sexta-feira, 9 de abril de 2010

A ficha caiu. E agora?


Toda vez que alguém passa por uma situação de extremo stress e fica paralisada as pessoas dizem “a ficha do fulano ainda não caiu...” ou “quando a ficha da sicrana cair...” Aí todos vão embora pra suas casas e quase ninguém nunca mais se lembra de pensar se a ficha caiu ou não. E se caiu, como é que a pessoa ficou. Digo quase, porque há quem se lembre e apóie. E há quem não acredite que a ficha tenha realmente caído e também fique por perto.

Estou passando por isto. Muitas dificuldades, muito stress e lá foi Laeticia pro psiquiatra. Um ano tomando sertralina (Santa Sertralina!), indo ao médico quase que de 15 em 15 dias, fazendo o ouvido do coitado de penico rsrs A gente evolui tanto durante o tratamento! É impressionante! Mesmo que você não queira, sua ficha cai. Aliás, suas fichas caem, porque aí você percebe que não era uma ficha só que tinha pra cair, mas sim muitas! Algumas eu sequer havia me dado conta da existência delas. Que coisa... tinha realmente muita ficha pra cair. E caíram, creio que quase todas. Tomei um choque de realidade.

Meninas, isso dói! Mas ao mesmo tempo é bom demais. No início cheguei a ter raiva de mim mesma. Como é que eu não tinha visto isto? E aquilo? Como ficou escondido tanto tempo, meu Deus?! E eu? Cadê eu? Será que esta sou eu mesma? Ou será aquela que ficou pra trás? E qual eu eu quero ser? As fichas trazem questões complexas rsrs Não é à toa que o psiquiatra te dá alta e junto mais um cartão com todos os telefones dele. Além da indicação de análise “quando você sentir que é a hora”. Traduzindo: quando eu sentir que agüento mais uns trancos da vida rsrs A decisão de fazer análise é uma decisão complexa, amigas! A chance de encontrar um monstro dentro de você é muito maior do que a de encontrar uma fada! E demora até a gente largar estes maniqueísmos e aprender a lidar com a condição de reles mortal.

Não, não fui pra análise. Não ainda. Minhas fichas caíram, é verdade. Mas ainda não estou preparada pra novos baques. Tenho medo de cair e não conseguir me levantar mais. Além disto, o fato de as fichas terem caído não significa que os problemas foram resolvidos. Pior! Não significa que os problemas têm solução! É preciso muita reflexão, maturar muito as idéias, pensar em qual gaveta vamos mexer primeiro. É preciso cuidado para conseguir discernir qual gaveta deve ser arrumada, qual deve ser bagunçada, qual deve ser esvaziada e qual deve ser preenchida. Ninguém duvida de que arrumar o armário seja uma tarefa árdua. Tanto que vivemos olhando aquela bagunça e nos prometendo arrumar tudo quando tivermos tempo. E este tempo raramente vem, quando vem.

Minhas gavetas estão definitivamente abertas. As portas dos armários também. Mas ainda não criei coragem de me levantar da cama. Há muita bagunça pra ser arrumada. Nossa, nem imaginava que havia tanta coisa fora de ordem! Estou aqui, neste exato momento, sentada na beirada da cama. Esta bagunça toda me assusta! Dá medo de começar porque a arrumação de armários e gavetas, uma vez iniciada, necessariamente tem que ser acabada. Não é tarefa que se deixe pela metade.

Acho que vou acabar demorando um cadinho pra arrumar esta bagunça. Sento na cama, olho tudo, deito de novo. Viro prum lado, pro outro, dou uma olhadinha de soslaio pras portas do armário. Meninas, mas que portas implicantes que insistem em ficar abertas e me mostrar que preciso arrumar aquilo lá!! E as gavetas então? Que antipatia. Ficam olhando pra mim como se dissessem: venha, venha!! Vou nada!! E fecho tudo. Mas quando me assusto, está lá tudo aberto de novo, mostrando que preciso arrumar.

Por enquanto ainda consigo me levantar, olhar a bagunça, fechar portas e gavetas e seguir em frente. Sim, eu sei, é um pouco de covardia da minha parte. Mas talvez seja também um pouco de instinto de auto preservação surgindo (finalmente), não dizendo pra eu não arrumar a bagunça, deixar como está, mas sim pedindo pra eu me preparar melhor pra esta arrumação. Porque meus instintos sabem melhor do que eu que, quando esta arrumação começar, nada mais será como antes.

Laeticia não é covarde, nem burra, mas realmente precisa de mais um tempo antes de se arrumar.

3 comentários:

Desobediência Vegana disse...

Olá, sou uma mulher. Bióloga também na casa dos 30. Nunca fiz análise por muito tempo.. deve ser complicado, nem arrisco;
Mas, admiro quem se aventura e aposto que o resultado é muito bom.
Não conhecia o blog de voces, descobri por acaso.. estou lendo os seus textos. Procuro ler todos, quando gosto.
Grande abraço; eu escrevo um blog sobre culinária e direitos dos animais. Estou descobrindo só agora o quando é bom colecionar textos e receitas nas páginas de um blog. Muitos não me respondem, mas quem me visita acaba se tornando amigo e assim vou descobrindo muitas pessoas como eu. Ou diferentes de mim, que se encontram.
Abraços,
Ellen Augusta

Renata disse...

Laeticia!
O tempo tb é um grande aliado nas arrumações!
Boa sorte!

Beijos!

Marco disse...

Engraçado, eu sempre acho extremamente simbólico o ato de arrumar os armários e as gavetas. Parece que eu abro espaço pra coisas novas. Por isso que eu nem sempre arrumo as gavetas...

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