sábado, 22 de novembro de 2025

COP30 e os encontros

Quem me acompanha nas redes sociais já sabe que esse mês passei uns dias em Belém do Pará, para a COP30. Sendo profissional da área socioambiental, e sendo um ser humano que se preocupa com o nosso planeta e seu futuro, foi uma experiência marcante.

Vi paineis e palestras inspiradoras, aprendi coisas novas, tive insights e ideias, conheci lugares. Não vou nem ousar fazer uma análise dos resultados da COP, pois há profissionais capacitados e dedicados a fazer análises muito boas e uma busca rápida na internet pode te mostrar algumas delas. 

Mas o que mais me marcou, e sobre o que eu quero falar, foram as pessoas.

Essa COP teve uma imensa participação popular. Milhares de indígenas se fizeram presentes em espaços da COP, buscando a visibilidade que por muitas vezes lhes é negada. Havia pessoas do mundo todo, com uma série de interesses, conflitos, bagagens e contribuições. Já deu pra perceber que foi intenso né?


Mas quero compartilhar algumas reflexões sobre os encontros. Os encontros entre pessoas. Revi muitas pessoas que há tempos eu não via, e isso também foi um dos pontos altos desses dias em Belém, pelo menos para mim. 


Voltando no tempo um pouquinho, para fins de contexto: há 2 anos eu precisei pedir demissão de um emprego que eu amava mas que me adoeceu profundamente. Caí na chamada “armadilha de amar o que se faz”, e passei de todos os meus limites, de tempo, de energia, de dedicação e disponibilidade, além de alguns outros sobre os quais talvez eu escreva no futuro. Apesar de fazerem dois anos, em alguns aspectos, ainda é recente. 

Assim que eu saí do emprego, minha primeira reação foi me afastar de tudo e todos da área ambiental. Quem já passou por situações traumáticas deve entender essa necessidade de proteção, mesmo de coisas inofensivas. Eu sinceramente acreditei que não conseguiria voltar a trabalhar na área, tanto que busquei outros caminhos profissionais.


Com o passar do tempo, fui fazendo trabalhos com amigas e amigos, fui me reconectando com pessoas e voltei a atuar na área socioambiental. É onde consigo dar minha melhor contribuição, é onde eu vejo meu propósito. E hoje está tudo bem. 


Mesmo estando de volta à área, grande parte do trabalho é feito de casa, na frente de um computador. Eu sei, parece contraintuitivo né, mas é assim. Apesar disso, facilitei diversas oficinas presencialmente, nas quais eu já havia me reconectado com algumas pessoas. Mas a COP elevou esse movimento para outro nível. Foram MUITOS reencontros potentes que também me ajudaram a reencontrar meu EU profissional. Ainda sigo buscando meu lugar como consultora autônoma, experimentando formatos de trabalho, e construindo uma nova identidade. E os encontros têm papel importante nesse processo. 


Não acredito (e nem espero) que as pessoas com as quais me encontrei saibam desse contexto todo e do papel importante desses encontros (e isso me traz outra reflexão, a de não sabermos o que se passa na vida das pessoas com as quais interagimos. Na dúvida, seja legal). Algumas pessoas que encontrei e com quem convivi em Belém, sempre estiveram por perto. Mesmo longe e mesmo com seus próprios desafios.

Algumas pessoas me deram seu sorriso sincero e abraços afetuosos, cheios de felicidade recíproca pelo encontro. Teve encontros com a curiosidade pelo meu tempo sumida, mas sem cobranças e com compreensão. 

Teve encontros em que percebi as pessoas utilitaristas (acho um termo chique para interesseiras) que se afastaram assim que entendiam que eu não estava mais na tal instituição. Ou seja, não tinha mais “algo a oferecer”.

Teve encontros generosos, que aceitaram que sou/estou uma pessoa cansada e mesmo assim me chamaram para rolês, me apresentaram pessoas, compartilharam conselhos, mostrando que, da mesma forma que eu penso, há espaço para todos trabalharem.

Não vou mentir, também teve uma ou duas pessoas que acharam por bem fingir que não tinham me visto. Coisa delas né?


Porque no final do dia, o que temos e que nos faz humanos, são os encontros. As relações e as conexões. E por isso dedico meu trabalho a facilitar esses encontros, essas trocas, as escutas legítimas e a construção de novo, via inteligência coletiva. 




Renata segue trabalhando com dedicação e esperança, e

aprendendo a reconhecer e respeitar seus limites cada dia mais.


segunda-feira, 2 de junho de 2025

Liberdade ou autenticidade?

Esses dias, caminhando na praia (uma das minhas coisas preferidas na vida) vi de longe uma pessoa nadando. Estava pertinho da praia, não no fundo. E chamou a atenção por dois motivos: era a única pessoa dentro da água, porque estava relativamente frio, e porque nadava de forma brincalhona. Não sei se é a melhor palavra, mas a pessoa não nadava como se estivesse fazendo exercícios ou exercitando técnicas de nado. A pessoa brincava. Mergulhava, mudava de posição, dava braçadas irregulares. E parecia estar fruindo desse momento. Do mar. Do seu corpo.

E automaticamente deduzi: é um homem. 

Segui minha caminhada, também desfrutando da praia e do meu corpo. E dos meus pensamentos. Chegando mais perto, percebi duplamente surpresa que era uma mulher. Surpresa porque realmente tinha tido "certeza" de que era um homem e surpresa por perceber esse viés machista em mim, de que são os homens que fazem coisas de forma livre e por diversão.

Eu me considera feminista. Leio, estudo, dialogo, inclusive comigo mesma. E percebi esse viés tão machista. Racionalmente, eu sei que tanto homens quanto mulheres brincam, fruem e agem de forma livre. Inconscientemente atribui essas ações a uma pessoa do gênero masculino. E percebo que em geral as mulheres têm um uso prático ou útil do seu tempo, mesmo quando descansamos "aproveitamos" para fazer algo. Organizar, limpar, cuidar, adiantar algum trabalho. Me peguei pensando em de onde isso vem.

Desde cedo, meninas viram "mocinhas" e assumem responsabilidades, ao passo em que os "moleques" podem ser moleques até quando lhes convir. Vocês já repararam que quando uma mulher relata uma infância de brincadeira na rua, subir em árvores, essas coisas, ela fala que foi criada como moleque? Quando na verdade, ela foi criada como criança...

As brincadeiras tipicamente femininas envolvem trabalho e cuidado. As masculinas, envolvem movimento e liberdade. Apesar de ter ficado surpresa com esse viés machista que percebi em mim, fiquei muito feliz ao perceber a liberdade daquela mulher. Adulta. Brincando no mar. Sem se preocupar em parecer sexy (outra coisa comum e que exige energia, tempo e dinheiro de muitas mulheres), fruindo daquele momento.

Me questiono se o que chamamos de liberdade não seria na verdade autenticidade. Ser o que se é. Ser quem somos.

Obrigada moça desconhecida.



Renata escreve esporadicamente por aqui, e com mais frequência no Instagram @mindfulness_descomplicado.


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