sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

SOBRE O DIA EM QUE O ESTADO INTEIRO ENTROU EM BANDEIRA PRETA

 

Sentou na única poltrona da casa em que não costumava sentar. Pensou que, mudando de perspectiva, poderia mudar também tudo o que não estava bom na sua vida.

Dias antes, havia se dado conta de que logo vai completar um ano de home office. O que até pouco tempo atrás não estava mais incomodando, começou a gritar dentro dela.

Por um longo tempo, foi bom curtir o lar, mas agora, parece que o ar está ficando escasso e não há outro modo de recuperar o fôlego, senão saindo para o mundo lá fora. Só que esta possibilidade não se aplica no momento. Lá fora, bandeira preta em todo o Estado. A pandemia voltou a ganhar força.

Pouco mais de um mês atrás iniciaram as vacinas no Rio Grande do Sul e a esperança tomou conta de boa parte das pessoas, incluindo ela.

“Onde foi que nós erramos”?- indaga a si mesma enquanto lembra que colocou algo no forno e esqueceu de monitorar o tempo. Nos seus devaneios já começa a filosofar sobre o tempo, o que ele realmente significa, senão uma medida socialmente convencionada a fim de nos manter ocupados.

Sente falta dos dias cheios, em que chegava em casa exausta e se atirava no sofá, antes de dar conta de todas as tarefas que ainda a aguardavam em casa. Sente falta da sensação de “normalidade” de uma vida pautada pelo livre arbítrio. Entende a circunstância da pandemia, compreende a necessidade de “ficar em casa”, mas não consegue deixar de pensar que, em algum momento, as pessoas seguiram com suas vidas, adaptando-se à nova rotina.

No seu íntimo, a única pergunta que persiste é “até quando”?

 

Andri pretende voltar a escrever nas sextas-feiras, porque o caos que habita seu íntimo precisa sair de dentro dela.

 

 

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