quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Quando alguém se vai, o que fica?

Nesta segunda-feira, meu avô paterno faleceu. Ele estava muito doente e, na minha opinião, descansou...

Eu ouço muitas pessoas contarem suas lembranças, dizendo como adoravam e eram adoradas por seus avós, mas não tive muito êxito neste campo: não conheci minha avó paterna; lembro muito pouco do meu avô materno, que ficou doente quando eu ainda era pequena; amei e ainda amo demais minha avó materna, que infelizmente já me deixou também; e mal conheci este meu avô, o último laço mais antigo da minha história.

Só que não foi o fato de ele falecer que me entristeceu; na verdade, o que me atormentou foi o fato de que não fiquei triste e, mais que isso, não senti nada: vazio, dor, saudade, vontade de chorar, arrependimento, nada! Eu me senti um monstro e me envergonhei... Mas depois pensei no porque disto ter acontecido. Tudo bem que não sou super emotiva; sou contida, mas não significa que eu seja uma pessoa desprovida de sentimento!

Continuei intrigada e pensando, o que me levou a uma pergunta: quando alguém se vai, o que fica? Ficam as boas recordações, os momentos felizes, os ensinamentos, o respeito e a admiração, ou seja, fica a vida compartilhada em seus melhores instantes (felizmente as lembranças ruins evaporam de nossos corações). Aí entendi o meu problema de reação (ou falta de reação) face à morte de meu avô: ele simplesmente não compartilhou um instante sequer de sua vida comigo e não deixou registros na história da minha vida.

Isto é absolutamente triste... Como pode uma pessoa tão próxima ser um completo estranho? Será que ele nunca me amou de verdade e, desta forma, não despertou em mim o que os avós despertam em seus netos? Ou quem errou fui eu? Foi então que me lembrei de um detalhe: o meu pai também é assim, distante e completamente estranho. Não sabe quem eu sou, a mulher que eu me tornei e que tanto orgulha minha mãe (tudo bem que mãe é suspeita para avaliar os filhos rsrs), como continuo parecida com ele em tantos aspectos...

Analisando meu histórico genético, tenho dois medos. O primeiro é o de não sentir nada quando meu pai se for e o segundo, de agir da mesma forma que meu pai e meu avô. Nestes dois dias, acima de tudo, decidi que não é esta a vida que quero escrever para mim. Eu quero viver e compartilhar os melhores momentos com aqueles que amo, com quem convivo e que colorem minha vida; gostaria muito de deixar e de levar comigo lembranças e histórias boas. Isto não significa que queira ser mártir, boazinha, certinha ou famosa; só quero ser para as pessoas a Paula, de quem lembrarão tanto por suas qualidades quanto por seus defeitos. Se conseguir, aí sim, terei escrito uma linda história de vida!

Até a próxima.


Paula perdeu o último avô e não sentiu o que deveria sentir. Teve vergonha, mas depois entendeu o porquê. Descobriu que quer e pode traçar uma história diferente em seus relacionamentos. Escreve aqui toda quarta-feira.



6 comentários:

Sisa disse...

Paula, talvez eu esteja sendo cruel neste comntário. Mas eu sinceramente acredito que sangue não quer dizer nada. A gente não tem obrigação de amar quem tem o mesmo sangue que a gente. E eu digo isto porque enquanto me obriguei a amar pessoas por causa de sangue, eu sofri muito. Quando me dei conta que não precisava amar meu irmão só pelo fato de ser irmão, meu "não-amor" durou poucos dias (que foram longos pra minha mãe, que sofria por não entender como uma irmã pode não amar o irmão). Depois desses dias, sem o peso da obrigação, o amor voltou naturalmente, não pelo sangue, mas por ele fazer parte da minha vida desde antes do primeiro ultra som, pelas fraldas dele que eu troquei, por cada birra que eu suportei, e pelo medo enorme que eu tenho que as irresponsabilidades normais da idade dele tenham conseqüências pesadas demais pra ele carregar. Esse amor sem obrigação é uma delícia, pelo simples fato de ser amor de verdade, como o amor deve ser - livre de obrigações e cheio de razões que só o amor mesmo explica.

Anônimo disse...

Paula, li seu texto 2 vezes e percebi uma coisa: temos historias muito parecidas. Eu também tenho um pai muito ausente e distante, como vc, acho que quando ele se for nao vou sentir nada, mas nao tenho medo por isso, pelo simples fato de que ele nunca se importou com os filhos, nao deve saber nem no que eu sou formada, nem o que faço da vida. Só tive afeto de avó materna, e foi por pouco tempo, pois ela se foi quando eu ainda era criança, mas tenho doces lembraças, porém, quando meu avô paterno se foi, apesar de eu tb ainda ser criança, me lembro perfeitamente que, para mim, era apenas um estranho que tinha falecido... nao chorei, nao senti nada e nao tive recordações, nem boas nem ruins, simplesmente nao as tive...nao tive vergonha, talvez por ser criança, mas hoje, tb nao tenho. Talvez porque hoje eu tenha a certeza de que apesar de ter um pai, ele foi apenas alguem que me ajudou a colocar no mundo, nada mais que isso. Porém, tive muito amor, carinho, afeto, brincadeiras, alguem me esperando na saida da escola, de uma outra pessoa, esse sim, um pai.

Anônimo disse...

Paula querida, as vezes amamos mais quem não é nosso parente. A Bíblia diz que há amigos mais chegados que um irmão... eu acredito nisso com toda experiência do mundo. Posso te dizer, não com orgulho, mas com provas diárias, que minha enteada mais velha ama mais a mim que à própria mãe (ela me diz isso sempre). Eu, te garanto, não é vergonha alguma sentir o que você sentiu ou "não sentiu". Somos seres humanos dotados de necessidades e não podemos amar irmãos, pais, avós que nunca nos cativaram. Você é normal, ele é que não pode ser normal o suficiente, assim como seu pai, o pai da minha filha Aline e tantos outros, para verem a pessoa linda que perderam ao lado deles. Beijos.

Angel disse...

Oi Paula!
Repetitivamente, concordo com Sisa! Sangue não quer dizer nada. Amor vem de convivência, naturalmente e se não vem não há sangue que baste. Não se culpe e faça, sim, a sua bela história se fazendo presente para os que convivem com vc.
Beijos

Advokete disse...

Oi, Paula, acho que já disseram aí em cima o que você precisava ouvir pra seu coração se aquietar e você ficar tranqüila. Amor bom é amor espontâneo, senão nem é amor. Não fique triste por isso, nem se sinta um monstro. O amor vai muito além dos laços de sangue, que chega a não significar quase nada quando não existe um relacionamento entre as pessoas. Amor não vem com carga genética. Amor é construção diária e construção nenhuma ninguém faz sozinho. Se te consola, só nesse blog tem muita gente que não chorou e nem vai chorar quando algumas pessoas se forem. E não porque nós sejamos ruins, mas simplesmente porque quem se foi nunca fez parte de verdade da nossa vida. Beijos pra você e ame a quem te ama.

Anônimo disse...

Oi Paula!! Demorou pra eu deixar um comentário, mas quero que saiba que tenho lido, e gostado muito do que você escreve aqui toda semana.
Eu me identifiquei muito com o que você escreveu aqui essa semana. Eu também passei por algo parecido, mas no meu caso foi com a minha avó paterna. Quando ela morreu, eu tinha 19 anos, se eu não me engano, mas eu posso contar nos dedos as vezes que estivemos juntas, isso porque meu pai não tinha um bom relacionamento com ela. Bom, eu sei que quando ela morreu foi indiferente pra mim, justamente pelo o que você comentou. Tá certo, geneticamente ela era minha avó, mas na realidade pra mim, era uma estranha. Ai eu pergunto, como sofrer pela perda de alguém que significou praticamente nada na sua vida?? A única coisa que me lembro de ter lamentado na época foi de nunca ter sabido quem foi aquela mulher.Mas confesso que nunca me senti culpada por não ter chorado a sua morte.Se tivesse feito teria sido hipócrita. E nada melhor que sermos sinceras com os nossos sentimentos, não é??
Paula, um super abraço!! E nunca se esqueça que eu te adoro!!

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