terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Família...

Hoje li duas notícias que me preocuparam bastante. Uma dizia que uma clínica de fertilização aqui na minha cidade irá baratear seus custos para que famílias de baixa renda possam acessar seus serviços. E a outra sobre a regulamentação do governo para que mais pessoas possam utilizar serviços de fertilização in vitro. Não me entendam mal, tenho certeza de que renda, condição social, estado civil e opção sexual NÃO são fatores decisivos na educação de um filho, não são eles que tornam pais e mães melhores ou piores.
O que me preocupa nesta notícia é o avanço na discussão sobre fertilização assistida quando, em minha opinião, a discussão deveria ser muito maior no que se refere às crianças que já estão no mundo! Como professora, acompanhei inúmeros casos de maus-tratos, de desprezo, de abandono disfarçado ou não, de abusos dos mais diversos... de mães que tratam os pets melhor do que tratam seus filhos. De pais que são genitores, nada mais, e se sentem altamente prejudicados quando têm que se responsabilizar por alguma questão referente aos filhos. Eu já tirei um berne da cabeça de uma criança de 6 anos. Eu já atendi, numa segunda-feira, um menino cujo braço a mãe quebrara com vassoura na sexta-feira. Eu já tive aluno convulsionando nos meus braços. Eu já tive aluno que roubava, que mendigava, que usava drogas. Eu já doei sabonete, toalha, xampu para que uma menina tomasse banho na escola; ela recusou pois o seu cheiro mantinha o padrasto longe dela. Se algo acontecesse entre eles, sua mãe a mandava embora. Eu já ouvi vários relatos de abuso sexual, de violência, de humilhação, de abuso moral. Eu já fui mandada tomar naquele lugar por um aluno. eu já ouvi mães e pais defendendo os filhos nos seus erros, acobertando mentiras, ensinando a trapacear.
E esses são alguns exemplos, que me entristecem e me revoltam!
Há casos e mais casos de marginalidade envolvendo crianças, que poderiam, tenho certeza, ter sido evitados se houvesse um cuidador, um responsável, alguém que amasse e cuidasse dessa criança. Há casos de jovens que nunca ouviram um NÃO e não sabem lidar com frustrações: pegam o que querem, fazem o que querem e não lidam com as conseqüências.
Essa discussão é urgente: quem está cuidando das nossas crianças? Claro que os olhos se voltam para a escola, a vitrine da educação. Mas a educação começa bem antes, na família.
Não penso que as pessoas devam simplesmente parar de ter filhos! Sempre que amigos falam que não sabem se devem ter filhos, pois o mundo está muito complicado, eu digo que as pessoas de bem têm, sim, que ter filhos, senão o mundo só irá piorar.
Mas antes de o governo institucionalizar uma política para facilitar as gestações e antes de se buscar formas de baratear isso, é necessária uma política de educação de pais. De qualquer classe social, de qualquer organização familiar, de qualquer opção sexual.
É preciso que as pessoas entendam e assumam seu papel na formação de um outro ser: física, emocional, mental, espiritual.
É preciso que, antes de colocar uma criança no mundo, tenha-se a noção de que ela será sua responsabilidade. Ao contrário do que vem pregando o governo, cada vez mais paternalista, assumindo para si uma parte crescente do papel parental.
Sempre me perguntei por que há tantos pré-requisitos para adoção, se há mães que têm 9, 10 ou mais filhos, sem que ninguém possa nem ao menos lhe aconselhar um método contraceptivo definitivo. Mas e os direitos humanos? Como negar a essa mulher seu direito divino de gerar a vida? Mesmo que, comprovadamente, seus filhos estejam em situação de miséria e sem nenhum responsável pela sua formação. Estejam expostos a inúmeros riscos.
São discussões delicadas, que envolvem leis, direitos adquiridos, crenças, fé, família nas suas mais variadas composições; mas que são inevitáveis se quisermos um bom futuro para nosso país e para nosso planeta.
É aquela velha história: falamos em deixar um mundo melhor para nossas crianças, mas que crianças estamos deixando para o nosso mundo?


Renata entende que são assuntos delicados, mas que precisar ser pensados, discutidos, falados, pois dizem respeito à toda a sociedade.
Também sabe que educar um filho não é fácil, mas que, com amor, é possível.

7 comentários:

Fran disse...

Rê, fantástico teu texto! Deveria enviar para o jornal! Parabéns! Bjus

Sindy disse...

Rê,
já conversamos sobre isso, né?
Penso que antes de criar políticas públicas para a fertilização assistida deveríamos discutir e implementar um política SÉRIA de controle de natalidade! E nós sabemos bem o quanto isso é URGENTE!
E manda o texto pro jornal sim, viu?
Bjaum

Fernanda disse...

Parabéns pelo texto Rê, muito bom! É impressionante como, cada vez mais, os pais pensam que a educação de seu filhos é responsabilidade apenas da escola. O significado de PAI e MÃE deve ser "revisitado" na nossa sociedade.
Também acho que tu deverias enviar para o jornal.
Bjs

Andréia B. Borba disse...

Olá Rê...
Concordo perfeitamente com o que vc escreveu.
Concordo também com o que a Cindy escreveu acima sobre a importância da implementação de uma política de controle de natalidade. Além disso, creio que seria importante que houvesse menos burocracia com relação à adoção.
Excelente texto.
Certamente vou divulgá-lo para todos que conheço.
Abraços e parabéns!

j disse...

Concordo pelnamente...mundo pequeno gente desamparada...mas fico atado ao livre arbítrio do próximo...

Angel disse...

Controle de natalidade é uma boa, levanto essa bandeira faz tempo... ótimo texto Rê! Saudade!

Lila disse...

Andas inspirada e inspiradora... Muito obrigado por dividir seus pensamentos conosco.
Vivo em una realidade muito diferente mas teu texto foi capaz de reavivar minha memoria! Triste situacao brasileira. Bjs

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