sexta-feira, 1 de julho de 2022

O Cuscuz

Depois de uma vida inteira baseada na certeza de que não só eu não gostava, eu era fisiologicamente incapaz de engolir cuscuz, descobri que: pasmem! Eu gosto de cuscuz.

Gosto de cuscuz doce, gostoso de cuscuz com um pouquinho de sal. Gosto de cuscuz com leite de côco. 

Essa descoberta aconteceu durante a travessia do Vale do Pati, na Chapada Diamantina, que fiz esse ano (2022 para a posteridade). Foram cinco dias caminhando, superando limites físicos, mentais e espirituais, com muito contato com a natureza e com pessoas incríveis. Onde os banhos de cachoeiras eram como estar novamente no útero. O útero de gaia, literalmente

As noites eram ao redor da fogueira vendo a via láctea e ir dormir às 20:30 era socialmente aceito, assim como passar o dia de roupa molhada e cheia de barro. 

E o café da manhã...ah, o café da manhã era um dos pontos altos dessa rotina. E todos os dias eu comi: cuscuz. Comi com apetite e prazer. Comi como quem degusta a história e o aroma a cada bocado.

Fiquei tão animada que comprei uma cuscuzeira pequena (vermelha e linda, que já chamei de Ilda) e vou incorporar essa comida na minha rotina. Talvez querendo trazer um pouco do gosto da natureza pra casa.

Depois disso, minha filha me mostrou o podcast “Só ouço falar” e ouvimos juntas o episódio da laranja (https://open.spotify.com/episode/3Gl1H7CGW7LZ48gNm4Suik?si=03e6d7e0e44d4fad), que de uma forma engraçada e leve conta uma experiência semelhante à minha do cuscuz mas, como você já deduziu, com uma laranja. 

Foi um momento: uau! Percebi que o cuscuz era a minha laranja, ou seja, era aquela decisão que tomamos (ou que foi tomada por nós) há muito tempo sobre o que gostamos e do que não gostamos, e que nem questionamos. Vivemos com essas certezas do que é bom e do que é ruim. Do que gostamos, fazemos, podemos, queremos e do que não. E quanta coisa deixamos de provar e viver por causa disso... Quanto nossa vida poderia ser muito mais rica (ou divertida) se a gente não acreditasse piamente nessas crenças que vêm sabe-se lá de onde.

Renata está certa de ainda há várias laranjas nesse mundo e está animada para olhar para isso. Quem sabe você também possa olhar e descobrir novos sabores, gostos, sensações. Afinal, a vida é cheia de laranja. E cuscuz.

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