segunda-feira, 8 de outubro de 2007

George Orwell e a Formiguinha Z

Hollywood descobriu, em fins do século passado, que os desenhos animados podiam animar adultos até mais do que crianças. É claro que os desenhos longa-metragem já transmitiam mensagens implícitas, lições de moral, regras de comportamento, padrões de conduta, mas ainda não estavam completamente desenvolvidos para servir como propagandas políticas.

Tudo bem que até mesmo os curtas, como a Formiga Atômica, o Pica-Pau, o marinheiro Popeye já disseminavam idéias políticas, e a liga da Justiça também tivesse um ótimo papel formador de opiniões pela defesa dos Aliados, mas houve uma mudança enorme a partir de desenhos como “Formiguinha Z”; “Pocahontas”; “O Rei Leão”; “Shrek”; “Era do Gelo”; “Monstros S.A.”, entre tantos outros. Tais desenhos abordavam temas como etnocentrismo, aquecimento global, conceito de beleza, choque cultural, adaptações de clássicos da literatura aos tempos atuais, ou às fábulas, e totalitarismo.

Diante de tantas novas produções, Formiguinha Z ficou um pouco esquecida, desvalorizada da importância de seu texto, adaptação fantástica de “1984”, de George Orwell! Ao colocar caricaturas de atores famosos, como Woody Allen, Stallone, Sharon Stone e Jennifer Lopez, disfarçou-se a mensagem anti-nazista do filme, deixando-o mais leve. Grande jogada!

Mas os diálogos são extremamente parecidos com a linguagem de Orwell. A linguagem que Orwell denunciava em “1984”, como sendo o discurso totalitarista de Stalin, que bem podia ser de Hitler. A superioridade de uma determinada raça sobre as demais, a classe operária sustentando todo o sistema e sendo manipulada, o domínio do coletivo sobre o individual, tudo isso está contido nas falas de Z, a formiguinha de Woody Allen, que discute tudo isso, contrário em ser somente mais um no formigueiro. O fanatismo da guerra, a necessidade de se deslocar os problemas para um inimigo externo, para que o sistema não seja questionado, a até o momento de diversão das formiguinhas é condicionado. A dança é sempre no mesmo horário e com a mesma coreografia. E novamente é Z quem questiona e inova, e, lógico, receber advertências e sofre perseguições por isto.

Somente assistindo ao desenho, e acompanhando cena a cena se pode ver a grandeza da denúncia do longa, e a importância de um texto tão complexo num desenho animado teoricamente infantil. É para se tirar o chapéu. Até Orwell aplaudiria “Formiguinha Z”.


O Ministério da Saúde Mental adverte: Tania é louca, e não é vacinada! Leia seus textos com moderação!


2 comentários:

Paula disse...

Tânia, eu não tenho sua visão tão esclarecida sobre cinema, confesso. Mas posso te dizer que certamente aprendi muito mais com cada um destes desenhos que você citou do que com muito programa de gente grande!
Beijos.

Sisa disse...

Bom... Eu não sou este poço de cultura. Mas rolo de rir com essas animações mais novas. A da Formiguinha eu não vi, fiquei até curiosa. Mas pra mim a preferida ainda vai ser a do Nemo. Acho difícil alguém conseguir superar aquele, rs...

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