sexta-feira, 18 de julho de 2014

Carta para Julieta

Hoje escrevo para lhe contar um pouco do que aconteceu nestes mais de 25 anos desde que você se foi. Eu era tão pequenina e sequer lembro de você, mas posso imaginar todas as coisas que nós teríamos feito juntas. Nos finais de semana eu iria para a sua casa e você faria "nega maluca" pra mim, depois me deixaria dormir no seu colo enquanto cantava uma canção de ninar.

Quando eu tinha seis anos entrei para a escola. Você teria gostado de me ver andando cheia de pose com aquela mochila de bichinho cor de rosa. Você teria rido muito quando um ano depois eu guardei os toquinhos do cabelo do menino que eu gostava, que a mãe cortou no salão, em uma gaveta. Teria ficado orgulhosa quando eu disse: A vida tem certos rumos que nem um poeta descobre! Teria ficado preocupada quando eu sumi e só voltei tarde da noite aos nove anos, mas teria também me defendido e dito pra pai e pra mãe não me castigarem, já que a culpa não era minha.

Vó! Sei que você teria ficado com o coração na mão, quando aos doze anos, saímos de Santiago e viemos morar em Nova Petrópolis. Teria passado meses esperando que nossas férias chegassem para que fôssemos te visitar e os dias que passaríamos contigo seriam uma grande farra.
Sei que ficaria feliz e ao mesmo tempo preocupada quando eu apareci com o primeiro namorado em casa. Estaria na plateia sorrindo na minha formatura do ensino médio, vibraria junto comigo quando entrei para a faculdade, acompanharia minha angústia ao escrever o TCC, estaria orgulhosíssima da profissão que eu escolhi. 

Posso te imaginar chorando baixinho no dia da minha formatura da faculdade e depois me abraçando orgulhosa, dizendo que me ama.  E agora vó, com a notícia de um bisneto ou bisneta que vem por aí, qual não seria a sua alegria? Tenho certeza de que já estaria fazendo sapatinhos de tricô e olhando pra minha mãe com a certeza da ótima avó que ela vai ser. 
Você não esteve presente nestes dias todos que falei aqui, mas sei que de onde estiver, vibrou comigo, chorou comigo, partilhou de minhas alegrias e tristezas, e, mais do que isso, sei que você me protegeu e olhou por mim todos os dias da minha vida.


Andri escreve às sextas-feiras e dedica este texto para a sua avó Julieta, a estrela mais brilhante deste imenso céu.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...