quinta-feira, 30 de julho de 2015

"Não se cresce sem sentir"

“Não se é grande sem crescer
Não se cresce sem sentir
Nada existe sem porquê, portanto”
(Móveis Coloniais de Acaju em “Café com Leite”)

Pensar sem indução
Falar com informação
Viver com satisfação
Agir com retidão
Crescer com ambição
Cuidar com atenção
Enxergar com amplidão
Sofrer com evolução
Silenciar em antemão
Desapegar sem apreensão
Errar sem ilusão
Sorrir sem opção
Beijar com devoção
Abraçar com afeição
Chorar não é infração
Desculpar em progressão
Crer sem banalização
Ter sem ostentação
Postar sem encheção
Pausar em contemplação
Tolerar sem distinção
Desenvolver sem infração
Corrigir sem vexação
Trabalhar com moderação
Fantasiar como sugestão
Amar em profusão
Sentir sem contenção


Luciana deveria escrever as quartas. Daqui a pouco ela volta pra órbita.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Uma carta

Eu ando pensando muito em ti nos últimos dias. Ando mesmo mais introspectiva que o normal. Mais emotiva que o normal. E mais saudosa que o normal. Acredito que tudo isso acaba levando meu pensamento à nossa relação, mesmo que no momento (e em nenhum outro) eu não queira colocar muita racionalidade nisso. Pode ser medo, pode ser medo.

Queria tanto saber como (e se) pensa em nós. Queria tanto saber como se sente quando nos vemos e quando (não) nos falamos. Queria, mais que tudo, saber como eu me sinto nessas situações. Queria pegar tua mão, caminhar sem pressa, e te mostrar todas as lembranças que tenho da gente e que guardo com carinho, numa coleção preciosa mas não muito visitada. As lembranças são multifacetadas e facilmente moldáveis. O que vejo e o que guardo pertence somente a mim, e cada um tem sua própria versão, parcial e moldada, da mesma lembrança. Queria poder compartilhar contigo as minhas, e conhecer as tuas. Compartilhamos tanta tanta tanta coisa, mas às vezes parece que não...

Queria te contar dos meus medos, dos meus sonhos, e sentir que meus segredos estão seguros e não são mais só meus. Que o peso que insiste em se depositar nas minhas costas não é tão pesado e que não estou tão sozinha. Queria te ajudar, também, mas não sei o que pesa nas tuas costas. Não sei nada dos teus desejos, dos teus planos (dos íntimos, não dos que fica falando para quem quiser ouvir). Não sei o que te tira o sono. E nem o que faz sentires renovada a vida dentro de ti.

Eu queria. Eu quero. 

Mas acho que não queres. Ainda não.


Renata anda pensativa e escrevendo cartas nem sempre imaginárias.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sem pulso

"O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco
Assim..." (Arnaldo Antunes)


Bergamota descascada
Morte por meningite
Collor em loop infinito
Sem lactose
Casa da dinda
Falta de memória
Lamborghini
Hipocrisia
E o pulso...

Plástico bolha que não estoura
Corrupção
Cunha
Sem glúten
Autoritarismo
Caxumba
Sem representatividade
Fobia
E o pulso...

Cães de sapato
Fome em 2015
Comentários de notícias
Rancor
Déficit de butiás
Constantino
Oportunismo
Lobotomia
E o pulso...

Grades nas janelas
Intolerância
Extremismo
Injustiça
Olho por olho
Discurso de ódio
Massa de manobra
Cegueira coletiva
E o pulso será que pulsa?




Luciana escreve as quartas e usou o exemplo das famigeradas bergamotas peladas apenas como um exemplo de coisas que perderam a graça, tal como o plástico bolha que não estoura.


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Abandono

Há cerca de duas semanas adotamos uma cachorrinha. Tá, quem a viu já viu que de “inha” não tem nada, é uma bela de uma fillhotona. Embora já tivéssemos um cachorro, vimos a necessidade dele ter uma companhia e dessa necessidade a possibilidade de fazer o bem para um serzinho. Não é o primeiro cão que adoto, quem me conhece sabe que tenho várias histórias em relação a isso. Mas o ato de adotar vem de um abandono e é sobre isso que quero falar hoje.

Toda vez que a Curie vem com todo o seu tamanho e amor para cima de mim exigindo carinho e impondo seu corpinho, não tão inho assim, eu fico imaginando como alguém pode abandonar um ser que parece ter sido tão amado? Ela visivelmente é uma cachorrinha que ganhou muito carinho, o que a gente nota pelas suas atitudes. Certamente dormia com alguém quentinha à noite, pois é o que ela tenta todas as noites por aqui. E ela é muito esperta e muito fácil de educar também, o que faz eu me questionar mais ainda sobre isso.


Mas o ser humano tem uma capacidade muito grande de abandono, seja de afetos, seja de projetos, seja de metas, seja de ideais, seja de si mesmo.

Um ser humano que abandona suas crianças, porque não abandonaria um cãozinho?

Um ser humano que abandona seus amores, sem nem ao menos lutar por eles.

Um ser humano que abandona sua consciência e aplaude quem lincha outro ser humano até a morte.

Um ser humano que abandona seus amigos, e às vezes nem percebe isso.

Um ser humano que abandona sua ética, e passa por cima dos outros.

Um ser humano que abandona a si mesmo, e quando percebe já não é mais quem gostaria de ser.

Um ser humano que só não parece capaz de abandonar o material, seus preconceitos, sua ira, seu egoismo.

Enfim, abandonos à parte, esta família está muito contente – embora ainda em adaptação – com a nova integrante canina Curie, sobretudo o pequeno Bob Dylan, que agora tem que o “afofe” todas as horas do dia.

Luciana é um ser humano que escreve as quartas e já cometeu alguns abandonos na vida. Por alguns lutou antes de desistir, por outros nem tanto.

Teletransporte

Enquanto a Lu queria ter superpoderes, e viu que pode fazer coisas incríveis mesmo sem eles, eu queria ter um único superpoder: teletransporte. Ou viajar muito rápido como o Flash, e continuar com o cabelo minimamente arrumado.

Há algum tempo vi uma frase que gostei muito, e uso como foto de capa no meu perfil do Facebook, que diz: estar perto não é físico. Isso porque tenho sentido muitas saudades de pessoas que não estão fisicamente próximas. Estão bem próximas de outras formas, umas graças às maravilhas da tecnologia, que nos permitem ver, ouvir e trocar palavras, outras muito mais pelo pensamento e pela sintonia que transcende tempo e distância.


Troca de palavras, piadas, fotos de caretas e de bebês fofos que crescem rápido demais, do corte novo de cabelo e do por do sol, frases tiradas de livros e que fizeram alguém querido lembrar da gente. Troca de receitas, de dúvidas, de conselhos e de tutoriais. Tudo isso a gente consegue fazer tendo uma conexão, um smartphone e amor. 

Mas às vezes não chega. Às vezes o cheiro do bolo, a voz perto do ouvido, o olho no olho, o colo e o cafuné, o abraço apertado que às vezes tira lágrimas sei-lá-porque faz falta. E nessas horas, estar perto é físico. É tocar. É estar perto mesmo sem falar. É rir das piadas internas e das lembranças que ninguém mais compartilha. É brincar sem pressa, sem contar os minutos ou depender de wi-fi.

E nessas horas eu queria muito poder me teletransportar. Dar um abraço apertado, dar e receber colo e passar mais tempo com gente que é tão querida mas que está tão longe. Fisicamente longe.

Renata está perto de tanta gente que está longe, mas às vezes não é suficiente.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Deus me livre de ser como você

Você aí que é intolerante, que nem pensa antes de soltar um palavrão ou chamar os outros de imbecil - boçal é um adjetivo bem usado, retardado também.
Você aí que combina coisas só para apagar o fogo. No calor do momento. Que não honra seus compromissos - uma das coisas que ainda admiro na minha terra é que “falou tá falado”, sem precisar de papel ou autenticação em cartório – “no fio do bigode” mesmo.


Você aí que conta histórias de pessoas que não conhecemos e nem queremos conhecer - sabe aquelas pessoas que uma palavra é um estopim para uma história que não queremos ouvir?
Você aí que é injusto, que não ouve as versões de um fato e tira suas conclusões, colocando culpas onde resolveu que elas cabem.
Você aí que fala de pessoas, julga, julga, julga. E não percebe que as pessoas são bem mais interessantes do que o que você concluiu delas!
Você aí que é irredutível, que jamais muda de opinião e que não se interessa por outras opiniões, afinal já tem a sua! Existem tantas opiniões ricas por aí e você perdendo!
Você aí que não dá valor a quem te estende a mão. Que não é grato, nem a sua vida, nem a quem passa nela.
Você aí que não admite a espiritualidade alheia, que julga sua crença superior a qualquer outra.
Você aí que se acha superior pela sua sexualidade. Que não aceita a diversidade. Que curte “Orgulho de ser qualquer coisa”.
Você que não enxerga o que importa atrás das cores por cima de uma foto.
Você que não se arrisca, nem em argumentos. Que prefere bancar papagaio.
Você aí que sente ódio e rancor e propaga.
Você aí que nem sabe o que é amor e pensa que pode decidir até quem o outro pode ou não amar.
Você aí que não escuta, não lê, mas fala, fala, fala e escreve.
Você aí que só se preocupa com o perímetro ao redor do seu próprio umbigo.


Você aí que não percebe que para fazer algo não é necessário acabar com a fome da África – se tirar os olhos do perímetro do umbigo vai ver que muita gente precisa de ajuda logo aí ao lado. Bora?
Você aí que acredita que uma causa é mais importante que a outra, como se não pudéssemos lutar por mais de uma ao mesmo tempo. É só se mexer da cadeira para começar a fazer algo acontecer. Um simples movimento é necessário – e isso eu lhe asseguro, não é o movimento de desqualificar a causa alheia! Isso só é gasto de energia na direção contrária – mau uso de energia. Dê as pessoas a licença de lutar pelo que elas quiserem, "fazendo o favor"!
Você aí que é machista, racista, homofóbico, mas não admite, por que é feio.

Luciana escreve as quartas e às vezes duvida da inteligência das pessoas. Aí ela acaba duvidando da sua própria inteligência, pois não consegue entender o pensamento de algumas pessoas. Conclusão: o ser humano, onde se inclui, é burro pra caramba!
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