novamente as pessoas são dignas da presença dele, reaparece sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

Tem aquela outra pessoa que foi muito especial na sua história. Te amou e cuidou de você com dedicação. Fez parte da sua história e permitiu que você fizesse parte da dela. Você retribuiu sendo amiga, um porto seguro. E esta relação era tão especial que nem quando ela faz uma intriga envolvendo seu nome, você se importa. Até que as intrigas te envolvendo ficam tão frequentes e graves, que o tempo que você gasta tentando desfazer os mal entendidos é maior que o tempo que você efetivamente passa ao lado desta pessoa.

Mais uma era aquela pessoa descompensada que todo mundo detestava. As pessoas não se importam em dizer na cara dela "eu não gosto de você". Ela ri e fala "como as pessoas são brincalhonas!" e continua sendo inconveniente, impertinente, indiscreta. E você não quer ser mais uma pessoa a abandoná-la. É a única que tem paciência. É a única que oferece uma mão. E esta louca tem surtos e volta e meia te trata mal. Até o dia que, em um congresso, na frente de centenas de pessoas, te destrata várias vezes seguidas na frente de todo mundo, gargalhando e sendo o centro das atenções enquanto você, perplexa, tenta entender o que está acontecendo. No dia seguinte, mais um coice em público. Minutos mais tarde, precisando de um favor, se reaproxima como se nada tivesse acontecido.

Este tipo de pessoa é, sim, descartável. Depois de muito pensar, um tempo atrás joguei estas quatro pessoas na lixeira da minha vida. O mal que elas me faziam já era muito maior que o bem que nos uniu. Não fazia sentido manter na minha vida pessoas que aproveitavam a proximidade pra me ferir. Não valia a pena manter uma pessoa na minha vida que demandava tempo e energia preciosos, na tentativa me explicar com pessoas que ela envenenou contra mim.

Claro que há os casos de amizades sinceras que são abaladas por um mal entendido. Neste caso, não tenho a menor vergonha de me aproximar da pessoa e dizer "Volta, vem viver outra vez ao meu lado". Mas estas não se encaixam na categoria "pessoas". Se enquadram na categoria "anjos". Quanto às já citadas, são sim descartáveis, o que não quer dizer que a vida não possa nos dar a oportunidade de reciclá-las um dia. Mas até papel, pra ser reciclado, precisa ser batido no liquidificador, virando uma mistura estranha. Até tomar a forma de papel novamente, gasta-se muito tempo e trabalho.


Sisa, 28 anos, aprendeu que as pessoas são descartáveis. Acredita que algumas delas são recicláveis, mas outras são mesmo lixo tóxico. Quer distância das recicláveis, e mais distância ainda das tóxicas.

9 comentários:

Paula disse...

Oi Sisa!
Eu não sou muito fã do termo descartável. Não sei, parece que as pessoas são objetos inanimados e não pessoas... Prefiro dizer que são "espíritos menos evoluídos" (eufemismo talvez).
Mas a menos do termo, eu concordo com você e com seus dizeres: existem certas pessoas que definitivamente devemos expurgar de nossas vidas, porque nos fazem muito mal! E a vida é curta demais para ser gasta com dissabores.
Gostei demais da sua franqueza!
Beijos.

Angel disse...

É verdade que algumas pessoas nos fazem mal e custamos a internalizar isso. Mas, como Paula, também as vejo como menos evoluídas. E acredito tb que nada acontece ao acaso. Elas vieram à sua vida para te ensinar algo.
Sorte seria se tivéssemos um detector de pessoas tóxicas ou recicláveis. Quem venham muitos "anjos" a você!
Bejos

Anônimo disse...

Oi Cecilia, como já pude perceber, acho que nos damos tão bem por sermos bastante parecidas em muitas coisas... concordo com vc quando diz que algumas pessoas sao descartáveis... infelizmente, e talvez uma das coisas mais dificies seja passar pela vida sem cruzar com algumas delas... o lado bom é que sempre podemos, assim como fazemos com o lixo, afastar essas pessoas das nossas vidas... a diferença é que, deferentemente do lixo comum que apenas descartamos, essas pessoas, na maioria das vezes, deixam marcas bem ruins nas nossas vidas... mas passa... Bjs.

Advokete disse...

Eu nunca consegui detectar de cara gente descartável (é essa palavra mesmo que eu uso). Mas de uns tempos pra cá meu instinto tem me economizado dissabores. Parece que acende uma luz vermelha na minha cabeça quando alguém faz alguma coisa que passaria batido em há tempos atrás. Não passa mais, fica anotado na memória. Bastam poucas luzes vermelhas acesas pra eu banir a pessoa do meu convívio voluntário.

Anônimo disse...

Nossa Sisa, nunca tinha parado pra pensar, mas assim que li seu texto não só concordei plenamente, como me vi fazendo a mesma coisa várias vezes, descartando as pessoas que me faziam mal, é o unico jeito de se defender de gente assim.
Espero nunca dar motivo para amigas importantes como você me descartarem...rs
Bjim!!!

Unknown disse...

Sabe que depois de algum tempo eu até consigo descartar os descartáveis?
claro que é um exercício diário, por vezes um tanto quanto desagradável, mas no final, o crime compensa =)

Anônimo disse...

Hmm... o mundo está cheio de pessoas poluídas... querida Sisa... eu lhe entendo... eu pensava e ainda penso que as pessoas desmerecem o que têm...

De fato... conheço uma amiga mulher que pensa assim como você ...

Porém querida... se você olhar do ponto realista da coisa... todos nós podemos ser lixo... e se você quer distância dos lixos e dos descartáveis... só está se tornando um lixo como eles... permita-os que se aproximem... se lhe usarem... use-os também...

Do ponto científico somos todos feitos de moléculas de Carbono, o que faz você ser igual aos outros... a diferença é que você é mais sentimental... e a angústia de ser traída por pessoas sem escrúpulos a tornaram desse jeito... uma única dica que lhe dou... não deixe a rotina tomar conta de sua vida como tomou a de minha amiga... um dia.. quando se libertar... você irá a um lugar onde achará um prazer de viver... sem sentir solidão... e também sem ser rodeada de pessoas lixos...

(Não seja só mais uma mulher de 30 anos amarga e com ódio do mundo... goze da vida como ela goza de você!)

Anônimo disse...

Para os que comentaram e leram o meu comentário...

Se todos vocês pensam de um jeito parecido... será que não tem um ponto de partida onde tudo isso começou? ... No minha opinião... a culpa é do Capitalismo (individualísta) e da mídia manipuladora...

E se eu fizesse um post nesse blog... o título seria... "Aqueles que são descartáveis... ou não"... justamente porque se você sofre por algo que alguém lhe fez... você já se importa... logo ela não é descartável... você a usa inconcientemente para ficar triste ou com raiva só se lembrando... mesmo que for sem querer.

A verdade absoluta é:

- Pessoas descartáveis são as pessoas normais que vivem à sua volta. (Quem se fecha para o mundo é VOCÊ.)

- Pessoas que prestam... existem poucas... quer saber quais são?? Experimente matar seus pais ou sua família... você vai saber que tem gente que não é descartável nesse mundo... inclusive você... (se você considerar os outros descartáveis... será tão lixo quanto eles).

Resumindo tudo isso...

Você pode muito bem achar o mundo uma merda e as pessoas nele um lixo... mas não seja egoísta a ponto de não conviver com eles... senão você só será um peso morto para o mundo... porque ele gira... um dia ele vai acabar... e todo mundo vai morrer... e se VOCÊ tem nojo deles... que nada mais são do que você mesmo, a sua espécie... não sabe o que está perdendo... você vai acabar debaixo da terra mesmo... então aproveite a vida... ame o lixo... como ele te ama... ele te persegue onde quer que você vá...

Anônimo disse...

rodrigo, vc entendeu tudo errado, a menina nao disse que o mundo é uma merda nem deixou a entender que está amarga nem nada dessas coisas que vc falou. ela só disse algo que é comum e corriqueiro acontecer hoje em dia..se vc defende e acha que na verdade a autora deveria usar os outros como usaram ela, entao vc só é mais um capitalista individualista como citou (o que acho que nao tem nada a ver com isso e sim com a inversão de valores que tá acontecendo com algumas pessoas)..e não, não podemos todos nós sermos lixos, eu mesmo ando numa fase me sentindo exatamente igual a autora do post e nessas horas eu vejo o quanto tenho meu valor pra ser tratado de qualquer jeito, assim como a autora passou a perceber o valor dela e só querer perto dela pessoas que a façam bem

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