Já ouvi de pessoas
que disseram querer passar mais tempo comigo pra ter mais emoção na rotina.
Eu não sei bem ao
certo se essas coisas me procuram ou eu as procuro. Mais provavelmente
acontecem porque eu dou permissão, causado por aquele instinto inerente na
gente em ajudar o outro, ao invés de ter medo. Um
sentimento quase infantil que presume que todos são bons até que se prove o
contrário.
Na frente de um
hospital ele me chama, por volta dos seus 20 anos, explica que a namorada
tentou se suicidar e que está esperando que a mãe dele venha buscar. Mas porque
ela está demorando um pouco, ele pergunta se eu posso ligar e verificar se ela
está vindo.
(Por segundos um filme passa na minha
cabeça e confesso que eu até olho para os lados pensando ter alguma câmera
escondida, porque aquilo não poderia ser real, ele contava detalhes íntimos da
vida desgraçada que eles estavam levando, coisas que não se dizem a um estranho
transeunte).
Eu ligo e a chamo
pelo nome. Kylie. Não esquecerei o nome, nunca...
Ela me diz que não
quer saber do Michael e, muito educadamente, se desculpa pelo incômodo que o
filho me causou. - " Ele nem mora comigo”, ela diz. Nessa altura eu já
sabia que ele morava numa casa do governo, mas isso por acaso isenta do papel
de mãe??? (Julgamento da mãe leoa indo para as alturas!)
Eles se falam no
meu telefone por alguns minutos quando o rapaz repete: -“ Eu sei que não queres
saber de mim, mãe. Ok, obrigado. Te amo!”
Me devolve o
telefone e diz que vai beber em algum lugar.
E o fará com o dinheiro da pensão do governo, que, por ele ter
depressão, é considerado incapaz de trabalhar. (Os meus poucos minutos de
interação com o rapaz - longe de ser
psiquiatra - me pareceu mais uma esquizofrenia).
Antes de partir: -“Thanks babe, you are hot!'”
Porque toda a história triste acaba com
algum nível de comédia...
Tirando o sarcasmo
de lado. Meu coração ficou despedaçado. Ele não deve ser fácil, pode ter
causado muitos problemas pra ela. Mas nunca se desiste de um filho, nunca...
Especialmente quando ele te diz que te ama, desesperado por atenção...
Lil escreve aqui
esporadicamente e acredita que a responsabilidade materna vá além dos anos
iniciais de vida e que mesmo indiretamente, uma boa parte do desequilíbrio
emocional dos adultos advêm dos relacionamentos mal resolvidos com suas figuras
maternas e paternas. Mesmo que Kylie não goste da ideia....