sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O BH Shopping não é mais aquele

Desde criança eu vou ao BH Shopping. Antes era uma viagem. Nova Lima era longe de Belo Horizonte. E convencer mamãe a nos levar ao shopping não era tarefa fácil. Shopping não é lugar de criança, ela dizia. Afinal, em época de inflação galopante, minha mãe – e imagino eu que todas as mães e pais conscientes de então – ia ao shopping basicamente pra ir ao hipermercado logo no dia do pagamento fazer as compras pro mês todo. Senão a inflação comia o salário ou quem ficava sem comida era o trabalhador no fim do mês. Naquela época o dinheiro não valia nada, as pessoas tinham que fazer o dinheiro render. Daí, corria todo mundo pro BH Shopping, que era o único de Belo Horizonte, porque tinha Carrefour só lá e em Contagem das Abóboras(*) (ai, gente, não resisti rsrs) pra fazer compras. O Carrefour ficava lotado de gente, aquela criançada correndo de um lado pra outro, um verdadeiro inferno. Isto eu sempre soube por ouvir dizer, da boca da minha mãe, ao justificar as negativas contumazes diante das minhas súplicas: por favor, mamãe, leva a gente pra passear no “shopicenter”!! Aí ela prometia que ia nos levar outro dia, que não fosse o 5º dia útil e levava mesmo rsrs.

Ah, gente, neste dia era uma farra! Primeira coisa que a gente fazia era atacar a livraria! Não, não, naquela época não tinha Leitura, era Livraria Siciliano, se não me engano. Tem tanto tempo!! A gente fazia a festa lá. Aí no início não tinha McDonald’s também não. Mas tinha Doce Docê. Gente, que coxinha!! Que coxinha!! Sabem o que é uma coxinha de frango com catupiry? Só quem comeu aquela coxinha de frango com catupiry do Doce Docê sabe o que é!! Uma coisa dos deuses, minha gente!! Eu sonho com aquele catupiry derretido até hoje! Quando saí da Santa Casa, operada das amígdalas, de bloquinho e lápis em punho aos sete anos, minha mãe me perguntou se eu queria alguma coisa. Escrevi no bloquinho: coxinha do Doce Docê!! Mamãe me ameaçou de morte. Disse que eu tava com a garganta toda costurada, que não ia conseguir comer. Insisti tanto que ela parou lá e comprou. Comi a coxinha e quase arrebentei os pontos todos. Não me arrependo.

Outra coisa que de vez em quando tinha era Play Center!! Onde hoje tem um prédio enorme, em frente ao BH Shopping, era um estacionamento e montavam lá um mini Play Center. Foi lá que eu andei de montanha russa a primeira vez. Foi mágico! De lá a gente foi à Kopenhagen e me lembro que comi quilos de língua de gato, mamãe comprou muita bala de leite (hummm que gostinho de infância!!) e tinha também aquelas caixinhas de fósforos e cigarrinhos de marzipan. Politicamente incorreto nos dias de hoje, mas uma delícia na época!
E também o Carretão Gaúcho!! Era bem ali na saída para Nova Lima! Quantas e quantas vezes não fomos ali almoçar aos domingos!! É, aí já não era mais tão longe ir ao BH Shopping. A estrada já estava bem melhor, ou eu já estava mais crescida, não dormia no carro no caminho. Não sei. Sei que aquele ainda era o meu shopping. Foi o primeiro lugar que a minha mãe me deixou ir sozinha com as amigas. Eu devia ter uns doze anos. Peguei o ônibus sozinha com as meninas, acreditam?! Rsrs aventuras pré adolescentes. Sim! Na minha época, aos doze anos a gente era pré adolescente. Hoje, aos doze, muitas meninas já são mulheres feitas, siliconadas, turbinadas, já fizeram lipo, rinoplastia, sabem o kama sutra de cor e salteado, têm luzes nos cabelos, vestem-se com grifes, falam cinco idiomas, bebem e não comem nada. Coisas bem mais modernas que eu, razão pela qual eu não as compreendo.

Enfim, anteontem, vinte anos depois de ter ido ao BH Shopping sozinha com as amigas pela primeira vez, voltei ao shopping de BH. Sabem o que vi? Um prédio deformado. Aquela edificação linda foi sendo aumentada conforme ordenou a demanda do consumo: de forma desordenada, como acontece com as grandes cidades. Crescimento desordenado. Nem parece que ali houve projeto, engenharia, arquitetura. Em alguns lugares, apesar de todo o granito e mármore, o shopping me lembrou uma favela. Sabe quando você aproveita um espacinho que sobrou aqui, depois de muito se puxar parede e teto, e faz um banheiro, só pra não ficar um espaço de 5m2 perdido? Afinal, 5m2 num shopping valem uma fortuna!! Não presta pra por loja porque tá no final de um corredorzinho obscuro, atrás da Administração do SAC, mas que, se sinalizar bem, quem estiver desesperado pra fazer xixi acaba achando se for banheiro!! E o estacionamento? Como se não bastasse terem aumentado o shopping usando estrutura metálica (ok, engenheiros e arquitetos, eu me rendo à estrutura metálica: segura, rápida, bom custo benefício e não necessariamente feia), quem pára no último piso tem que descer dois lances de escadas pra depois pegar o elevador. Vão me chamar de preguiçosa? Não chamem: atrás de mim tinha um casal com bebê e carrinho e não tinha rampa em lugar algum. Certamente ninguém vai questionar que idosos e portadores de necessidades especiais também freqüentam shopping centers, principalmente um que toma para si o mote de ser o shopping de BH.

Fiquei triste. O BH Shopping não é mais aquele. Não vi o shopping bonito que eu costumava ver. Não tive o conforto que eu costumava ter. Não desfrutei da funcionalidade que costumava desfrutar. O BH Shopping foi crescendo, crescendo, crescendo. Só que cresceu sem qualquer controle, igual uma espuma de poliuretano solta no ar. Ficou grande demais, feio, esquisito, disforme. Definitivamente, pra quem o conheceu desde o começo, o BH Shopping não é mais o shopping de BH. O BH Shopping não é mais aquele.

(*) piadinha de mineiro: o povo de Contagem odeia que a gente diga que Contagem é das Abóboras!!!
Laeticia está arrasada: o shopping de BH virou mesmo um puxadinho.

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