segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Clichês e retrospectiva

Vocês já sabem que eu sou fã de clichês. Eles existem por uma razão e são muito, mas muito úteis. Então, vamos ao clichê anual de fazer uma retrospectiva do ano que passou e do quanto aprendemos com ele.

Mas vocês também sabem que sou bem objetiva, e o que aprendi com esse ano foi: sou resiliente pra caramba. Spoiler dado, vamos aos fatos e vocês (espero) irão concordar comigo.

Estava há 11 anos em um emprego pelo qual me exonerei de um concurso público, mudei de estado e deixei minha filha aos 18 anos seguir o rumo dela, também em outro estado. Baita investimento. Acontece que há um tempo, vinha tendo reações não tão legais ao trabalho. Choro constante, angústia, sonhos/pesadelos, falta de perspectiva, crises de pânico e por aí vai (a lista é longa e posso falar mais sobre isso em outro momento).  Resumindo, cheguei a um ponto de colocar um balde ao lado da minha estação de trabalho (home office, graças à deusa) por medo de passar mal e vomitar a qualquer momento. O balde foi usado mais como suporte mesmo, mas o mal estar era constante e cada vez menos suportável.

Houveram muitas conversas, terapia, medicação, meditação, orações.... e tive que pedir demissão. Tive, pois das opções que me foram oferecidas era a única que me trazia alguma paz.
Saí do emprego. Desempregada pela primeira vez desde os 16 anos de idade. Não tinha ideia do que fazer. Não tinha ideia de quem eu era sem trabalho.  Me lembro claramente de um dia em que perguntei pro meu gato (o Gordinho) como ele passava os dias. Ele se espreguiçou, e deitou no chão da sala. Deitei do lado dele. E dormi. Um sono entregue e cheio de gatilhos.

Nesse período eu estava participando de um processo seletivo que, modéstia à parte, eu tinha certeza de que iria ser selecionada. Não fui. Males que podem vir pra bem, me disseram. Na hora, fingi acreditar (não tinha muita escolha mesmo). Meu único plano, então, era tirar um ou dois meses para descansar e me recuperar. E depois, mais forte e mais centrada, recalcular a rota.

Nesse mesmo período, meu pai começou a ter sérios problemas de saúde que só se multiplicaram. A cada dia, levávamos um susto e o tratamento mudava. Foram 7 internações hospitalares. A atitude mental dele, o apoio de amigos e familiares, a dedicação da equipe médica, fizeram com que, alguns meses depois, ele hoje leve uma vida normal e autônoma. Mas ao custo de noites sem dormir, idas e vindas à casa dos meus pais, ao hospital, à minha casa, a consultórios médicos, farmácias, pronto socorro, etc. Ao custo de muita incerteza, de insegurança, de buscar entender informações complexas não muito disponíveis. A recuperação milagrosa do meu pai veio. E os meses sem descanso físico nem mental cobraram a conta.

Não é um desses clichês que a gente ama? A conta chega. E chega viu?

O ano não foi só (tudo) isso, claro. Teve reencontros com amigos, teve desafios profissionais, teve viagens e muita, mas muita terapia pra ajudar a dar conta minimamente de tudo. Terminei minha segunda formação como instrutora de yoga e finalmente criei coragem de começar a dar aulas. Tive excelentes oportunidades como consultora, vindas de ex colegas generosas e competentes, e o prazer de trabalhar está voltando.

Como os memes são os novos clichês: fiz o que pude; podia pouco.

Refleti bastante sobre abrir aqui no blog esses assuntos tão pessoais e de tanta vulnerabilidade; mas a experiência tem me mostrado que falar abertamente sobre assuntos "difíceis" pode ser uma ponte ou mesmo um ponto de apoio para pessoas que estejam navegando num mar de incertezas e medos.

Ainda estou aprendendo com tudo o que vivi. Ainda me surpreendo (positiva e negativamente) com atitudes das pessoas. Ainda estou me entendendo sem o trabalho para o qual me dediquei por mais de uma década (essa palavra década faz a gente parecer velha né). Ainda estou refletindo sobre a brevidade da vida. Sobre a importância da saúde, da força mental e das boas relações. Ainda estou recalculando a rota e buscando onde posso melhor contribuir com o mundo, sem me violentar. Ainda estou acertando a conta. 


Renata escreve quando o coração manda e ela, aquariana, obedece. E deseja um 2024 de muita paz para todes. 

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