quinta-feira, 9 de março de 2017

Daquele 8 de março de 2017...

Nesse 8 de março tão emblemático, de uma época em que vivemos o ápice da informação sobre a luta das mulheres contra atitudes machistas; mulheres essas que perderam a vergonha de se expor e contaram tudo o que vivenciaram, dando a oportunidade para outras mulheres, como eu, de se reconhecerem em cada ou diversas situações. 

Confesso que quando li as primeiras “confissões” vivenciadas por conhecidas ou desconhecidas, fiquei chocada. Nas minhas veias ainda correm os ensinamentos de minha mãe e de minha avó, aqueles do tipo - “roupa suja se lava em casa”, “devemos ser discretas”. Mas, no momento seguinte, me identifiquei e reconheci que cada texto daquele trazia um aprendizado dolorido de mulheres para outras mulheres, como eu, que ainda enxergavam aquelas atitudes como “normais” acordarem! Eram para um bem maior, uma doação.

O que mais me surpreendeu foram os relatos de esposas e seus companheiros ou ex-companheiros. 

Lembrei de uma história, que aconteceu comigo e um namorado. Eu mordi os lábios dele, que era grande e bem mais forte que eu. Foi o que consegui fazer, presa entre seus braços e pernas, sem poder gritar por ajuda, depois da recusa em dormir com ele. Ter agredido ele fisicamente me trouxe uma culpa imensa e gerou muitos insultos no dia seguinte. Na época me calei e concordei que eu estava louca, como ele disse. Me sucumbi àquela culpa e aguentei ouvir aquela história, sendo contada por ele, omitindo o motivo da agressão, colocando a mim como carrasca.

Histórias de agressão física não se repetiram. Eu calei as psicológicas. E vivi feliz para sempre. Até hoje...

O que me deixa triste é que somente depois de anos, (e graças ao que tenho lido dessas mulheres corajosas desta nova geração), eu tenha descoberto que insultos assim sairiam, sim, da boca de homens que insistem em dizer que “mulher que apanha, apanha porque merece”. Hoje aprendi com elas que, o simples pronunciar desta frase já é uma agressão. 

Por causa delas foi que entendi que se alguém tenta te diminuir, dizendo coisas do tipo: “você não pode viver sozinha pois não conseguirá se sustentar, a não ser que arranje um emprego de telemarketing das 23 às 6 hs (desqualificando o trabalho da mulher e do profissional de telemarketing); “ você não pode ser mãe por ser mais infantil que uma criança” (desqualificando seus desejos); “você está agindo como puta! Você é uma mulher casada!” - quando você saí a noite com suas amigas (desqualificando anos de luta por liberdade feminina); ou ainda te chama de “careta louca” por você achar um absurdo ele dar cobertura para o amigo adúltero, afinal “o problema é deles e não meu!” (reafirmando sua supremacia machista ao defender o amigo MACHO), ele está agredindo você! 

Infelizmente foram coisas que experimentei quando não tinha maturidade para reconhecer o que é GASLIGHTING e outros conceitos de agressão à mulher. E agradeço demais por estar tendo a oportunidade, de coração tranquilo quanto ao passado, de aprender, amadurecer e mudar! Não me calo NUNCA MAIS. 

Nada de sentimentos de piedade. Nada de “Pobre de nós mulheres que enfrentamos isso”...mimimi! De jeito nenhum!

Existem homens maravilhosos, companheiros, que acompanham essa mudança na sociedade e estão querendo estar ao nosso lado nessa luta. Ainda bem! E ainda bem que conheço pessoas assim. Singulares. Homens e mulheres. Gente que trata o assunto com naturalidade, mas naturalidade de leão que defende o bando!

Essas pessoas estão me ensinando a ser mulher de verdade. Mulher, com todas as fragilidades mas também qualidades femininas. Me ensinam reconhecer o valor de cada atitude anti-machista e selecionar, escolher a quem vale estar por perto. E principalmente não deixar acontecer menos do que eu mereço. Eu, mulher. Eu, ser humano do bem.



LorisB. deseja um Feliz dia das mulheres, como são. Cada qual com suas particularidades. Cada qual com seus desafios e cada qual com o direito de ter seus afetos sempre renovados e estabelecidos.

2 comentários:

Mariana Penna disse...

Namorei 3 anos com um cara que, se por algum motivo eu não quisesse transar (temos que querer todos os dias?), ele dizia: vc ta dando pra outra, sua puta. Vai toma no cú (exatamente desse jeito). Eu abaixava a cabeça e chorava. Isso quando não transava pra não ouvir isso.
Hoje, se alguém faz isso, nunca mais me vê.
Feliz nosso dia.
Um beijo!

Loris Mãe disse...

É um assunto tão delicado não é? Parabéns por sua coragem!
Beijos!

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