Está na moda agora esta tal de resiliência. Nem mesmo o Word sabe o que é isso, mas sobrou para a balzaca moderna, além de ser profissional, mãe, esposa, desportista, artista, doméstica, massagista, sarada, alisada e paciente, ter agora que ser também resiliente.
Segundo pai Google [sic Aurélio moderno], resiliência, um conceito originalmente do campo da física é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal deformação elástica. É lógico que esta definição tão bonita foi adaptada pelo psicologiquês moderno e, hoje, ser resiliente é tomar pancada e continuar sorrindo. Pollyana foi o primeiro grande exemplar de pessoa dotada de resiliência.
A idéia é que as pessoas ou são iluminadas e já nascem assim, ou lutam muito para adquirir um pouquinho desta coisa, só pra poder dizer, em uma entrevista de emprego qualquer, que “adquiriu resiliência nos últimos anos” (pensando Yessssss). Também se pode entender resiliência como o bom e velho se a vida te der um limão faça uma limonada, como meu conceito recentemente preferido de que sorria para o mundo que o mundo sorri para você, ou ainda como o comportamento Zazen adotado por algumas filosofias orientais.
Sério. Tenho sérias dúvidas sobre tal movimento resiliente. Os alegados benefícios para quem conquista tal qualidade são muitos. Quem, dentre os naturalmente estressados e revoltados, como eu, não gostaria de ter mais paz de espírito, de se abalar menos com as coisas, de ser menos visceral, de se afetar menos (e afetar menos os outros) com as injustiças e frustrações deste mundo? Quem não gostaria de, no trabalho, ficar tranqüilo quando acaba tendo que fazer algo que não concorda porque foi mandado, mesmo expondo os riscos envolvidos e tendo declarado sua contrariedade? Chegar em casa e nem pensar mais nisso nem despejar a lamúria em quem lá está para curtir bons momentos? Não dar bola para a Telefônica, as companhias aéreas, o banco, o seguro que nos infernizam com sua incompetência, lidando com eles pacientemente? Eu gostaria! E de lambuja possivelmente deixaria de ter queda de cabelo, desidrose, gastrite e ansiedade patológica.
Mas como? Até andei tendo alguns sucessos de resiliência nos últimos tempos. Às custas de muito treino (inspira azul, expira vermelho) e boletinhas. Imediatamente se pensa que puxa, consegui, que legal, estou controlada, passei íntegra pelo temporal, estou apenas um pouco descabelada, mas tudo bem, sorrindo. Imediatamente depois eu penso no Ferdinando, aquele touro palerma que respirava uma florzinha num desenho animado (acho que era Pato Donald), lembra? E nos uniformes de colégio. E no Admirável Mundo Novo, onde tomar o SOMA (a pílula da felicidade) era praticamente compulsório para todos. E no musical do Queen, que assisti com minha irmã, onde todos se vestiam iguais, instrumentos musicais foram banidos e só era permitido dançar uma certa coreografia de uma única música eletrônica. Então me sinto uma idiota. Como adquirir algo que, de uma hora pra outra se tornou item de nécessaire unanimemente fundamental, mas que bem no fundo não nos convence muito?
Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Ser ou não ser... Eternamente ser ou não ser...
2 comentários:
Amei o texto. Odeio a Polyana!
Saudades!
Bj!
Ei, olha ai nossa sintonia de novo.
Estou lendo um livro sobre a resiliencia na mulher moderna (vem ca, como podemos fazer isso ha tantos milhares de km de distancia?).
Mas ca entre nos, eu bem que me beneficiaria de um tanto dela... hahahahaha
Bjocas linda, daqui a pouquinho estou ai!
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