segunda-feira, 2 de junho de 2025

Liberdade ou autenticidade?

Esses dias, caminhando na praia (uma das minhas coisas preferidas na vida) vi de longe uma pessoa nadando. Estava pertinho da praia, não no fundo. E chamou a atenção por dois motivos: era a única pessoa dentro da água, porque estava relativamente frio, e porque nadava de forma brincalhona. Não sei se é a melhor palavra, mas a pessoa não nadava como se estivesse fazendo exercícios ou exercitando técnicas de nado. A pessoa brincava. Mergulhava, mudava de posição, dava braçadas irregulares. E aprecia estar fruindo desse momento. Do mar. Do seu corpo.

E automaticamente deduzi: é um homem. 

Segui minha caminhada, também desfrutando da praia e do meu corpo. E dos meus pensamentos. Chegando mais perto, percebi duplamente surpresa que era uma mulher. Surpresa porque realmente tinha tido "certeza" de que era um homem e surpresa por perceber esse viés machista em mim, de que são os homens que fazem coisas de forma livre e por diversão.

Eu me considera feminista. Leio, estudo, dialogo, inclusive comigo mesma. E percebi esse viés tão machista. Racionalmente, eu sei que tanto homens quanto mulheres brincam, fruem e agem de forma livre. Inconscientemente atribui essas ações a uma pessoa do gênero masculino. E percebo que em geral as mulheres têm um uso prático ou útil do seu tempo, mesmo quando descansamos "aproveitamos" para fazer algo. Organizar, limpar, cuidar, adiantar algum trabalho. Me peguei pensando em de onde isso vem.

Desde cedo, meninas viram "mocinhas" e assumem responsabilidades, ao passo em que os "moleques" podem ser moleques até quando lhes convir. Vocês já repararam que quando uma mulher relata uma infância de brincadeira na rua, subir em árvores, essas coisas, ela fala que foi criada como moleque? Quando na verdade, ela foi criada como criança...

As brincadeiras tipicamente femininas envolvem trabalho e cuidado. As masculinas, envolvem movimento e liberdade. Apesar de ter ficado surpresa com esse viés machista que percebi em mim, fiquei muito feliz ao perceber a liberdade daquela mulher. Adulta. Brincando no mar. Sem se preocupar em parecer sexy (outra coisa comum e que exige energia, tempo e dinheiro de muitas mulheres), fruindo daquele momento.

Me questiono se o que chamamos de liberdade não seria na verdade autenticidade. Ser o que se é. Ser quem somos.

Obrigada moça desconhecida.



Renata escreve esporadicamente por aqui, e com mais frequência no Instagram @mindfulness_descomplicado.


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