Meditação
O que vem na sua mente ao ler essa palavra?
Essa é mais uma daquelas palavras que chegam carregadas de
significados, que podem ser diferentes para cada pessoa, mas que em geral não deixam
espaço para novas percepções.
Esse texto é um relato da minha experiência com meditação, e
pode ser que te incentive a ter uma curiosidade para entender o que meditar
pode significar, a partir da sua própria experiência.
Fui criada em uma família católica, e frequentar missas e
grupos de oração era parte da minha rotina, sem questionamentos. Eu gostava
dessa vibe de pessoas reunidas com objetivos mais elevados. Até que fui
percebendo que não era bem assim, e fui aos poucos me desiludindo e me
afastando. Como herança dessa época, ficaram resquícios de alguns preconceitos
e a falta de hábito de buscar outras formas de enxergar o autodesenvolvimento.
Águas passadas, cheguei em uma fase da vida (que imagino que
seja muito comum) em que estava tão estressada que não dormia, não me
concentrava e me sentia oprimida pela quantidade aparentemente desumana de
demandas para resolver. Nessa época, caiu nas minhas mãos um livro que foi um divisor
de águas: Para Viver em Paz - O Milagre da Mente Alerta, do fofo monge Thich
Nhat Hanh. Por mais que eu tente, não lembro como ele veio parar na minha vida
(se o anjo que me indicou esse livro estiver lendo o texto, me fala!). Tenho
esse livro até hoje, rabiscado e meio manchado, e é um dos poucos livros que
faço questão de carregar em todas as mudanças.
É um livro pequeno, simples. E que abriu as portas para uma percepção de que viver melhor não só é possível, como é fácil.
Juro.
Nessa época eu estava tão estressada que atos simples como
lavar a louça eram quase uma tortura. A cabeça pensando nas milhares de coisas
a serem feitas, o corpo preso em uma atividade necessária, mas que parecia tão
inútil, gastando tempo precioso que podia estar sendo usado para tantas coisas
que eu não conseguia nem enumerar. Uma luta entre o presente e o futuro, e o
passado dando pitacos e gerando culpa... era um pesadelo. Seguindo os conselhos
do livro, me propus a fazer um exercício buscando manter a mente no presente, a
tal da mente alerta que o livro menciona já no título. O exercício era simples:
ao lavar a louça, lave a louça. Quem já sentiu ansiedade já percebeu que isso
pode ser bastante desafiador. Se tem algo que eu sou, é dedicada, e eu me
dediquei a essa atividade. Olhei no relógio antes de começar a lavar a louça, e
ao lavar cada prato, cada copo e cada talher, eu falava em voz alta: estou
lavando o prato; estou enxaguando o prato, estou sentindo a água nas mãos,
estou percebendo a espuma escorrer com a água. Optei por falar em voz alta
porque minha mente estava tão barulhenta que eu não conseguia apenas pensar. Mesmo
me sentindo boba, segui o exercício até terminar de lavar a louça. Quando acabei,
olhei novamente no relógio. Cinco minutos tinham se passado. Se me perguntassem
quando tempo eu levava em média para lavar a louça, eu teria dito sem titubear:
pelo menos 20 minutos perdidos da minha vida! (sim, ainda rolava um drama para
piorar a situação).
Percebi que levei apenas 5 minutos para fazer uma atividade
necessária, sem me desgastar com a ansiedade de coisas que não podiam ser
resolvidas enquanto eu lavava a louça, com bônus de não ter quebrado nada
(que já estava virando rotina) e de perceber que a mente tinha descansado um
pouco...ufa. Enquanto eu lavava a louça, eu estava lavando a louça. Simples assim.
Isso foi revolucionário na minha vida!
O livro não é sobre lavar a louça, mas sobre como viver em
paz. E o caminho é a presença, é a compaixão, é escolher viver dessa forma. No
mundo em que vivemos, com tanta pressa e tanta demanda, pode parecer desafiador,
mas é possível. E um caminho é a prática da meditação. Ela é acessível a tod@s, e a sua prática traz
benefícios em diversos aspectos da vida. Apesar de sua influência budista, as práticas são laicas, não é
necessário ser budista para meditar.
Depois desse episódio, me tornei mais e mais interessada em
meditação, passei a me tornar mais consciente, mais
compassiva e sim, a viver melhor. Isso quer dizer que eu não me irrito e que
medito o tempo todo? Não. Continuo humana, sentindo, errando, aprendendo, e
continuo meditando, estudando e acreditando que é possível viver em paz.
Renata escreve aqui esporadicamente, há anos, e um dos seus
desejos para 2022 é uma vida melhor e com paz para tod@s. Ela acredita que a
prática da meditação é um caminho para isso.