segunda-feira, 28 de abril de 2014

Aquelas coisas bizarras que só acontecem comigo!



Já ouvi de pessoas que disseram querer passar mais tempo comigo pra ter mais emoção na rotina.

Eu não sei bem ao certo se essas coisas me procuram ou eu as procuro. Mais provavelmente acontecem porque eu dou permissão, causado por aquele instinto inerente na gente em ajudar o outro, ao invés de ter medo. Um sentimento quase infantil que presume que todos são bons até que se prove o contrário.

Na frente de um hospital ele me chama, por volta dos seus 20 anos, explica que a namorada tentou se suicidar e que está esperando que a mãe dele venha buscar. Mas porque ela está demorando um pouco, ele pergunta se eu posso ligar e verificar se ela está vindo.

(Por segundos um filme passa na minha cabeça e confesso que eu até olho para os lados pensando ter alguma câmera escondida, porque aquilo não poderia ser real, ele contava detalhes íntimos da vida desgraçada que eles estavam levando, coisas que não se dizem a um estranho transeunte).

Eu ligo e a chamo pelo nome. Kylie. Não esquecerei o nome, nunca...

Ela me diz que não quer saber do Michael e, muito educadamente, se desculpa pelo incômodo que o filho me causou. - " Ele nem mora comigo”, ela diz. Nessa altura eu já sabia que ele morava numa casa do governo, mas isso por acaso isenta do papel de mãe??? (Julgamento da mãe leoa indo para as alturas!)

Eles se falam no meu telefone por alguns minutos quando o rapaz repete: -“ Eu sei que não queres saber de mim, mãe. Ok, obrigado. Te amo!”

Me devolve o telefone e diz que vai beber em algum lugar.  E o fará com o dinheiro da pensão do governo, que, por ele ter depressão, é considerado incapaz de trabalhar. (Os meus poucos minutos de interação com o rapaz  - longe de ser psiquiatra - me pareceu mais uma esquizofrenia).

Antes de partir: -“Thanks babe, you are hot!'”

Porque toda a história triste acaba com algum nível de comédia...

Tirando o sarcasmo de lado. Meu coração ficou despedaçado. Ele não deve ser fácil, pode ter causado muitos problemas pra ela. Mas nunca se desiste de um filho, nunca... Especialmente quando ele te diz que te ama, desesperado por atenção...

Lil escreve aqui esporadicamente e acredita que a responsabilidade materna vá além dos anos iniciais de vida e que mesmo indiretamente, uma boa parte do desequilíbrio emocional dos adultos advêm dos relacionamentos mal resolvidos com suas figuras maternas e paternas. Mesmo que Kylie não goste da ideia....

domingo, 27 de abril de 2014

Pessoas Perfeitas (?)


Você já se deu conta de que vivemos em um mundo onde todos estão sempre felizes e de bem com a vida? Ninguém jamais se sente solitário... Ou triste... Todos são maravilhosamente autossuficientes.
As pessoas sempre sabem o que fazer para resolver seus problemas, para esclarecer suas dúvidas, para lidar com pessoas difíceis, para suportar as decepções da vida.

É claro que as pessoas também sempre têm muito tempo sobrando para aproveitar a vida com os amigos, com os cônjuges, com os filhos e, inclusive, sozinhas...

Todos têm relacionamentos perfeitos e que durarão pela eternidade afora, todos têm carreiras estáveis e que sempre os satisfazem plenamente.

Ninguém come porcaria e fica deitado no sofá por pura e simples preguiça... Não! Nesse mundo as pessoas estão sempre fazendo exercícios físicos, sempre se alimentando com coisas saudáveis e, é claro, sempre estão com a saúde e o corpinho em dia (Que o digam as fotos postadas no Facebook, não é mesmo?).

Ah! Obviamente são pessoas super inteligentes, que leem bastante (algo que seja considerado cult, é claro), são muito viajadas e, sem dúvida, tem uma imensa bagagem cultural.

Ninguém jamais comete um erro, um deslize, uma gafe... Ninguém jamais paga um mico sequer! Todos sempre sabem exatamente o que devem fazer o tempo todo.

Porra! Que vida perfeita as pessoas têm!

Será que sou a única pessoa que se atrapalha, que comete erros, que paga micos, que diz bobagens e palavrões, que chora de saudade, de raiva e de frustração?

Será que sou a única que tem medo de ficar sozinha em casa quando falta luz? Será que só eu detesto acordar cedo? Só eu sinto preguiça de faxinar a casa? Só eu como chocolate escondido e depois fico pensando se deveria comer apenas alface por alguns dias para compensar?

Será que sou a única pessoa que se sente frustrada por não ter tanto tempo quanto gostaria para dedicar à família, aos amigos, ao meu amor e, sobretudo, a mim mesma?

Será que ninguém mais sente medo? Ninguém mais fica sem saber o que fazer? Sem saber o que dizer?

Ninguém pensa se as escolhas que fez na vida foram, de fato, as melhores que poderia ter feito? Ninguém se arrepende de coisas que fez e de coisas que não fez?

Será que ninguém perde a cabeça às vezes?

Para o inferno com essa ideia de que precisamos, todos, estar sempre certos, sempre felizes, sempre arrumadinhos, sempre nos comportando de acordo com o que esperam de nós!

Quero mais pessoas imperfeitas ao meu lado... quero pessoas que chorem, que cometam erros e os assumam, que sintam medo, que riam sozinhas, que não tenham vergonha de dizer que não sabem de alguma coisa e que digam um grande e belo FODA-SE a tantas convenções cerceadoras!


Déia escreve aos domingos e parabeniza a coragem daqueles que conseguem admitir seus erros, mesmo cercados de pessoas perfeitas, que sempre sabem tudo.

sábado, 26 de abril de 2014

Milena. Mulher. Mãe.

Gerar uma vida é um estado milagroso. 
Pensar em um ser humano crescendo dentro de mim me faz sorrir, e me ocupa de um amor que já não tem tamanho.
Me dá poder. Me dá medo. Me dá curiosidade.
Meu pequeno milagre está crescendo a olhos vistos. Já dá pra ver pelo lado de fora o efeito da sua movimentação na minha barriga.
Eu, que olhava para outras mulheres gerando outras vidas com certa inveja, pois nunca acreditei que este estado estivesse reservado para mim.
Eu, que sempre me imaginei mãe, mas nunca me imaginei grávida.
Eu, que agora carrego comigo um pequeno grande milagre.
Um milagre que era para ser meu. Sempre foi.
Um milagre que driblou todas as estatísticas e desafiou todas as improbabilidades.
Um milagre disposto a me mostrar, desde o comecinho, que a vida não é aquilo que eu planejei pra mim.
Um milagre-menino, que nem nasceu ainda, mas que já me faz uma pessoa mais feliz. Mais forte. Mais completa.
Por ele mudei (e continuarei a mudar) meus planos, minhas roupas, meu vocabulário, minhas convicções e meus dogmas.
Por ele mudei meu rumo. Já sou mais compreensiva. Mais paciente. Mais quieta. Mais planejadora. Mais mãe. Mais mulher. Mais Milena.
Para ele vou cantar a música que minha mãe cantava pra mim:

O Filho Que Eu Quero Ter
Toquinho/Vinícius de Moraes

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim
Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim
Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus
Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter

Milena não escrevia a décadas e, de repente, pariu um texto.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Sobre o tempo e a noção que dele fazemos


Invariavelmente acontece algo que me faz pensar sobre o tempo e a forma como nós o concebemos ou fazemos uso dele. O tempo é um conceito filosoficamente discutível. Muitos filósofos já pensaram sobre o tempo; todo e qualquer ser humano que se preza já se pegou pensando a respeito do mesmo. Mas afinal, há como definir o tempo?

Um conceito abstrato, você jamais verá o tempo, jamais tomará uma cervejinha sentada no bar da esquina olhando nos olhos do tempo, jamais gargalharão juntos lembrando-se de uma piada. Você não andará de mãos dadas com o tempo e nem trocarão olhares furtivos em uma balada. No entanto, ele está ali, todos os dias, jogando a favor ou contra você.

Você está atrasada para um compromisso e sai de casa esperando andar mais rápido que de costume. Só que há um engarrafamento no trânsito. 1X0 para o tempo.

Você descobre que seu chefe resolveu antecipar o fim de semana. Ninguém precisa trabalhar nesta sexta-feira: “Ganhei mais um tempo na praia”.

Um beijo na boca faz nossa noção do tempo parar. Falar com alguém que não vemos há anos faz o tempo voltar atrás. A ansiedade faz com que o relógio ande muito devagar. Um dia de folga parece passar rápido demais.

Você aprende mais em um dia do que aprendeu em uma vida toda. BINGO! É aí que você descobre que a vida não se conta em anos vividos, mas sim pela experiência, pelas vivências. Todos os dias podem ser uma fonte inesgotável de aprendizado. Todos os dias são, de fato, uma oportunidade. É o que fazemos com nossos minutos que dita qual será nossa representação do tempo.

Podemos ter 15 ou 30 anos, isso é o que menos importa. Se o tempo será nosso amigo ou inimigo quem é que pode dizer? São nossas atitudes, nosso modo de levar a vida que farão com que o tempo nos encante ou atormente.


Andri escreverá às sextas-feiras e está muito feliz e empolgada em poder dividir o que pensa com vocês. Está a cada dia mais perto dos 30 e isso não a deixa assustada, pelo contrário, a motiva a ver o mundo de forma cada vez mais serena.





domingo, 20 de abril de 2014

Das pequenas ressurreições

Para aqueles que são cristãos hoje é um dia interessante. Não pela montanha de chocolates que possivelmente estarão consumindo nesse exato momento, mas sim porque supostamente lembram-se de que alguém que morreu para salvar-lhes os pecados ressuscitou.

Para aqueles que não são cristãos, penso que também há algo interessante a ser pensado no dia de hoje. E isso diz respeito à questão da ressurreição. E, por favor, antes de você desistir da leitura pensando tratar-se de um post religioso, saiba que minha reflexão não terá absolutamente nada de religiosa, ok?

A palavra ressurreição, para quem não sabe, tem origem no termo latino ressurrectio, que significa, literalmente, o ato de ressurgir, de voltar à vida.

E isso, invariavelmente, me faz pensar sobre a imensa quantidade de vezes em que morro e ressuscito todos os dias.

Morro quando alguém que amo sofre, quando alguém que amo parte, quando alguém que amo simplesmente já não me ama mais...

Morro quando vejo a esperança se acabar, o sonho definhar, a alegria desaparecer...

Morro quando a saudade vem sufocar meu peito, a tal ponto que a respiração falta e as lágrimas abundam...

Morro quando amargo uma decepção, quando minhas expectativas se frustram, quando a ansiedade me consome...

Enfim, morro de diversas maneiras, dia após dia.

Contudo, na mesma intensidade com que morro diariamente, também ressuscito a cada momento!

Ressuscito no sorriso de quem amo, no abraço apertado dos amigos e familiares, no carinho de meus alunos...

Ressuscito na mensagem inesperada que alguém envia dizendo que sente minha falta, na empolgação de uma nova descoberta e, inclusive, no ronronar do meu gato quando acariciado...

Ressuscito quando alcanço algum objetivo, quando engasgo de tanto gargalhar, quando sinto o aroma de pipoca recém estourada, de café fresquinho, de grama cortada...

Ressuscito infinitas vezes todos os dias!

O filósofo Heráclito de Éfeso, há mais de 2500 anos atrás, já dizia que tudo flui, tudo muda constantemente, tudo se transforma!

Nada permanece o mesmo.

Inclusive nós!

Que possamos, então, celebrar nossas mudanças, nossas transformações, enfim, nossos devires!!

Portanto, FELIZ RESSURREIÇÃO PARA TODOS NÓS!!!


Déia escreve aos domingos e deseja que todos possam ser como a Fênix que, apesar de morrer, ressurge de suas próprias cinzas!


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