Temo a mesmice. Temo o egoísmo. Temo a falta de se deixar levar. Temo a cidade cheia de individualismo e a falta de tempo. Temo o tempo. A falta e a demasia. E temo ter todo tempo do mundo pra fazer absolutamente nada. Ou melhor: pra fazer exatamente o que quero. Ver é diferente de olhar. E disso já estou farta.
Mas nesse exato momento, o que menos esperava era conforto. Precisava mesmo era de tempestade, de um redemoinho que a levasse pra onde havia deixado sua essência. Precisava viver sua vida e decidir o que queria comer no jantar. Pois é, ela sabia disso direitinho. Sabia de todos os poréns do seu dia-a-dia e resmungava solitariamente que a partir daquela semana as coisas seriam diferentes. Nada fazia sentido. Nem sua pouca felicidade. Nem o fato de acordar tarde todos os dias implorando pro tempo passar mais rápido. Nem seus não-filhos. Nem a solidão. Nada disso fazia sentido, mas a fazia grande. De alguma forma. E, apesar de continuar ali, naquele vácuo de vida, lembrava da ferida aberta bem no meio do seu coração. A casca caída no chão. Juntou cada pedaço pequenininho e jogou um por um no lixo do banheiro. Ferida. Pele. Casca. Coração.
Mariana está bem e escreve esporadicamente. Está finalmente curada das feridas do corpo. As da alma permanecem em seu lento, porém progressivo processo de cicatrização.
3 comentários:
Excelente texto!!! Todas nós precisamos de um vendaval que faça voar todos os papéis mornos das nossas gavetas.
Um abraço.
Concordo com o comentário anterior. Às vezes, é necessário mesmo um grande acontecimento para pararmos e analisar que rumo tomar, qual ou quais decisões devem ser tomadas. Penso também que somos nós é que decidimos o tempo que vamos demorar para curar nossas feridas; pode ser um período grande ou pequeno, entretanto quando conseguimos o pequeno, estamos alcançando graus mais altos de superação (não sei se seria esta a palavra )
Lindo teu texto! Triste, mas nem tanto.
Um abração!!!!!!!!
Rê
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