segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Gente, sexo, internet

Gente, há meses não escrevo aqui. Por falta de tempo, mesmo, não de vontade e muito menos de assunto.

Mas abri uma brecha para escrever sobre um assunto que está me incomodando demais! O caso e a repercussão da menina que se suicidou após ter suas imagens fazendo sexo divulgadas na internet.

Fiquei chocada com o suicídio. Fiquei chocada com a reação das pessoas, tanto nas conversas aqui e ali, quanto nos comentários nas redes sociais. Gente se colocando como superior, do tipo: nessa idade eu brincava de boneca... Essa nova geração está perdida. 

Mulheres incentivando que se eduque melhor as meninas para evitar tal exposição!

Esse caso deve ser sim, usado para evitar tragédias no futuro. Concordo. Mas alguns moralistas de plantão entendem que isso quer dizer que as meninas devem “se dar ao respeito”. 

Antes de pensar me partir para algum julgamento ou conclusão, vamos aos fatos:

- Adolescentes fazem sexo. Aliás, pessoas fazem sexo. Moralistas, vocês fazem sexo também. E seus pais também fizeram. 

- São necessárias no mínimo duas pessoas para fazer sexo. Para filmar sexo, também.

- Não temos controle sobre conteúdo que é colocado online. Foge das nossas condições e devemos, sim, ter cuidado com ele. Nossos netos poderão acessá-lo.

- Os meninos têm ou deveriam ter tanta responsabilidade quanto as meninas no sexo (lembram, duas pessoas?) quanto nas consequências dele. E eles têm, e devem ser ensinados a ter, tanto auto-controle quanto se pode esperar de uma menina. Mães e pais de meninos, por favor, atentem para isso.

- Adolescentes (meninos ou meninas) podem ter capacidade limitada de perceber as conseqüências das suas ações. E podem ter muita dificuldade em lidar com o julgamento e com a reação dos pais (experiência própria). 

Esclarecidos os fatos, algumas considerações:

O sexo e a filmagem (que eu não assisti, porque não tem absolutamente nada a ver com a minha vida, e porque eu tenho controle do que assisto) foram feitos por duas pessoas. Até onde entendo, sem intenção de que fosse divulgado.

O contexto da divulgação eu não conheço, poderia ter sido acidental (sim, acontece), mas vamos pensar que tenha sido intencional, uma vingança. Não vi ninguém falando sobre a ação do menino, nem uma notícia sobre isso (se vocês viram, por favor, coloquem nos comentários). Vi muita gente julgando a menina por ter feito sexo (lembrem-se, todos fazem) e por ter feito o filme (que ela não fez sozinha). Mas ninguém julgando o menino por ter traído a confiança e ter exposto a si mesmo (se for homem então tudo bem?) e exposto a menina também. Que machismo todo é esse?

A menina tem que “se dar ao respeito”? Se você pensa assim, é porque acha que as mulheres não merecem respeito, elas precisam provar isso. Já os homens não precisam provar? Por quê?

As pessoas julgam que a menina errou ao se deixar levar pelo momento, que ela estava gostando (ah, sim, além de todas as pessoas fazerem sexo, a grande maioria gosta. E tudo bem.) e que isso é condenável. O menino expor a menina, de caso pensado, sem poder prever nem controlar a extensão do dano, não é condenável. Tem alguma coisa errada nessa lógica.

O caso ficou mais trágico porque a menina, sem conseguir lidar com as consequências (não do sexo, nem do filme, mas da publicação do filme) toma uma atitude irremediável, e se suicida. Hora de as famílias pensarem na forma em como lidam com os filhos adolescentes, seus dramas e preocupações. Não julgo nem por um momento a família da menina, não conheço nada sobre o contexto. Mas dou uma dica para as demais famílias com filhos adolescentes, e não é reprimir, nem mostrar esse caso como uma ameaça de castigo, nem ficar falando de como era no seu tempo... a dica é: deixe seus filhos saberem que você os ama em qualquer situação. Que as pessoas fazem coisas das quais se arrependem, e que tudo bem. Que não se pode confiar em todo mundo, infelizmente. Que a intimidade de uma pessoa é valiosa e que, se ela for violada, você vai ajudar seu filho a tentar recompor a situação.

Esse tipo de situação vai ser mais freqüente. E a novidade é a internet, com seu acesso mais fácil e mais rápido a cada dia. Sexo, adolescência, novidade, vingança, machismo... Isso tudo já existe há muito tempo. Quem sabe a gente começa a mudar a parte dos preconceitos, a ver que gente é gente, e a ser mais generoso e menos moralista?


Renata fica muito irritada ao perceber um machismo às vezes até inconsciente na fala das pessoas, fica triste por ver como isso afeta ainda a vida das mulheres e convida todo mundo pra começar a semana pensando na sua própria reação a atitude sobre casos como esse.



sábado, 2 de novembro de 2013

Um livro, muitas dores: “Holocausto Brasileiro”

Tenho indicado alguns livros por aqui, e até contraindicado outro. Dessa vez, o livro que indico é extremamente triste. E o problema é que não é ficção. 

O livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, narra a história do maior hospício do Brasil, em Barbacena, MG, que, de 1930 a 1980 matou cerca de 60 mil pessoas. Não há como usar palavras mais brandas para o que ocorreu dentro do chamado Hospital Colônia de Barbacena. E o livro mostra ainda muitas fotos de internos, nus e seminus, esquálidos, famintos, desamparados. São cenas que não conseguimos assimilar, que não conseguimos aceitar que aconteceram tão próximas em tempo e espaço de nós. Naquele local, muitas pessoas foram internadas, por suas famílias, porque não se adequavam ao modelo de cidadão na sociedade. Assim, havia mulheres internadas porque perderam a virgindade antes do casamento, ou engravidaram fora do casamento, muitas vezes de homens já casados. Havia também mulheres internadas pelos maridos, que não desejavam mais manter o casamento, e se livravam das esposas, informando que estavam loucas, histéricas. Muitos homossexuais, comunistas, pessoas deprimidas, ou somente tímidas; todos tinham comportamentos considerados inadequados para viver em sociedade. Todos eram despejados no Hospital Colônia. 

Daniela Arbex narra como funcionava o hospício, as práticas desumanas, os eletrochoques, que eram tantos que chegavam a sobrecarregar a rede elétrica, e faltar luz na cidade de Barbacena. Narra que as pessoas não eram tratadas como pessoas, e viviam descalças, seminuas, dormindo no feno, entre ratos, no frio, e sem higiene. Tudo isso causava muitas mortes por desidratação, por diarreia, por febre e por frio. Não se morria por loucura! Conta ainda que existiram crianças internadas, que conviviam com adultos. E que havia estupros tanto entre internos, quando de abusos de funcionários aos internos.

Há ainda histórias de pessoas que saíram do Colônia, no final do século XX, com a luta antimanicomial, e a mudança de conduta dos médicos. Entretanto, essas pessoas enfrentaram inúmeras dificuldades para reintegração na sociedade. Além do preconceito por terem vivido num hospício, era difícil para pessoas viverem em casas, com comida, bebida, com roupas e calçados, e sem hora para apagar as luzes. São histórias bonitas, de quem conseguiu sair do inferno, mas muito tristes.

Apesar de toda essa dor, e dessa realidade absurda, acredito que o livro deve ser lido, para que conheçamos nossa história, e para não permitamos que fatos horríveis como este aconteçam mais.



Mini resumo: Tania ficou chocada, abalada com livro, embora conhecesse a história do hospício de Barbacena, e já tenha ido ao Museu da Loucura, que funciona no local do manicômio. Ela acredita que é preciso conhecer, mesmo as histórias mais tristes, para evitar que fatos parecidos possam ocorrer novamente.







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