sábado, 31 de maio de 2008

O que é que Minas tem?

Além do sempre batido, mas sempre bom, “não em mar, mas tem bar”, o que é que Minas tem?

Pão de queijo, queijo minas, doce de leite, cachaça, pimenta... Mineirão, Mineirinho, Pampulha, minérios, igrejas, arquitetura, inconfidentes, tradição...

Há tanto o que se dizer, mas, para mim, Minas tem jeito da casa da gente. Tem gente de todo lugar, com um sorriso aberto e que te abraça assim que te conhece. Minas tem a casa da Sisa, casa de todas nós por um tempinho. Minas tem a feira hippie, onde a gente se perde pra Mi poder comprar um bolsa xadrez (que nem achou...). Pra mim Minas tem bolo de pão de queijo, quentinho, que a gente come com pessoas de quem logo se gosta muito. Minas tem temperos e mais temperos, pra Gi poder fazer terapia culinarista enquanto planeja com o German o casório. Tem gente com o estranho hábito de visitar cemitérios pra conhecer os lugares. Minas tem uma menina que está longe de fazer 30, mas já é parte integrante desse grupo. E essa menina uma mãe muito amorosa e afinada. Minas tem o melhor brigadeiro do mundo, segundo uma expert no assunto. Minas tem mãe de amiga que parece de cara mãe da gente. Minas tem flamenguista. Tem uma advogada que fala pra caramba, mas que não deixa a gente se entediar. Minas tem gente. Mesmo que elas nem sempre estejam lá, minha lembrança maior de Minas é esta. Ah, Minas também tem gato, que gosta de roubar comida e dormir embaixo das cobertas.


Para Renata, Minas tem um pouquinho do que cada uma de nós deixou no encontro. E são coisas muito boas. Com certeza estará no próximo encontro!


sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Primeiro Encontro das Mulheres de 30

Como já foi dito aqui um monte de vezes, durante o último feriado foi o Primeiro Encontro das Mulheres de 30. Eu estava super ansiosa, porque não via a maioria delas fazia tempo, e ainda tinha a Gi, que eu não conhecia pessoalmente.

A primeira que chegou foi a Renata. Embora já fizesse mais de 2 anos que eu tinha visto a Renata pela única vez, quando ela se hospedou uma semana na minha casa em SJC, a gente sempre manteve contato por mail e MSN. Então, quando fui buscá-la no ponto do ônibus que vinha pro aeroporto, parecia que eu estava indo buscar alguém que nunca tinha ficado muito tempo longe.

No dia seguinte fomos passear em BH, e liguei pra Angel encontrar com a gente. Eu não via a Angel desde o chá de panela da minha irmã, que está casada já faz um tempinho bom. Laeticia a conheceu numa época que trabalharam juntas, ela veio em casa algumas vezes, mas aquela sensação de estar encontrando uma amiga foi mesmo naquele dia, na Pampulha, fazendo turismo com a Renata. Depois ela nos levou a uma confeitaria maravilhosa, onde ela come os famosos brigadeiros, e quando foi embora, Renata e eu fomos encontrar Milena, Gi e o namorado da Gi num restaurante em BH mesmo.

Eu também não via a Milena fazia tempo. Depois que ela se mudou (nós dividimos apartamento em SJC por um bom tempo) nos vimos só uma vez. Mas foi como se o tempo nunca tivesse passado, e quando ela me apresentou pra Gi, foi como estar sendo apresentada pra uma amiga de longa data.

No dia seguinte fomos cedo pra Inhotim passear, e pegamos a Tânia no meio do caminho. Era outra que, mesmo morando perto, fazia muitos anos que eu não via. E de novo foi como se estivesse reencontrando alguém que tinha visto na véspera. Colocamos os assuntos em dia, ganhei presente, e depois ela veio aqui pra casa, pra ficar já pro churrasco do dia seguinte. À noite fomos ao Shopping, e de lá íamos ao supermercado fazer as compras do churrasco. Lá encontramos Vanessa com a família. Vanessa eu vejo com mais freqüência desde sempre, mas é sempre muito bom estar com ela. A Maria Fernanda fez o maior sucesso com todas as Mulheres de 30 que estavam lá, e aí parecia cada vez mais que todas éramos amigas de longa data.

No dia seguinte chegaram a Angel, Laeticia e Vanessa (com Maria Fernanda, pro delírio da mulherada que deixou o instinto maternal correr solto). Além de nós tinha minha mãe e alguns acompanhantes. Mas o que eu adorei mesmo foi ver que aquelas amigas que não via fazia tempo nunca deixaram de estar perto. A única das Mulheres de 30 que eu não conhecia, a Gi, foi como se fosse também amiga de anos. Adorei as conversas de noite na hora de dormir. Adorei as fotos tiradas o tempo todo. Adorei as compras juntas para o churrasco. Adorei receber estas pessoas na minha casa. E sei que essa proximidade, essa coisa de ficar à vontade, se deve mesmo ao fato da gente estar abrindo sempre o coração aqui no blog. O blog aproximou esse grupo formando mesmo uma turma de amigas. Todas nós ficamos com aquele gostinho de “vamos marcar o próximo”. E agora eu tenho a sensação que o blog não é apenas nosso divã. É também a mesa de bar onde a gente faz amizade, é o colo e cafuné que faz a gente se sentir amparada, é a piada que faz a gente rir. Assim, deixo um recadinho para as que não puderam vir, de que elas fizeram muita falta. Pro nosso encontro ser melhor do que foi, só se estivéssemos todas presentes. E fica o convite pro próximo, que a gente ainda não sabe quando nem onde vai ser, mas que se depender de vontade, já está garantido.

Pra finalizar, deixo aqui a receita do Bolo de Pão de Queijo que fez sucesso no primeiro café da manhã do encontro, e prometo que em outra oportunidade eu posto a receita da batida de chocolate que mamãe fez e todo mundo adorou.

Bolo de Pão de Queijo

3 copos de polvilho doce;
3 ovos;
1/2 copo de óleo;
1 copo de água;
250 g queijo prato picado;
1 colher (sopa) de fermento;
1 colher (chá) de sal;
50 gr. queijo ralado para polvilhar.
Bate no liquidificador os ovos, óleo, água, sal; depois o queijo junto prá agregar, vira na tigela, acrescenta fermento e polvilho. Assar em forno quente por aproximadamente 30 minutos, em forma untada com óleo e enfarinhada com polvilho.



Sisa adorou o encontro do feriado, e espera de coração que muitos outros aconteçam, de preferência com a presença de todas. Adorou receber as amigas em casa, e achou que a casa ficou quieta demais depois que todo mundo foi embora.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Algum tempo atrás...

0:49h - Mãe: Mi, o padrinho morreu.
Milena: que triste mãe... Como está a vó?
Mãe: ainda não sabe, ela está dormindo e estou indo para lá agora.
Milena: então depois eu te ligo para conversar mais.

Voltei a dormir pensando na fragilidade da vida. E na inutilidade de nos preocuparmos tanto com questões que estão fora de nossa gerência.
Pensei nele naquele dia todo. E desejei com todas as minhas forças que ele esteja bem. Que esteja em paz.
E se não for pedir demais, que possa passar um tempo dando aquelas boas risadas enquanto assiste "A Escolinha do Professor Raimundo".

Milena está viva e pretende ficar assim por muito tempo ainda. Sente saudades dos que já foram e espera ser recepcionada por eles, quando sua hora chegar.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Eu quero mais...

Após dez anos de formada em Relações Públicas, decidi pela segunda graduação, para melhor qualificação técnica em uma profissão valorizada e com ótimas ofertas de trabalho: Secretária Executiva.

Já na inscrição do vestibular, conheci a versão de que o título de Secretária Executiva Bilíngüe não existia mais naquele curso (naquela instituição), pois o tempo de curso havia diminuído em um ano e seríamos agora somente Secretárias Executivas. O Bilíngüe ficaria por conta de uma dedicação extra classe e extra diploma. Ok! Isso não seria motivo para desistir. Queria e precisava trabalhar, e o curso me ajudaria bastante.

Prestei o vestibular e, pasmem, fui aprovada em 1º lugar com pouco mais de 60 pontos, 68 se não me engano. Como assim!? A redação foi determinante para essa “vitória”. Afinal fiquei anos sem estudar as disciplinas básicas de um vestibular, mas escrever eu sempre soube. Sorte minha! Fiquei um tanto preocupada com esse resultado, com receio do que encontraria em sala de aula. Felizmente, o potencial das pessoas não é ruim, mas o comportamento em sala de aula deixa muito a desejar, pelo menos aos meus olhos.

Um dos assuntos discutidos no Primeiro Encontro das Balzacas (ou Primeiro Encontro das Mulheres de 30, como quiserem) foi a educação, em especial a Escola Plural. Esse modelo de educação que inibe a reprovação de alunos auxilia para que as crianças cheguem aos 10, 11 anos ou mais idade mal sabendo escrever e ler. Imagino a frustração dos professores que, comprometidos com a formação de cidadãos, são inseridos nesse sistema e, sem opção (ou enquanto não têm outra opção), compactuam com essa “maluquice”.

Em minha primeira graduação não convivi com frutos da escola plural, agora sim. E mesmo aqueles que estudaram em escolas particulares, têm uma expectativa completamente diferente daquela que eu tinha aos meus 20 e poucos anos.

A compulsão por notas é quase doentia. Não importa o aprendizado, importa uma nota boa, para ficar “bem na fita” com a galera e “salvar” o semestre. Se a nota é mais baixa do que o esperado, surge o questionamento: será que o fulano me deu a cola errada ou o professor fez vários tipos de prova com as mesmas questões? Quando na verdade dever-se-ia questionar: qual parte da matéria eu não entendi? Estudar pra quê se colar é tão fácil, se o professor “deixa” colar? Estudar para que se é mais fácil me enganar?

Quando me deparo com professores que me exigem mais do que a maioria, é a glória! Glória que, comumente, dura pouco porque chovem reclamações de todos os lados. A maioria dos alunos pira com os professores “de verdade”. Afinal é preciso estudar nesses casos. E a maioria das escolas (faculdades particulares) não suporta a pressão dos alunos contra esses professores e acaba por reprimi-los em sua essência educadora e, em algumas vezes, essas situações resultam em demissão.

Estou em uma fase de intolerância, principalmente com esse tipo de situação. Optei por uma segunda graduação encolhida por um corte no currículo, recheada de professores medianos, um coordenador de fachada (quase um ator de novela mexicana) uma pedagoga amante dos gerundismos e muitas colegas a procura de um diploma (quanto mais fácil for para conseguir, melhor!) e eu lá, louca, no meio de tanto disparate.

Não me julgo melhor do que ninguém. Apenas mais exigente. Eu quero mais do que facilidades, do que gerundismos, do que novelas mexicanas, do que professores medianos, do que primeiros lugares questionáveis...

Vou até o fim em minha opção, apesar de muitas expectativas frustradas. Motiva-me estudar, os poucos professores educadores que encontrei por lá e os bons resultados que certamente virão após a conclusão do curso. E a parte boa dessa situação faz-me querer estudar ainda mais, continuar exigente e, quem sabe, fazer parte da estatística positiva do ensino.

Angélica questiona a escola plural e os frutos que ela produz. Defende os professores que atuam como educadores e as instituições de ensino que optam pela educação antes do lucro. Acredita que a educação e a cidadania andam juntas, embora muitos estudantes prefiram ser “pseudos” em ambos os temas.

Adorei nosso encontro das Balzacas e já estou sonhando com o próximo, quem sabe para comemorarmos um ano de blog!?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

As canções de nossos sonhos

Sapatos envernizados, branco e pretos, às vezes, branco e marrons; saias rodadas, azuis, pretas, brancas, mas sempre com poás, saltos, meias-calças, cabelos cacheados, maquiagem completa, por vezes, demais; sim, Anastácia queria voltar no tempo, algumas décadas, queria dançar músicas dos anos 50/60 e, de preferência, com alguém capaz de rodopiá-la no ar; sim, Anastácia continuava a sonhar acordada. Em seu quarto Anastácia sonhava, nunca havia caído da cama, mas, invariavelmente, caía no mundo, na realidade, e se assustava com o que via; sim, frequentemente Anastácia preferia voltar para seu mundo fantástico e esquecer aonde estava, esquecer todas as faltas, todas as equações mal resolvidas, todas as respostas que insistiam em evaporar no ar; sim, no mundo mágico de Anastácia tudo era mais real. Tendo sempre uma música como pano de fundo, Anastácia sonhava, ah e como gostava de sonhar. Tudo era mais forte, mais compreensível, mesmo o inexplicável fazia sentido. E não, ela não sonhava apenas com momentos felizes, mas com fatos concretos, na verdade, ela apenas seguia o ritmo das músicas, boiava nas ondas das vozes, flutuava junto com os instrumentos e suas variações; sim, Anastácia acreditava que não precisava de muita coisa enquanto tivesse as músicas de que tanto gostava de ouvir, enquanto tivesse a trilha sonora que a fazia bailar num salão onde todas as pessoas sabiam sentir e dizer, e onde ninguém temia seus próprios sentimentos, mas, ao contrário, cantavam juntas a canções de suas vidas.


Assim como Anastácia, Silvia espera o dia em que poderá cantar “The way You Look Tonight”, “Night and Day”, “Don’t Explain”, e quem sabe, encontrar pessoas que queiram cantar junto com ela as suas e outras canções.



domingo, 25 de maio de 2008

Encontros

Que a vida é feita de encontros e desencontros, nunca tive dúvidas. Minhas dúvidas giravam em torno da minha própria capacidade de reconhecer os verdadeiros encontros, aqueles que fazem a diferença, criam momentos mágicos e unem pessoas para sempre, mesmo que seja por poucos minutos. Eu me perguntava se saberia reconhecer os encontros dos quais está sendo construída minha vida no momento me que acontecessem ou somente depois e temia minha reação diante da percepção de que havia havido também os desencontros. O tempo foi passando e confesso que percebi poucos desencontros. Mas guardo comigo cada um daqueles momentos em que me tornei uma pessoa melhor, mais capaz de compreender – ou pelo menos de sentir e aceitar – o novo, o diferente, o outro.

Nestes trinta e um anos experimentei esta sensação de me tornar uma pessoa melhor quando mudei de colégio, fiz intercâmbio, comecei a trabalhar, entrei na faculdade, fiz trabalho voluntário, conheci meu marido, adotamos a Laila, o Buda morreu, minha cara entortou e depois voltou ao normal, todas as vezes que recebi apoio em momentos ruins, voltei a escrever, comecei a correr e, finalmente, chutei o pau da barraca e larguei a advocacia. E houve encontros. Muitos encontros.

Ao mudar de colégio, encontrei a mim mesma. Descobri que dentro da menina insegura havia uma menina capaz, forte, determinada, sonhadora e sensível. Encontrei a música, reencontrei a dança. Encontrei amigos, alguns dos quais ainda sonho em reencontrar.

Durante o intercâmbio, encontrei pessoas que abriram as portas do seu lar pra uma estranha. Alguém que eles não conheciam, que entrava em sua casa, tirava-lhes a liberdade, mas que, ao longo do tempo, acabou se tornando um membro da família. Houve sim amigos neste período, mas o encontro verdadeiro ocorreu com a família.

De volta ao Brasil, comecei a trabalhar e este foi um encontro diferente. Encontrei uma realidade mais dura; encontrei a vida adulta. Horários, prazos, metas, colegas, chefes, muito trabalho, pouco dinheiro, contas pra pagar e cansaço. Cansaço físico, porque cansaço mental só fui encontrar muitos anos depois.

Quando entrei na faculdade, encontrei sonhos, esperança, vontade de mudar o mundo. Encontrei o idealismo, a certeza de que eu faria a minha parte por uma sociedade mais justa, melhor pra se viver, com menos desigualdade e mais solidariedade. Encontrei também alguém que julguei um dia ser um grande amigo, mas com quem depois encontrei a decepção. Parando pra refletir, percebi que havia encontrado também a humanidade, a imperfeição e parei de julgar meu amigo.

Meu marido, encontrei por acaso. Este foi o grande encontro da minha vida. Não me faltam palavras para descrever este encontro, mas prefiro guardar algumas só para mim. Mas digo que, com ele, encontrei amor, companheirismo, amizade e respeito; encontrei riso, sorriso, gargalhada, choro, grito; encontrei paixão, carinho, tesão; encontrei colo e proteção e capacidade de retribuir; encontrei gula, arte e diversão, literatura, cinema, televisão. Encontrei minha cara metade, aquela que eu tinha certeza não existir e que me provou que certezas são subjetivas.

No voluntariado, encontrei superação. Encontrei a miséria, a dificuldade, a violência, o crime e a punição. Encontrei famílias separadas, destruídas por alguém em um momento de loucura, medo, desespero e desilusão. Mas encontrei mãos estendidas para amparar aqueles que estavam caídos. Encontrei pessoas capazes de atos de solidariedade e compreensão dos quais imagino jamais ser eu mesma capaz. Conheço meus defeitos, reconheço minhas limitações. Encontrei a humildade, recusei os julgamentos, consegui ajudar algumas pessoas a reencontrarem a si mesmos. Valeu a pena.

Com a Laila, reencontrei o amor incondicional, a lealdade e a compreensão silenciosas. Reencontrei a confiança cega, a certeza de proteção. Mas também reencontrei o medo de perder isso tudo outra vez. A Laila chegava, mas eu nunca me esqueceria da Germana, das Saras e das Isoldas que me haviam dado tudo aquilo sem pedir nada em troca, só comida, água e um pouco de atenção, e que haviam partido como a Laila também irá um dia.

No enterro do meu amigo Buda, encontrei a solidão, o sentimento de perda, a dor, a frustração. Mas reencontrei a amizade, o apoio, o carinho e o consolo de haver vivido uma amizade verdadeira.

Quando adoeci, encontrei a impotência diante da vida, o desespero da falta de controle sobre mim mesma, o medo de não voltar ao normal, a revolta por ter ficado doente, e, finalmente, o alívio que traz a certeza da capacidade de superação. Encontrei carinho, amor, abraço, beijo, calor. Encontrei-me frágil e indefesa, sofri, mas reencontrei a menina de antigamente. Eu estava com saudades dela.

A menina sonhadora, então, encontrou o que lhe pareceu na época, o meio de realização dos seus sonhos. Mergulhou de cabeça, sem medo, mas encontrou uma pedra. Desta vez a ferida foi mais profunda e encontrei a angústia, a incapacidade, a tristeza, a certeza de estar trilhando o caminho errado. Encontrei forças para voltar atrás e tentar um recomeço. Neste meio tempo, reencontrei o prazer da redação. Abandonei temporariamente meus textos técnicos, encontrei mulheres como eu e me deitei num divã coletivo. Encontrei as mesmas dúvidas, as mesmas angústias, os mesmos medos, as mesmas alegrias; encontrei muitos sonhos como os meus e reencontrei os meus próprios limites.

Decidi superar alguns destes limites, comecei a andar, trotar e, por fim, já estava correndo. Encontrei força de vontade; reencontrei uma amizade que eu julgava perdida. Encontrei mais alegria do que eu sempre tive e reencontrei o sorriso que andava meio escondido. Eu já havia me desiludido com a advocacia e havia reencontrado a vontade de mudar. Eu estava pela segunda vez na vida reencontrando a mim mesma.

Muitas pessoas presenciaram poucos ou mesmo nenhum destes encontros, poucas pessoas presenciaram todos, mas algumas pessoas presenciaram em pouco tempo encontros muito importantes. Hoje eu conheci pessoalmente algumas destas pessoas. Eram pessoas que dividiam comigo um espaço importante, dividiam o divã virtual. Eram mulheres de trinta que se encontravam, algumas, fisicamente pela primeira vez. E também pela primeira vez encontrei rostos, olhares, abraços, sorrisos que virtualmente dividiam tantas emoções que este não parecia um encontro simplesmente, mas sim o reencontro de quem estava unido pelas mesmas emoções.


Laeticia esteve no primeiro dos muitos encontros das Mulheres de Trinta e lembrou-se de Vinícius novamente: a vida é mesmo a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nesta vida.



sábado, 24 de maio de 2008

Listinha

Novamente adepta das listas, escrevo aqui uma lista das características que admiro cada vez mais nas pessoas. Algumas delas venho encontrando cada vez mais, outras infelizmente não...

- bom humor
- boa memória
- educação
- cortesia
- honestidade
- hospitalidade
- lealdade
- coerência
- sensibilidade
- sinceridade
- amizade verdadeira
- desapego material
- altruísmo
- energia
- disponibilidade
- criatividade
- iniciativa
- parceria para todas as horas, principalmente para os programas de índio 5 machadinhas!

Cada um desses itens foi escrito pensando em alguém que faz parte da minha vida. Espero que consiga dizer a todas essas pessoas quais são as características que mais admiro nelas, e que consiga aprender com cada uma um pouco do que elas têm de mais admirável.

Renata continua se admirando com as pessoas! Felizmente cada vez mais de forma positiva! A inspiração de hoje está toda focalizada no grande encontro de amanhã, mas que para ela já começou quarta-feira, e vem sendo divertidíssimo!






sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pessoas que eu podia ter amado – II

Eu escrevi um tempo atrás aqui no blog sobre uma pessoa que eu podia ter amado, e disse que eventualmente falaria de outras. Aqui estou eu falando de uma outra, embora os motivos pra não ter amado esta sejam diferentes do outro caso. Quem leu o post (aqui) viu que teve um rapaz que me enfeitiçou logo no primeiro dia de aula na Universidade.

Bom, como escrevi lá, poucos dias depois de conhecer o rapaz já tive oportunidade de trocar meia dúzia de beijos com ele. Estávamos numa festa de freezer aberto, eu tinha bebido horrores. Quando fui despedir, ele perguntou “Mas já vai? Eu nem beijei sua boca ainda!” e eu, no auge da minha presença de espírito, que felizmente não tinha sido muito afetada pelo álcool, disse “Mas você ainda tem tempo!”. Os beijos que foram trocados não devem ter sido mais de meia dúzia, porque eu tinha hora pra voltar pra casa (eu tinha 17 aninhos) e já estava meio atrasada.

Depois desse episódio, às vezes eu tinha impressão que ele estava interessado, mas mesmo reparando em mim, passando festas conversando e etc, ele não chegava nunca. Aí eu fui pra Letônia e tinha notícias dele através de amigas. Quando voltei um ano depois, fui a uma festa (3 dias de festa) antes das aulas recomeçarem, e no último dia coloquei na cabeça que iria investir nele novamente. Mas eu tinha dois problemas, um era que novamente estava completamente embriagada. E o outro era que eu tinha passado os dois dias anteriores desfilando de mãozinha dada com um desses casinhos sem futuro que todo mundo tem. Pois quando tive oportunidade de conversar com ele, soltei que tinha sentido saudades dele na Letônia. A resposta veio dura: “Ontem não parecia, já que você estava muito bem com outro cara.” Felizmente de novo minha presença de espírito não me abandonou e a resposta foi “Ontem é passado!” Foi a segunda vez que fiquei com ele.

Voltando às aulas, decidi que ia perseguir o coitado. No dia que acordei disposta a escrever na lista de chamada uma indireta, ele não foi à aula. E nem no seguinte. Tinha tido problemas de saúde e trancado a matrícula. Quando voltou um semestre depois, corria de mim igual o capeta corre da cruz. Depois de um tempo eu desencanei, e assim se passaram alguns anos, quando ele às vezes me cumprimentava, eventualmente abria a boca para cumprimentar e não dizia nada, e outros comportamentos estranhos.

Depois de uns anos estávamos numa festa da comissão de formatura, eu novamente tinha exagerado na dose, quando vejo este rapaz andando na minha direção, me pegando pelo braço e dizendo “Vem cá que a gente precisa conversar”. Lembro que cada vez que abria a boca para protestar, ele enfiava água e bala lá dentro para eu melhorar logo, porque de acordo com ele, eu precisava ouvir tudo sóbria. Quando eu já estava boa, ele disse que achava muito feio a gente não ser amigo, afinal a gente tinha vivido uma historinha, ainda que curta, e que ele estava indo embora depois de formar levando muito poucas coisas boas de lá, e que queria que eu fosse uma delas. Ficamos até de manhã conversando, resolvemos ser amigos e a partir daí ele me cumprimentava todos os dias, mandava mail e era super agradável.

Quase um ano depois, a gente estava na cervejada de formandos, uma semana antes da minha ida para São José dos Campos para começar o mestrado. Andava rolando um clima novamente nas últimas festas, mas nunca dava nada. Na cervejada eu estava disposta a ficar com ele, nem que fosse à força, e quando estava quase conseguindo meu intento, senti alguém me puxar e me lascar um beijo. Era um erro com quem eu tinha tido um casinho antes das férias. Quando consegui me soltar, o rapaz tinha sumido no mapa. Acabei ficando com o erro, revoltada por ter perdido a que podia ser minha última chance. Até que o erro simplesmente me deu o perdido, piorando ainda mais meu humor.

Na hora de ir embora, eu novamente bêbada (credo, falando assim parecia que eu era um pudim de cachaça, mas era coincidência), vejo o rapaz voltando também, igualmente tonto. Comecei a xingar e disse que por culpa dele eu tinha passado a festa sozinha. Ele disse que não tinha culpa se eu tinha beijado outro, eu disse que tinha, porque se tivesse me beijado antes, o outro não teria tido chance (bêbado é fogo). E com isso eu me perdi das minhas amigas, e ficamos horas esperando por elas enquanto uma discussão feroz acontecia. Essa discussão só acabou quando ele finalmente me beijou e falou que fazia 6 anos que esperava por aquilo, e que me amava desde que me conheceu. Mas como nunca tinha sentido aquilo, fugia de mim por medo. Namorou outras tentando me esquecer, mas sempre me procurava nelas. E que agora já estava cansado de fugir, de forma que se eu falasse que queria alguma coisa com ele, que ele ia atrás de mim, arrumava emprego onde eu fosse. Tomei um susto enorme, acabei ficando com ele, que à medida que melhorava da bebedeira repetia tudo. No dia seguinte apareceu na minha casa para me levar pra comer uma pizza e repetiu tudo. Primos dele que eu conhecia confirmaram a história. Passamos juntos a semana anterior à minha viagem, eu fui embora e pronto.

Ao contrário do outro caso, este rapaz eu não amei não foi porque não deu o clique. Foi porque ele não permitiu. Quando eu quis fazer parte da vida dele, ele me expulsou. E quando quis voltar atrás, para mim já não fazia sentido mais. A semana que passei com ele foi muito divertida, leve, mas nada além disso. Ele não cabia mais na minha vida. Sinto ainda um carinho bem grande por ele, mas deixo para ele o peso da culpa por a gente não ter vivido uma história. Eu fiz o que estava ao meu alcance. Perdemos contato faz anos, mas tive notícias de que está casado, e espero que feliz. Ele merece.


Sisa podia ter amado muita gente, e espera amar de verdade alguém que mereça e queira fazer parte da vida dela. Mas esses dias ela nem ta encanada com o amor da vida, porque ta rolando o encontro das Mulheres de 30 e ela só quer saber de divertir.



quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Rio de Janeiro...

... continua lindo?

Acho que sim.
Pelo menos foi o que pareceu nas duas vezes em que estive aqui. À trabalho, infelizmente.

A cidade maravilhosa é muito peculiar. Uma experiência antropológica verdadeira.

Enquanto os táxis se movimentam frenéticamente com seus vidros fechados, carregando homens e mulheres de terno pela Avenida Atlântida, logo ali, 10 metros de areia depois, o tempo parece rodar em outra escala.

Homens, mulheres, idosos e crianças, todos parecem curtir um eterno fim de semana.

Chico, o sábio, já dizia com a maestria de sempre:


Gostosa
Quentinha
Tapioca
O pregão abre o dia
Hoje tem baile funk
Tem samba no Flamengo
O reverendo
No palanque lendo
O Apocalipse
O homem da Gávea criou asas
Vadia
Gaivota
Sobrevoa a tardinha
E a neblina da ganja
O povaréu sonâmbulo
Ambulando
Que nem muamba
Nas ondas do mar
Cidade maravilhosa
És minha
O poente na espinha
Das tuas montanhas
Quase arromba a retina
De quem vê
De noite
Meninas
Peitinhos de pitomba
Vendendo por Copacabana
As suas bugigangas
Suas bugigangas

Ele, que provavelmente vê o Rio como poucos, estava certo.
E eu, espero poder voltar aqui como turista, de máquina em punho e todo o resto para encontrar o Rio como aqueles que o vêem da areia dourada de Copacabana.

Milena escreve aqui às quintas. Neste momento, deixa o RJ em direção a Nova Lima, sede do primeiro grande encontro das Balzacas. Quem não for, perdeu. Até mais.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Noite non sense de escolhas na vida de um futuro casal

- O aluguel do salão é o de menos, pelo jeito! Eu esperava que fosse bem mais caro.
- E eu esperava que a decoração fosse bem mais barata. E o aluguel dos copos, então? Se comprar a bebida “casada” eles emprestam os copos, se levar a bebida temos que alugar os copos. Ô gente fuinha! Pior é que parece que fizeram a convenção de “como avacalhar os planos bem intencionados de um casamento modesto, mas divertido”, pois em todo lugar é a mesma coisa. O que custava emprestar os copos? Gente mais esganada, tchê!
- Imagina limitar a festa por horário: quatro horas custa tanto, cinco horas custa tanto a mais. “Bom gente vamos indo que as visitas querem ir dormir agora...”. O jeito vai ser fazer uma festa mais simples pra mais gente, ou fazer uma festa mais sofisticada pra menos gente.
- Mas eu não queria ter que chegar nesta decisão! Nem desistir de casar ao pôr-do-sol só porque mais horas de festa custam muito mais caro!
- Nem eu... Já sei, fazemos um meio-termo! Ao invés de alugar o salão menor alugamos o salão da ilha, que custa quatro vezes mais, mas é mais chique e já vem com dois seguranças. Daí ao invés de pagar um real de aluguel pra cada copo, a gente compra vários daqueles fardinhos com seis, no Um e Noventa e Nove, de cores diversas (afinal é moderno ser low profile e colecionar coisas antigas) e ainda ficamos com os que sobrarem.
- Será que dizer no convite “leve sua marmita” pega mal?
- Pega sim, tenho uma idéia melhor... Alugamos um microondas para cada oito pessoas, mais ou menos. Logo na recepção a pessoa escolhe o sabor do Cup Noodles (fica chique se tiver uns três sabores) e já leva pra mesa. Pode repetir se quiser. Pega menos mal e nós ainda economizamos em garçons.
- Há, tá, achei que o micro era porque tu querias servir pipoca.
- Pipoca é a entrada. Se bem que juntando o Cup Noodles, a pipoca e o aluguel do micro é capaz de já dar para substituir por uns salgadinhos, ou um bufê de cachorro-quente, heim?
- Quem sabe um rabo quente na mesa?
- Mas e a pipoca?
- Tá a fim?


Gisele Lins escreve aqui nas quartas-feiras e anda se divertindo muito com esta história de casar, mas acaba tendo dois problemas: o primeiro é que os dois costumam não saber se é sério ou gozação o que o outro fala (como quando ele riu porque ela queria piscina de bolinhas, pois as fotos ficariam lindas em contraste com o branco – e era de verdade) e o segundo é que o tempo passa e continuam não tendo decidido nada.



terça-feira, 20 de maio de 2008

Meus Versos – “Pro Nobis”

Há alguns textos atrás, escrevi sobre minha experiência em escrever. Então resolvi procurar algumas poesias “desaparecidas”. No sábado passado, entre coceiras no nariz e muitos espirros, achei algumas poesias em uma gaveta cheia de papéis do tempo de Noé.

Uma delas (que não divulgarei aqui) foi feita a quatro mãos. Eu estava no último ano do ensino médio e a professora de Biologia encomendou um trabalho (sei lá do quê). Só sei que juntei com uma colega (Sandra) que também tinha uma predileção pela poesia e também com o Marco Túlio (Tutu) para fazermos uma poesia que se encaixasse em uma música. A música já estava pronta, foi o Tutu quem fez. Ele é fera no violão. Aí nós teríamos que rebolar para encaixar os versos. E saiu. O trabalho foi feito em plena Praça Marília de Dirceu. Foi uma poesia sobre a natureza e sua preservação (em 1991). Ensaiamos tudo (na época pensei: como deve ser difícil gravar um vinil...) umas trocentas vezes até ficar perfeito. Apresentamos em sala de aula e algumas pessoas até choraram. Adoro essa poesia, mais pelo processo de criação do que simplesmente pelos versos.

Felizmente achei também a poesia que fiz em 1999 e que foi traduzida para o inglês. Lá vai:

Pro Nobis

Being sincere
With me and with you.
Essential.

I do not spare feelings
Because I feel now.
Emotion is moment.

My hands touch,
Not seize.
My eyes speak with yours,
Not spy.
My presence is longing, willing,
Not pressure.

I’ve shown you the way.
I know you can walk without guidance.
In any direction, do not fear feeling and speaking.
Whatever.

The favorite dream
This moment’s.
To listen and to see.
What? Truths and you happy.
For as long as we walk together
Or not.

Versão em inglês: Emerson Werneck


Angélica encontrou vários vestígios do passado em poesias. O interessante é que não encontrou a versão original (em português) da poesia acima.
Decidiu postar algumas de suas poesias aqui na série “Meus versos”.

domingo, 18 de maio de 2008

Incomoda? – parte II

Você assume? Estaria disposta? Você é honesta? Quer comprar? O que é que você diria? Daria pra dizer alguma coisa? Daria em silêncio? Você pensa que é tão gostoso? Quem é melhor do que você? Você iria com qualquer um? Por pior que fosse? Com quem? Você tenta? Até que ponto é tentação? Não tem perdão? Como é que pode? Você pode? Tem razão? Qual é a maior importância de tudo isso? Até o fim? E depois? Alguém segura as consequências? E se espalhar no ventilador? Tem sentido? Tem cheirado ou tem fedido? Quem você pensa que é? Vai começar? Com que roupa? Que hábitos são esses? É de propósito? Você não muda? Não faz ginástica? Sabe nadar? Não sabe andar de bicicleta? Não dá trabalho? Por que você não faz alguma coisa? Vai fazer uma coisa dessas comigo? Por que eu? O que eu te fiz pra merecer? Os documentos estão em dia? Você me teve no que mereceu? No que você me meteu? Você pensou bem no que vai me falar? Falar o quê? Tem alguma coisa errada? É muito grande? É muito feia? Quando começaram a nascer os cabelos brancos? É muito gorda? Comprou salada? Você sabe o que é certo? Vai me dizer? Tem que saber? Vai aproveitar? De quem? Até quando? Você acha que aguenta? Você gosta desse jeito? Não importa o sofrimento? Quando dói? É ruim ou é bom? Tem cabimento? Que tamanho? É salgado? É grosso? A troco do quê? Passar pelo quê? Chegar aonde? O que você vai conseguir com isso? O que é isso mesmo? Você tem certeza mesmo do que está fazendo? Onde você coloca tuas fichas? É uma aposta? Então me diz? Pra quem? O que você quer dizer com isso? Você não se convence? Tem fome? Comeu bem? Foi bem servida? Eu estou aqui pra qualquer coisa? Tem sede de algo? Se sente bem? Quem é que sabe? Como é que eu me sinto? Tem vontade? Dá no couro? Você repara? Não vai nem comentar? Com quem? E tem jeito? De que maneira? Alguma coisa te satisfaz? Você não tem vergonha? E essa cara de pau? Não fala comigo? Que espécie de conversa é essa? Você me ouve? E não vai dizer nada? O que é que você me diz? Eu fico assim? Sabe de uma coisa? Vamos tomar um vinho? E esse silêncio? Não te incomoda?


Só agora que Mariana conseguiu se livrar das perguntas. Mesmo sabendo que muitas outras virão, sai em busca das respostas.

sábado, 17 de maio de 2008

Cordeirinho ou lobo mau?

Faz parte da minha personalidade reclamar das coisas, quem me conhece, sabe muito bem disso. Sou um pouco reclamona sim! Quando estava na faculdade, todos os dias tinha que subir um morro, não muito grande, mas com mochila pesada nas costas e neve aquele morrinho acabava virando um pé no saco. Não tinha jeito, todos os dias eu reclamava do morro. As vezes era só um suspiro, outras vezes reclamava mesmo : ‘Oh morrinho chato’. Meu marido que muitas vezes subia o morro comigo não entendia como que eu não acostumava. Até quando eu subia sozinha, costumava reclamar do morro pra mim mesma. E assim foi por 3 anos, até terminar o mestrado. Quando estava terminando de escrever a tese, o que mais pensava não era no fato de virar ‘mestre’ e sim no fato de me livrar daquele morro pra sempre. A minha capacidade de reclamar é mesmo incrível!

Em outras situações, eu também costumo reclamar, se o restaurante está demorando demais pra trazer a comida, se alguém me der uma fechada no trânsito, e assim vai. Algumas vezes sinto que realmente vale a pena ser uma reclamona, ter coragem de falar as coisas que muitas pessoas não têm. Mas algumas vezes fico pensando, será que vale a pena o estress? Lutar pelos seus direitos também é estressante.

Outro dia, tive uma pequena discussão com um cara do meu time de vôlei (jogo em um time mixto, aqui existe isso). Sabe como é, a maioria do pessoal do time pensava como eu, mas ninguém tinha coragem de falar. Afinal o cara é o gostão da bala chita, ex profissional, o Giba do nosso time. Quem vai ter coragem de falar pro cara que ele é ‘um fominha filho da puta’ e que o resto do time também está afim de jogar? Claro, claro, tinha que sobrar pra mim. Lá vai eu com meus quase 1,70 de altura e 58 quilos enfrentar o cara que dá 4 de mim. Falei o que tinha que falar e o cara ficou meio putinho, saiu fritando para o vestiário. Mas o que tinha que ser feito, ‘tinha que ser feito’ e eu fiz. Mais uma história para o meu curriculo de lobo mau.

Foi depois desse episódio que fiquei pensando, será que a vida de cordeirinho não é bem mais fácil? Tem que ter sangue de barata, mas é bem menos estressante. Os cordeirinhos ficam lá, tranquilos, aceitam qualquer coisa e esperam que algum estressadinho vá lá resolver os problemas deles. Uma tranquilidade, muito zen. A gente não vai participar das olimpíadas mesmo, então por que não deixar o cara fazer o jogo de fominhagem dele? Mas eu não aguento, parece que a língua coça.

Liz está cansada dessa vida de lobo mau, vai tentar ser mais cordeirinho de agora pra frente.

I’ve been asleep for a while

Sabe quando coisas que costumam “passar batidas” às vezes nos pegam de forma diferente? Aconteceu comigo ao ouvir pela enésima vez a música Bubbly.

O verso “I’ve been asleep for a while…” me cutucou, provocando...

Depois de muito pensar, percebi que estive adormecida, sim... Deixando a vida passar como se nada fosse.

Ainda bem, acordei! E várias coisas contribuíram para que eu acordasse (a mais forte está completando um ano – saudades, meu bem!).

Contribuíram para que eu acordasse para a vida, suas pequenas e grandes questões, acordasse pra mim, para as pessoas que amo, para as que conheço e para as que estou conhecendo e deixando que me conheçam. Acordasse pras cores, pros cheiros, pras sensações... Os sons estão mais nítidos... as paisagens mais bonitas... a risada mais fácil!

Nesse processo, adormeci e deixei que adormecessem muitas coisas importantes, até mesmo amizades, que entenderam que, para que eu acordasse mais forte e mais viva, precisei ter esses sonhos e pesadelos. E foi bom acordar e ver que as pessoas queridas continuam lá, talvez não fisicamente próximas, mas estão lá. Beijão, gurias!!

Renata não mudou, só acordou! E está adorando cada momento!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Shanghai Kiss

Assisti outro dia um filme lindo, chamado Shanghai Kiss.

Ele fala sobre um rapaz, americano mas de origem chinesa, que conhece uma adolescente de 16 anos em um ônibus, em um daqueles dias que tudo dá errado. Apesar de parecer que eles não têm muita coisa em comum, acabam ficando amigos. Ela se apaixona por ele, mas como ela é menor de idade e lá pegar menor de idade dá cadeia (rs) ele nem fica com ela. Mas ela sabe que tem o problema da idade envolvido, então ela nem pressiona, nem desiste, esperando o dia que vai fazer 17 anos e então seria possível viver uma história com ele. E ela considera, e inclusive fala, que ele é namorado dela. O melhor amigo dele não entende que ele possa achar graça em uma adolescente, achar a companhia dela tão agradável (ele inclusive a leva e busca na escola todos os dias), mas ele adora estar com ela, e o comportamento adolescente dela o encanta. Ela precisa de muito pouco pra se divertir, e isso inclui tirá-lo pra dançar no meio de uma lavanderia, como se não existisse mundo além daquele lugar.

Os dois, apesar da diferença de idade e de cultura (ela, uma menina mimada criada em Beverly Hills; ele, filho de chineses, nascido em Nova York, se muda para Los Angeles na esperança de ser ator, não mantém muito vínculo com a família), têm também muitas coisas em comum que os une. E assim o tempo vai passando, enquanto ele se diverte com outras mulheres, sempre com uma sensação de estar incompleto, ela mal vê a hora de poder estar com ele. Até que ele herda da avó paterna uma casa em Shanghai, e vai para lá na esperança de vendê-la o mais rápido possível e voltar para os EUA. Quando ele avisa a ela que está indo de repente para Shanghai, ela fica arrasada e a primeira reação é perguntar se pode ir com ele. Mas não pode...

Durante os três dias que ele fica em Shanghai, ele conhece uma moça e acha que vale a pena se mudar pra Shanghai, voltar às suas raízes, conhecer sua cultura, fazer parte daquele mundo novo pra ele. Durante estes três dias a adolescente liga pra ele, sempre tentando agradar, sempre sorrindo, o que faz com que ele se sinta mesmo ligado a ela. Mesmo assim ele decide se mudar para Shanghai. Quando avisa a ela, ela chora, pede, fica arrasada, mas mesmo assim ele acha que é o melhor a fazer. Fica em Shanghai durante dois meses, e depois percebe que na verdade não pertence àquele lugar, e decide voltar. Sua primeira providência é procurar a menina e dizer que a ama tanto que quer que ela seja feliz, mesmo que para isso tenha que abrir mão dela, que está indo para Paris estudar.

Um ano depois, ela volta de Paris e lá está ele, esperando no aeroporto aquela moça que, apesar da diferença de idade, de cultura, de tudo, fazia a vida dele mais leve e feliz. E o fim do filme é o começo da felicidade dos dois. Um filme leve, mas mesmo assim muito lindo, dando aquela sensação de que se você tem certeza que a pessoa de quem você gosta tem de tudo pra ser feliz ao seu lado, talvez seja bobagem desistir dela fácil assim.


Sisa achou o filme mesmo lindo, e indica pra quem gosta de filme água com açúcar.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Paradoxos

Tem algumas coisas em que eu acredito - não sei bem porque, mas acredito. Uma delas é que ninguém morre na véspera. Mortes bobas e sobreviventes “mirabolantes” comprovam essa minha teoria. Não que eu vá passar a vida saltando de prédios em chamas ou pulando de aviões em pleno vôo. Mas creio que se eu fizesse esse tipo de coisa, ainda assim só passaria para a próxima etapa do plano quando chegasse a minha hora.

Outra coisa que acredito é no karma. Acredito que ninguém passa por nada à toa nessa vida. Não acredito no acaso, nem em coincidências. Não importa se o karma seja fruto dessa vida ou de outra - tanto faz, na verdade. Mas aquilo que é seu, ninguém tomará e nem passará por você.

E é aí que eu me encontro com o paradoxo da fé. Mas não é isso que quero discutir aqui. Mesmo porque também acredito na fé das pessoas. Muito mesmo. Mesmo que eu ainda não tenha descoberto a minha.

Mas por vezes me pego pensando nela e na sua relação milenar da humanidade.

Mesmo que eu realmente acredite que as pessoas só morrerão quando chegar a sua hora, e se o fizerem sofrendo ou dormindo será fruto de seu próprio karma, é inevitável nessas horas pensar em pedir para que algo saia diferente.

Pensamento positivo, orações e outras manifestações da fé funcionam para aqueles aos quais os direcionamos? Não creio. Mas funcionam sim, e muito bem, para nós mesmos.

E aí nos deparamos com o paradoxo do poder. A fé move montanhas? Ou o karma é maior do que isso? Temos poder sobre nosso destino? Temos poder sobre o destino alheio?

Não sei se um dia acharei respostas para essas perguntas. Respostas além das crenças e tradições. Respostas além das opiniões, dos pensamentos e da massificação.

Mas sigo procurando.

Milena gostaria de ter algumas respostas antes da sua hora chegar. Escreve aqui às quintas.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Suínos de terno

É incrível o poder que um terninho feminino tem de despertar atitudes ridículas em porcos chauvinistas que se autodenominam executivos.

Eu sempre achei o máximo o estereótipo de uma mulher executiva e secretamente sempre quis me tornar uma, mesmo sabendo que minha vida pendia para outros lados e o modelito mais provável seria um guarda-pó branco e sujo. Até que idas e vindas me pegaram desprevenida e um belo dia, sem nem me dar conta disso, acordei sendo (ou melhor, tentando ser) uma executiva. Com direito a pacote completo: terninho, maquiagem e bijuterias discretos, pastinha de couro, saltão e eventual ponte aérea.

Tudo muito lindo, porém, como tudo na vida, ser executiva também tem seus “poréns” (que certamente não nos avisaram que existiam enquanto sonhávamos com isso). No meu caso, um “porém” bem inesperado, mas muito presente: ter que aturar porcos chauvinistas (vulgos executivos babacas) com alta freqüência.

Não me venham com esta história de que a revolução feminina conquistou o espaço da mulher, de igualdade entre os sexos e blá, blá, blá. O absurdo começa no aeroporto, no raio do detector de metais. Mesmo despindo-me até da minha alma pra passar pela portinha: pi pi pi, pi pi pi. Ódio. Vai e volta e vai e volta de novo, o raio continua apitando. Imediatamente olhares maliciosos (dos homens é claro) e risinhos surgem de todos os lados, relacionando a cena com um quadro estúpido de um programa estúpido de final de semana, onde uma gostosona estúpida acaba desfilando de roupa íntima na portinha, para o bel prazer dos machões estúpidos. Ai, que raiva! Depois da humilhação de ter o detector manual esfregado por todas as partes do corpo (obviamente manipulado por um homem com sorrisinho cínico), e de nada ter sido encontrado, segue o constrangimento.

Já reparou o número de mulheres em vôos em horários de executivos (SP-RJ, sete da manhã, por exemplo)? Ainda é de uma para cada dez, aproximadamente! Então, pode ser uma beldade ou um tribufú de salto, que muitos idiotas param o que estiverem fazendo (mesmo que ele esteja na sua frente, guardando a pastinha no compartimento superior e interrompendo o transito) pra ficar babando. Ai que nojo, que nojo!

E o pior, o mais revoltante, é que pelo menos noventa por cento deles exibem alianças tão grandes que chegam a andarem curvados com o peso do anelzinho. Tadinhas das esposinhas.

Com isso acabei quase sendo grosseira com um moço que só queria mesmo ser simpático, sem segundas nem terceiras intenções, e acabou se tornando sério candidato a namorado de uma amiga. É fogo, viu?

terça-feira, 13 de maio de 2008

Os quilos que não quero

Desde 2003 deixei o meu então padrão de 55 quilos para ganhar algumas gordurinhas. Tudo bem que eu era quase uma etíope, bem magrinha, mas não precisava engordar 13 quilos. Completamente desnecessário. Dez deles eu aceitei, mas os outros três não me pertencem, eu sei disso, então como sou uma criatura boa, magnânima, estou doando três quilos, alguém se habilita?

Até meus 27 anos, não se via barriga em mim. Agora, quando me olho no espelho tento ser otimista e digo a essa bolinha aqui: “sai desse corpo que não te pertence”, fecho os olhos na esperança de que, quando abrir, a barriga já tenha desapareciso. Que nada, olha ela aí, grudadinha em mim, danada! Aí comecei a fazer parte da arrasadora maioria de mulheres que quer emagrecer só três quilinhos. Antes quisesse perder os 13, acho que seria mais fácil, apelaria logo para um endocrinologista, uns remedinhos e pronto. Mas como sou adepta dos processos mais naturais possíveis, optei por fechar (medianamente) a boca e rezar para Nossa Senhora da Boa Forma clamando por um milagrezinho. Digo medianamente porque não deixarei a minha paixão por brigadeiros por causa de “meros” três quilinhos. Adotei a gelatina, mais frutas, biscoitos Cream Cracker nos intervalos das refeições, sucos sem açúcar e fé, muita fé. Preciso dela porque uma criatura que quer emagrecer somente fechando (medianamente) a boca e sem tempo de fazer sequer 20 polichinelos por dia, tem de ter um tantão assim de fé...

A dificuldade de perder uns quilinhos é, certamente, uma das características das mulheres às voltas com seus 30 anos. Antes disso, é sempre mais fácil, por mais difícil que pareça. A partir da terceira década, é mais difícil do que o difícil que parecia ser. Fazer o quê? Voltar aos 15 anos? Nem morta!!! Prefiro fazer terapia para conseguir conviver com os três quilos que não me pertencem do que voltar à pirralhice. Cruz credo!

Aqui vou eu para minha última refeição do dia: gelatina e fruta. Lindo, né! Pena que é tão pouco produtivo. Mais um motivo para eu querer muito que o final do ano chegue. Terminando a faculdade, terei tempo para polichinelos, corridinhas e algo mais para reforçar a “guerra contra a bolinha”. Será que até lá já perdi pelo menos um quilo!!!!????


Angélica não sabe fazer dieta. Está tentando se educar para comer com qualidade, sem tanta besteira. Espera, com isso, perder os três quilinhos que alguma bruxa jogou no seu quintal.
Obs.: brigadeiro não é besteira.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Pessimismo


Até quando esperaremos, por dias melhores, amores mais honestos, amigos mais presentes, pessoas mais sinceras. Até quando esperaremos? Será que esperar faz parte da vida, mesmo quando você é uma pessoa que definitivamente não gosta de esperar? Talvez a espera seja parte da ansiedade que vive em todo ser humano. Ansiedade, angústia e espera, trio perfeito para a loucura, para os pensamentos mais nefastos, pessimistas e, por vezes, suicidas. Sim, eles fazem parte do ser humano; do grandioso e considerado pelo próprio o único animal racional do planeta Terra. De superioridade infinita, um ser de desejos incessantes, egoísmo desenfreado e ciúme assassino, sim, este é o nosso fardo. Podemos ser o que quisermos, felizes ou infelizes, satisfeitos ou eternamente insatisfeitos, atuantes ou coadjuvantes. Nosso arbítrio, nossa maior preciosidade e infelizmente diversas vezes mal usado. Sim, estamos sempre esperando, esperamos pela vida pois queremos esquecer que na realidade esperamos pela morte. Esquecemos ou simplesmente fingimos esquecer que a espera não nos leva a nada, a não ser quando não se há mais nada o que fazer, mesmo assim, não se deve esperar. Cabeça vazia, cheia de pensamentos que não nos fazem bem. Por que nos viramos para o lado negativo das coisas? Por que nos parece mais fácil acreditar que nossa imaginação é mais verdadeira do que a realidade, do que as palavras, do que os fatos? Será que isso também é parte fundamental do homem?

Silvia pede desculpa pelo pessimismo exarcebado, escreveu esse texto semana passada, leu, releu, modificou, alterou, acrescentou; e hoje, infelizmente, não conseguiu escrever nada melhor. Não que ainda esteja pensando assim, nem que tenha modificado todas as suas reflexões, mas simplesmente não sabia por onde começar algo melhor pra dizer.

domingo, 11 de maio de 2008

John Pizzarelli Quartet Band

John Pizzarelli nasceu em Nova Jersey, Estados Unidos, em 1960. Filho da lenda da guitarra Bucky Pizzarelli e descendente de italianos, John não negou o sague de origem latina. Atualmente é um dos maiores jazzistas do mundo, sempre acompanhado por uma simplesmente fenomenal banda, da qual faz parte seu irmão Martin Pizzarelli, empunhando o magistral contra baixo. O piano de Larry Goldings não deixa por menos. O som puro e limpo, por vezes lento, outras, acelerado, afaga a alma. E a percussão, delicadamente tocada por Tony Tedesco, é suave e completa o harmonioso quarteto.

Há três anos atrás, quando foi anunciada sua passagem pelo Brasil e, incrivelmente, por Belo Horizonte, quase não acreditei e corri para o site do Palário das Artes. A alegria deu lugar à decepção: a apresentação, única em terras mineiras, seria para poucos. Meus bolsos não comportavam um par de ingressos. Praguejei contra este governo miserento que acusa o povo brasileiro de não valorizar programas culturais sem promover um programa decente de incentivo à cultura e jurei pra mim mesma que não perderia a próxima turnê de John Pizzarelli Quartet Band no Brasil. Comprei um DVD e fui pra casa me consolar.

Semana passada tive notícia de que seriam comemorados os vinte anos de uma tradicional construtora de Minas Gerais e que John Pizzarelli fora contratado para se apresentar na festa. Quase enlouqueci. Nunca fui de cavar convite em festa, acho besteira, as pessoas que querem a minha companhia me convidam, oras! Mas pra esta me deu vontade, viu? Ensaiei umas mil vezes pedir pra pessoa que me contou da festa tentar conseguir dois convites pra mim, mas não tive coragem. O máximo que consegui fazer foi contar minha história e dizer que gostaria muito mesmo de ter a oportunidade de assistir, ao vivo, a uma apresentação da banda.

Para minha agradável surpresa, minha contida manifestação rendeu, não dois convites para a tal festa, mas sim para a apresentação que haveria no dia seguinte, esta, aberta ao público. Por curiosidade (ok, eu concordo, bem mórbida minha curiosidade), entrei no site para ver os preços. Até que não estavam tão salgados - ou fui eu quem melhorou um pouquinho mesmo - mas ainda assim, neste momento, não sei se deveria me dar a este luxo. Fiquei feliz de ter ganhado os ingressos.

Ontem foi o grande dia. Trabalhei o dia todo, voltei pra casa correndo e encontrei meu marido praticamente pronto (mais uma agradável surpresa hehe). Foi a conta de descobrir onde seria a apresentação, escolher uma bela roupitcha e ir pra apresentação, toda empolgada! Achei estranho a apresentação não ser no Palácio das Artes, mas sim numa casa de shows, mas naquele momento nada disto era relevante. Pelo menos não até estacionar o carro.

Ao chegar na casa de shows, havia uma fila até pequena na portaria, mas que não andava de jeito nenhum. O site informava que a casa estaria aberta às 21:00h e que o show seria iniciado às 22:00h. Eram 21:00h e a portaria não abria. Sem stress, afinal, era a apresentação de John Pizzarelli. Mais de meia hora depois, entramos e começaram as surpresas desagradáveis. Primeiro que nossos ingressos não eram na mesma mesa e não havíamos nos atentado pra isso. Quando chegamos na mesa, quase caí pra trás! Mal cabíamos nós dois na mesa, quiçá quatro pessoas! Estava muito apertado e desconfortável. Mesas e cadeiras de metal, um horror. Mas pelo menos a vista era privilegiada. Estávamos no gargarejo. Rapidamente a casa foi enchendo, as mesas ficando apertadas, a pobre coitada da garçonete não conseguia transitar e quando, finalmente, conseguiu chegar à nossa mesa, nos informou que seria preciso adquirir cartelinhas de produtos para fazer pedidos. Que lástima... por mais que a menina fosse educada e se esforçasse por nos atender bem, isto não dependia dela. O lugar estava terrível. As mesas haviam sido muito mal distribuídas. Tivemos sorte dos companheiros de mesa terem desistido de ir à apresentação e de todas as pessoas que estavam na mesma situação que nós serem civilizadas. Conseguimos, com a supressão de duas mesas, algumas cadeiras e a comunhão das mesas restantes, acomodar todo mundo. Mas o stress era quase palpável. Quando eu já estava prestes a entregar os pontos e ir embora – já eram mais de 23:00h e nada de a apresentação começar – apagaram as luzes e a banda entrou. Stress? Stress? Alguém aí falou em stress?

Que espetáculo, meu Deus!!! Violão de oito cordas: lindo!! Piano de cauda: maravilhoso!! Contra-baixo: indecente!! Percussão: impressionante!! John Pizzarelli: sem comentários!!! A apresentação foi muito, muito bacana. Dei graças a Deus por não ter apelado e ido embora. Teríamos perdido um show muito legal. A bossa nova, ansiosamente esperada, era óbvia demais. Pizzarelli nos surpreendeu tocando uma música de Toninho Horta. Fiquei orgulhosa de ser brasileira, de ser mineira, quando ouvi um intérprete e uma banda daquele nível entoando Toninho Horta, João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes num repertório que também incluía os Beatles!

Fomos embora felizes da vida, sonhando em poder ir ao Jazz Festival que certamente acontecerá quando Nova Orleans tiver se recuperado totalmente do Katrina.

Laeticia amou o show de John Pizzarelli Quartet Band mas achou um crime ele não ter se realizado no Palácio das Artes. Obrigada, Helena!!

Preconceitos e modos de vida

É muito difícil assumir comportamentos diferentes na sociedade. Por mais que o mundo seja mais liberal, e que haja uma aceitação maior das diferenças, o que continuamos a ver são preconceitos não-declarados que se propagam como incêndio na mata.
E não são os preconceitos mais sérios, considerados crimes, os mais corriqueiros em nossa sociedade. Afinal, por mais que estes existam, há meios legais de puni-los. Nossos preconceitos são cotidianos, e cruéis como os preconceitos criminosos.

Assim, se uma pessoa quiser ficar em casa, nas suas férias, curtindo filmes, músicas, livros, família; seus colegas vão condená-la por não querer viajar nas férias. E a coisa ficou tão séria que o costume decretou que quem não viaja nas férias, não descansa. Logo, todas as pessoas devem viajar nas suas férias, para descansar, e não correr o risco de morrer de tédio dentro de casa.

A impiedosa sociedade ainda considera absurdo uma pessoa gostar de ficar sozinha. Oras, isso é doença! Querer sair, ver os amigos, ter sempre uma companhia é regra. Se você quiser fazer uma viagem sozinho, ou curtir um momento só seu, então não é normal! As pessoas se esqueceram de olharem para elas mesmas; se esqueceram que nem toda solidão é ruim, e que se pode sentir a solidão ruim mesmo estando cercadas de amigos.

Além disso, vivemos num mundo em que temos que ter tudo para alcançarmos a felicidade. Precisamos ser os melhores profissionais, com os mais altos cargos e salários, com carros do ano e imóveis em condomínios de luxo, para sermos felizes. E qualquer pessoa que se sinta feliz sem querer nada disso, é louca! É um verdadeiro caso de internação!

Todos os dias enfrento esses preconceitos. Há anos tento manter meus valores, mas, como acontece a outras poucas pessoas loucas no mundo, a sociedade tenta massacrar estes valores, tenta oferecer essas felicidades globais como modo correto de ser e viver.

Será que algum dia a sociedade saberá respeitar as mínimas diferenças e as pessoas aprenderão a ser felizes sem se preocuparem com aparências?


Tania luta para manter seus valores, e acredita na música dos Mutantes: “Mais louco é quem me diz que não feliz. Eu sou feliz!”.

sábado, 10 de maio de 2008

Incomoda?

Alguma coisa te incomoda? Qual é o problema? O que é que você está olhando? Por que me olha desse jeito? O que você acha disso? Quem você pensa que é? O que é que você está pensando? Já leu Clarice Lispector? Qual foi o último filme que viu no cinema? Onde você anda com a cabeça? Que lugar é esse? Não é perigoso? Não tem que tomar cuidado em quem pisa? Não é segredo? O que é que você está querendo? Não é pouco? Não é muito? Pra quê tanta pressa? Correr pra onde? Chamar por quem? Eu tenho culpa? O que é que está acontecendo? Tem saída? Pra onde? Onde você está? Por que é que você fica me olhando e não responde às minhas perguntas? Você se entende? Você se lembra? Do quê? Você não pisca? Nem naqueles momentos? Pra quem? O que te leva a fazer isso? Por que esses olhares estranhos e esse silêncio enjoado? Que remédio amargo é esse? Precisa de receita? Vai por baixo do pano? Ninguém se engana? Que droga é essa? Reclamar pra quem? Você não presta atenção no que está fazendo? Quem é o responsável? Tem que ter paciência? Há quanto tempo estamos esperando? O que é que vai mudar? Onde que eu fui me meter? O que é que você ganha com isso? Desde quando? Fica bem? Não é mal? Quanto é? Não é triste? Nem alegre? Você sabe onde está?Você sabe com quem está fazendo? Onde? Por quê? É pra me deixar desse jeito? Você sabe como eu estou? Tenho que ir? Agora? Então você sabe como eu sou? Qual é a sua? Está na minha? E eu? Quem te explicou? Tem diferença? Tem certeza? Não é confuso? Por que você me esconde? Qual é o seu tipo preferido? O que é que você acha? Acha e mostra? Você se esconde?

Mariana andou sumida, embebida numa piscina de interrogações...

Maternidade

Uma sementinha no meu ventre. Célula. Células. No silêncio foram, milagrosamente, dando seguimento à dança da vida, suas dobras e desdobras intra-uterinas, coreografia milhões de vezes executada, sempre em pré-estréia, um espetáculo fascinante. O sopro, o choro, o colo. Olho no olho. Pele na pele. Separadas de corpo, mas, para sempre, unidas de alma. As risadas, os passos, os tombos, as perguntas e respostas, o sono, os passeios, as noites (bem e mal) dormidas, as mamadeiras, as brincadeiras... as conquistas, todas. Os sentimentos, todos. As sensações, todas.

Todos os momentos de nossa vida juntas são e sempre serão meu maior presente do Dia das Mães. Ser mãe de uma pessoa tão surpreendente e maravilhosa é uma honra!

Parabéns a todas as mães, só quem é mãe entende mesmo do que eu estou falando!


Renata tem um recadinho: Annie, te amo mais que tudo!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Admirador Secreto

Outro dia uma das Mulheres de 30 me contou que recebeu um telefonema de um admirador secreto. Pelo que ela disse, foi pega de surpresa, de forma que a conversa não rendeu muito, até porque foi durante o expediente. Mesmo assim me deu uma pontinha de inveja. Inveja boa, se é que existe inveja boa. Sempre é bacana saber que alguém te acha interessante, mesmo que você não saiba quem é, ou mesmo que você não tenha interesse na pessoa.

Já estava esquecendo minha invejinha quando esta semana o telefone tocou. Era alguém querendo falar com Maria. Quando ligam aqui em casa e pedem pra falar com Maria já é claro que é alguém que não conhece, já que aqui em casa somos duas Marias. Ok, uma das Marias já casou e mudou, mas mesmo assim. Perguntei qual das Marias, ouvi uma risada e a resposta: Maria Cecilia (pasmem, meu nome não é Sisa, rs).

Aí comecei a ouvir elogios de alguém que eu nem sabia quem era. A voz do outro lado do telefone me disse que eu sou linda, que meu sorriso é lindo, que meus olhos são lindos, e que estava simplesmente encantado por mim. Recebi os elogios com uma risada e agradeci. Depois de um tempinho de conversa eu achei que já sabia quem era, pelas informações que ele deu, e porque eu reconheci a voz. Depois fiquei sabendo que na verdade eu estava falando com o irmão do que eu pensava que fosse, o que na verdade não mudou muita coisa, já que os elogios seriam bem vindos de qualquer forma, mas que nenhum dos dois me despertaria interesse pessoal.

A conversa dele era agradável, educada, gentil, e foi fluindo. Eu não tive pressa de desligar, embora não tenha em momento algum alimentado alguma esperança do admirador, agora já não tão secreto. À medida que eu ia conversando e rindo (estava achando a situação muito divertida), ele dizia que me ligar tinha feito com que ele se encantasse ainda mais por mim, já que além de linda, com sorriso lindo e olhos lindos eu ainda era agradável. Perguntou se eu sempre fui assim, e eu disse que já houve um tempo que meu humor não era dos melhores, mas que ultimamente eu estava tentando levar as coisas com mais leveza. E ouvi que então ele tinha me “conhecido” no momento certo.

Depois de meia hora de elogios e bate papo, ele perguntou se podia um dia me convidar pra sair. Aí eu disse que seria franca com ele, que por mais que fizesse bem para o ego ouvir aquele tipo de coisa, que eu não estava aberta a isso. Que agradecia o convite e a atenção, mas que realmente não seria possível. Ele levou na boa, pediu para pensar no assunto, e até disse que não desistiria fácil assim.

Enfim, foi uma surpresa ao mesmo tempo bizarra e divertida, mas que massageou meu ego. Por vários motivos não vou dar uma chance ao admirador. Mas sempre é bom saber que alguém nos vê com esses olhos, ainda mais quando é alguém gentil, que liga para nos chamar de linda ao invés de fazer um comentário grosseiro quando vê passar. Ganhei o dia e minha auto estima agradeceu. Por estes motivos, hoje quero desejar a todas as Mulheres que lêem este texto um admirador, secreto ou declarado, que esteja disposto a dizer pra elas o quanto elas são lindas e muitas coisas mais.

Sisa ficou se achando depois do tal telefonema, e acha que melhor que isso, só se tivesse sido alguém que tivesse alguma coisa a ver com ela. Ah, sim, ela faz 29 aninhos domingo e espera manifestações aqui no blog, hein?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Música do dia

O maestro dá o sinal e o mundo se curva diante da beleza do que vem a seguir. Notas, pausas, tempos, respirações, sussurros, emoções, lembranças, encantamentos. Tudo junto, na mesma partitura. No mesmo compasso. O coletivo torna-se único. E o uníssono torna-se parte de nós. A obra em questão pode ser o Concerto Brandenburguês nº 2 de Bach, Bicho de Sete Cabeças cantada pelo Zeca ou até um sambão do Chico em homenagem à saudosa Mangueira.
Não importa. Quando a música nos toca, nós nos dobramos.

Meu relacionamento com a música vem desde o berço. Minha mãe - aquela mesma de uns textos atrás, lembra? - cantava "O filho que eu quero ter" para mim todas as noites na hora de dormir.
Desde pequena aprendi a ouvir música. Ouvir, de verdade. Não só escutar.
Tem momentos de várias músicas que me emocionam. Pode ser um acorde, um pedacinho do arranjo, ou uma frase dita lá no meio da poesia. Simplesmente não dá para explicar.

Toda semana eu sou acometida pela enfermidade da “música preferida”. A dessa semana é do Chico e se chama “Piruetas”. Se você achar a versão sem os trapalhões, é divertidíssima.
Vai um pedacinho?

No intervalo
Tem cheirim de macarrão
E a barriga ronca
Mais do que um leão
Quero um prato
Cê tá louco
Quero um pouco
Cê tá chato
Só um pedaço
Cê tá gordo
Eu te mordo
Seu palhaço
Olha o público
Cansado de esperar
O espetáculo
Não pode parar


Milena queria ser a mocinha dO Fantasma da Ópera, a musa que inspirou Geraldo Azevedo a compor "Dona da minha cabeça", atleta olímpica, acrobata do Cirque du Soleil, esposa do Chico Buarque e amante do Zeca Baleiro. Escreve aqui às quintas.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Desabafo

Maldito tempo. Todo santo dia o raio da agenda me lembra que eu não o tenho, mas que ele está passando. Desconfio que seja uma estratégia desse caderninho, que gosta de ser acariciado com minha grafite e massageado com minha borrachinha branca (a dupla que, dia após dia, vai transferindo coisas que não puderam ser feitas para outro dia, e mais outro, e mais outro).

Fui deixar o cabelo crescer mais uma vez e ele virou uma juba. Como assim? Mas foi ontem que eu cortei! Os fios compridos se revelam soltos pela casa mandando o recado da melena: “olá, corte-me, corte-me, corte-me, prima It”. O micro vai dar pau em breve. Faz tempo que ele vem avisando: “ouw, tô cansado, preciso de atenção, preciso de organização, preciso de upgrade!”. A mala de uma viagem já antiga continua lá, por ser desfeita, depois de ter sido refeita sem ter sido desfeita de uma viagem anterior. Papéis viram pilhas pela casa. Sacolas de coisas deixadas para guardar amanhã viram decoração permanente daquele canto. Há dois meses fiquei de fazer um cartão de aniversário para uma amiga, em nome de vários outros amigos e até hoje ele está lá, lindo apenas na idéia da minha cabeça. Ontem foi aniversário de quinze anos da minha sobrinha e eu lembrei (eu sempre lembro de tudo), mas não consegui tempo pra ligar pra ela. Nunca mais mandei um e-mail para algum amigo de longe só pra perguntar como ele está.

Escolher entre fazer super e lavar roupas ou começar a academia? Ficar me sentindo culpada por resolver ficar meia hora empernada com o amorzinho abdicando de algum “tenho-que”? Pensar em desistir de fazer uma nova faculdade, que eu quero tanto, por imaginar que o único jeito seria raspar o cabelo, ir trabalhar de pijamas e me alimentar de pílulas? Desistir de aprender a tocar violão por estar cansada de levar bronca do professor por não estar treinando em casa? Pensar em desistir deste blog que eu adoro?

Poxa vida, que saco! Tô cansada dessa lamúria, tô cansada de reclamar, tô cansada de viver cansada e mau-humorada. Estou exausta de não ter tempo pra nada, mas de ser engolida pelo tempo a todo instante.

Gisele Lins está exausta e pede desculpas pelo desabafo. Espera continuar escrevendo aqui às quartas-feiras.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Meu jeitinho

Como as pessoas mudam, não é mesmo!!?? Eu sou um claro exemplo disso. A essência está aí (um tanto aprimorada), porém camuflada, bem escondidinha atrás desse jeitinho tosco com que levo a vida hoje.

Ainda criança, e adolescente também, não conseguia falar direito ao telefone. Tinha vergonha, pode!!!??? Hoje não dispenso um papo, embora não tenha a paciência de uns 10 anos atrás para ficar tempos e tempos ao telefone.

Essa vergonha citada acima era uma das evidências da minha timidez. Sim, ouçam bem, já fui muuuuiiiito tímida! Nada que um curso de Relações Públicas não possa resolver, além da necessidade de “me virar” em muitas outras situações. A timidez ainda existe, mas só aparece em situações muito especiais e inesperadas.

Creio que esse meu jeitinho tosco começou a aparecer quando me interessei, aos 18 anos, por um rapaz que era meu amigo. Comecei enviando flores a ele. Foi uma ousadia, afinal poucos homens dão valor a um gesto como esse. Ele disse que gostou e pra mim era mais cômodo acreditar. Daí para me declarar, nem precisei respirar fundo. Quando dei por mim, já tinha falado. E aí??? Ele me disse que eu era “moça para casar” e no momento não podia se envolver comigo pois não estava aberto a relacionamentos tão sérios. Aloooouuu!!! Quem foi que falou em casar meu filho? Não, não cheguei a tanto, não disse isso a ele. Hoje, certamente, diria. E muito mais. Talvez ele corresse léguas de mim hoje. Aliás, a Vivi (minha amiga) me diz que eu sou um espantalho de homem, que eu deveria ser mais meiguinha, menos franca à primeira vista para não assombrar os rapazes. Ela me prometeu até um pequeno manual tipo “Como parecer uma mulher sensível e quase perfeita em 3 lições”. E eu sempre digo a ela que a melhor lição é eu ficar muda, fazendo cara de paisagem (ou seja cara de nada com coisa nenhuma) fazendo sim e não com a cabeça, rindo e abrindo a boca só na hora de beijar. Será que dá certo? Rsrsrs. Eu e Vivi nos divertimos muito com essa minha falta de habilidade. Prefiro encarar o fato somente como cômico.

Depois do episódio do amigo, foi tosquice atrás de tosquice. Tomei gosto. Mas tenho um consolo, já encontrei criaturas mais toscas que eu, beeem mais. E tive muita paciência nessa situação, como eu jamais pensei que pudesse ter.

Tenho tentado melhorar esse meu jeitinho, sem muito sucesso. Sei lá, só sei dizer não dizendo: NÃO! É difícil florear, preparar o não. Não, pra mim, é não. Assim como o sim é sim. Estou até com saudade de falar sim. Sim, sim, sim... E notícia de morte, então. Melhor que outra pessoa faça isso. Nunca me lembro da história do gato no telhado, só gravei o final.

Com relação aos homens, não visualizo sucesso também, afinal não planejo nem sonho que vou sair de casa em um belo dia, conhecer alguém, me portar como uma lady, impressionar o fulano e pronto. Então não consigo ensaiar isso, entendem!? Quem sabe como o manual da Vivi!!! Rsrsrsrs.


Angélica é um tanto tosca em muitas situações. É também romântica e deixou a timidez de lado porque acredita que a melhor forma de expressar seus sentimentos e desejos é falando / se expressando da forma mais clara possível. Sabe que assusta as pessoas e às vezes adere ao silêncio como melhor forma de sutileza.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Cheiros, Sons, Cores

Todas as ocasiões têm conversas que cabem e outras que não, têm bebidas que combinam e outras que não, assim como músicas, aliás, para mim, elemento fundamental, ou fazem o ambiente ficar melhor ou, definitivamente, pior. Quando quero e posso ouvir música, Chico Buarque tem sido, simplesmente perfeito. Uma música em particular: “Um Chorinho”. Não consigo parar de ouvir. Além de ser perfeita, é pequena, portanto você quer ouvir diversas vezes. Começa lenta e depois se anima, um violão, um piano, e uma percussão bem tranquila. Linda! Linda! Bom, e da letra acho que não preciso nem tecer comentários.

Outro fator que também tem o poder de mudar meu humor, são os cheiros das ruas e suas lixeiras, dos carros e sua fumaça, da grama molhada, das casas, do calor e do frio, e das pessoas, é claro. Às vezes gosto do cheiro de gasolina, de fósforo queimado, de fumaça de fogueira, lareira e fogão à lenha, sempre me sinto feliz com cheiro de grama e de flor, mas não gosto de gente com cheiro de terra, muito menos de alho, cheiro de frio e de chuva a caminho são, por vezes, nostálgicos e melancólicos, cheiro de perfume (perfume bom né, por que tem cada um…) me transporta para lugares bonitos e aconchegantes, e, finalmente, cheiro de comida no forno, faz o estômago acordar e me faz pensar em como é estar ali, bem naquele momento, só pra sentir o pão assando, o bolo e, quem sabe, um pão de queijo.

E as cores, não preciso nem dizer, cores das flores, da grama, do céu, cores das roupas, das casas, das pessoas, tudo tem sua identidade própria, sua forma, sua combinação, pra mim todas as cores se combinam entre si, todas fazem parte de nós.


Silvia sempre espera por um mundo mais colorido, deseja com toda a força de seu pensamento que no céu existisse um alto-falante gigante e que tocasse, de vez em quando, suas músicas preferidas, espera ansiosamente cheiro de elevador, de livros, de perfume, de comida, enfim de vida.

domingo, 4 de maio de 2008

Intimus Gel

Contexto: Sexta-feira, calor de matar, loucura de vontade de ir embora pra casa tomar um banho, TPM daquelas, dor de cabeça e náuseas, esforço sobre humano pra mostrar a educação que minha mãe me deu.

- Boa tarde, pessoal, deixe eu me apresentar. Sou a Laeticia e hoje vou passar a tarde trabalhando com vocês (por “pessoal” entenda-se um bando de homo erectus que nunca deve ter visto mulher na vida e duas mulheres com cara de asterix).
- Mulher bonita é sempre bem vinda, nem precisa mais nada, melhor, só se estivesse de mini saia! (compreendi a cara de asterix das mulheres)


Contexto: Idem acima, lendo e fazendo um esforço sobre humano pra não demonstrar meu total desprezo pela ignorância que me cercava.

- Ah, mas confessem que o sonho de toda mulher é casar!! Esta conversa de mulher moderna é só papo furado de mulher encalhada!! (inevitável fazer a mesma cara de asterix)
- Aposto que a Laeticia é doida pra casar também!! (sobrou pra mim, que estava quietinha lendo meu livrinho)
- Não, não sou (sem tirar os olhos do livro).
- Confessa, é sim!!
- Não, não sou (ainda com os olhos pregados no livro).
- Ah, pode confessar. Então, porque é que você não quer casar?
- Antes, era porque eu preferia ficar sozinha do que com homem que acha que o sonho de toda mulher é chegar aos pés do altar; depois, porque eu já me casei com um homem bonito, educado, culto e que não fala besteiras como estas que vocês estão falando!!! (virando a página, sem tirar os olhos do livro)


Contexto: Segunda-feira de manhã (nem precisa dizer mais nada)
- Então ouvi dizer que você é casada! (velho decrépito falando)
- Sim, sou casada.
- Ah, mas estes casamentos de hoje em dia são mais liberais, né? (fiz cara de asterix)
- O meu, garanto que não. Mas o do senhor deve ser, né, porque se não fosse o senhor teria vergonha de ficar passando cantada barata em mulher casada que tem idade pra ser sua filha e ainda por cima usando esta aliança vagabunda na mão esquerda (dando as costas, possessa de raiva).


Contexto: Terça-feira, ainda tentando me recuperar da cantada barata do dia anterior.
- Você mora aonde, Laeticia?
- No Nova Granada.
- Não é lá que tem uma favela?
- Todos os bairros da região sul de Belo Horizonte têm favelas...
- Eu moro no Centro, na rua x (o stress pós traumático apagou esta informação da minha memória), Edifício Marc Chagall. Quer ir lá conhecer? (fiz cara de quinze mil asterix com cãimbra)
- Você por acaso sabe quem foi Marc Chagall? (controlando a ânsia de vômito)
- Claaaaaaaaaaaaaaaaaaaaro que sei quem foi Marc Chagall.
- Hummmm e você tem algum Chagall em casa? (controlando a vontade de gargalhar)
- Óóóóóóóóbvio que tenho. Inclusive tenho vááááários Marc Chagall!! (cara de “me dei bem” do retardado)
- E VOCÊ QUER ENTÃO ME EXPLICAR PORQUE É QUE ESTÁ AQUI NESTE SEU EMPREGUINHO DE MERDA ENCHENDO O SACO DE QUEM QUER TRABALHAR SE TEM VÁÁÁÁÁÁÁÁRIOS MARC CHAGALL EM CASA?!!! (pronta pra cometer homicídio qualificado por uso de meio cruel)
- Tudo bem, eu confesso, não tenho vários Marc Chagall em casa, só um.

Como que pode, meu Deus?


Laeticia tem certeza que a propaganda de Intimus Gel (da mulher no carro parado no trânsito ao lado de um motoboy com bigodinho de trocador de ônibus) é a melhor do mundo porque mulher realmente tem que agüentar muuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiita coisa!!!

sábado, 3 de maio de 2008

Opinião formada

É bem comum as pessoas que já se sentem adultas dizerem que têm opinião formada sobre tudo. E aí você tem opinião formada sobre tudo?

Bom, eu acho esse negócio de opinião formada uma coisa meio relativa, e também acho que existem vários tipos de opiniões formadas. Tem aquela por exemplo que NUNCA MUDA, que é uma característica intrínseca do indivíduo, por exemplo sou anti-flamenguista de nascença e virei atleticana aos 10 anos. Tenho certeza absoluta que isso nunca vai mudar, mesmo que passei por momentos de deslizes, afinal a opinião formada que nunca muda também passa por crises de identidade. Aos 17 anos me apaixonei por um cruzeirense (sim, eu sei muito triste!), e em um daqueles momentos de loucura ele me fez vestir aquele pano de chão azul. Foi uma coisa de segundos, vesti aquele negócio pra fazer média com o cara, e de repente minha cabeça pesou, comecei a ficar a tonta e pensei: ‘Meu Deus, se alguém me vir assim??. Pânico total. Neste exato momento, a opinião formada que nunca muda falou mais alto e tirei a camisa imediatamente, foi neste hora que percebi que aquela opinião formada nunca ia mudar meeeesmo. Aleluia, então agora eu ia poder dormir tranquila, por mais gatinho que o cara fosse, eu ia ser GALO até morrer!

Estou falando isso porque também tem aquela opinião formada que muda, de acordo com a estação do ano, do namorado, do trabalho, da cor da moda e assim vai. Lá vai mais um exemplo da minha experiência. Sempre tive a opinião formada de que não ia querer fazer pesquisa com animais. Depois de um tempo comecei a trabalhar na faculdade de medicina, em um grupo bem legal. Conversei com minha chefe e falei que eu gostaria de não trabalhar diretamente com animais. Lá estava eu, lutando pela minha opinião formada. Para encurtar a história, posso concluir que 2 dias depois lá estava eu analisando cérebro de ratinho. Então a minha opinião formada foi por água abaixo, afinal eu faço tudo pela ciência (ou melhor tudo para manter o trabalho).

Ah sim, também tem aquela opinião formada cultural, tipo assim você ganha da sua família, às vezes você nunca nem parou pra pensar sobre o assunto, mas sua mãe te disse isso desde pequeno, então a gente vai deixando para lá aceitando o destino. Tem gente que passa a vida inteira com essa opinião formada cultural, vai passando para os filhos para os netos e assim vai, e tem gente que vai mudando essa opinião ao longo dos anos. Eu por exemplo fui católica através da opinião formada cultural, fiz catequese, ia na igreja. Quando fiquei maior fui mudando essa opinião e hoje sou entitulada ‘católica não-praticante’ , ‘atéia’, ‘herege’.
E aí você ainda acha que tem opinião formada sobre tudo?

Liz acha que as pessoas de trinta se sentem na obrigação de dizer que tem opinião formada sobre tudo, mas ela “prefere ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” (valeu, Raul!)

Amigo da dor

Todo mundo tem, em seu ciclo de amizades, aquelas pessoas que se dizem amigas, mas que só aparecem quando há uma tragédia. E não são aquelas que aparecem realmente para ajudar. São as que se sentem atraídas pelas tragédias. Geralmente, consideramos amigos de verdade aqueles que surgem nos momentos mais difíceis, e nos ouvem, nos ajudam. Mas é preciso saber diferenciar esses amigos dos falsos amigos que estão por perto nos momentos difíceis, e, ao invés de ajudarem, eles nos conservam naqueles momentos ruins, como se quisessem prolongar nosso sofrimento para se fazerem mais necessários.

Podem reparar que há sim muita gente assim. Quando desabafamos nossos problemas com essas pessoas, elas não ouvem simplesmente, ou dão conselhos para melhorarmos a situação. Elas continuam perguntando sobre os problemas. Não ajudam, não nos dizem para resolvermos os problemas, mas continuam nos estimulando a contá-los, mais e mais. É claro que desabafar faz bem, mas é só para falar no momento ruim, e depois tentar resolver o problema e seguir em frente.

Essas pessoas não nos deixam seguir em frente. Quando deixamos de falar de determinado problema, ou o resolvemos, elas continuam perguntando, instigando, trazendo à tona as complicações daquele problema. Sentimos-nos angustiados, e voltamos a precisar dessas pessoas para desabafar essa angústia, inclusive do problema que já havia sido solucionado.

Este não é um texto terrorista, que pede para que se afastem de seus amigos. É somente um alerta para que saibamos diferenciar o amigo, que está conosco nos bons e nos maus momentos, e que nos ajuda a levantar quando caímos, daquele que quer nos ver sempre tristes, desanimados, angustiados, para que continuemos a precisar dele. Cuidado com essas pessoas, porque elas parecem ser ótimas, compreensivas, interessadas, companheiras. Elas se apresentam quase que como super-heroínas, nos momentos em que precisamos de uma tábua de salvação. Mas, ao contrário do que se pensa, essa tábua não nos leva para a praia; ela nos deixa ficar à deriva, até a exaustão, até perdermos a calma, a paz.


Tania é mineira, e, portanto, desconfiadíssima! Às vezes ela se engana com os falsos amigos, como qualquer pessoa pode se enganar. Mas, quando percebe o engano, se afasta, e recupera sua paz. Aí ela volta aos amigos leais!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...