sábado, 20 de junho de 2009

Vida na Bolha Infantil


Os pais entram em uma zona própria pelos primeiros meses de vida dos seus recém-nascidos. 

Recentemente várias das minhas amigas tornaram-se mamães, assim como eu, e tenho observado com fascinação e interesse essa nova fase. Inicia-se no hospital logo após o parto e dura pelo menos 4 meses. Assim que a bolha explode, a vida nunca mais é a mesma.

Acho que tenho refletido mais sobre isso com a iminência da chegada da minha primeira sobrinha, em setembro deste ano. 

Nossa bolha, minha e do Sr. Fritz, já explodiu há um tempo. O que ainda me intriga é o mistério de tomarmos consciência da existência dela quando já não mais existe. Todos os conselhos do mundo não nos prepara para a vida na bolha. É uma série de momentos inesquecíveis que deixarão marcas para todo o sempre.

Tudo começou quando eles retiraram aquela pequena pessoa de dentro de mim e disseram: “aí vem ela”. O meu parto foi normal e bem alerta pude curtir aqueles primeiros momentos. Instantaneamente ela foi colocada sobre o meu peito com aquele rosto roseado, inchado, olhos bem abertos a me encarar e então o elo estava feito, instantâneo e intenso. Senti um amor que nunca senti antes e nem sabia que existia. Explodindo de orgulho, lá estava o Sr. Fritz nos assistindo silenciosamente para não interromper aquele momento sagrado. Eu acho que foi naquele instante que nós 3 entramos na bolha, de cabeça.

Meus pais estavam em Nova Iorque e estranhamente só pensei nisso e em ligar pra eles no dia seguinte. 

Bem, todos sabem que enquanto vivemos nessa fase, estamos sem dormir nem a metade das horas que dormíamos antes, e a cabeça não funciona propriamente. O sorriso no meu rosto era constante, mesmo que eu não tivesse dormido ao menos uma hora cheia nos 3 primeiros dias, tal era a minha felicidade. Eu era incapaz de manter uma conversação com qualquer um que superasse os 2 minutos e sempre me esforçava muito para me concentrar. Tinha que evitar o distanciamento da mente e a constante concordância da cabeça ao fingir que estava escutando o que estava sendo dito. Durante o período hospitalar as enfermeiras me davam instruções e nada daquilo fazia o menor sentido. Na maioria do tempo eu me perguntava: “Eles (os bebês) vêm com instruções de uso?”.

O momento que eu soube que a minha vida tinha mudado para sempre foi quando fomos liberados do hospital. Enquanto o Sr. Fritz buscava o carro e organizava a cápsula (ou assento) onde nosso bebê seria transportado pela primeira vez até sua primeira casa, me senti uma pessoa diferente. Olhei para o hospital por um longo período e mal conseguia acreditar que tudo aquilo (parto, primeiro banho, primeira troca de fraldas, amamentação no peito e a explosão do amor) aconteceu em apenas 3 dias e que agora eu estava solta na vida, “a minha própria sorte”, responsável por um ser humano. Pela primeira vez na vida. 

É um misto de pavor e desafio. Dá uma vontade de gritar: “chama minha mãe!” ou então de me culpar por vir parar em um país economicamente desenvolvido onde é impossível pagar por uma babá com muita experiencia que more na minha casa por muitos e muitos anos (minha mãe fez isso, esperta ela!).

Já havia escutado que algumas mulheres tornam-se um pouco relapsas com a própria imagem assim que se tornam mães por colocar as necessidades do bebê em primeiro lugar e portanto, temporariamente abolir o uso de maquiagem, fazer uso constante do cabelo em um rabo-de-cavalo, vestindo conjuntos de moletom e eu, secretamente, me dizia: “Não, eu nunca farei isso”. Haha... Eu estava errada. 

Entretanto, agora compreendo que não é o ser relapsa que está em questão. É o caso de absoluta falta de tempo e energia para fazer o esforço. De fato recordo que nos dias de bolha frequentemente eu andava pela casa de camisa aberta pois quando eu menos esperasse eu teria que abrí-la de novo. Então, por que se importar em fechar? A vaidade sentou-se no banco de trás temporariamente porque naquele período os interesses do nosso bebê eram minha prioridade número 1!

Sem dúvida quando nossa bolha explode nos tornamos mais tolerantes e pacientes. Nosso recém-nascido foi agitado, chorava muito, acordava várias vezes durante a noite até os 10 meses de vida (agora quer dormir 14hs por noite hahahaha, como muda). Eu desenvolvi um novo nível de paciência que honestamente não sabia que tinha. Sobretudo eu e meu marido agora temos um nível bem mais profundo de compaixão pelas pessoas, principalmente crianças.

Aquelas amigas, as quais assisti entrarem nas próprias bolhas infantis já estão fora dela agora (e eu também, entretanto provavelmente mais tarde que a maioria das pessoas) e espero todas estarmos preparadas para a próxima fase, pois como já ouvi alguém dizer: “a próxima sempre é um desafio maior que a anterior”. Graças a Deus. Mágica da vida, cada dia um aprendizado. 


“Lil escreve aqui aos sábados. Ama a filha e a maternidade. Acredita ser esse o papel que execute com mais eficácia e prazer, e quer gritar para o mundo ouvir que as renúncias existem mas que nada na vida se torna mais importante do que ouvir de um filho como eu ouvi essa semana : “Mummy, I love you!”.

5 comentários:

Thaysa Ramos disse...

Pois...e eu doida pra entrar na bolha faz e tempo...e eu (me conhecendo) iria chorar de felicidade pelo menos por um dia e meio no dia que isso acontecesse comigo...

Gisele Lins disse...

owwwwnnnnnn, que fofo, que fofo.
E que medo, que medo, que medo, rsrsrs.
Beijos com muitas saudades das amadas do meu coracao.

Polly Etienne disse...

Ei Lilian:) estou simpelsmente amando viver na bolha...hahahha
bjao

Kimera Kenaun disse...

Ai, que texto lindo! Sua bb vai adorar lê-lo daqui uns anos. A parte do amor maior do mundo que vc nem sabia q existia então... Adoro bbs... Não vejo a hora de eu poder ter os meus =)

Fernanda Piva disse...

Lila, eu saí da bolha já há bastante tempo, e te digo que outras bolhas virão... em menor intensidade, mas igualmente assustadoras e desafiadoras! Cada passo rumo à autonomia é uma delas: rompe-se o vínculo da dependência física; estreita o emocional.
A maternidade é uma via de mão dupla: estamos sempre ensinando e aprendendo, e isso é o maior barato!!
Adoro o blog, by the way!
Beijos

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