Sentou na única poltrona da
casa em que não costumava sentar. Pensou que, mudando de perspectiva, poderia
mudar também tudo o que não estava bom na sua vida.
Dias antes, havia se dado
conta de que logo vai completar um ano de home office. O que até pouco tempo
atrás não estava mais incomodando, começou a gritar dentro dela.
Por um longo tempo, foi bom
curtir o lar, mas agora, parece que o ar está ficando escasso e não há outro
modo de recuperar o fôlego, senão saindo para o mundo lá fora. Só que esta
possibilidade não se aplica no momento. Lá fora, bandeira preta em todo o
Estado. A pandemia voltou a ganhar força.
Pouco mais de um mês atrás
iniciaram as vacinas no Rio Grande do Sul e a esperança tomou conta de boa
parte das pessoas, incluindo ela.
“Onde foi que nós erramos”?-
indaga a si mesma enquanto lembra que colocou algo no forno e esqueceu de
monitorar o tempo. Nos seus devaneios já começa a filosofar sobre o tempo, o
que ele realmente significa, senão uma medida socialmente convencionada a fim
de nos manter ocupados.
Sente falta dos dias cheios,
em que chegava em casa exausta e se atirava no sofá, antes de dar conta de
todas as tarefas que ainda a aguardavam em casa. Sente falta da sensação de
“normalidade” de uma vida pautada pelo livre arbítrio. Entende a circunstância
da pandemia, compreende a necessidade de “ficar em casa”, mas não consegue
deixar de pensar que, em algum momento, as pessoas seguiram com suas vidas,
adaptando-se à nova rotina.
No seu íntimo, a única
pergunta que persiste é “até quando”?
Andri
pretende voltar a escrever nas sextas-feiras, porque o caos que habita seu
íntimo precisa sair de dentro dela.