Na terça-feira dia 12/04/11, aconteceu aqui na minha cidade o seguinte fato:
Uma moça de 23 anos, negra, grávida de 7 meses, operadora de caixa de uma conhecida rede de supermercados aqui da cidade, foi abordada, enquanto trabalhava, pelo fundador da rede, um "digníssimo" senhor de 80 anos, que lhe perguntou:
"– Você sabe a semelhança entre um Fusca quebrado na esquina e uma negra barriguda?"
A moça, de início, não compreendeu a "brincadeira", ao que uma colega prontamente lhe disse:
"– Você não entendeu? Os dois estão esperando um macaco!"
Humilhada, a moça foi chorar no banheiro do supermercado. Sem condições de continuar trabalhando, pediu licença, foi para casa, e, mais tarde, procurou a polícia para formalizar uma denúncia.
Obviamente que tal caso obteve grande repercussão aqui na cidade e, é claro, todo mundo queria dar o seu pitaco a respeito (como, aliás, eu estou fazendo agora...).
Ora, é claro que eu sei que casos como esse ocorrem diariamente em diversos locais e não apenas aqui. Também sei que, infelizmente, nem todos tem a coragem que essa moça teve.
Mas o que me espanta, não é o fato em si (fatos como esse não me espantam apenas, eles, na verdade, me dão asco) e sim os comentários de algumas pessoas acerca do ocorrido.
Muitas pessoas (ainda bem!) reconhecem o absurdo de tal "brincadeira", ainda mais a moça estando grávida e, o que é pior, tal brincadeira ter partido de alguém com uma posição institucional hierarquicamente superior a dela. Outras pessoas, contudo, lançam comentários do tipo:
"- O que essa pobretona quer é dinheiro... Agora vai conseguir uma indenização enorme só por causa de uma brincadeirinha...
- Era só o que faltava... Agora só porque alguém ri de mim eu vou sair por aí aos quatro ventos querendo processar todo mundo?
- Essa aí agora conseguiu tudo o que queria... Deu uma de vítima, de coitadinha, ficou conhecida e, ainda por cima, vai levar uma bolada do cara que só quis fazer uma brincadeira com ela...
- Isso de querer processar o cara dizendo que ele chamou o filho dela de animal é ridículo! Então eu também vou me sentir ofendida toda vez que alguém me chamar de gatinha e vou querer processar... Afinal de contas, estão me comparando a um animal também, que nem no caso dela..."
Não consigo compreender como algumas pessoas possam achar normal alguém fazer esse tipo de brincadeira maldosa e de duplo sentido!
E o pior é que quando alguém, como é o caso dessa moça, decide não se calar diante desse preconceito velado, acaba sofrendo represálias, acaba sendo acusada de ser "um a aproveitadora barata", de "se fazer de vítima", de "querer aparecer" e por aí vai...
Lamentável!
Déia escreve aos domingos e acredita que nunca deixará de se espantar com a estupidez alheia...
7 comentários:
É algo lamentável...
É uma violência que se apresenta vestida de preconceito.
Mais um caso entre tantos milhões.
Malú.
É lamentável que ainda se faça esse tipo de "brincadeira". Realmente, é de dar asco!
Aplaudo a coragem dela e espero que ela consiga mesmo uma boa indenizacao! E que isso sirva de licao a tantos engracadinhos por ai.
Lamentavel o comentario da tal "gatinha"...
Aqui em Minas temos um ditado: "Pimenta nos olhos dos outros é refresco." Como nunca é demais recordar, um versin de Castro Alves:
"Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar..."
(Navio Negreiro)
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olá Malú, Olá Roberta, Olá Inaie, Olá Edu!
Malú, sim, de fato a situação toda é absurda... Bjs querida!
Roberta, realmente, é difícil não ficar nauseada... Bjs querida!
Inaie, pois é, também espero que ela consiga ser bem indenizada e também aplaudo a corgame que ela teve. Quanto ao comentário da "gatinha"...bem, deplorável é o mínimo que posso dizer a respeito, sabe? Bjs querida!
Edu, lindo poema que você nos trouxe. Obrigada. E muito pertinente, aliás... Abraços querido.
Pelo amor de Deus, hein, gente? Ainda existir este tipo de coisa... Um amigo me contou há um tempo que a sobrinha de 7 anos, uma moreninha linda de cachinhos castanhos, pediu a mãe pra pintar os cabelos de louro porque não queria mais que na escola uma coleguinha a chamasse de pretinha. Olhem que absurdo. Deu uma confusão danada na escola, claro. Mas fiquei pensando foi na menina, tadinha, novinha assim e passando por este tipo de absurdo...
Oi carlinha, oi Advokete!
Carlinha, realmente, as pessoas são extremamente rápidas para emitir julgamentos dos mais variados tipos. E o fazem com uma irresponsabilidade incrível! Também acho que a moça agiu certo ao não se calar. Porém, me espantam os comentários dos não-envolvidos-na-situação... Que triste! Bjs! Déia
Advokete, que história lamentável essa sua... Pobre criança! Desde cedo começa a perceber a crueldade existente na sociedade... Penso que cabe aos pais prepará-la para essa e muitas outras situações chatas que certamente virão... Bjs! Déia
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