Uma das primeiras coisas que um baiano diz ao te conhecer é que é para não estranhar que baiano tem talento: “tá lento” pra tudo.
No primeiro dia na pousada descobrimos que no meio do mato deveríamos pegar quatro canais da TV a cabo. No nosso quarto só pegavam três. Pedi para darem uma olhada. Resultado: agora só pegam dois.
Pra cobrar os olhos da cara por qualquer coisa, no entanto, o baiano é bem ligeirinho... R$ 3,00 por um côco? R$ 45,00 por um peixinho na brasa pescado lá mesmo? R$ 10,00 pra sentar no guarda-sol? Ligeiros, heim?
(homem com a filhinha em loja de artesanato de madeira)
- Que bicho é esse moça?
- É um apito!
(a pessoa aqui procurando para um amigo uma encomenda de um negócio azul pra usar no pescoço, daqueles “de religião” que esqueci o nome)
- Moça, como é o nome disso aqui?
- Colar (!).
Não acredite imediatamente no que um guia turístico baiano te diz. As chances de ele estar tirando onda com a sua cara são de 90% e dele estar inventando são de 10%. O bom é que ao menos até o fim do passeio ele confessa.
Se você é como eu e discorda do que todos dizem a respeito de frutas que causam prisão de ventre (como goiaba, caju e jabuticaba), não tente jamais comer subseqüentemente oito cajus, mesmo que pareça irresistível comê-los na Bahia, direto do pé. Isso não é uma boa idéia.
Puko me ajuda! Não tem nada passando na minha cabeça, e agora?
Quando algum passeio reservado com muita antecedência for cancelado, não se preocupe. Use o tempo extra pra questionar a três guias diferentes os motivos do cancelamento e receba três histórias estapafúrdias totalmente distintas como explicação. É divertido.
Se você for fazer um batismo de mergulho em alguma piscina natural com mais ou menos sete metros de profundidade e desconfiar que seria ridículo você lá, de long, nadadeiras, máscara, pesinho na cintura e cilindro, enquanto passa uma bonita só de biquíni e snorkel por baixo de você, pode ter certeza de que é exatamente isso que vai acontecer.
Cuidado com os hippies baianos. Eles têm a incrível habilidade de te vender tranqueiras por um preço absurdo. Pior é que você ainda sai achando que fez um bom negócio, até perceber que foi praticamente roubada, e ainda por um doidão.
Na Bahia (pelo menos no pedaço onde estamos), não toca mais Aché, nem tem fitinha do Bonfim, e é difícil achar um acarajé. Baiano não é mais lento, os gringos invadiram, turista brasileiro é quase ignorado e aqui, a inflação forte ainda existe. Mas mesmo assim, a Bahia continua linda, maravilhosa, e perfeita pra esquecer o mundo lá fora.
Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Nesta, em lua-de-mel e de férias na Bahia, super em paz, super relax, super light, cheia de amorzinho e com muito “tá lento”.