terça-feira, 31 de julho de 2012

Gente do interior

A gente pode fingir que não é do interior e que se admira com coisas da capital fazendo um ar blasé quando reclamam dos escandalosos engarrafamentos; bocejando de leve quando falam do preço absurdo da vida. Pode fingir que é normal chamar perigoso de esquisito, só para não enfrentar a dura realidade da violência sem limites.
Pode andar de ônibus ao invés de metrô "porque gosta de ficar ao ar livre".
Mas na hora de cruzar uma rua movimentada, não tem como fingir. Todos passam voando, sendo literalmente jogados pro alto pelas motos (isso eu vi hoje), e a gente, que é do interior, fica ali, esperando o sinal verde que nunca chega...a noite caindo...os grilos cantando...cri, cri, cri...e a gente ali.
Aí não tem como fingir.

Renata, uma moça do interior, escrevendo de uma capital.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Nuvem

Numa nuvem de pensamentos
vejo rostos
ouço vozes
que logo se tornam poeira
se materializam e somem em instantes
E a nuvem - universo
segue
orbitando ao meu redor.

Renata está nas nuvens; não no melhor sentido.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sobre Alice e os amigos talentosos


Ter bons amigos é tudo, ponto. E ter bons amigos talentosos, então... é o êxtase, é viver rodeado de arte, beleza, bom gosto e bom senso, o que seja. Admiro, aprecio, gosto, “curto no facebook”... Além do que, penso que a gente se contamina, sabe? Não tem como sair o mesmo e ileso, nem em 5 minutos de conversa.

E falando deles - desses amigos - tem uma que eu queria falar hoje especialmente: Anne Glaucy Melo, professora de Língua Portuguesa, mulher de 30 e poucos, conhecida popularmente como a "mulher do Magrão". Magrão é o baixista de uma banda de rock acreana maravilhosa, chamada Los Porongas, que cada vez tem ganhado mais espaço na cena musical do rock nacional. Mas posso ser sincera? Desculpe o querido baixista, mas essa referência é tão limitante... Ela é muito, mas muito mais que isso. AcrEana e ariana (assim como eu, e eu adoro!), desempenha um importante papel de guru na vida de muita gente (inclusive na minha), envolvida na arte das práticas espiritualistas. Ela não gosta desse título, mas fazer o que, "ossos do ofício", né, mana?!

Além de tudo, e por isso a trago aqui, é aspirante a escritora. Vive prometendo aos amigos que em breve "sai do armário". E enquanto isso não acontece, vou aqui compartilhando seus escritos (com a devida permissão e créditos), numa espécie de, digamos, "amostra grátis". Um trecho de um texto que faz uma releitura do livro "Alice no País das Maravilhas". Segundo ela, as "impressões sobre Alice". Vamos lá:

"Estou sob o arcano da existência...
Foi assim, com essa frase, que acordei hoje, sexta, feriado. Não tirei o pijama, não abri a janela e nem vi a chuva que veio e já foi. A única coisa boa essa semana foi um encontro de amigos, onde falamos de livros e da vida. 'Alice no País das Maravilhas'.Já li esse livro outras vezes, mas nunca numa crise de absurdez existencial... isso faz muita diferença.Como tanta coisa passou tão despercebida? Um jogo de caça ao tesouro, onde a gente se perde e se acha... Como um nonsense total pode ser tão prático? A grande charada é a velha pergunta ‘Quem sou eu?’ É onde tudo começa.
Mas vamos por partes.
De repente, Alice ficou muito pequena e diz: ‘Não sobrou quase nada de mim para formar uma pessoa respeitável’. Sempre encontraremos um bolo ou cogumelos que nos fazem crescer, mas honestamente, quase nunca temos altura necessária pra pegar as chaves que abrem as portas certas. Choramos um poço e não fica nem bem. Perde-se muito tempo e muita água. A corrida do Caucus, muito interessante, é como a nossa. Corre-se tanto, sem saber pra onde ir...E o gato de Cheschire, indicador do caminho de Alice: ‘é claro que depende do caminho que se quer ir, mas nunca sabemos direito; basta ir em frente que chegamos em algum lugar...’ Não é assim a vida? (...)"
Anne Melo




Gabriela ama seus amigos talentosos, pois eles lhe servem como inspiração. Anne é uma mulher de 30 e poucos e assim como muitas, tem talentos preciosos guardados, asas pra voar longe... E agora vem chegando a hora de levantar voo. Gabriela agradece especialmente Anne, por permitir que sua arte se torne comum.




domingo, 15 de julho de 2012

Lembranças

E hoje me pus a pensar se as pessoas se recordam, de vez em quando, daqueles que, porventura, cruzaram seu caminho algum dia...
São tantas as pessoas que passam por nossas vidas, são tantos os bons e maus momentos vivenciados, são tantos os reencontros e despedidas que vivenciamos que, por vezes, me ponho a pensar se seria possível retermos dentro de nós todas as impressões que nos causam.
Claro que isso se refere somente a pessoas que, de alguma maneira, nos tocaram fundo, seja positiva ou negativamente.
Quanto a mim, guardo comigo tantas lembranças e impressões... 
Algumas pessoas se fizeram de tal maneira presentes em minhas recordações e deixaram marcas tão profundas que penso ser impossível não ter delas lembranças vívidas e constantes (e por vezes dolorosas também). 


Déia escreve aos domingos e às vezes sente lembranças tão vívidas que sente como se as tivesse vivenciando novamente...

sábado, 14 de julho de 2012

Não Gosto de Dinâmicas de Grupo

Não sei se algum leitor é adepto desse prática, ou se gosta, mas eu detesto dinâmicas de grupo. E não consigo entender como as dinâmicas de grupo conseguem mostrar certas caracterísiticas individuais das pessoas, que quem as organiza teima em afirmar. Primeiro, são práticas de ambiente de trabalho, onde, geralmente as pessoas usam máscaras para sobreviver. E não é exagero dizer assim, pois há muitos lugares onde somente se sobrevive mesmo. E, em ambientes de trabalho, quem está começando, ou tentando uma vaga no local, não vai expôr seus defeitos, e vai exaltar suas qualidades. Assim, como explica a Sociologia, usamos nossas máscaras sociais para o convívio diário. E, se usamos máscaras, para que fazer dinâmica de grupo?

Outra coisa: geralmente se diz que essas dinâmicas servem para ver como o indivíduo reage em determinadas situações, como ele se socializa, como atua em atividades de grupo. Pode-se realmente perceber essas atitudes dos indivíduos, mas, em muitos casos, até por saber como deve agir para conseguir uma promoção, ou um emprego, o indivíduo realiza as tarefas com perfeição, com espírito de equipe, mas, na verdade, é somente uma pessoa ambiciosa, inteligente e individualista, que agiu para alcançar seu objetivo, e não é realmente assim no cotidiano. Logo, se em me “adestrar” para reagir de acordo com o que esperam de mim, em determinado momento, posso conseguir algum sucesso, mesmo que eu não tenha escrúpulos, certo?! Eis a nossa sociedade. Sempre inventando artifícios para que tudo fique exatamente como sempre foi. E as dinâmicas de grupo, tão defendidas por administradores por aí, é só mais um desses mecanismos, que não provam nada realmente. E, quem participa com sinceridade, muitas vezes se expõe, achando que está fazendo seu melhor, e não consegue nada.

Mini-resumo: Por mais que defendam a prática, Tania não consegue concordar com a efetiva utilidade das dinâmicas de grupo. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Vida de Patroete ou Eu Achava Que Só Acontecia Comigo

Ultimamente minha maior preocupação tem sido conseguir uma faxineira. Aliás, desde que me casei. Nem precisava ser muito decente, não. Tratando bem da Laila, limpando a casa de forma minimamente razoável, não queimando as roupas e não quebrando a casa inteira já servia. Não fazia questão nenhuma de que a casa ficasse do jeito que mamãe ensinou que deve ficar, já que não sou eu mesma quem arruma, mas presenciei cada coisa nos últimos anos que Deus me livre e guarde!!

Esta foi até antes de eu me casar. Era véspera de Natal e o primeiro que eu passaria com a família do meu então futuro marido no sul de Minas. Com direito a participar do amigo oculto! Tirei uma das crianças e comprei o presente com o maior cuidado. Era um conjuntinho de fazer bichinhos em gesso, com pincéis e tintas coloridas. Brinquedo não imbecilizante, como diria minha mãe. Deixei o presente, lindamente embrulhado, no apartamento do Bola, bem em cima da mesa, pra não correr o risco da gente se esquecer. Criança magoa, né? Cheguei na casa do Bola no dia 23 de dezembro já de mala e cuia pra viajarmos e dei falta do presente. Liguei pro Bola, que ainda não tinha chegado do trabalho. “Bola, onde foi que você guardou o presente do Lucas?” “EEEEEUUU não guardei em lugar nenhum, está em cima da mesa da sala.” “Não tá, não!” “Bom, deveria estar. Liga pra Luciana e vê com ela onde que ela guardou.” Luciana era a faxineira que eu mesma havia arrumado quando o Bola decidiu morar sozinho. Gente de confiança, filha da ajudante que trabalha na casa da minha vó há anos e que continuou lá mesmo depois que minha vó morreu. “Luciana? Oi, Luciana, é a Laeticia, tudo bem? Aqui, conta pra mim onde que você guardou um presente que estava em cima da mesa da sala. Uma caixa grande.” “Ah? Ah? Ah? É... É... É... Ai... Ai... Ai, Laeticia do céu! Ai, meu Deus! Eu achei que era presente de Natal pros meus filhos e até já dei pra eles brincarem...” Pior é que eu ainda teria que ficar com esta infeliz em casa até encontrar outra. Mas antes que isto acontecesse, a Luciana pediu demissão porque o marido não queria mais que ela trabalhasse em casa de família.

Aí a Luciana me indicou – ai que medo que me deu – a Daniela, prima dela. Apesar do medo que me dominava, acabei contratando a menina porque pelo menos tudo indicava que ela não ia “limpar” a minha casa enquanto nós estivéssemos trabalhando. Imaginei que uma evangélica não fosse me dar dor de cabeça. Eis que num belo dia chego em casa algumas horas antes do horário costumeiro. Nem se eu der mil chances pra vocês adivinharem a cena vocês adivinham! Primeiro que o som estava tão alto, mas tão alto, que a Daniela não me ouviu chegando!! Era um funk horroroso, daqueles quase pornográficos. A TV estava ligada, sem som, naquela baixaria de Márcia Goldsmith. A bonitona da minha faxineira estava usando um short gi-ne-co-ló-gico e um top que mal tapava os mamilos. A tábua de passar roupa estava entre minha mesa de jantar e a TV. Em cima da mesa, minha petisqueira cheia do grana padano do Bola, regado pelo azeite italiano do Bola, bebendo a Guiness do Bola!!! A infeliz dançava – se é que aquilo pode ser considerado dança e música -, passava as roupas com a mão direita e comia e bebia com a esquerda!! Encostei na parede e fiquei parada observando aquela cena dantesca, esperando que a rapariga pelo menos olhasse pro lado e nada. “Você está precisando de mais alguma coisa, Daniela?!!” Não preciso dizer que esta saiu do posto de trabalho no mesmo dia, né?

Alguém me indicou a Andréa, faxineira que contratei depois que a Daniela saiu. A Andréa parecia um sonho!! Se a gente ficasse em casa, ela limpava até a gente. Cuidava da casa quase como se fosse dela. Mas falava demais. Ficava comentando na casa da minha amiga o que acontecia na minha casa e vice versa. A gente foi tolerando porque a danada até areava as esquadrias de alumínio das janelas. Até o dia em que peguei a filha de uma marafona de porta aberta conversando ao celular e falando pra amiga “Ah... A Laeticia não merece o marido que tem!! O Alexandre é um maridão!!”. Rua!!! Rua!!! Suma das minhas vistas, olho gordo dos infernos!!

Esta última que eu tive o desprazer de dispensar quase me enlouqueceu. Na mesma semana ela 1) quebrou o pé da cadeira, tentou colar, deixou a cadeira lá montada pra eu chegar morta de cansada e me esborrachar no chão; 2) jogou fora o café gourmet e o biscoito de chocolate francês do Bola e 3) derreteu meu vestido Calvin Klein com o ferro de passar roupa. Tudo isto somado ao tanto de coisa que ela já havia destruído (arrancou o gancho de segurar a porta da parede, sumiu com todos os parafusos que prendiam os ralos no chão dos banheiros, arrebentou todas as minhas persianas, dentre outras coisas) resultou numa demissão quase sumária.

Agora estou com outra. Vamos ver no que vai dar. Fiz um roteiro e vou ficar de plantão em casa sexta-feira pra ensinar o quê e como se faz. Eu devia era cobrar pelo treinamento!! Porque embora eu odeie serviço doméstico, aprendi que até pra “mandar” a gente tem que saber fazer. Só não aprendi a cozinhar mesmo. Mas isto é um capítulo à parte.


Laeticia chegou à conclusão de que, de fato, faxineira boa é espécime em extinção.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Acumuladores


Antagonizando a Renata (sem querer e com peso na consciência, é claro), eu sou o oposto do minimalismo. Já escrevi aqui sobre o meu “problema” com compras.

Também já escrevi aqui sobre o meu vício criativo. Corte e costura, scrapbooking, caligrafia, forração francesa. Tudo isso me faz muito feliz. E infelizmente me transforma em uma acumuladora.

Daí que cerca de 3 meses atrás alguém me avisa que teremos que nos mudar temporariamente porque a nossa casa de seis (isso mesmo SEIS) quartos vai passar por uma reforma.

O destino? Um apartamento de 3 quartos.
PÂNICO
TERROR
AFLIÇÃO

Minha primeira reação foi escrever para todas as minhas amigas perguntando quem é que tinha um quartinho vazio que eu pudesse alugar como depósito.

Sério gente. Meu quarto mede 20m². E ele é muito mais um ateliê do que um quarto.

Três amigas minimalistas (ou quase), mas com casas grandes, ofereceram-me o precioso espaço. A Gisele até disse que eu poderia montar meu ateliê na casa dela, para não correr o risco de entrar em síndrome de abstinência!

Aí veio a segunda fase trágica... o encaixotamento.

A idéia era separar tudo em 3 categorias: coisas para levar para o apartamento x coisas para guardar x coisas para me desapegar.

4 semanas depois o resultado pode ser resumido assim:
. tenho muita roupa, mas uso a maior parte delas durante 1 ano.
. tenho muitas bolsas, nécessaires, bags, ecobags, malas e mochilas. Não uso a maior parte delas, mas elas são lindas. O que fazer, José?
. tenho 6 pares de galochas. Todas lindas e fashion. Me abracem?
. tenho tecidos para costurar sem intervalo por umas 3 ou 4 aposentadorias. Preciso parar de trabalhar logo.
. tenho caixinhas, molduras e outras coisinhas de MDF para forrar até enjoar.
. tenho aviamentos suficientes para montar um pequeno armarinho.
. tenho material escolar suficiente para montar uma grande papelaria ou loja de scrap.

Tudo isso me faz feliz.
E ocupa muito espaço.
E me faz feliz.

A terceira fase é viver no apartamento. Dividir quarto me obrigou a exercitar certo minimalismo, mas garanto que não estou nem perto de conseguir me mudar com 2 malas.
10? Talvez. 2? Nunca.

Voltar para a casa após a reforma e trazer tudo de volta será o próximo grande desafio.
Até lá, quem sabe eu não consiga me desapegar de uma ou duas bolsas... um ou dois pares de galochas... uma ou trinta e cinco canetas?

Ou isso ou vou virar um capítulo de Acumuladores.

Milena escreve aqui muito, muito esporadicamente. 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Minimalismo

Há nove meses, em função do trabalho, mudei de Estado com mala e cuia. Duas malas e uma cuia. Um colega me disse que eu ia passar a levar uma vida minimalista. Ter menos, comprar menos, precisar de menos. Menos tudo.
Na hora isso não fez muito sentido, pois nunca fui extremamente consumista. E quem consegue se mudar com duas malas, já é um pouco minimalista, não? Às malas foram se somando outras bolsas, mochilas, caixas, sacolas e compras, mas não acho que nada em excesso. Mudei para uma casa totalmente mobiliada cuja dona, minha amiga e super caprichosa, deixou em perfeito funcionamento. Lá tem tudo o que preciso. Mas a coisa do minimalismo não saiu da minha cabeça.
Comecei a ler alguns blogues que falam de experiências de vida e da busca pelo minimalismo. E só de ler sobre a experiência de outras pessoas, vi o quanto carrego coisas de que não preciso. O quanto pensava em comprar coisas das quais não preciso. E me senti mais leve. Não mudei radicalmente nada na minha vida em função disso, como pessoas que passaram um ano sem comprar nada, ou que mudaram pra uma casa 3 vezes menor; mas o valor que dou pras coisas e o quanto carrego nas costas vem mudando.
Além de mais leve, é um jeito mais econômico e sustentável de levar a vida. E que vem me conquistando, mesmo dese antes de eu saber.



Renata a caminho do minimalismo. Mas com passos minimalistas, por enquanto!


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