domingo, 24 de abril de 2011

Dúvidas Pascais

Como hoje é domingo de Páscoa, sei que muitos esperam que o post seja sobre esta data, sobre sua importância, sobre o quanto precisamos refletir e blá, blá, blá...

Pois bem.
Que assim seja.

Porém a reflexão sobre a Páscoa será um pouquinho diferente...

Para isso, tomo emprestadas as palavras do magnífico L.F. Veríssimo.

Vamos lá?


DÚVIDAS PASCAIS

Filho — Papai, o que é Páscoa?

Pai — Ora, Páscoa é… bem… uma festa religiosa.

Filho — Igual o Natal?

Pai — Parecido. Só que no Natal comemora—se o nascimento de Jesus; na Páscoa, se não me engano, comemora—se sua ressurreição.

Filho — Ressurreição?

Pai — É, ressurreição. Marta, vem cá!

Mãe — Sim?

Pai — Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler meu jornal.

Mãe — Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?

Filho — Mais ou menos. Mamãe, Jesus era um coelho?

Mãe — Que é isso filho? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse filho foi batizado! Jorge, esse filho não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele soltar uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

Filho — Mas Mamãe, o Papai do Céu não é Deus?

Mãe — É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

Filho — O Espírito Santo também é Deus?

Mãe — É sim.

Filho — E Minas Gerais?

Mãe — Sacrilégio!

Filho — É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?

Mãe — Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudo certinho!

Filho — Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

Mãe — Eu sei lá! É uma tradição. É como o Papai Noel, só que em vez de presentes, ele traz ovinhos.

Filho — Coelho bota ovo?

Mãe — Chega! Deixa-me ir fazer o almoço que eu ganho mais!

Filho — Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

Pai — Era, era melhor, ou então urubu.

Filho — Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, não é? Que dia que ele morreu?

Pai — Isso eu sei: na sexta-feira santa.

Filho — Que dia e que mês?

Pai — Hum… Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.

Filho — Um dia depois.

Pai — Não, três dias.

Filho — Então morreu na quarta-feira.

Pai — Não, morreu na sexta-feira santa. Hum… ou terá sido na quarta-feira de cinzas ? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois ! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!

Filho — Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

Pai — É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

Filho — O Judas traiu Jesus no sábado?

Pai — Claro que não! Ele morreu na sexta, ora!

Filho — Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

Pai — É, boa pergunta. Filho, atende ao telefone pro papai. Se for um tal de Rogério, diga que eu saí.

Filho — Alô, quem fala?

Rogério — Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?

Filho — Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.

Filho — Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

Pai — Cristo. Jesus Cristo.

Filho — Só?

Pai — Que eu saiba sim, por quê?

Filho — Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

Pai — Coitada!

Filho — Coitada de quem?

Pai — Da sua professora de catecismo!


(Luís Fernando Veríssimo)


Déia escreve aos domingos e, após ter rolado de rir com o texto, percebeu, chocada, que apesar de pertinentes, as questões levantadas pelo Veríssimo, na maioria das vezes, sequer passam pelas nossas cabeças...

4 comentários:

Sérgio Silva disse...

Olá Déia! Hoje não tenho consideração nenhuma sobre o texto do L. F. V., mas quero que saiba que foi responsável por boas e sonoras gargalhadas pascais. Acho que, afinal, acabei me lembrando de alguém, menino curioso e perguntador que já habitou este -ia dizer carcomido, mas acho que ainda não chega a tanto (apesar de já ter passado um pouco do 'de repente 30', rs)- corpo. KKK
Feliz Páscoa!
Um abraço,
Sérgio
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Andréia B. Borba disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andréia B. Borba disse...

Olá!
Ah, querido, mas apenas o fato de podermos nos divertir assim, inesperadamente, já é algo maravilhoso, não acha? ;-)
Também lembrei da "menina-Déia" cheia de perguntas sempre (muitas das quais ainda hoje me habitam...).

Abraços querido!
Déia

Anônimo disse...

Meu Deus, como nao morrer de rir com um texto desse?!! Parabens pelo blog. Eu adoro!

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